Beastman escrita por Cicero Amaral


Capítulo 8
Capítulo 8




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Teen Titans não é minha propriedade.

 

  

            Robin, Estelar e Ciborgue tinham subido as escadas da Torre a toda velocidade: o grito que ouviram os fizera largar tudo o que estavam fazendo e agir. Sentimentos diversos os tinha invadido enquanto corriam; Robin se perguntava o que poderia estar atacando a Torre Titã; Ciborgue não entendia como era possível que sua segurança pudesse ter falhado daquele jeito, e Estelar preocupava-se com os seus dois amigos que podiam estar em perigo. Mas os três Titãs tinham uma certeza: o que quer que tenha feito Ravena gritar desse jeito, com certeza não seria nada fácil de derrotar.

            Foi só quando eles chegaram ao corredor onde ficavam os quartos que pararam. Nada no mundo poderia tê-los preparado para o que os esperava ali.

- Ei, Robin? – perguntou Ciborgue, cauteloso. – Você está ouvindo o que eu estou ouvindo?

- Eu acho que estou. – respondeu o menino-prodígio, que parecia chocado. – Mas não consigo acreditar.

- Amigos, eu estou ouvindo risadas. – declarou Estelar, tão confusa quanto os dois rapazes a seu lado. – E acho que quem está rindo... é a nossa amiga Ravena.

            Os três olharam uns para os outros durante um longo tempo. Não sabiam o que pensar. Não achavam que tinham que se preocupar com risadas, mas Ravena NUNCA ria. Quando muito, um olhar de contentamento, e olhe lá. Um sorrisinho bem de leve, uma vez na vida e outra na morte. Mas jamais dava uma risada, menos ainda gargalhadas altas como as que eles estavam ouvindo. A incapacidade de entender o que isso poderia significar impedia os três Titãs de tomar uma decisão e se mover.

- Amigos... – balbuciou Estelar, hesitante. – Será que algum vilão está controlando a mente de nossa amiga?

            Normalmente, Robin e Ciborgue teriam descartado esta hipótese, que mais parecia uma coisa que o cérebro do Mutano produziria. Mas, por outro lado, a situação era tão bizarra que eles se viram concordando com a tamaraneana. Além do mais, eles próprios não conseguiam pensar em nada melhor.

- Titãs, vamos. – ordenou Robin. – Mas façam silêncio. Quero pegar o invasor de surpresa.

 

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- Hahahaha, Mu...tano, hahaha, me larga! Hahaha... eu vou te matar! Há...hahaha....hahahahahaha. Eu... vou te mandar, hahaha, para outra dimensão...hahaha. Me sol... hahahaHAHAHAHA!

            Ravena mal conseguia falar, quanto mais ameaçar alguém. Estava rindo tanto que tinha até dificuldade para continuar respirando. Na verdade, não conseguia nem pensar com clareza. Os únicos movimentos que realmente estava fazendo eram os espasmos involuntários que a faziam se debater sem parar.

            Mutano tinha dito a ela que estava apenas meio certa. No segundo seguinte, um polvo verde estava em seu lugar, envolvendo-a com seus tentáculos. A empata só conseguiu gritar, de medo e surpresa. Teria o metamorfo enlouquecido?

            Ela tentou se defender, mas, antes que pudesse invocar seus poderes, três tentáculos começaram a esfregar as penas (que Mutano tinha tirado de si mesmo pouco antes) em sua cintura, pescoço e pés. A sensação resultante roubou-lhe toda a concentração e até o controle do corpo. Era uma sensação a qual Ravena não conseguia resistir. Algo que ela tinha sentido apenas uma vez, quando ainda era uma criancinha de 4 anos de idade.

            Cócegas.

            Assim que viu a energia reunida por sua amiga se dissipar, Mutano retornou à forma original, sem, no entanto, deixar de usar a pena contra ela. Nunca poderia ter imaginado que uma pessoa tão séria quanto Ravena sentisse tantas cócegas assim. Não pôde evitar sentir um certo prazer sádico ao tê-la praticamente indefesa em seus braços. A coitada se debatia, ria, e tentava fugir, mas estava longe de conseguir. Muito longe.

