Sequestro Relâmpago escrita por Mayara Rabelo


Capítulo 3
Aqui... O amor fez a diferença.


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo...



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“No momento que distinguimos como o mais triste e doloroso de nossas vidas, sentimos a necessidade de alguém por perto. E nada é melhor do que ser a pessoa que mais ama. É indescritível a sensação de felicidade ao abraçar novamente e poder dizer o quanto é importante viver ao lado dela. Só para todo dia encarar seus olhos e tentar demonstrar todo seu amor, toda a sua necessidade.”

(Mayara Rabelo)

Transparecer o amor que sentia por sua esposa foi comovente para aqueles bandidos. Mas nem ele sabia que iria fazer tanto efeito. Primeiramente nem imaginou que aconteceria aquilo. Suas palavras saíram por puro medo. Estava com medo de ver aonde aquilo iria parar. E quando o homem lhe falou em morte, em matá-lo, a dor lhe atingiu como uma facada em seu peito.

Sua capacidade de estudar as pessoas pelo olhar serviu para muitas coisas. E principalmente para esse momento. O homem tinha aquele olhar vago, escuro, frio, triste... Como se estivesse naquela vida não por opção, mas por necessidade. Talvez sua criação, ou algo assim, havia lhe colocado nessa vida. Sentiu pena, mas ao mesmo tempo desgosto. Se pudesse mudar as pessoas, mudaria.

Foi colocado no carro. Novamente. Só que dessa vez no banco traseiro. Não estava mais amordaçado, pois prometeu que se comportaria. O homem que comandava, o poderoso chefão, ficou no local, mandando que os seus capangas o deixassem em casa.

- Obrigado por deixar minha vida. – Grissom disse antes de fecharem a porta do carro. Percebeu o homem o encarando surpreso.

O homem se surpreendeu. Alguém o havia algum dia lhe agradecido por algo? Nem por mínimo que seja? Não. E esse homem... Tão desesperado pela sua vida e ao mesmo tempo tão... Tão apaixonado! E pensou consideravelmente que, se arrependimento mata-se, nesse momento estaria morto. Se pudesse voltar ao tempo, não tinha feito aquele senhor de tão bom coração suplicar pela sua vida. Não mesmo.

.....

Como era boa a sensação de estar chegando em casa. Mesmo que aquele cheiro, que o enojou durante essas três horas de confinamento, seja insuportável. Mas não poderia deixar de estar feliz. Feliz por estar vivo e conseguir ver sua esposa novamente amamentando seu filho. Pra ele, era a cena mais linda e mais preciosa.

- Desce. – Disse um dos caras fedorentos.

Sem dizer nada, desceu do carro um pouco tonto. Sua testa tinha um corte, não muito profundo, mas sangrava. Seu corpo dolorido pedia por um banho relaxante. Mas seu coração pedia entrar em casa e abraçar as duas razões de sua vida.

Antes de tudo, pegou as chaves de seu carro que permaneciam jogadas ao lado da roda traseira, abriu o porta malas, e retirou as coisas que havia comprado. O jantar, e os iorgutes de Brian. Não podia esquecer. Á todo instante pensava nisso. Seu filho adorava iorgute. E ficaria arrasado se não levasse pra casa essa noite.

Em desespero, Sara andava de um lado para o outro, de coração apertado, um medo que não era medido. Mas de repente... Barulhos.

Sim, parecia seu portão. Será Grissom que voltou? Ou algum bandido veio para seqüestrar ela e seu filho também? São tantas possibilidades! Mas ao chegar à janela, e ver aquele homem cansado, mancando, e com sacolas nas mãos, não havia como negar.

Ele prometeu, e ele cumpriu. Gil estava de volta.

Correu atravessando a sala e indo direto á porta. Ao abrir, ele ainda subia os únicos três degraus que dava á entrada.

- Gil... Oh meu Deus! Você voltou! – Quase saltou em seus braços. Um abraço forte, carinhoso, dolorido. – Está sangrando na testa, meu amor!

- Amor, não me aperte muito. – Gemeu um pouco. – É, levei uns socos. Umas tapas. Além de chutes. Mas estou bem agora. – Suspirou. – Vendo você.

- Vida minha... – Se separou pra olhar em seus olhos.

- Por Deus, Sara! Não me olhe assim. – Seus olhos marejaram, colocou as sacolas no chão. – Senti tanto a sua falta...

- Eu também... Tive medo de te perder.  – Chorou, balançando seus ombros freneticamente. Fazendo Grissom ir até ela e a embalar.

- Já passou, querida... Passou. – Afastaram-se novamente e Grissom segurou as sacolas apontando pra Sara. – Não me esqueci dos... – Abaixou à cabeça, isso era doloroso. – Dos iorgutes do Grissomzinho. Pegue. – Entregou.

