Beastman escrita por Cicero Amaral


Capítulo 7
Capítulo 7




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Teen Titans NÃO é minha propriedade. Talvez na próxima encarnação.

 

 

            A perseguição ao metamorfo consumiu o resto da manhã. Nenhum recurso foi poupado na luta pela posse da câmera: mudanças de forma, rajadas sônicas, discos congelantes, etc. As duas ocupantes femininas da Torre foram sábias ao manterem-se longe dos gritos, uivos e explosões.

            A caçada só terminou quando Ciborgue e Robin encurralaram Mutano no corredor onde ficava seu próprio quarto e o de Ravena. O metamorfo tentou entrar em seu quarto, mas a porta estava trancada. Olhando à sua direita, viu o Titã cibernético balançando um controle na mão, sorrindo perversamente; provavelmente tinha trancado o quarto remotamente. E Mutano não ousaria tentar passar por ele. Ciborgue era enorme, ocupando boa parte do espaço pelo qual o garoto verde poderia passar. Além disso, qualquer movimento daqueles braços robóticos poderia causar dor... considerável.

            Olhando à esquerda, o metamorfo viu sua rota de fuga bloqueada por Robin. Embora o menino-prodígio não fosse tão grande e forte quanto seu colega metálico, era muitas vezes mais ágil, e, se Mutano tentasse passar por ele, inevitavelmente seria apanhado por uma chave quádrupla, um Cobra Twist, disco congelante, gás sonífero, ou qualquer outra bugiganga que seu líder escondesse no cinto de utilidades. E ele estava ciente de que naquele cinto cabia MUITA coisa.

            Lado direito bloqueado, lado esquerdo bloqueado, porta do quarto, trancada. O cerco se fechava à medida que o menino-prodígio e o Titã metálico aproximavam-se lentamente, já saboreando a vitória. Em desespero, Mutano tentou abrir a porta de seu quarto uma última vez, sem sucesso; sem intenção de se entregar, ele encostou-se de costas na porta, para ao menos poder encarar seus algozes antes do fim. Mas, ao invés disso, ele viu sua salvação: poucos metros adiante dele havia outra porta, uma porta com um nome escrito nela: “RAVENA”.

            Mutano não pensou mais: começou a correr para o quarto da empata. Os perseguidores ficaram imóveis um instante, surpresos com o local aonde seu colega verde se dirigia. Foi o bastante para o metamorfo abrir a porta, mas antes que pudesse entrar, sentiu uma enorme mão mecânica agarrando eu braço direito, e suspendendo-o no ar. Em seguida, uma mão coberta por uma luva verde segurou seu pulso esquerdo, imobilizando a mão que segurava a câmera. Percebendo que o aparelho ia lhe ser tomado, Mutano fez o último movimento que ainda podia. Abriu a mão esquerda, deixando a câmera cair. Contudo, antes que ela alcançasse o chão, ele aparou a queda com o pé e a chutou para dentro do quarto de Ravena. A câmera fotográfica não fez nenhum som ao desaparecer na penumbra daquele aposento.

            Ciborgue e Robin largaram seu amigo e correram na direção que a máquina fotográfica deslizara, mas congelaram ao perceber aonde estavam indo. Pela terceira vez naquele dia, ambos encontraram-se lado a lado em um sentimento comum, e deram dois passos cautelosos para trás. Aquele era o quarto da Ravena. Ninguém entra no quarto de Ravena.

            Enquanto isso, Mutano estava agradecendo a si mesmo pelo esforço extra nos treinamentos. Se fosse um ou dois meses atrás, a câmera teria certamente quebrado, seja por cair no chão, seja porque seria chutada forte demais. Mas o movimento do metamorfo instantes atrás fora preciso: a câmera estava agora embaixo de uma das estantes de livros de Ravena, e não teria sofrido mais que uns poucos arranhões por deslizar pelo chão.

