Nameless escrita por Guardian


Capítulo 3
Primeira visão


Notas iniciais do capítulo

Por favor, me desculpem por não ter respondido aos reviews >///////< Tive uns probleminhas e... Vou tentar responder ainda hoje, e mesmo se não der, não vou deixá-los assim, afinal, eu fiquei tão feliz com eles *---------*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/199277/chapter/3

 - Abaixe isso. É perigoso.

 Tinha acabado de voltar para o apartamento e o que encontrei lá não era algo que eu gostaria de encontrar, principalmente imeditamente depois de cuidar daquele traficante. Ou melhor dizendo, não era alguém que eu tinha prazer em encontrar.

 Mal tranquei a porta atrás de mim e saquei o revólver do meu cinto ao ouvir um barulho vindo da cozinha. Andei na ponta dos pés até lá, sem fazer barulho, e dei de cara com Klaus sentado na bancada, e ainda por cima com um copo a meio caminho da boca.

 Relutante, devolvi a arma ao cinto e me encostei no batente da porta, cruzando os braços.

 - Quem te deu permissão para entrar? – tinha certeza de que não tinha dado uma cópia da chave para ele, e os porteiros possuem ordens expressas de não deixar ninguém subir sem meu prévio consentimento.

 - Ora, não seja assim. Eu sou se tutor, esqueceu-se? – ele passou a mão por seus fios negros, alisando as mechas para trás, em uma mania que ele tinha desde que eu me lembrava.

 - Eu tenho 22 anos. Não preciso de tutor.

 - E quem paga as suas despesas? – ele sorriu de forma irritante.

 - Eu mesmo – respondi seco – Com o pagamento do trabalho sujo que faço pra você – e com isso andei até ele e estendi a mão, esperando.

 Ele riu baixo. Riu e sem nunca tirar aquele sorriso do lugar, tirou um pacote de dentro do bolso e me entregou.

 - Está bem, está bem. Você ganhou – terminou de tomar o líquido que ainda restava em seu copo. Não tinah certeza do que era – E então, ocorreu sem nenhum problema como sempre, não é?

 Contei as notas rapidamente antes de lhe dar as costas, ignorando sua tentativa de iniciar uma conversa.

 - Saia logo que eu quero dormir.

 Teria ido direto para a porta, abrí-la como um sinal claro de reforço às minhas palavras, mas sua mão fazendo pressão em meu braço me fez parar. Virei a cabeça lentamente, para encontrar seus olhos amendoados me encarando da maneira mais séria que se mostraram nos últimos meses. E que ele agradeça por eu não ter tentado derrubá-lo.

 - Eu tenho que falar com você.

 Baixei os olhos um vez para meu braço, e ele entendeu o recado de imediato. Soltou.

 - O quê? Não é outro trabalho, é?

 - Exatamente isso! – eu odiava quando ele usava aquele tom que fazia parecer que eu tinha acertado uma questão particularmente difícil e merecia um prêmio por isso.

 ...

 Talvez eu deva comprar mais chocolates para acabar com esse mal-humor de ultimamente.

 - Tão rápido? – eu tinha acabado de voltar de um, isso nunca tinha acontecido antes. Normalmente eu tinha que aguardar na monotomia até receber outro, então por quê?

 - Esse é grande, caro Mello – me entregou um envelope pardo que carregava embaixo do braço e no qual eu não tinha reparado antes – Dê uma olhada com cuidado quando acordar. Você não tem aula, certo?

~x~

 Hora de ver quão grande é isso.

 Donovan O’Hare... Um agiota? Ahh, entendi o que Klaus quis dizer com “grande”. Acho que desta vez vai ser um pouco mais complicado...

 Se esse cara tivesse certa importância e poder – e sua ficha deixava claro que tinha – então com certeza haveria outros pelo caminho. Guardas, capangas, sei lá que nomes recebem. E ainda mais importante, eu teria que tomar cuidado extra para não deixar nada que pudesse trazer visitas desagradáveis para mim depois, para trás. Nenhum perigo de vingança pessoal, ao menos, já que ele não era casado e não tinha outra família que não fosse o dinheiro.

 Mas pelo menos o pagamento será compensador. Posso cobrar extras por cada um a mais que eu tenha que me livrar... Quer saber? Isso será ótimo!

 Posso ir hoje mesmo, no final da tarde, e começar a agir assim que anoitecer.

~x~

 Seria de se esperar que o escritório de um razoavelmente importante agiota, ficasse no centro. E ficava mesmo. Mas não se podia dizer o mesmo da casa do tal agiota.

 Donovan O’Hare morava ainda nos domínios da cidade, mas em uma localização menos demográfica e suficientemente afastada de qualquer ponto turístico. Igual ao prédio onde eu moro.

 Era o melhor. Recentemente, mantendo certa distância das regiões históricas e picos do turismo, estavam sendo construidas casas e medianos prédios para quem quisesse fugir disto. Geralmente estrangeiros que se mudavam, permanentemente ou não, ou pessoas que não davam tanta importância em ficar admirando a cultura nacional uma vez por semana e estavam cansados e querendo mudar um pouco o ambiente. Dá pra advinhar a qual dos dois eu faço parte? 

 Enfim. Tornou-se um negócio lucrativo, e enquanto permanecesse somente nos arredores da capital, o governo não reclamaria.

 E aqui estava eu, esperando a noite reinar.

 Escondi minha moto na rua de trás da casa de três andares, deixei o silenciador pronto na minha arma, e abri uma barra de chocolate. E mais um vez, tinha que aturar a droga de tarefa que era ficar esperando.