- Ele está dormindo. – Fechou a porta e colocou as sacolas na mesa. – Amor, venha. – Segurou sua mão, o puxando para o quarto. Suas lágrimas ainda desciam. – Vou preparar um banho pra você.

- Promete que irá parar de chorar? – Ao falar isso, Sara desabou novamente em lágrimas. – Querida, pare. Sabe que não consigo suportar te ver assim.

Foi praticamente impossível segurar as lágrimas. Grissom silenciosamente deixou sua tristeza ser mostrada. Afagando os cabelos de Sara, com sua cabeça encolhida no pescoço cheiroso, Grissom colocou tudo pra fora.

- Prepare meu banho. – Enxugou seu rosto com as costas das mãos. – Vou ver meu pequeno grande homem.

- Está dormindo em nossa cama. – Sara disse. – Tive que colocá-lo lá abraçado ao seu lençol. Só assim conseguiu dormir. Depois de se alimentar. – Encarou o chão.

- Vamos lá. Preciso vê-lo.

.....

Enquanto tocava na água para medir a temperatura certa, Sara escutava sussurros de Grissom conversando com seu filho, mesmo o pequeno estando dormindo. Há coisas que a fazia ficar completamente apaixonada pela vida, e havia outras que a deixava decepcionada. Como alguém fazia uma maldade daquelas? Grissom tentava ser forte, mas Sara sabia que estava acabado por dentro.

- Filhão? Com que você está sonhando? – Grissom dizia sorrindo deixando uma lágrima escorrer. Tocando no rostinho da criança. – Será com o papai? Se for, deve estar muito legal, não é? Pequeno grande homem, o papai voltou... E amanhã é o papai que vai te dar iorgute, não a mamãe, e também vai brincar de cavalinho. Você gostou da idéia?

- Querido? – Sara o chamou da porta do banheiro. – Venha.

- Estou indo. – Olhou mais uma vez para seu filho, e o beijou na testa. – Bons sonhos, Brian. Durma em paz.

Ao entrar no banheiro, viu Sara sentada ao lado da banheira, tocando na água, o esperando. Despiu-se e sentiu sua cabeça latejar. Sentia muita dor na testa. Talvez tenha sido no momento em que foi jogado no chão ainda sentado e...

Agora, já chega!

Não era mais momento para recordar disso. Não podia ficar se martirizando lembrando-se do sofrimento que passou. É difícil, mas temos que pelo menos tentar passar uma borracha e apagar, nem que seja lentamente, as coisas ruins.

Entrou na banheira sentindo a água doer contra seu corpo, mesmo estando na temperatura ideal. Sara sempre acertava e Grissom adorava quando preparava seu banho. Uma terapia que o ajudava a livrar-se dos problemas do trabalho.

Sara levava a água até a testa dele, deixando escorrer em seu rosto barbudo e cansado. O corte na testa, mesmo não sendo muito profundo, denunciava tamanha violência sofrida. Seus braços tinham manchas roxas, nas costas também. Era difícil ver essa situação e não sentir uma dor fina e aguda em seu coração. Mas, não queria lembrar-se disso agora. Por instantes queria fazê-lo livrar daquele mal.

- Querida... – Sussurrou.

- Sim, meu bem. – Respondeu ainda jogando água lentamente sobre seu rosto, passando as mãos pelos cabelos, tentando limpar as impurezas.

- Você é a razão do meu viver. – Se tinha palavras antes, agora lhes faltava. Sara não conseguiu pronunciar nada, a não ser beijá-lo. Um beijo curto, mas significativo pra eles dois. – Foi por sua causa que ainda estou vivo. – Suspirou.

- Você está vivo, porque não era a sua hora de partir. – Repetiu as mesmas palavras que havia dito para seu amigo Nick anos atrás.

- Você não entende. – Balançou a cabeça. Mas não adiantava explicar. As palavras fogem, não são suas amigas. – Um dia ainda consigo te explicar, meu bem. Foi todo o amor que sinto por você e pelo Brian que salvou minha vida.

- Estávamos pensando em você o tempo todo.

.....

Dias se passaram, mais precisamente três dias, e o mandado de busca para seus seqüestradores já estava em todos os noticiários. Além de estar em todos os departamentos de polícia de Nevada. Seus amigos quando souberam se sentiram tão impotentes que Grissom chegou a se emocionar com tal preocupação.

Mas nesse dia... Esse dia se tornou tão importante! Porque aconteceu uma coisa que julgava ser impossível. Ou melhor... Aconteceram muitas coisas boas. Uma delas foi logo cedo da manhã, ao despertar.