            Sua alegria, porém, foi rudemente interrompida quando seus ombros foram agarrados por Ciborgue, que o suspendeu no ar (de novo) e começou a sacudi-lo como se fosse um milkshake.

- Seu pequeno...! – Ciborgue estava furioso. – No que diabos estava pensando??? Aquele é o quarto da Ravena! Ravena!! E agora como é que eu vou recuperar aquelas fotos? Hein? Hein?

            O adolescente metálico continuou a sacudir o seu colega, alheio ao fato de que não obteria resposta alguma enquanto não deixasse sua vítima respirar um pouco, pelo menos. De fato, Ciborgue só largou Mutano (que parecia prestes a vomitar) quando Robin colocou a mão em seu ombro. Tinha a expressão triunfante daqueles que sabem mais de que estão realmente revelando:

- Relaxa, Ciborgue. – O menino-prodígio falou calmamente, para que Mutano (mais tonto que um gambá bêbado) pudesse entender. – Já conseguimos o que queríamos.

- Ficou louco Robin? Não viu aonde a câmera foi parar? Aquele é o quarto da Ravena. Ravena! – Ciborgue respondeu, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.

- Exatamente. – Continuou Robin serenamente, sorrindo.

- Acho que você não tá me entendendo, cérebro de pássaro. A. Câmera. Está. No. Quarto. Da. Ravena! Você sabe o que ela... – o rosto do Titã cibernético iluminou-se à medida que a compreensão o atingiu. – É claro... ninguém nunca mais vai ver aquela câmera, e nem as fotos dentro dela!

- Foi o que eu disse. – Robin concluiu, vitorioso. – Vamos para a cozinha. Tá na hora do almoço.

- Certo. Sabe, Mutano, eu ia fazer você engolir uma picanha tripla como castigo, mas, como estou me sentindo estranhamente generoso hoje, vou deixar você preparar sua própria carne falsa. – Ciborgue falou em tom de deboche para seu amigo verde.

            O qual estava caído no chão fazia alguns minutos, a língua pendendo da boca, tonto demais para ver qualquer coisa além do corredor que rodopiava furiosamente. Mas, de alguma forma, captou o discurso do amigo que se afastava. Um braço verde e trêmulo ergueu-se lentamente, apontando para o teto.

- Vocês dois esperem só. – a voz do metamorfo parecia a de um bêbado, tão tonto ele estava. – Uma dose do charme de Mutano, e aquela câmera vai estar de volta na minha mão em um instante.

            Pela quarta e última vez naquele dia, um sentimento comum tomou conta de Robin e Ciborgue. Ambos se viraram, olhando perplexos para seu amigo caído, e, em seguida, um para o outro.

            Dois segundos depois, as risadas de ambos puderam ser ouvidas do outro lado da baía.

 

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            O almoço saiu como de costume na Torre Titã. Conversas, risadas, debates tofu versus carne, e tudo o mais. Ciborgue tentou perguntar às meninas o que elas achavam do tal “Charme de Mutano”, mas calou-se rapidamente quando o dono do “charme” começou a dar tchauzinho de uma maneira muito similar àquela que ele tinha feito no teste da manhã. Sim, um almoço normal naquela Torre.

            Quando todos estavam com suas refeições quase terminadas, Robin limpou a garganta para falar. Os demais Titãs ficaram tensos imediatamente: esses discursos à hora do almoço sempre significavam problemas. Possivelmente alguma maratona desumana de treinamento ou algo do gênero.

- Titãs, eu estava pensando na sessão de treinamento de hoje cedo. E, apesar de uma surpresinha desagradável... – ele olhou feio para Ravena, que sustentou seu olhar calmamente. O menino-prodígio detestava ser superado. - ...acho que todos nós fomos muito bem. E creio que merecemos uma pequena comemoração.

            Estelar, Mutano e Ciborgue praticamente saltaram da mesa, de tão contentes. Robin sentiu seus ossos literalmente se esfarelando, tamanha a força com que a tamaraneana o abraçou. Os outros dois garotos pareciam estar numa competição para ver quem gritava mais alto:

- Comemoração, cara! Vamos sair para algum lugar por aí! – gritou Mutano.

