People, Mind, Mistakes And Fall escrita por Eruchan


Capítulo 2
parte 2 - wear me down


Notas iniciais do capítulo

Ahhh, então, eu sei que a parte 2 é meio chatinha, mas ela foi necessária. A parte 1 foi a que eu mais gostei de escrever xD



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"Feels like there's something missing"

Outubro

Yesung's point of view

O tilintar dos sinos fez meu corpo girar e encontrar aqueles belos olhos, fitando-me como se pudessem me controlar. Talvez fosse essa a razão de eu ter visitado o mesmo café durante mais de um mês. Ela era a razão. Ainda usava a pulseira prateada em seu pulso, agora tão familiar que eu poderia reconhecê-la a quilômetros de distância. Exagero à parte, tinha demorado demais para ela me mostrar que tinha percebido o meu interesse. Mas eu era paciente. Surpreso comigo mesmo, eu era muito paciente.

Mantive minhas mãos nos bolsos do meu casaco escuro e comprido e sorri quando ela fez o mesmo para mim. Estava corada, talvez por conta do frio, talvez por vergonha. Dessa vez eu não fazia ideia. Eu só conseguia enxergar a minha felicidade presa dentro daquele corpo. Respirei fundo, esperando que ela começasse a me explicar por que tinha deixado um bilhete em minha mesa, junto à conta que eu deveria pagar quando terminasse de degustar o meu chá gelado. Suas palavras me avisavam sobre uma futura conversa que ela gostaria de ter comigo, quando o café estivesse fechando. Suas letras atiçaram a minha curiosidade.

- Você está sempre aqui, no mesmo horário - ela começou enquanto sua voz saía levemente trêmula - não há muitos clientes assim...
- Está me pedindo para parar de vir? - eu precisei dizer. Queria ver o pânico em seus olhos com a mísera ideia de me afastar.
- Não, é claro que não - ela se apressou, cortando-me. Não parecia estar sendo fácil para ela falar como havia pretendido. Imaginei como havia treinado em frente ao espelho antes de conseguir estar frente à frente comigo daquela maneira. Isso deixava o meu interior explodindo em fogos de artifício - eu... Eu sei quem você é... Você me deu isto.
De repente era eu quem estava perdido. Não fingiria mais desinteresse, não era possível. Estava encurralado por meus próprios sentimentos.
- Foi você, não foi? - seus olhos estavam brilhando para mim, enquanto apontava para a pulseira. O bastante para me dar coragem de ir em frente.
- Sim - eu respondi simplesmente. Não sabia como não parecer patético por não tê-la presenteado pessoalmente.

A verdade era que eu me sentia tão inferior, tão prejudicado por todos os boatos sobre seus relacionamentos, curtos em sua maioria. Machucava-me pensar que ela não conseguia encontrar ninguém com quem dividir a sua vida toda. Alguém que significasse o que ela era para mim. Então eu me contentava em apenas estar lá, por perto.

- Suas intenções parecem tão boas - ela já estava ciente de que não tínhamos outro caminho a não ser tentar o envolvimento - parece que me conhece tão bem.
- Mas eu conheço - eu confessei, omitindo a parte em que a assistia todos os dias do parque.

- Também quero conhecer você.

E então provei a mim mesmo que a ideia de deixar a caixinha com a jóia esquecida no balcão, apenas com o seu nome marcado à caneta no embrulho branco, tinha sido perfeita. O velho truque de se ganhar a presa através de sua curiosidade. Ela deveria ter perdido horas pensando em quem seria o seu admirador secreto até juntar as peças e me descobrir. Até olhar para o estranho que não a encarava e sentir que ele tinha algo que poderia prendê-la. Talvez por um mês ou menos. Talvez para sempre.
Talvez eu só estivesse sonhando que estava ganhando aquele beijo, caloroso e receoso ao mesmo tempo.
Mas se era sonho, eu não queria acordar.

Zhoumi's point of view

Estava preocupado com o fechamento da semana, por isso corria de um lado ao outro no escritório. Mesmo não tendo avisado Thainá sobre meu atraso, eu não tinha esquecido de que ela prometera ir me buscar assim que seu chefe a liberasse. Já estava quase na hora dela chegar, mas eu não me preocupei, já que havia avisado na portaria sobre a visita. Todos a conheciam formalmente, pois ela era, além de minha esposa, uma importante repórter de um jornal conhecido.

Desliguei o telefone, notando a presença de Chanji, uma das colunistas que estava me devendo seu trabalho. Sinceramente, não me importava os problemas que ela estava tendo com seu companheiro, assunto comentado por praticamente todos dentro do escritório, o dever dela era me entregar as críticas semanais como estava acordado em seu contrato.

