O Tempo Irá Dizer escrita por analauragnr


Capítulo 41
Curativos




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Caminhando a passos lentos, abraçados, Mônica e Cebola iam a ala hospitalar do laboratório. Mas havia um problema: onde era a ala hospitalar? Essa preocupação deixava Mônica atônita, pois ele não poderia perder mais sangue. Além disso, como havia aprendido com o professor Bernardo sobre primeiros socorros, ela não podia deixar Cebola dormir, porque poderia piorar sua situação. Sendo assim, conversava qualquer coisa com ele:

 

- Ta doendo muito, CÊ? – ela fitava o machucado dele com o olhar de aflição, relando com a ponta dos dedos no local.

 

- Não, AIIIIIIIII, não rela aí não, Mônica – ele retirava os dedos dela no machucado, aproximando de sua boca em seguida. – Mas a dor pode parar se você fizer uma coisa.

 

- Agora não, Ce – Mônica falava em um tom sério, ela havia entendido o que ele queria – precisamos ver esse machucado primeiro!

 

- Mas, Mônica...

 

- Cebolinha, o corte foi sério! Agora não é hora de pedir essas coisas...

 

- Mas você atenderia – ele fitava o rosto dela com olhar de súplica – o meu pedido?

 

- Depende do seu pedido... Qual seria?

 

Cebola não respondeu. Pela sua posição estratégica, abraçado ao lado de Mônica, sendo carregado por ela, apenas virou lentamente seu rosto, aninhando-o no pescoço dela, sua respiração quente fazia o coração da dentuça saltitar, sentir um frio na espinha. Após ter ficado alguns segundos naquela posição, Mônica pousava sua delicada mão sobre ele beijando levemente a região do machucado.

 

Tal ato deixou Cebola desconsertado, sem reação. Era mais do que ele queria dela, mas estava gostando desse carinho tão delicado, tão amável. Quando a dentuça afastava-se dele, ele mexera para o ouvido:

 

- Acho que pedir perdão para você é muito pouco, minha dentucinha... Você terá uma surpresa, mas antes de fazê-la, quero que prometa que irá aceitar!

 

Ele sussurrou num tom calmo, ao mesmo tempo de súplica. Ao terminar a frase, encostou seu nariz no canto do rosto da dentuça, dando um selinho na região logo em seguida. Mônica não fazia idéia de qual seria a surpresa dele, mas tinha certeza que amaria mais do que qualquer coisa no mundo. O clima entre eles era intenso, sentimentos de culpa, perdão, felicidade, paixão, amor...

 

- Ei, vocês dois, o que estão.... – Bernardo dizia num tom rígido – O QUE HOUVE COM VOCÊ, CEBOLA?

 

- Ele se envolveu numa briga com o Reinaldo e cortou o supercílio...

 

- Mas por que eles brigaram. – interrompia Bernardo – Os dois vão levar advertência!

 

- Professor, agora não é hora de dar advertências. Onde é a ala hospitalar?

 

- Entre por essa porta – apontava para a direita – ande pelo corredor até encontrar uma máquina de café. Vire para a esquerda, na terceira porta do lado direito, você entra. Ali é a ala hospitalar.

 

- Obrigada professor. Ah, o Reinaldo também está machucado, dentro do ônibus...

 

- Certo, irei até lá. Agora andem rápido, não podemos perder tempo.

 

Mônica andava a passos largos. Cebola não conseguia acompanhar o ritmo, sendo quase arrastado por ela.

 

- Calma Mô...

 

A dentuça diminuía o passo, mas mantinha sua pressa neles. Cebola estava com os pés no ar, estava sendo carregado por ela. Mas como? Ela ainda tinha aquela força toda? Será que ela era filha do super-homem? Ora, claro que não. Era uma habilidade que veio junto a ela, como a inteligência de Cebola para realizar planos estava nele. Bom, isso não importava agora, ele pensava. O importante é que ela estava levando-o a ala hospitalar.

 

- Poxa, o tempo passa e você continua sendo essa foltona...

 

- E você continua a peste que sempre foi... – ela fitava seu rosto, mostrando a língua.

 

- As pessoas mudam Mônica...

 

- Você não!

 

- Olha quem fala, a foltona...Você não mudou nada. Continua golducha como semple. Quer dizer, também continua MALAVILHóósa como sempre ...Hehe..

 

- Ah, Cê... – a dentuça encostava sua cabeça na dele, aninhando-se nele. Isso deixou Cebola vermelho como um pimentão, seu coração disparou.

 

Ao passarem pelo corredor, virado à esquerda, encontraram uma porta muito branca, com a seguinte inscrição ALA HOSPITALAR. A dentuça, segurando Cebola com um dos braços, utilizou sua mão livre e abriu a porta calmamente.

 

O recinto era muito branco, havia um leito acolchoado cor bege. Logo abaixo dele uma pequena escada, a ser utilizada pelos pacientes com pouca altura, ajudando a subir sem dificuldades. No canto esquerdo, ao lado da porta havia uma escrivaninha cheia de papéis, relatórios, uma luminária prateada um tanto encurvada. No canto direito, ao lado do leito, uma mesa cheia de equipamentos médicos: gaze, álcool, algodão, alguns remédios, seringas, agulhas, isopores com vacinas. Isso dava náuseas em Cebola, detestava ficar nesses ambientes.