- Pizza! A melhor forma de se fazer uma festa! – Ciborgue completou, gritando tão alto quanto seu amigo.

            Alguns minutos se passaram até que a agitação na cozinha diminuísse o bastante para que alguém pudesse ser ouvido. E, quando isso finalmente aconteceu, a voz de Ravena ecoou, em seu tom monótono de sempre:

- Quem é você e o que fez com o verdadeiro Robin? – Era uma péssima tentativa de se fazer uma piada, ainda mais quando quem a profere não deixa sair um pingo de emoção na voz. O resultado disso foi que Ciborgue, Estelar e Mutano a levaram a sério, mas apenas por um segundo. Talvez tenha sido a cara de Robin ao se ver sob a mira de três de seus colegas que os fez acordar, mas não dava para ter certeza. De qualquer forma, logo depois estavam discutindo acaloradamente sobre o que iriam fazer.

            Após um tempo considerável falando, discutindo, gritando, debatendo, e até mesmo choramingando, os Titãs chegaram a um acordo: naquela noite mesmo iriam a um novo shopping que estava sendo inaugurado. Tinha de tudo lá: pizzaria, boliche, lojas, fliperama, e até uma café-livraria. E no dia seguinte, cada um deles iria escolher um filme para todos assistirem juntos, na sala comum da Torre.

            Dessa forma, com tudo combinado, cada um deles tratou de cuidar de seus próprios afazeres pelo resto da tarde.

 

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            O novo shopping center era, de fato, tudo aquilo que parecia ser, e mais: além de todas as atrações que os Titãs já sabiam que tinha, um cinema e uma lagoa artificial para patinação no gelo tinham sido inaugurados apenas uma semana antes.

            Os cinco adolescentes tiveram uma noite bastante agradável. Mal tinham chegado e Estelar agarrou a mão de Robin, arrastando-o para visitar TODAS as lojas. O coitado teve que seguir a garota hiperativa para todo o canto, com uma pilha cada vez maior de compras nos braços. Ravena decidiu checar o café-livraria e ficou por lá um bom tempo colocando a leitura em dia. Ciborgue e Mutano gastaram o seu tempo juntos no boliche e no fliperama, o segundo reclamando que o primeiro estava trapaceando a cada partida que perdia, ou seja, o tempo quase todo.

            Eles se encontraram mais tarde, num horário combinado, para encerrar a noite com chave de ouro. Em outras palavras, pizza! A pizzaria do shopping gabava-se de ter em seu cardápio todos os sabores de pizza existentes (e alguns inexistentes) no planeta. E os seus mais recentes fregueses pretendiam colocar essa declaração à prova.

            Entre os sabores pedidos estavam pelo menos 4 pizzas de carnes diferentes, vegetariana e tofu, queijo, sushi, e até mesmo uma de caramelo com melancia para Estelar. Tudo acompanhado por litros de refrigerante, uma garrafa de água, e um vidro inteiro de mostarda para a tamaraneana.

            Ravena comia devagar, alternando pausadamente goles de sua água e as mordidas no seu pedaço de pizza. Parecia estar observando seus amigos. Estelar inundava tudo o eu comia em mostarda, além de beber o condimento diretamente. Ela parava a intervalos regulares para alimentar Robin, que estava esparramado em sua cadeira, os braços inertes, dormentes por carregar uma pilha monstruosa de compras pelo shopping todo. E, do outro lado da mesa estavam Ciborgue e Mutano, devastando sua comida com um fervor quase genocida. A empata achava isso intrigante; podia entender que um sujeito grande como Ciborgue comesse muito, mas que um baixinho magrelo como Mutano estivesse sempre com fome era estranho para ela. Se bem que, olhando melhor, a diferença de altura entre os dois parecia menor, e o metamorfo não parecia mais tão magro quanto antes. Ravena estava examinando-o para ver se isso era só impressão sua, quando seus pensamentos foram abruptamente interrompidos.