E eu sabia o que ela queria, chegando assim em minha sala, quase no fim do expediente. Mas acredite, pernas longas e bonitas não eram o bastante para me convencer a relevar erros. Se esse fosse o caso, eu me comeria em frente ao espelho.
- O que você quer? - eu disse rudemente, esperando que ela me poupasse da ceninha que talvez repetiria. Na última vez, tive que dizer coisas inesperadamente grosseiras para que ela me deixasse em paz.
- Me desculpar pela última edição - sua voz era friamente calculada, fazendo-a soar de forma sexy - eu não fui capaz de lhe poupar as críticas, não é?
- Sim, nós perdemos algumas coisas com isso - eu tentei não encará-la para não lhe dar a ilusão de que estava interessado - trabalhe duro da próxima vez, ou terei de tomar providências.
- Por que não faz isso agora? - rapidamente ela caminhou até mim, ficando na minha frente. Tentei me levantar da cadeira, mas não iria conseguir fazê-lo sem que tivesse de machucá-la. Rolei os olhos.
- Não é assim que se revolvem as coisas, Chanji-si - mesmo com toda a fama que nós, chineses, tínhamos, eu não curtia me envolver com garotas do tipo dela.
- Mas é assim que eu resolvo.

Se eu fosse qualquer outro cara, aceitaria ela querer me fazer algo diferente. Mas eu tinha alguém a quem prometi ser fiel.

Empurrei Chanji cuidadosamente, fingindo que nada havia acontecido. Peguei meu casaco e minha pasta e rumei para a saída da sala, deixando-a paralisada, mais uma vez. Eu lhe daria um último aviso, com toda a minha cordialidade.
- Chanji-si, aprenda o significado da palavra respeito - eu disse, de costas para ela - caso contrário terei de demiti-la.

Quando alcancei o pavimento térreo, avistei o carro de Thainá estacionado bem em frente ao prédio. Eu entrei no carro, afrouxando minha gravata e colocando o cinto de segurança. Depositei um beijo de leve nos lábios de minha esposa e sorri, enquanto ela fazia o mesmo para mim.
- Wo ai ni - eu falei, fazendo-a rir. Eu repetiria isso para sempre.

Mesmo achando que eu estava levemente nervoso com o que tinha acontecido, agradeci mentalmente por Thainá não ter notado. Eu pouparia qualquer briga entre nós, já que seria desnecessário. Não havia espaço para isso.

Siwon's point of view

De vez em quando ela aceitava as minhas caronas. De vez em quando nós ouvíamos os outros fofocando sobre isso. Marie estava incomodada e começou a me evitar, mesmo eu insistindo tanto que palavras ao vento logo desapareceriam. Talvez ela achasse que isso aconteceria comigo, com aquilo que eu lhe transmitia. A verdade era que eu estava tentando encontrar uma maneira de fazer aquilo tudo acontecer de maneira menos conturbada. Eu já esperava falatórios à respeito, mas não queria que ela fosse prejudicada por isso.

E tudo o que parecia estar acontecendo ia contra o que eu esperava. Nem mesmo os outros professores entendiam que eu não queria apenas conquistar a última das professoras daquele colégio, apenas para completar uma lista idiota sobre a qual o boato havia se instalado. Eu a conquistaria porque sentia algo verdadeiro por ela. Eu também tinha coração, não apenas um corpo bonito. E tinha sentimentos e não apenas desejo.

Esperei pacientemente pelo horário de almoço dela, parado próximo à sua sala de aula, ouvindo tudo o que ela dizia. Estava explicando algo sobre a literatura que ela apreciava com extremo bom gosto. As palavras estrangeiras fluindo de seus lábios... Seu conhecimento não era somente vasto, mas muito interessante. E o modo como ela conseguia expor isso em suas aulas era encantador.
A admirava por essa qualidade.

Porém, para alguém com um conhecimento leigo, para não dizer ignorante, como o de um aluno rebelde naquela idade onde só causam problemas, tais aulas expositivas eram maçantes. Pude ouvir os sussurros aumentando de tom quando um dos garotos, sentado ao fundo da sala, bateu na mesa de madeira, causando um estrondo que pôde ser ouvido até mesmo no corredor. Permiti-me interromper a discussão que estava a ser iniciada quando Marie pediu que o menino se acalmasse e o mesmo começou a caminhar rapidamente em sua direção. Sem pestanejar, escancarei a porta da sala, pondo-me ao lado da professora, para defendê-la.
- Siwon-si, está tudo bem - ela disse com a voz controlada - Jeodong-si só está um pouco nervoso por suas notas e...
- ESTOU NERVOSO COM VOCÊ! - o aluno gritou, irritando-me. Aquele tipo de comportamento não poderia ser considerado normal.
- Não pode erguer a voz com a sua professora - eu disse, sério. Todos os olhos estavam concentrados na cena - Jeodong-si, sente-se.