- Shiii... Filho, fique quietinho. – Sara sussurrava enquanto caminhava com Brian em seus braços pelos corredores. – Papai está dormindo.

A criança dizia coisas, falava palavras sem sentido e Sara tinha vontade de gargalhar. Com suas mãos apontadas para o quarto, talvez ele estivesse implorando para ir até o pai e Sara não entendia. Quer dizer... Entendia sim. Era mãe.

- Não vamos acordá-lo ainda. Ele está muito cansado, meu anjo. – Brian disse algo. – Sim, isso mesmo meu amor. Cansado. – Sara concordava com o filho mesmo sem saber o que ele tentava dizer. Coisas de mãe.

- Alguém está querendo o papai, é isso? – Grissom gritou do quarto e Sara olhou pra Brian sorrindo engraçada.

- Conseguiu o que queria Brian? – O garoto meigo de cabelos lisos e castanhos respondeu com um sorriso idêntico de sua mãe. – Não nega ser da família, sempre consegue o que quer. – Caminhou até o quarto.

- Filhão! – Grissom falou alto atraindo a atenção do bebê para ele. – Vem cá... Conseguiu o que queria? – Tomou em seus braços, ainda sentado na cama. – Amor, ele está cada dia mais lindo, não é?

- Sim, amor. Lindo.

Sara foi em direção ao banheiro e depois voltou dobrando algumas roupas. Em seu ombro, tinha uma frauda de Brian. Seus cabelos amarrados em um coque, a calça de malha folgada, a blusa de alça... Todos esses detalhes não deixaram de passar pelo campo de visão de Grissom, que descrevia essa cena como: “Melhor mulher do mundo. Esposa e mãe. E totalmente dele.”

- Alguém mais quer o papai?

Sara se virou bruscamente ganhando um dos sorrisos mais lindos que existia. Ali estavam os dois amores de sua vida. Um com o sorriso mais apaixonado e o outro com o mais inocente. Não conseguia viver sem eles.

- Ah... – Fingiu-se de tímida. – Eu quero também sim. Será que o Brian divide um pouquinho com a mamãe? – Sentou ao lado deles na cama. – Deixa, baby?

- É claro que ele deixa, mamãe. – Grissom disse a puxando. – Venha, você ainda não me deu meu beijo hoje. – Beijaram-se.

- Pa... Pa... Papai...

- Gil? – Interrompeu o beijo. – Você ouviu isso?

- Sim. – Seu sorriso incandesceu de tão brilhante. – Repete filho. Papai. Fala... Papai. – Depois olhou pra Sara e a viu admirando. – Não tenha inveja por eu ter sido o primeiro, querida. Ele ainda irá dizer mamãe.

- Não estou com inveja. – Sorriu com vergonha. – É que normalmente chamam primeiramente mamãe.

- Normalmente. Um filho que vem da reprodução entre a espécie Sara Sidle mais a espécie Gil Grissom gera uma coisa maravilhosa como essa, só que com alguns pontos característicos nunca vistos em seres algum na terra. Então, não é normal. – Sara riu.

- Isso foi o Nick que disse.

- Mas eles têm razão. Brian é muito inteligente. – Sorriu orgulhoso.

- Igual à mamãe e o papai, não é filho?

.....

No fim do dia, Sara e Grissom receberam a ligação que mudariam suas perspectivas sobre os seqüestradores. Aconteceu que eles se entregaram á polícia, todos os cinco. Contando todos os detalhes e o quanto Grissom pediu pela sua vida...

Focando em sua esposa. Lembrando sempre dela em cada frase que diziam, e estavam ali por puro arrependimento. Principalmente o chefe. Grissom entrou na delegacia com Sara e Brian bem na hora que efetuaram a prisão.

Olharam-se e o medo voltou com força em Grissom. Simplesmente abraçou sua esposa e seu filho, em ato de posse. De medo. Seu coração batia desconfortavelmente, como se fosse perder a respiração. Sara tinha os olhos vidrados e lacrimejados. Foram aqueles homens que quase destruíram sua vida. Estava sentindo náuseas. E no momento que o “chefe” passou por eles disse baixinho só pra eles ouvirem...

- Vocês são um exemplo pra mim. E tio... – Grissom o olhou desconcertado. – Você é como um herói. Senhora... – Sara o olhou. – Ele te ama mais que tudo. Acredite.

Naquele dia eles passaram pela sensação de medo outra vez. Mas ficaram cientes de que na história deles, em sua história de vida, o amor venceu. Não acontece em todas, mas na história de Grissom e Sara aconteceu.

Aqui... O amor fez a diferença.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Bem, vou colocar um próximo capítulo como explicação do fato real. Espero que tenham apreciado do meu drama.
Foi uma das mais marcantes histórias que escrevi...
Obrigada por acompanhar!