- Rae, você quer um pedaço? – Perguntou Mutano, estendendo as caixas ainda contendo algumas fatias de pizza de tofu e vegetariana.

- Hein? – Ravena perguntou bobamente, olhando para a fatia meio comida em sua mão (a primeira), e as outras que o Titã verde lhe oferecia.

- Pizza, você quer? Não seja tímida! – ele insistiu, balançando as caixas de pizza.

            Isto pareceu despertar a empata de seu torpor. Ela realmente estava distraída. Ou será que estava profundamente concentrada?

- Mutano, quantas vezes eu já disse que não como carne falsa? – Ela falou calmamente.

- Então por que você estava olhando desse jeito? O metamorfo retrucou na hora.

            Esse comentário fez Ravena congelar. Ela estaria mesmo encarando ele? A empata sem saberia dizer, estava distraída demais poucos instantes antes. Talvez estivesse mesmo.

- Eu não estava olhando nada.  – Ela disse pausadamente, colocando ênfase na última palavra.

            Mutano não respondeu, simplesmente se recostou na cadeira e a encarou com um olhar de quem sabe das coisas, um leve sorriso (para ele) adornando seu rosto. Ele percebia que tinha alguma coisa diferente com sua colega. Ela parecia... sem jeito.

- Droga. – Pensou Ravena. Ela podia sentir que estava levando a pior nessa conversa e não gostava disso, ainda mais por causa de QUEM estava olhando ela com um ar de divertida superioridade. Por sorte, os demais Titãs não estavam prestando atenção, já que Ciborgue estava mastigando uma pizza que ele enfiara inteira na boca (Santa Azar, como é que ele faz isso?), enquanto Estelar e Robin estavam restando atenção demais um no outro para ver qualquer outra coisa. Mas não conseguia pensar em nada que pudesse dizer que a tirasse dessa situação desconfortável.

- E então, Rae? Não vai me dizer o que é que você não estava olhando? – Mutano perguntou, a voz quase um sussurro. Ele estava abusando da sorte e sabia disso.

            A empata, irritada, lançou-lhe um olhar de “vou-matar-você-e-mandar-seus-restos-para-outra-dimensão”. Normalmente, era nessa hora em que ele se encolhia, gritava como uma menininha, saía correndo, ou as três coisas ao mesmo tempo. Mas, pela primeira vez em muito tempo, a previsão de Ravena falhou. Na verdade, agora Mutano a estava encarando diretamente, com um sorriso nos lábios.

            Ele ficou um pouco surpreso por Ravena demorar tanto a lhe mandar seus famosos olhares de morte ou outra ameaça qualquer. Ele tinha reunido toda a força de vontade que tinha para não parecer assustado, mas não precisou dela. Desta vez, na verdade, ele achou uma gracinha a menina tentando fazer cara feia para intimidá-lo. O metamorfo não pôde evitar ficar olhando com cara de bobo.

            Os dois adolescentes ficaram se encarando por um tempo. Ravena estava se perguntando por que Mutano a estava olhando daquele jeito em vez de sair correndo. Também estava começando a se sentir embaraçada com a forma como estava sendo olhada. Sem falar que aquela mesma sensação não-identificada que ela tivera naquela vez em que ele fora lhe falar em seu quarto estava de volta. Um calor agradável, aconchegante, que surgia no peito, um impulso de sorrir e assim ficar, em motivo, mas que ao mesmo tempo lhe dava um pouco de medo, sabe-se lá do quê. Quanto a Mutano, este estava com a mente flutuando entre dois olhos violeta. Era uma questão de segundos para que começasse a babar.