            Nenhum dos dois percebeu o que ocorria à sua volta. A maioria dos objetos no quarto tremia e balançava. As luzes piscavam. Mas, estranhamente, nada tinha explodido ou derretido, como em outras ocasiões em que a empata não conseguira suprimir completamente uma emoção. Ravena estava ocupada se debatendo e tentando soltar-se, as risadas involuntárias roubando-lhe todo o fôlego e a resistência. Mutano, por sua vez, estava decidido a fazê-la pedir penico. Implorar, como ela tinha dito. Não que fosse fácil, é claro: a menina chutava e estapeava enquanto se debatia, e ele tinha que fazer bastante força para continuar segurando-a com um só braço, sem machucar. Nesse momento ele agradeceu pelos meses de musculação à noite.

            Foi nesse instante em que a porta do quarto se abriu (seria mais justo dizer: foi praticamente arrombada), revelando Robin, Ciborgue e Estelar em posição de luta, armas preparadas, prontos para reduzir qualquer inimigo a partículas:

- Parado! – Gritou Robin, com seu cajado pronto.

- Senão eu te chuto até o outro lado da baía! – Ameaçou Ciborgue, com seu canhão sônico ajustado para potência máxima.

- Você invade nosso lar e ameaça meus amigos? – Estelar praticamente rugiu, seus olhos emitindo luz verde. – Sua vida não vale nada!

            Foi então que os três tiveram a sua experiência mais bizarra até então.

            Mutano e Ravena estavam no chão, meio enroscados um no outro. Ele estava de joelhos, uma das mãos segurando a empata pela cintura, e na outra uma pena verde, a qual estava encostando no pescoço dela. Quase parecia um seqüestrador com sua refém, tirando o fato que segurava uma pena em vez de arma, e estava ajoelhado no chão. Ela estava sem capa, sem uma das botas, meio caída, meio recostada contra o peito do metamorfo. O cabelo estava bagunçado, caído sobre os olhos, e o rosto ainda contorcido num sorriso. Dos grandes.

            O tempo simplesmente parou. O cérebro dos cinco adolescentes parecia ter dado curto. Não conseguiram fazer nada a não ser continuar olhando, um grupo para o outro, com os queixos moles e os olhos arregalados.

- Fora! Fora do meu quarto! FOOOOORA!!! – gritou Ravena, usando uma garra de energia negra que jogou Robin, Ciborgue e Estelar para fora com tanta força que eles quase afundaram na parede do corredor, trancando a porta em seguida.

            Ela não tinha planejado arremessar os três com tanta força, mas não pôde evitar. Ser pega pelos colegas naquela posição a tinha deixado embaraçada, envergonhada, irritada e até um pouco ofendida. Ela se virou para encarar o culpado por essa situação, pronta para lhe dar um castigo do qual ele não iria se esquecer tão cedo.

- Idiota! Isso é tudo culpa sua! – ela gritou para o metamorfo, que ainda estava, assim como ela, na mesma posição em que fora encontrado pelos outros Titãs. – Quer me fazer destruir a Torre inteira? Será que você não tem um pingo de... não, me solta! Me... larga! Haha... não faz isso! Hahaha...hahaha!

            E assim ela esqueceu o castigo que pretendia aplicar. Tudo porque Mutano decidiu provar que a pena é mais poderosa do que a espada. E, pelo visto, que a magia também.

 

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- Vocês estão bem? Perguntou Robin, esfregando as costas doloridas.

            Estelar estava tirando Ciborgue da parede, mas concordou com a cabeça. Um silencio desconfortável instalou-se entre os três. Nenhum deles estava preparado para o que tinham acabado de ver, e ainda não conseguiam acreditar que pudesse ser verdade.

- Amigos. – Estelar quebrou o silencio, indecisa. – Nós vimos mesmo aquilo que eu... penso que vimos?

            Os três Titãs ficaram se olhando por uns minutos. Não sabiam como reagir. Não sabiam o que fazer. Exceto Ciborgue, que deu de ombros:

- Eu não vi nada. Nadinha. – disse ele, retirando-se. – E inclusive vou rodar alguns diagnósticos para ter certeza de que não peguei algum vírus.

