O Tempo Irá Dizer escrita por analauragnr


Capítulo 47
Ombro amigo


Notas iniciais do capítulo

Música que acompanha o capítulo:
Patience - Guns N' Roses
http://www.youtube.com/watch?v=A-nuXlW0ZbA&feature=related



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Capítulo 47 – Ombro amigo A paisagem corria diante dos olhos de Cascão. As árvores, a estrada, as placas passavam como borrões verdes, pretos, amarelos, vermelhos, azuis. Virou os olhos para o céu, ainda enegrecido. Observou que pequenos feixes alaranjados surgiam aos poucos, iluminando o horizonte. Um novo dia estava por vir, amanhecia na estrada. Abria aos poucos seus olhos semi-cerrados, abriu a janela elétrica, pousando sua cabeça para fora. A brisa chicoteava sua face, a sua canção penetrando em seus ouvidos. Devaneios penetravam em seu corpo. Notava que estava agindo de forma incoerente, pois namorava Cascuda durante muito tempo, mas seu amor por ela se desintegrou, a amizade ainda permanecia. Por ela seu sentimento era de uma eterna confidente, uma companheira que poderia contar para qualquer dificuldade. Ainda não havia tanta certeza em seu peito, pois sempre ficava dividido: a comilona, pela qual sentia uma inexplicável atração e uma eterna companheira que sempre gostou. Ele, desde que começou a namorar Maria, somente a beijou de verdade uma vez em toda sua vida. Fora um momento especial, tanto em sua vida quanto na da Cascuda, foi o presente dela de seus quinze anos, um beijo demorado e intenso. Muitas vezes estava dividido entre as duas garotas por esse motivo, além de já ter “provado” Magali. Mas não fora realmente como desejou, apenas selou os lábios no dela brevemente e desapareceu de sua vista. Mesmo nessa situação, algo ele tinha certeza: houve mais intensidade no momento breve. Fora tão bom provar aqueles quentes lábios comilões, o qual havia sabores diversos como chocolate, morango, caramelo, entre outros. Ele amava Magali? Não sabia, pois ainda não houve uma comprovação concreta. Em outras palavras, algum acontecimento realmente romântico, amoroso. Ele iria tê-lo? Sim. Quando? Tentaria durante todo o fim-de-semana, não interessava como e onde faria. Retirou seu rosto, o qual saboreava o vento, e contemplava a comilona, a qual fitava o horizonte, distraída. - Magali? – cortou o silêncio mortal. - Que... – respondeu monotonamente, virando seu rosto. - Se eu fizer uma pergunta, você me responderia? – ele fitou brevemente o chão, constrangido e olhou pelo canto dos olhos a comilona. - Hum – ela deu de ombros – Faça a pergunta, eu não ligo. - Você vai realizar a minha condição? Magali fitou os olhos de Cascão, os quais indicavam meiguice e curiosidade. Constrangeu-se com aquela pergunta, ao mesmo tempo em que se enfureceu, pois já havia dito para ele que não havia possibilidade de realizar a condição imposta por ele para que não irritasse tanto ela. O silêncio era mortal tanto para ele quanto para ela. O que responder? Não? Já havia dito e pelo jeito o sujinho não compreendeu. Sim? Não, não podia, não queria, não queria. Correção, seu lado racional não desejava, mas toda a sua alma implorava pelo sim. Sim, sim, sim! Mas por que ela não atendia ao pedido desesperado de sua alma? Porque não queria ficar mais dividida do que está. Quinzo sempre foi para ela um companheiro amoroso, carinhoso e gentil, porém muito ciumento e possessivo. Ao contrário do sujinho, não havia nenhum real beijo entre ela e seu namorado de longa data, como ele próprio havia dito a ela, ao mesmo tempo em que pediu um beijo intenso. Mesmo assim ela não tinha certeza de seus confusos sentimentos. A única certeza era sua forte atração pelo sujinho, o qual era provocador, aliás, muito. Outro motivo para não atender o pedido era sua teimosia. Queria provar para si mesma que tudo isso era efêmero, logo iria passar. Mas como iria passar, se ela mesma surtou várias vezes, tendo pensamentos malucos e bizarros. Tudo por causa de um amigo de infância. Teimava, teimava mais do que tudo. - Isso é hora para fazer essas perguntas, bestão? – ela fitou o seu anel, sua teimosia começava a invadi-la. - Você ainda não respondeu a minha pergunta... - Nem você... - Primeiro as damas! – disse Cascão, curvando seu rosto, demonstrando cavalheirismo. - Humph – ela mordeu o lábio inferior – Como já disse da outra vez, não vou! - Você tem certeza disso? – ele levantou uma das sobrancelhas. - Sim, tenho certeza! – afirmou Magali. - Veemente? - Hã? – perguntou franzindo a testa. - Veemente quer dizer verdadeiramente... - Ah – Magali revirou os olhos – Sim, tenho certeza absoluta. Isso – ela levantou sua aliança para perto dos olhos dele. – serve como argumento? - HAHAHAHA! Magali, Magali... Sempre a mesma, as mesmas desculpas. Eu