            Este momento foi interrompido por um som que jamais teve igual neste planeta. Alto e reverberante como a erupção de um vulcão. A onda de choque resultante derrubou os dois de suas cadeiras. Eles já tinham lidado com sons perigosos antes, mas nunca, jamais, haviam testemunhado um som tão vil antes, nem mesmo um saído das profundezas da boca de seu amigo cibernético.

- Ciborgue, que nojo! – Ravena repreendeu-o, levantando-se e colocando sua cadeira de volta no lugar.

- Cara! Maneiro! – Mutano estava rindo tanto que nem podia levantar. – Você deve ter batido o recorde de maior arroto do mundo!

- Ah, também não foi tanto assim. – disse Ciborgue, cheio de falsa modéstia.

- Tá brincando!?! Tomara que você tenha gravado essa! Ei, Robin, o que você acha de mostrarmos isso aos Titãs do Leste? Robin? Robin...?

            Foi então que os três se deram conta que o menino-prodígio não estava entre eles. Nem Estelar. A única evidencia de que os dois tinham estado ali era a pilha descomunal de compras que ele tivera que carregar pelo shopping todo.

            Os três Titãs suprimiram o impulso de procurar pelos colegas desaparecidos. Afinal, eles não deveriam estar correndo perigo. Muito pelo contrário, aliás. Mas a verdade é que não tiveram que procurar. O som de uma platéia torcendo e aplaudindo mostrou-lhes a localização dos dois.

            Estelar estava a menos de 15 metros dali. Robin estava parado, os braços ainda inertes, observando-a se divertir numa máquina de dança. Ela, de fato, parecia mais feliz do que de costume, algo que os Titãs não acreditavam que fosse realmente possível. Na verdade, Estelar parecia TÃO feliz que parecia incapaz de parar de flutuar. Seus pés só tocavam a pista eletrônica por um instante, nos pontos indicado pela seqüência de passos na tela, e o fazia com precisão surpreendente, o que, ao final da música, lhe garantiu um índice de acerto de 89.2%. A visão desse número na tela da máquina de dança fez a platéia urrar em êxtase. Tinham um novo recorde.

            Mutano, Ciborgue e Ravena aproximaram-se. Os dois primeiros estavam comemorando a façanha da amiga, assim como o resto da platéia. A empata meramente se contentou em acompanhar os dois.

- Cara, faz tempo que não uso uma dessas. – Mutano falou, aparentemente para si mesmo. – Acho que...

- Como assim, “faz tempo”? – Ravena o interrogou. – Você e Ciborgue passaram as últimas horas apodrecendo seus cérebros com aqueles videogames e se esqueceram de brincar numa máquina dessas?

- Não é que a gente tenha esquecido, Rae. É que não tinha uma dessas máquinas de dança lá no fliperama. – surpreendentemente, isso era verdade. – Além disso, a lata velha aqui do meu lado ia acabar quebrando ela com esses pés de chumbo.

- Bem se você quiser se fazer de bobo na frente de toda essa gente, fique à vontade. Só deixe a gente voltar para nossa mesa antes, bem longe daqui. E meu nome é Ravena. – Ela falou sem olhar para ele.

- Ah, qualé? Por que a Estelar pode e eu não posso? – o metamorfo protestou, sem entender o que sua amiga queria dizer. Ela, por sua vez, virou-se calmamente para encará-lo.

- Porque, Mutano. – Ravena falou pausadamente, como quem está dando uma aula. – Estelar tem graça. Ela consegue usar aquele brinquedo direito. Além disso, mesmo que tropece, ela não vai cair, pois pode voar. Diferente de você.

- Blá, blá, blá. E daí que Estelar pode fazer todas essas coisas? O que isso tem a ver comigo não poder usar a máquina de dança? – Mutano insistiu.

            Ravena revirou os olhos, frustrada. Ciborgue e Robin, que a essa altura estavam observando o bate-boca dos dois, balançaram as cabeças. O Titã verde podia ser bem obtuso de vez em quando.

- O que estou tentando dizer. – a empata decidiu que tinha que ser bem clara. – É que você não sabe dançar.