 Se eu tivesse sorte no sentido prático, O’Hare estaria sozinho em casa e eu voltaria mais cedo pra poder dormir. Se a sorte virasse pro sentido financeiro, alguns dos seus “companheiros” estariam lhe fazendo companhia, bebendo uma boa cerveja preta ou planejando quem iriam extorquir no dia seguinte.

 ...

 Pelas luzes acesas e pelo barulho, deduzo que a sorte está favorecendo meu pagamento esta noite.

 Esperei, e ao final da terceira barra, decidi que já era hora de começar.

 Coloquei meu capuz, como sempre, e como medida cautelar extra, coloquei uma máscara. E não, nenhuma do Coringa ou do Fantasma da Ópera, se é o que está pensando. Era daquelas usadas em tratamentos para queimaduras graves no rosto. Nem sei se ainda usam desse tipo, mas era pra isso que costumava servir. Era transparente, e apesar de incomodar um pouco depois de um tempo, não daria pra ninguém reconhecer o meu rosto com ela.

 Precaução, apenas.

 Eu só não poderia deixar eles terem tempo de chamar a polícia nem por outros “amiguinhos” para ajudar...

 Devagar e com cuidado, usei uma ferramenta muito útil para arrombar a porta dos fundos para poder entrar no mais absoluto silêncio. Ora, só porque eu não gosto de me manter assim, não quer dizer que eu não saiba e não seja bom nisso.

 Bom, Klaus me garantiu que a essa hora o alarme da casa estaria desativado, e eu não tinha outra escolha a não confiar. Odiava ter que confiar nele como única alternativa, mas ele também ia se ferrar bonito caso eu fosse pego, então ele devia ter cumprido.

 ...

 Espero.

 Com um “clic” quase inaudível, a porta se abriu. E nenhum alarme soou.

 Perfeito.

 As luzes da cozinha, que era onde eu acabei entrando, estavam acesas, mas não havia ninguém lá. Tomando cuidado pra não esbarrar em nada, fui lentamente em direção à origem do barulho de conversas e risos. E cheiro de cigarros e álcool.

 - Beidh mé a fháil eile beoir¹ - ouvi um cara dizendo em irlandês, com a voz alta e bem-humorada típica de um bêbado.

 Merda!

 Antes que ele aparecesse na passagem da sala – eu presumo – para a cozinha, eu me escondi ao lado da geladeira. E quando ele se aproximou o suficiente, tencionando abrir a porta para pegar a cerveja, ele me viu lá.

 Como sempre, um único tiro foi mais do que o suficiente. E minha mão enluvada em sua boca, impedindo-o de emitir qualquer som, também.

 Deixei o corpo do homem embolado no chão, do jeito que caiu, e abri eu mesmo a porta da geladeira e peguei a bebida que ele havia vindo buscar. Ora, eu a levaria para os outros em seu lugar.

 Alcancei a passagem, e sem ninguém se dar conta de minha presença ali, fiquei observando a cena. Um grupo de três homens além de O’Hare, sentados ao redor de uma mesa de centro quadrada, todos com uma garrafa em mãos e alguns com cigarros pelo metade também, aparentemente olhando e discutindo sobre as pessoas que apareciam nas diversas fotos espalhadas em cima da mesa.

 É, pelo jeito nenhum dos meus palpites estava errado. Eles estavam reunidos bebendo e planejando de quem iriam atrás no dia seguinte para a tão temida cobrança.

 Cobranças que nunca se cumpririam, agora.

 - Beoir?² – falei com a voz um pouco deformada pela máscara, surpreendendo todos ali.

 Foi questão de segundos.

 Segundos para considerarem a minha aparência e minha presença suspeitas o suficiente para os três que faziam companhia ao “chefão” sacarem as armas. Segundos para nenhum deles conseguir me atingir. Segundos para com três certeiros e silenciosos tiros, todos os três caírem no tapete aparentemente caro, estragando-o completamente com o líquido vermelho que deles escapava. Segundos para Donovan O’Hare acovardar-se e sair correndo escada acima, parecendo um porco com medo do abate, enquanto eu cuidava dos seus “amigos”.

 Pulei por cima dos corpos e corri atrás do último que restava. O verdadeiro alvo. Subi os degrais de dois em dois, e o alcancei no corredor do segundo andar sem demora.

 Ele pressionava as costas na parede de cor creme, os olhos arregalados e com o suor brilhando na careca que já refletia a luz da lâmpada.

 Patético.

 Um cara que comandava uma agência de razoável importância, pelo menos o suficiente para se fazer ver às vistas de Klaus, era um covarde patético desses? Que sequer sabia manusear de forma decente uma arma? Porque ninguém acreditaria que esse cara serve pra carregar um revólver, depois dele ter tentado atirar de surpresa em você, e na hora H, nada acontece porque a inteligência esqueceu de destravar a arma.

 Sério que era esse o cara? Ele parecia que ia mijar nas calças a qualquer momento!

 Ah, que seja. Serviço é serviço.

 - Mail! Mail, faça algo! – ele gritou, com uma nota bem clara de pavor, e sem desviar os olhos do cano do revólver que eu lhe apontava, quase vesgo. Se ele não tivesse gritado, já estaria morto.

 Mail? Quem era Mail? Eu tinha esquecido de apagar alguém?

 Um barulho às minhas costas me fez virar. Claro que não sem antes dar um pesado chute no estômago daquele porco à minha frente, para ele sequer pensar em tentar alguma gracinha.

 Virei, e me deparei com um homem. Um homem ruivo, de blusa listrada, e uma arma na mão. Uma arma apontada direto pra mim.

 Fui descuidado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹Vou pegar outra cerveja.
²Cerveja?