tenho namorado, eu tenho namorado, eu tenho namorado! Bláh! Ah, fala sério, eu também tenho e nada me impede de fazer isso com você! - Como não! – ela estava impaciente, batia freneticamente o pé no chão do automóvel - Eu, em primeiro lugar, para fazer qualquer coisa, seja qual ela for, preciso estar solteira, sem ninguém ao meu lado. E eu tenho! Isso aplica também a você, senhor Cascão! – ela direcionou seu dedo ao rosto dele, próximo ao nariz. - Se você quiser, eu termino com a Cascuda AGO... - Shh. Fica quieto cabeção! – ela pousou sua mão na dele. - Mas por que – ele a retirou, fitando seu olhos. Magali não respondeu, apenas apontou para o seu lado direito. Cascão virou seus olhos, para onde a mão de Magali apontava. Ele ficara surpreso, ao mesmo tempo que achou a cena romântica. Cebola estava com sua face encostada no vidro da janela do carro, de olhos fechados, adormecido. Sua mão direita estava apoiada em seu rosto, a esquerda solta. Mônica também estava adormecida, sua face deitada sobre o ombro de Cebola, o qual ela utilizava como um travesseiro, seu braço esquerdo e direito abraçado carinhosamente ao pescoço dele. Qualquer um que visse a cena pensaria que os dois eram um casal, pois amigos de infância não estariam assim, ainda mais sendo Mônica e Cebola, os quais sempre brigaram e muito quando crianças. (Caara! Olha o Cebola arrasando corações hein...) - Hey, careca! – sussurrou Cascão, cutucando-o repetidamente. - Que? – perguntou Cebola com a voz um tanto morta, levantando o rosto, fitando o sujinho. Cascão apontou rapidamente para ele e Mônica. Cebola virou o rosto para Mônica, corando ao perceber a maneira como ela estava unida a ele, girando sua face de volta a Cascão. O sujinho desenhou no ar, com seus dedos indicadores, um enorme coração e logo depois enfiou uma das mãos dentro da blusa e mexia-o, batendo contra a blusa, fingindo ser o coração de Cebola, o qual saltitava. - Pala com isso, Cascão. Não tem nada a ver. - Haahahahaa ! – riu Cascão. - Qué pala, seu pudim de ostla, você vai acoldar a Mônica. - Nem ta chamando ela de dentuça, hein... Isso que é amor! - Dentuça, dentuça, viu, eu chamo ela de dentuça! Não é amor! Não é! - Haaha – riu o sujinho baixinho – Sei, sei... - Ei – interrompeu Magali – fiquem quietos! Eu quero ouvir a música. O som estava ligado fazia muito tempo, mas ninguém realmente o escutava. Ruídos e mais ruídos rondavam aquele lugar, nem Dona Luísa, a qual estava indiferente ao que acontecia, prestou uma real atenção à música. Cascão, devido ao pedido da Magali, calou-se e escutou a música. Magali havia reais motivos para que todos se calassem e prestassem atenção para a canção. Ela sabia os sentimentos envolvidos nela. Shed a tear 'cause I'm missin' you I'm still alright to smile Girl, I think about you every day now Was a time when I wasn't sure But you set my mind at ease There is no doubt You're in my heart now Cebola enrubesceu sua face, parecendo um pimentão. Na hora reconheceu. Sua primeira prova de amor, porém não aceita. Mesmo assim, tinha muito valor para ele, pois conseguiu amolecer Mônica. Olhou para o sujinho e a comilona, aquele permanecia calado, não entendendo a situação, enquanto Magali sorria e olhava maliciosamente para Cebola, dizendo através do olhar “Faz alguma coisa, seu palerma”. O troca-letras ficou sem-graça e continuou escutar a música. Said, woman, take it slow It'll work itself out fine All we need is just a little patience Said, sugar, make it slow And we come together fine All we need is just a little patience (patience) Mm, yeah Magali, para aumentar o clima, levantou seu corpo e apertou os botões do aparelho de som, aumentando o volume da música. Cebola finalmente percebeu que a comilona queria que ele fizesse algo, pois ela sabia que Mônica, mesmo adormecida, ouvia a música. Cebola moveu sua face, virou-o para o de Mônica, ainda pousada no seu ombro. Encurvou sua face para os cabelos negros da dentuça, pousando seus lábios calmamente, beijando a cabeça da dentuça demoradamente. Depois disso, acariciou a região beijada, descendo sua mão para as costas dela, esfregando-a delicadamente. Pousou sua cabeça na dela, suspirando. I sit here on the stairs 'Cause I'd rather be alone If I can't have you right now I'll wait, dear Sometimes I get so tense But I can't speed up the time But you know, love There's one more thing to consider Said, woman, take it slow And things will be just fine You and I'll just use a little patience Said, sugar, take the time 'Cause the lights are shining bright You and I've got what it takes To make it We won't fake it, I'll never break it 'Cause I can't take it Cascão finalmente entendeu o significado da música. Sorriu de uma forma engraçada para Cebola, o qual