 

Mônica adentrava calmamente no local. Instantes depois, havia se encontrado com um rapaz muito bonito, que a deixou encantada. Seu nome era Felipe, o qual estava escrito num crachá em sua blusa branca. Tinha cabelos castanho-escuros, olhos cor cinza, o nariz não muito grande, boca fina. Seu rosto era angelical, aparentava ter trinta e poucos anos. A beleza incomum presente naquele doutor arrancou da dentuça um suspiro, deixando Cebola enciumado.

 

- Posso ajudar?

 

- Pode sim – dizia Cebola com a voz amarga – eu cortei o supercílio e está doendo muito.

 

- Nossa, seu machucado está muito feio mesmo, parece bem profundo. Por favor, sente-se aqui – ele estendia sua mão para o leito – Senhorita, poderia ajudar o seu namorado a se deitar?

 

- Ajudo sim! Mas nós não somos namorados...

 

- Ainda – completou Cebola, mandando uma piscadela para dentuça.

 

- CEBOLINHA!! – retrucava Mônica, alterando o tom de voz.

 

- Entendo. Bem, então o coloque no leito, vou providenciar algodão e a água oxigenada.

 

Mônica atendeu ao pedido do médico. Colocou Cebola com extremo cuidado, abaixando seu tronco para deitá-lo com delicadeza. A distância entre seus rostos era mínima, era possível sentir o ar quente saindo dos lábios de ambos, a batida do coração podia ser escutada. Cebola, aproveitando da oportunidade, levantou um dos seus braços másculos, colocou-o em volta do pescoço da dentuça, puxando-a para mais perto de seu rosto. Agora a distância de seus lábios era de um milímetro, qualquer movimento que Mônica fizesse com eles resultaria num selinho.

 

- Ei – sussurrava Cebola – assopla meu machucado?

 

Ela hesitou por alguns instantes. Mas devido a suplica irrecusável dele, levantava seu rosto calmamente, fez um biquinho e assoprou lentamente o ferimento. Aquele ar gelado deixou-o radiante, abrindo um sorriso torto para a dentuça, a qual retribuiu da mesma maneira.

 

- Bom – Felipe havia interrompido o clima dos dois – vamos logo com esse curativo?

 

- Vamos – respondeu Cebola de cara amarrada.

 

Felipe fez um gesto para Mônica se afastar, ela, obedientemente, sentou-se em uma cadeira no canto da sala, observando atenta o curativo sendo feito. O doutor, por sua vez, passava um algodão com álcool pelo rosto de Cebola, retirando todo o sangue escorrido pela face. Ao terminar, pingou água oxigenada em um cotonete e passou pelo machucado.

 

- AIIIIIIIII, isso dói!!! – urrava Cebola, apertando sua própria mão.

 

Fingindo não ter escutado a reclamação, o médico continuava a passar o cotonete. Ao terminar de desinfetar, ele passou um Metiolate no local. Não havia ardido, para o alívio de Cebola. Para finalizar, Felipe pousara um algodão na ferida, sendo ele preso a um band-aid transparente. Quanto ao olho roxo de Cebola, ele lhe dera um saco plástico com muito gelo dentro. Disse que ajudaria a diminuir o inchaço.

 

- Cebola – iniciou o médico – evite bater o rosto por um tempo, pois o sangramento pode voltar. Não se preocupe com o inchaço, logo não haverá mais nada. Ah, moça, queria lhe perguntar uma coisa.

 

- Pode dizer!

 

- Você fez com que ele ficasse acordado o tempo todo.

 

- Claro que sim... Sem dúvida! – afirmou Mônica.

 

- Pois fez muito bem. Parabéns. Agora estão dispensados.

 

Cebola, sentado no leito, levantou-se num salto, sem ajuda de ninguém. A tontura já havia passado, sentia-se forte de novo, novo em folha. Mas, oportunista como sempre foi, caminhou lentamente em direção a porta, onde se encontrava Mônica com o seu tronco reclinado, os braços cruzados, a cara um tanto amarrada.

 

- Por que você ta tão brava, Mônica – perguntou Cebola, ao lado dela, fitando os braços cruzados.

 

- Ora por que.. Porque você é uma peste, um... Argh! Deixa pra lá!

 

- Mas o que eu fiz de errado? Foi algo que eu falei?

 

- Sim, foi algo que você disse. Como pode dizer para o médico que sou sua namorada. Ora!

 

- Quer dizer então que você não gostaria de ser minha namorada, Mônica? – indagou, sem entender o motivo da fúria dela.

 

- Não é esse o “X” da questão. Nós não somos namorados...

 

- Ainda – completou Cebola, como da última vez.

 

- Ta vendo. – Mônica tentou mostrar ter razão -  Ai Cebolinha, você é incorrigível... – revirou os olhos logo em seguida.

 

- Não vejo nada de errado nisso. Afinal, eu sei que quer isso, dá pra ver no seu olhar – ele movia sua mão, encostando-se à da dentuça, entrelaçando-as.

 

- Aí que está. – Mônica continuava firme em sua tese, retirando bruscamente sua mão, cruzando os braços em seguida – Você tem a garantia de que vou aceitar a todos os seu desejos, facilitando em cada um deles. Não é assim não, Cebola.

 

- O que é então? – retrucou, cruzando os braços como ele, jogando-lhe um olhar sedutor.

 

Fim do 41º capítulo


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