O Tempo Irá Dizer escrita por analauragnr


Capítulo 25
Refelexões




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O mundo literalmente girava para Cebola. Além de estar completamente bêbado, ele se envolvia com a única pessoa que não queria relação séria, a qual era nada mais, nada menos que Denise. A razão era simples: ela era oferecida, qualquer garoto com o rosto bonito que aparecesse na sua frente, não importava quem era, ele partia para a ação e não perdia tempo nenhum. Era aquela garota típica que conquista os homens através de suas ancas e sua lábia, em vez de usar o cérebro. Apesar de os garotos dessa faixa etária (adolescentes) achar o máximo esse tipo de menina, no fundo sabem que de nada elas servem para uma relação mais séria, como um namoro.

 

Talvez por essa circunstância o sentimento de Cebola por Mônica se tornava tão intenso. Claro que houve uma época em que ela era atirada e dava em cima dele para quem quisesse ver. Porém, havia um sentimento verdadeiro, porque a dentuça mudara o comportamento depois da turma voltar à realidade, como e por que não importava. Ela não facilitava, não permitia tudo acontecer de uma vez, tudo que ocorria entre eles levava tempo, o que fazia o espírito aventureiro e gracejador de Cebola despertar de uma forma voraz. Não ao acaso a atração transformava-se em paixão, em amor incondicional.

 

Daí vem em mente a seguinte interrogação: Se ele pensa tudo isso sobre a Mônica, então como e por que ele estava sentado em um dos bancos da praça, embriagado, com um dos braços apoiados no ombro da Denise, a qual dava beijinhos contínuos em sua face como se fosse sua namorada de longa data?  Vingança, insana vingança. Para ele, sua melhor amiga traiu-o da forma mais execrável possível. Quando a observou no maior clima com Reinaldo, prestes a se beijarem, fora um basta. Aquilo ocorria na hora errada e no local errado, pois antes de vivenciar abominável cena, envolvera-se em um beijo intenso, talvez o melhor de sua vida, cheio de paixão, arrepios e carícias. Algo que não esqueceria facilmente. Ele, apesar dos apesares, queria estar ao lado de Mônica para que pudesse alegrar aquele peito estraçalhado, tanto pela dentuça quanto por Denise.

 

Contudo, não podemos olvidar de que tudo havia mudado a partir daquele dia, a vida dele tomaria outro caminho. Mudaria drasticamente? Dependeria do tempo de duração. Até quando isso prolongaria? Não se sabe ao certo, talvez até a dor dele passar? Não, não iria passar, a “traição” estava entalada na garganta e de lá não sairia tão cedo. Então será para sempre? Negativo. Mas quando irá acabar? Se, e então somente se a verdade lhe fosse mostrada ou vista. Estava longe disso? Só o tempo pode dizer.

 

Enquanto o mundo prosseguia em seu percurso, Cebola permanecia inerte, sem ação, fitando o chão de concreto. As únicos que se moviam em seu corpo eram seus neurônios, estavam a todo vapor: armazenavam e excluíam reflexões que passavam pela sua cabeça, que se encontrava desorientada, perdida e confusa.

 

Após vários momentos refletindo silenciosamente, a imobilidade se encerrava. Denise levantava-se, ficando em pé frente a ele. Ajeitou o seu rabo-de-cavalo para que ficasse firme. Ela dobrava os joelhos até que seu rosto ficasse no nível do seu mais novo ficante, aproximava seu rosto ao dele:

 

- Fofo, eu to indo. A gente se vê – dizia, dando um último selinho e se afastando do garoto.

 

Seguia para o oeste, em direção a sua casa, atravessava a rua e desaparecia de vista.

 

Cebola se encontrava mais uma vez isolado, sozinho. Fitando o gélido chão, ainda com os olhos úmidos pelas lágrimas, cansado de ficar bastante tempo na mesma posição e no mesmo local, ele decide usar os pés para sustentar o seu corpo. Má escolha. Sentia tontura, não conseguia se equilibrar, cambaleava. Mesmo com a visão embaçada, ele procurava algo para que pudesse segurar. Avistava uma grande árvore, a qual já era bem velha. Era um belo ipê rosa, que florescia na época, havia algumas flores no chão, ora murchas, ora belas.