            O casal viu seu colega afastar-se. Mas entendeu o recado: melhor não se envolver com aquele problema.

- Eu também não vi nada. – concordou Robin. – Você viu alguma coisa, Estelar?

- Não, amigo Robin, acho que não.

 

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            Ravena estava exausta. Estava de joelhos no chão, seu peso apoiando-se nos dois braços. A cabeça estava baixa, a respiração ofegante, e a cintura, tórax e boca doloridos. Mutano a tinha atacado com cócegas novamente, e só a libertara quando a coitada não tinha mais força nem para continuar rindo. Ele estava sentado a menos de um metro de distância dela, as costas apoiadas numa das pernas da cama. A empata estava de costas para ele, com a mente vagando por um verdadeiro turbilhão de pensamentos e dúvidas.

            Ela deveria estar zangada. Na verdade, deveria estar furiosa. Ela nunca tinha tolerado contato físico. Uma mão no ombro já era o limite de sua zona de conforto. Ela não admitia que alguém entrasse em seu quarto. Lidava com invasores de forma rápida e eficiente. Ela não tolerava que alguém tentasse forçá-la a fazer coisas que não queria. Manipular a vontade alheia era uma ofensa imperdoável para ela. E, depois da ousadia com que Mutano a tratara, há pouco, Ravena até QUERIA estar furiosa. Mas não conseguia.

            A empata também não conseguia acreditar na irresponsabilidade dele. Fazê-la rir daquele jeito era possivelmente a coisa mais perigosa que o metamorfo podia fazer para si e para os outros. Surpreendentemente, porém, os danos causados por seu descontrole foram leves; embora quase tudo em seu quarto estivesse revirado ou tombado, nada tinha sido destruído. E Ravena não sabia explicar o porquê disso. Na verdade, tinha certeza que a Torre inteira deveria estar em escombros agora. Mas não estava.

            Ravena queria entender o que estava acontecendo com ela. Estava sentindo-se... bem. Contente. Contra a sua vontade, sua privacidade tinha sido invadida; apesar das ameaças, seu colega não tinha demonstrado nenhum medo; mesmo resistindo, ela fora forçada a sentir o toque e o calor humano; era proibido, mas ela, agora, estava se sentindo... como uma adolescente normal.

            Ela reordenou seus pensamentos. Agora sabia que não estava zangada e provavelmente nem iria ficar. Mas não podia permitir que a situação ficasse por isso esmo. Ela conhecia bem Mutano. Se não fosse castigado, e castigado exemplarmente, ele iria se sentir encorajado a repetir a loucura de hoje. É bem verdade que a empata vinha castigando-o (exemplarmente!) fazia ANOS, mas desta vez, DESTA VEZ iria funcionar. Aproximar-se, tocá-la, fazê-la sentir e rir daquele jeito era perigoso demais. Ravena não podia aceitar esse risco e iria agir. Daqui a pouquinho.

            Assim que conseguisse parar de sorrir que nem boba.

 

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            Mutano continuava sentado no mesmo lugar, imóvel, com o olhar fixo na pessoa que estava à sua frente. Estava sorrindo, mas não como fazia sempre. Não aquele sorriso cheio de dentes que chegava até a iluminar a sala. Não um sorriso de criança que vai ganhar brinquedo novo. Em outras palavras, não era um sorriso de Mutano. Era um sorriso sereno, calmo, de suave contentamento e felicidade.

- Ela é tão linda.

            Esse fora o único pensamento consciente que o metamorfo tivera até agora. Não eram apenas seus olhos que estavam fixos na empata, mas também seu coração e mente. Sempre a achara atraente, mas nunca antes tinha percebido o quanto, tanto por ela estar sempre escondida por debaixo daquela capa e capuz, quanto pelo fato de ele próprio só ter entendido o que vinha sentindo poucos meses atrás.

            Ele observou cada uma das feições dela. O cabelo violeta cortado curtinho, que deixava a nuca à mostra, a mecha rebelde que de vez em quando caía sobre os olhos, apenas para ser soprada de volta para o lugar. A pele cinza-perolada (tão macia...) que, sob a iluminação fraca do quarto, perecia estar brilhando. E o cheiro, ao qual se misturava incenso e lavanda, era simplesmente... viciante. Mutano nem percebeu que estava diminuindo a distância entre ele e ela. Ainda não tinha posto os olhos no rosto dela. Não da forma como deveria. Não da forma como pretendia.

