Capítulo 38 – A “LUVA DENTUÇA” As duplas caminhavam em direção a uma mesa de vidro muito limpa. Em cada uma delas havia um microscópio óptico, algumas lâminas transparentes e um pequena caixa de isopor fechada, com um termômetro instalado no mesmo, o qual media, no momento -10ºC, além disso, havia dois pares de luvas descartáveis, toucas para o cabelo e um óculos próprio para a pesquisa que ali seria realizada. O aroma ali presente era muito puro e limpo. - Por favor, coloquem os óculos de proteção, – anunciava o cientista, instrutor da turma - a touca e... EI! GAROTO! Pára de brincar com a luva... Cebola pegava uma das luvas e a enchia de ar, como uma bexiga, e aos poucos estava cheia, parecendo uma teta de uma vaca. Abria o sorriso malicioso. Pegava uma das canetas que estava no seu bolso e empenhava-se numa ilustração. Desenhara dois redondos olhos, um cabelo curto e um par de grandes dentões. Escrevia em letras de forma : DENTUÇA! Ele tentara abafar a risada, mas em vão. Gargalhava como nunca, parecia que ele tinha sete anos, um moleque atrevido. - KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK – todos riam, com efeito, o eco presente na sala aumentou o estardalhaço. Antes que o instrutor tomasse providências nesse aspecto, Mônica havia dado um forte beliscão em Cebola, no mesmo local que havia feito antes de entrar no ônibus, deixando uma marca roxa no local. Além disso, ela encarregara a seu pé o trabalho de despencar no pé esquerdo dele, fazendo-o urrar de dor. - FILHA DUMA... – gritava Cebola - VAI DIZER ALGO DA MINHA MÃE, SENHOR CEBOLA? – berrava Mônica, aproximando seu rosto no dele. - VOU SIM! ELA É UMA VACA IGUAL À FILHA! – retorquia, as veias de sua frontes saltando, a raiva dominava ele. - AH, É? Deixa eu pensar: então gordura é experiência DE VIDA? Então a Dona Cebola, hein... – ironizava Mônica, não alterando o tom de voz. - OLHA COMO FALA DA MINHA MÃE, SUA “OLCA” ASSASSINA QUE... - NÃO CONTINUE SE QUER MANTER SEU BRAÇO INTEIRO, PALERMA! – contra-atacava Mônica, fechando a mão, preparando outro beliscão. - ANTES EU BATO NA TUA CARA, SUA MONGOLÓIDE... – respondia Cebola, preparando um tapa com a mão direita. - Chega! Que gritaria é essa! Aqui é um laboratório, não um hospício! – protestava Bernardo, intrometendo-se na briga. - Bem, só está faltando a camisa-de-força – dizia Magali. – será que tem uma amarelAI! - Fica quieta cabeçuda, vai sobrar para gente – Cascão sussurrava no ouvido dela. - O que você disse, Magali? – perguntou Bernardo, curioso, levantando uma das sobrancelhas. - Aiii, ele falou comi...CATAPLOF! – Magali havia desmaiado antes de completar a frase. - Ah, mais essa agora! – resmungava Cascão, ajoelhando para colocar o rosto da comilona em suas mãos, para tentar acorda-la. Antes que pudesse encostar a ponta dos dedos, Quinzo corria em sua direção, tentando acordá-la, desesperado: - Magali, meu amor... Que aconteceu? - TODOS EM SEUS LUGARS AGORA, ANTES QUE EU CHAME O HOSPÍCIO E LEVO VOCÊS, SEUS BADERNEIROS! – gritava o instrutor. - Hospício? – perguntava Magali, voltando ao normal abruptamente – quero a roupa amarela grifa-texto! AII Eu AMOOO... CADÊ MINHA CAMISA-DE-FORÇA? CADÊ? - Coitada, bateu a cabeça quando nasceu. Ela nunca foi normal... – dizia Cascão, ironizando. - IIH cabeção, fica na tua... ninguém te chamou na conversa... - E se eu quiser entrar? - Entre, pois a FESTA É SUA, HOJE A FESTA É NOSSA... – respondia a comilona (Gente, a Magali não deve ter tomado o gardenal dela hoje... HUAHAUHAUA... ai ai só ela mesmo para acalmar os ânimos e esquecer do Cebola...ué? Cadê ele? Cadê a Denise? Cadê o Reinaldinho? Meu deus, aliens o abduziram?) O “trio” havia realmente desaparecido depois de todo o estardalhaço. Mas o que será que eles foram fazer exatamente? Se fosse só a Denise e o Cebola, seria para ficar se agarrando até se cansarem, mas com o Reinaldinho era outra coisa. Será que Denise fora namorar seu “amante” escondido, e Cebola estaria lá fora, tentando acalmar os ânimos, depois da briga que teve com Mônica. A dentuça estava certa nessa última hipótese. Cebola havia saído do laboratório, fora para o pequeno jardim que se encontrava na entrada. Havia dois grandes ipês, várias mudinhas recém-plantadas e um pequeno conjunto de margaridas, rosas e lírios, algumas delas já floresciam, outras ainda estavam como botões, prestes a florescer. As abelhas ali pousavam delicadamente, fazendo seu papel na natureza. Ele caminhava em passos lentos, admirando a paisagem, tentando ao máximo esquecer tudo que aconteceu há pouco, principalmente na parte que a dentuça havia xingado, isso o deixou imensamente magoado, mas sabia que aquela briga iria dar no que deu. Atordoado com os acontecimentos, ele suspirava e caminhava de cabeça baixa, reprimindo uma lágrima. Tentando expulsar os sentimentos tristes de sua mente, erguera a cabeça, ajeitava cuidadosamente o cabelo, que agora eram volumosos, isso deixava-o orgulhoso. Não sou mais careca, não sou mais careca! HOHO! Pensava, abrindo um leve sorriso no canto da boca. De repente ele percebeu dos ipês movimentar os galhos, as flores caiam calmamente no chão. Ouviam-se murmurinhos e risadinhas abafadas, vindas do mesmo lugar. O que estava havendo ali afinal? Ele caminhava devagar, cautelosamente. Seria alguém namorando secretamente? Seria uma tremenda fofoca no outro dia. Mas quem seria? Quem? Envolto pela curiosidade, Cebola andava passo ante passo, evitando fazer qualquer tipo de ruído, poderia estragar a surpresa que teria. Estava a um metro de distância e lá decidira ficar: agora era possível distinguir duas vozes distintas: de um garoto e de uma garota, a voz muito parecida com a de Denise. Então é Denise? Encoberto pela dúvida, caminhava passo a passo, ficando centímetros da cena. Fim do 38º capítulo