- Como assim, não sei dançar??? – Mutano perguntou indignado.

- Ela quer dizer que você vai tropeçar nos próprios pés, cair de cara no chão ou as duas coisas juntas, verdinho. – Ciborgue decidiu traduzir o que ele achava que Ravena estava pensando. Na verdade, ela só achava que ele dançava mal mesmo.

            O Titã verde estava nervoso; mais uma vez seus amigos o estavam subestimando sem motivo. E só havia uma coisa a fazer agora: provar que todos eles estavam errados.

- Pois eu vou ali agora mesmo! E vou conseguir uma pontuação melhor que a de Estelar! – ele disse e foi até a máquina, pisando duro, mas foi impedido por Robin, que finalmente abandonara seu mutismo.

- Ei, Mutano, já que você está tão seguro de si, não quer tornar as coisas mais interessantes?

            Os outros Titãs olharam seu líder com atenção. Não tinham idéia do que ele poderia estar pensando.

- Se você conseguir mais acertos que Estelar, pode escolher os filmes de amanhã no nosso lugar. Se perder, a gente escolhe o seu. – disse o menino-prodígio, com um sorriso de quem já ganhou a parada.

- Me deixa ver se entendi... – ponderou o metamorfo. – Se eu ganhar, eu escolho 5 filmes, o meu mais o de vocês, e se eu perder, um de vocês escolhe no meu lugar?

- Claro que não! Você fica sem escolher até que cada um de nós pegue um filme no seu lugar. Se eles quiserem apostar, claro. – Robin terminou a frase, esperando a resposta dos demais companheiros.

- Tô dentro. O Mutano vai perder mesmo.... – respondeu Ciborgue, rindo.

- Que seja. – Ravena falou secamente.

- Só mais uma pessoa. Ei, Estelar! – O líder dos Titãs chamou sua namorada, que deixou os fãs e veio se juntar ao grupo, onde rapidamente lhe explicaram os termos da aposta.

- Se é um desafio o que amigo Mutano propõe, um desafio ele terá. Estou de acordo. – Ela respondeu num tom quase solene.

            O Titã acima mencionado podia jurar que Robin estava querendo uma vingançinha pelas fotos tiradas na sala de treino, as quais ainda estavam dentro da máquina, perdida em algum canto escuro no quarto de ravena. Bem, ele não pretendia deixar isso acontecer. Lembrou-se de que o Sr. Smith tinha recomendado para não mostrar o quanto havia melhorado enquanto não tivesse a certeza de ser o melhor de todos. Mas o que o metamorfo ia fazer aqui era só diversão. Sim, estava na hora de surpreender os seus amigos Titãs.

            Ele dirigiu-se à máquina e inseriu sua ficha. Em seguida escolheu a dificuldade: FÁCIL, MÉDIO (essa foi a dificuldade na qual Estelar brincou), DIFÍCIL e PESADELO. Mutano escolheu a última, sem hesitação.

- Aumentar a dificuldade não vai diminuir o número de pontos que você tem que fazer, espertinho. – Ciborgue o surpreendeu, olhando a tela por cima dos ombros de seu amigo verde.

- Droga! – pensou Mutano. Ele já tinha determinado a dificuldade. Não havia como voltar atrás agora.

            A tela piscou, iniciando a contagem regressiva. 4...3...2...1...

            E, com uma explosão de cores na tela, a música começou. O Titã verde começou a pisar nos pontos indicados pelas setas coloridas, que se moviam com uma velocidade absurda. As pessoas em volta mal conseguiam captar os sinais que surgiam e sumiam na tela por frações de segundo, quanto mais tentar imitar os movimentos do jovem usuário daquela máquina de dança. Pela primeira vez em muito tempo, Mutano focalizou 100% de sua concentração para em objetivo: não mais estava numa pizzaria, não havia mais ninguém em volta. Seus sentidos amplificados só captavam a si mesmo e as setas pixeladas que apareciam na tela à sua frente. O baixíssimo zumbido que cada luz emitia ao ligar, o fraquíssimo estalo dos interruptores elétricos, a vibração que a máquina emitia, tudo isso era imperceptível para humanos normais, mas ajudavam o metamorfo a acertar os passos, ainda que à custa de toda a sua atenção.