 

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            Ravena ainda não tinha decidido o que fazer com seu abusado colega. Estava ocupada demais com a lembrança do que tinha acabado de acontecer. Além disso, sentia que não ia conseguir parecer brava o bastante para assustá-lo. Afinal, era a primeira vez que iria precisar FINGIR estar irritada com o metamorfo.

            Seus pensamentos foram interrompidos quando ela sentiu um arrepio subindo lentamente pela sua coluna. A mesma pena que tinha sido usada contra ela antes estava novamente em ação, ainda que de forma mais... insinuante. Bem, agora Ravena não precisava mais fingir. Será que Mutano não tinha nenhum senso de limite? Usar essa pena não uma, não duas, mas agora três vezes? E desse jeito ainda por cima? Ela se virou furiosa, com os olhos emitindo um brilho branco, pronta para dar uma surra naquele moleque irritante... apenas para ver algo que a deixou completamente desarmada.

            Viu que Mutano estava com o rosto a centímetros do dela, olhando-a com uma intensidade que ela jamais havia visto antes. A bronca que ela iria dar morreu sem nem ao menos deixar sua garganta; seus olhos voltaram ao normal assim que fizeram contato com os dele. Ravena não conseguia nem desviar o olhar, nem evitar o rosto de ficar cada vez mais vermelho. Mal conseguia perceber qualquer outra coisa além daqueles dois olhos, aquelas duas orbes de jade, cuja energia a fazia sentir. Sentir de formas que jamais imaginara antes. Coração acelerado, peito ofegante, dúvida sobre o que tudo isso significava, a sensação de ser importante, alegria de ser querida, timidez por ser... desejada. Ela não conseguia reagir, não conseguia se mexer, e nem fechar a mente para todas as emoções que agora impregnavam seu quarto.

            Mutano sabia agora que não estava sonhando. Tinha visto o brilho branco dos olhos de sua amiga esvaecer, dando lugar à cor violeta natural. Parte dele temia a ira da garota à sua frente, mas o metamorfo parecia hipnotizado, e nem por um instante tirou os olhos dela. Sentia-se imerso em um oceano púrpura, que nublava todos os seus sentidos. Nunca tinha visto Ravena assim antes, justo ela, tão forte e independente, agora parecia pequena e vulnerável. Um desejo, uma vontade incontrolável então se apossou dele. Queria protegê-la, estar a seu lado e jamais sair de perto dela. Sua mão direita moveu-se sozinha, acariciando o rosto da empata.

            Ravena sentiu uma onda de calor percorrer todo seu corpo quando a mão dele começou a passear pelo seu cabelo, orelha, e face. Ela sabia o que deveria fazer. Deveria protestar, deveria empurrá-lo para longe, expulsá-lo de seu quarto. Mas não era capaz. Nunca antes alguém tinha se aproximado tanto assim dela, nunca antes alguém a tinha tocado assim. É verdade que não lhe era permitida esse tipo de fraqueza, que era errado correr o risco de perder o controle de seus poderes. Mas, mesmo assim, por que tudo isso parecia tão... natural? Tão... adequado?

            Mutano ainda sentia seu corpo se movendo por conta própria. Sem resistir (não que ele quisesse, para começo de conversa), viu a distância que os separava diminuir ainda mais. Centímetros de tornaram milímetros, e ele sentiu a superfície gelada do chackra que adornava a testa dela, em contraste com a pele quente e macia. Os narizes se tocavam, a respiração ofegante dela misturava-se à sua.

            Do turbilhão de emoções que Ravena estava sentindo, uma se sobrepôs às demais quando ela percebeu aquele rosto verde se aproximando, logo sendo substituída por outra. O medo que estava soprando como uma brisa em seu peito foi afastado por um verdadeiro tufão de expectativa pelo que estava prestes a acontecer. Seu olhar finalmente se desviou do dele, dirigindo-se lentamente para baixo, onde ela podia ver alguma coisa brilhante. E foi ali, entre dois lábios verdes, que ela encontrou aquilo que atraía sua atenção: a presa solitária que sempre teimava em ficar do lado de fora da boca dele. E ela se perguntou se aquela presa não... espetava.