 

Ele tentava chegar perto dela, entre cambaleios e tropeços. Depois de alguns minutos, o objetivo era alcançado, ele a abraçava de uma forma muito bizarra:

Seu tronco curvava-se para que pudesse agarrar a árvore, sua cabeça encostava-se a um galho baixo e seus pés, afastados um do outro e distantes do resto do corpo. Tal posição favorecia a um desequilíbrio e por conseqüência, um tombo horrível.

 

Dito e feito. Cebola caíra, batendo fortemente sua testa no chão, fazendo-o passar muito mal, a ponto de vomitar. Após isso, ele colocava uma das mãos a cabeça.

 

(O que está acontecendo comigo? Não estou me reconhecendo...).

 

Titi, do outro lado da rua, vira aquela cena deplorável, fazendo-o correr em direção ao amigo, o qual estava no momento, sentado no chão, apoiando os cotovelos nos joelhos, deitando sua face.

 

- Cebola, CEBOLA!!

 

-Hã? O que?

 

Antes que perguntasse mais alguma coisa, Titi o levantava, apoiando-o nos ombros, levando-o para casa. Chegando ao destino, Cebola apenas disse:

 

- Pode “ablir”, não ta “tlancada”!

 

Mais do que depressa a porta era aberta e Titi adentrava gritando:

 

- DONA CEBOLA!!

 

Ao ouvir o chamado, Dona Cebola corria atônita, pensando o pior para Cebola. Ao chegar onde estava Titi, ela direcionava os olhos para o filho, que estava de cara pálida e fria. Desesperada, ela apenas apontava o quarto, caminhando na direção do mesmo. Ao entrarem, não se sabia onde começava o quarto e quando terminava as roupas jogadas. Apesar disso, conseguiram achar a cama sem dificuldades, ela se encontrava no canto direito, abaixo de uma janela retangular cheia de adesivos.

 

Depois de colocá-lo na cama, Titi finalmente explicava a Dona Cebola o que havia acontecido à Cebola, sobre a tentativa frustrada de agarrar a árvore e o tombo.

 

- Será que eu dou um remédio para ele?

 

- Não, o melhor a fazer é deixá-lo descansar. Assim, a embriaguez vai passar mais rápido. É melhor não dar sermão a ele agora, ele nem irá prestar atenção. Eu sei que não sou mãe ou pai dele pra dizer o melhor a fazer, é só um conselho. Bom, eu to saindo, eu combinei de sair com a Aninha e eu estou atrasado. Tchau, Dona Cebola!

 

- Tchau e brigada por tudo!

 

- Acha, que isso, precisando eu to aqui – respondia saindo da casa.

 

Seguindo o conselho do amigo do filho, Dona Cebola saia do quarto, fechando a porta, pois precisava deixa´-lo  sozinho naquele instante.

 

A dor na cabeça de Cebola persistia e não cessava. Além de ser física, era psicológica, inexplicável! Aquelas reflexões ainda rondavam por ali, importunas e inquietas. Era insuportável, estava a ponto de explodir. Todavia, a explosão fora interrompida por um barulho familiar. Era seu celular.

 

TRIM TRIIIM TRIIIM

 

Tocava incessantemente, incomodava, perturbava. Cansado de tanto barulho, ele atendia. Era uma voz feminina.

 

Fim do 25º capítulo

 


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Notas finais do capítulo

Nesse capítulo há algumas palavras mais "complexas", eis o significado delas:

gracejador: namorador, termo usado na antigüidade!
voraz:
Que devora. 2 Que come com avidez. 3 Que não se farta. 4 Que gasta; destruidor, consumidor.
insano: Demente, doido. Tolo, insensato
execrável : Abominável, detestável.
olvidar: esquecer
deplorável: lamentável, lastimável.
atônita:pasmado, Assombrado



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