Talvez ele estivesse com problemas em casa ou com alguma namorada, mas isso não justificava o seu ato. Nervosamente ele começou a arremessar o material de seus colegas contra nós, enquanto eu tentava proteger Marie dos objetos. A sala foi invadida por outros professores minutos depois, alarmando os outros alunos, mas contendo o agressor. O levaram para fora e só o que eu pude fazer foi verificar se Marie estava bem.
- Eu preciso ir para casa, Siwon-si - ela pediu, trêmula.
- Eu levo você - eu disse e a ajudei, segurando sua cintura, vendo que suas pernas estavam bambas pelo susto.

Marie era frágil e um ataque desses só prejudicaria o tratamento que ela fazia. Não queria que ela caísse em depressão de novo.

Sungmin's point of view

Nem que eu quisesse conseguiria chegar a tempo para a aula de canto. Tinha prometido à mim mesmo que deixaria o despertador meia hora adiantado na segunda-feira, apenas para poder acompanhar as aulas decentemente. Porém, isso não era possível. Mesmo com o barulho ensurdecedor eu voltava a dormir, sempre recordando a noite de domingo em meus sonhos. Despertar deles era trágico.

Já perdera quarenta minutos da aula e agora eu estava apenas assistindo, sentado no banco do lado de fora enquanto a imagem de Lilah me enchia os olhos. Não conseguia ouví-la, a sala era acusticamente isolada, mas seus lábios se movendo me diziam que aquela voz suave estava encantando à todos os ouvidos ali dentro. Sorri quando ela o fez, sabendo que a música havia acabado. Eu a vi encarar o garoto ao seu lado e engoli em seco.

Kyuhyun era um novato que estava conosco na academia há duas semanas. Ele tinha uma voz tão poderosa que havia encantado praticamente todas as garotas do coral. E tinha um corpo esbelto que o fazia ser a mesma atração às garotas da equipe de dança. O fato de Lilah fazer parte de ambas as atividades me deixava receoso. Eu era bom no que fazia, claro, eu era bom para ela. Mesmo assim, Kyuhyun seria um rival à altura, se quisesse. O modo como ele olhava para as pessoas, o modo como era cordial. Algo nele o tornava suspeito. Ao menos em meu ponto de vista.

Lilah sumiu da minha vista e respirei fundo, esperando. A porta foi aberta e os alunos começaram a tomar seus rumos, alguns sorrindo para mim e me dizendo 'bom dia'. Levantei-me quando vi minha garota saindo, rindo de algo que Kyuhyun havia dito. Eu me aproximei para só então ser notado.
- Ah, oi, Sungmin - ela sorriu e impulsionou o corpo para frente, me abraçando. Em seguida virou-se de volta a Kyuhyun sem me soltar - eu tentei ligar pra você...
- Me atrasei de novo - eu dei a minha desculpa - pelo visto a aula estava interessante...

Talvez não fosse correto da minha parte sentir ciúmes. Porém, Kyuhyun gostou de perceber isso em minhas palavras. Seus olhos estavam me fuzilando como se entendesse o que estava acontecendo dentro de mim, algo que nem eu saberia descrever. Involuntariamente, eu levei minha mão até a cintura de Lilah, como se a prendesse comigo. Por medo. Afinal ela era minha.

- Podemos ir lanchar juntos, o que acham? - Lilah quis saber, mas a ideia era absurda. Eu não estava nem um pouco interessado em conviver com gente como aquele cara e...
- É uma ótima ideia - Kyuhyun se pronunciou. Não tive coragem de cortá-lo ao ver a animação de Lilah com essa resposta.

Não adiantava repetir à mim mesmo que não havia uma ameaça. Estava visível demais aos meus olhos.


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Notas finais do capítulo

Eu acho que perceberam o mês em destaque no começo do post, mas é que cada cena se passa em apenas um dia... ou seja, tem mais 29/30 dias entre esses acontecimentos que não serão narrados. Isso porque a fic é rápida e eu queria que vocês mesmos imaginassem como é o desenrolar dela. Melhor dizendo, julguem vocês mesmo o que pode ter ocorrido entre as narrações. Muita coisa, eu garanto ^^
Espero não ter confundido ainda mais. hohoho