            Quando o olhar violeta se separou de seus olhos, Mutano tomou consciência do que estava prestes a fazer. E então, todos os seus medos e inseguranças o atacaram com força jamais vista antes. Temia pelos seus ossos, que logo iriam se transformados em pó. Mas temia mais ainda que, por causa dele, Ravena acabasse odiando-o para sempre, ou pior ainda, ficasse magoada. Mesmo assim, no entanto, não moveu nem o corpo nem a cabeça um só centímetro do lugar onde estavam, e tampouco sua mão abandonou o rosto dela. Dentre todos os milhares de coisas que passaram pela sua mente naquele momento, apenas uma conseguiu fazer a transição para a realidade:

- Ravena... – sua voz não passava de um sussurro ecoando no quarto.

            Quando ela ouviu a forma como seu nome fora pronunciado, todo o resto deixou de importar. Onde estava, quando estava, se tudo aquilo era sonho ou realidade. Seus poderes, o controle, a infância em Azarath, as duras lições de Azar e dos monges, tudo isso se tornou um distante passado, à medida que a última de suas barreiras emocionais era reduzida a nada. Ravena sentiu seus olhos se fechando, enquanto seus lábios suavemente separaram-se, esperando que os dele fizessem contato.

            O pobre metamorfo agradeceria estar sentado se conseguisse pensar com clareza. As pernas estavam tremendo incontrolavelmente, a respiração estava completamente ofegante e descompassada, e as batidas de seu coração poderiam muito bem marcar o ritmo de uma escola de samba. Tudo isso porque ele sabia que o que estava prestes a ocorrer iria afetar para sempre seu relacionamento com a menina à sua frente. Sua mente era um campo de batalha, onde os instintos de TODAS as formas de vida animal deste planeta lutavam por controle, para que ele simplesmente tomasse a garota à sua frente e a fizesse sua. Sua própria inteligência e lógica o traíam nesse momento; ainda que não o impelissem à mesma ação que seus instintos, exigiam que ele fizesse logo aquilo para o qual se esforçara tanto, ou seja, aceitar os lábios que lhe eram oferecidos naquele momento. A vitória desta legião só foi impedida por um IMENSO esforço de vontade, realizado por uma parte da personalidade de Mutano que jamais permitia que qualquer mal ou ameaça chegasse perto de Ravena. Era como lutar sozinho contra um exército. Como parar um tsunami com as mãos nuas. E os ecos dessa batalha colossal até mesmo se transpuseram para o plano físico, manifestando-se como:

- Rae, eu... – A voz poderia muito bem ser o sussurro feito ao ouvido de uma amante.

            Foi a vez dela se mover sem perceber. Durante o que pareceu ser uma vida inteira para os dois adolescentes, Ravena aproximou-se ainda mais seu rosto do dele. Uma boca roçou levemente na outra, inundando ambos com adrenalina e arrepios na base de suas espinhas. Ela mal começara a pressionar seus lábios contra os dele, quando...

- E então, Rae? Quer descer para ver os filmes agora? – Falou Mutano, desesperado e meio histérico, tendo sucumbido ao medo de cometer um grande erro. Ele já tinha visto ela de coração partido uma vez, e não tinha intenção de ver de novo.

            Dizer que isso foi um banho de água fria teria sido a subdeclaração do século. Seria mais condizente com a verdade dizer que o tal balde foi levado para o Pólo Norte, esquecido lá por um ano, arrastado de volta junto com o iceberg formado em volta, e largado inteiro na cabeça dos dois. A tensão que se seguiu foi tão forte, que Mutano, mesmo confuso, entendeu que tinha acabado de fazer a maior burrada de sua vida. E provavelmente, da próxima também.

- Sabeoquequeéosoutrosvãoficarperguntandooqueagenteestavafazendooseuqartoe...

            ZZZVOOOSSSHHH!!!!!!!

            Foi o som que ele fez ao ser arremessado para fora do quarto com ainda mais força que os seus três colegas antes dele.


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