retribuiu mostrando a língua. O sujinho continuou sorrindo, girou seu rosto para Magali e a fitou, piscando para ela. Magali ficou um tanto sem-graça, mas sorriu para ele, envergonhada. Virou seu rosto e fitou a janela. O som era desligado, Dona Luísa finalmente falava: - Chegamos pessoal! Espero que vocês aproveitem e muito o rancho. Via-se do lado direito do carro um vasto gramado, uma piscina retangular de dez por vinte, rodeada por cadeiras, guarda-sóis. O local era rodeado por um alto muro, com uma placa de Rancho da Pirraça. Não muito longe da piscina encontrava-se a casa, com colunas de tijolos muito limpos e de ótima qualidade. Havia uma rede entre duas colunas, perto da rede uma mesa para jantar para oito pessoas, suficiente para toda a turma. Do lado esquerdo da casa havia um banco-balanço, o qual suportava quatro pessoas. Era um lugar aconchegante, típico do cenário rural. O carro parou e desligou-se logo em seguida. O carro dos Souza já estava ali, já com todas as malas descarregadas Luísa, Cascão e Magali desciam do carro animados, felizes por finalmente chegarem. Mônica ainda estava adormecida, Cebola encostado-se a sua cabeça. Quando ele percebeu que o carro havia parado, decidiu retirar sua cabeça da dentuça, dando outro beijo em seus cabelos. Aproximou de seu ouvido e sussurrou: - Mônica! Chegamos! Acolda! A dentuça, assustada abriu os olhos, vendo Cebola muito próximo a ela. Enrubesceu sua face, havia percebido que estava no ombro de Cebola, suas mãos abraçando seu pescoço. Ficou sem-graça, mas não conseguiu dizer nada. - Bom dia – sussurrou Cebola, fitando seus olhos sorrindo. - Uaaah, bom dia Cebolinha – Mônica bocejou, sorrindo para Cebola. – Por que você não me acordou antes? Devo ter incomodado você por ter dormido tanto tempo no seu ombro... - Não incomodou não, meu amor... – ele sorriu para ela de novo – Aliás, não teria coragem de te acordar, não mesmo. Você fica muito mais linda quando ta dolmindo! Mônica não conseguiu responder, ficou completamente desnorteada depois daquelas palavras de Cebola. “Você fica muito mais linda quando ta dolmindo”. Que coisa mais fofa, ela dizia de si para si. Retirou calmamente seus braços dele, levantou seu rosto e saiu do carro. Cebola saiu logo depois. - Por que demoraram tanto para descer? – perguntara Dona Luísa e Seu Souza, este um pouco bravo, já aquela sorrindo maliciosamente. - Ela demolou pla acoldar, Seu Souza... – disse Cebola com o medo nítido na voz - Mas ela acordava sozinha, não precisava fazer isso... - Na veldade ela tava encostada no meu omblo, eu tive que acoldá-la! - Hum... disse Seu Souza, cruzando os braços. - Ah pai, eu tava sentada no meio, não tinha onde encostar para eu dormir... – disse Mônica, tentando acalmar seu pai. - MAS PRECISAVA SER NO CEBOLINHA! - Souza – interrompeu Luísa – não vamos discutir agora! A Mônica não percebeu que tinha dormido no ombro do Cebola, por isso ela continuou dormindo. Não ocorreu nada entre eles. Ele só a acordou, não foi Cebolinha? - Foi, foi... Desculpa Seu Souza, sério! - HHumm, tudo bem! - Ah, Souza, pára de ser tão infantil! Agora fale para eles sobre a surpresa. – Luísa aproximou do marido, beijando seu rosto. - Ta, ta... – concordou Seu Souza – Aqui está a chave do meu carro. Deixarei vocês todos dirigirem pela estrada de terra. Olha, não quero que se arrisquem correndo muito ou fazendo gracinhas com o carro. Como sei que cada um de vocês já aprendeu a dirigir, deixarei vocês sem companhia. E você Cebola, não banque o espertinho com a Mônica. (Hahaha... Agora arranjei um aliado para o Cebola enlouquecer, valeu pai...) - Ta bom, Seu Souza – assentiu Cebola, constrangido. - Simbora pessoal, vamos dirigir o poçante! – falou Cascão animadamente, pegando a chave do carro. - Vamos! – disseram Mônica, Cebola e Magali juntos. - Esperem! – falou Souza – Primeiro coloquem suas malas nos quartos e podem ir. - Ok – assentiram os quatro. Todos começaram a pegar suas bagagens e caminhavam para seus quartos, os quais foram escolhidos de forma rápida e sem discussão. A pressa de diriirem era maior, portanto não demorou muito e já estava tudo arrumado. Os quatro correram para fora da casa. Mônica pegou a chave do carro com o pai, beijou sua testa. A turma toda já sentou em seus lugares, Mônica seria a primeira a dirigir. Cebola estava no co-piloto, Magali e Cascão no banco traseiro, do lado direito e esquerdo, respectivamente. A dentuça ligou o carro, deu ré e sai estrada afora. Fim do 47º capítulo

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Notas finais do capítulo

Música que acompanha o capítulo:
Patience - Guns N' Roses
http://www.youtube.com/watch?v=A-nuXlW0ZbA&feature=related



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