            No momento em que a música começara, Ciborgue colocara uma das mãos, dobrada em concha, em um de seus receptores de áudio, dobrando-se na direção de seu amigo verde, como quem espera ouvir melhor.

- Três, dois, um... – ele contou nos dedos. – Ué, cadê o cabum? O Mutano não devia ter tropeçado a essa altura?

            O jovem metálico percebeu que ninguém achou graça na sua tentativa de fazer uma piada. Na verdade, pareciam nem perceber que ele estava ali. Todos os olhares, sem exceção, estavam voltados para seu colega mais novo, que estava agora no auge da música. A tela exigia movimentos impossíveis, que o usuário pisasse em 5 pontos diferentes ao mesmo tempo, ou mesmo seis, mantendo o mesmo ritmo frenético do início. Pesadelo, esse era o nível de dificuldade escolhido, e fazia jus a esse título.

            Nesta altura, a platéia percebeu o que estava acontecendo e começou a torcer e comemorar. Nunca ninguém tinha conseguido chegar a esse ponto de uma música nesse nível de dificuldade. Mas Mutano não viu nada disso. Não existia platéia para ele. Não existia pizzaria para ele. Não existia nem mesmo música. Toda a existência se resumia às instruções brilhantes da tela e aos movimentos que deveria fazer. Até mesmo o tempo perdeu seu significado. Somente quando a música finalmente acabou é que o metamorfo parou de se mexer, caindo no chão, exausto.

- Quanto? Quanto? – Ele perguntou, instantes antes de a platéia agarrá-lo e começar a jogar o coitado para o alto.

            Seus quatro colegas olharam para a tela da máquina. Não queriam, não podiam acreditar no que estavam vendo, mas era verdade: contra todas as expectativas, o Titã verde tinha marcado 91% de acertos.

            Quando a platéia finalmente se cansou e colocou Mutano de volta no chão, ele virou-se para os colegas com sua típica pose de vitória: peito estufado, mãos na cintura, e um sorriso que parecia dar a volta em torno de sua cabeça.

- Então, amanhã eu vou escolher os cinco filmes que nós vamos assistir? – Ele perguntou, mas num tom que mais parecia uma afirmação.

            Robin, Estelar e Ravena se entreolharam. Ciborgue estava examinando a máquina de dança, em busca de uma prova de que colega tivesse trapaceado, sem sucesso.

            Frustrado, após vasculhar a máquina por sinas de trapaça e não encontrar nada, Ciborgue resolveu quebrar o silêncio.

- OK, Mutano, você venceu. Mas me diz uma coisa: desde quando você consegue se mover desse jeito?

            O metamorfo abandonou sua pose, surpreso. Não esperava essa pergunta. Especialmente porque respondê-la significaria revelar o que andara fazendo escondido nos últimos meses.

- Hum, eu... veja bem, é que tinha...cara, sabe o que é... – Ele gaguejou pateticamente. Não tinha a menor idéia do que dizer.

- Bem, sorte é que não foi. – Falou Ravena, num tom diferente de seu monótono usual. Seria...surpresa? Hmmmm, não, difícil dizer.

- Talvez amigo Mutano tenha praticado os passos da dança? – Perguntou Estelar.

            Essa pergunta fez com que os outros Titãs a olhassem de forma questionadora. Ainda não tinham se acostumado ao fato do metamorfo participar dos treinos sem reclamar, e imaginá-lo praticando qualquer coisa (exceto videogames) de livre e espontânea vontade era algo que ainda não estavam prontos para fazer. Mutano tentou aproveitar a distração para tentar sair de fininho, mas...

- Aonde você pensa que vai? – Ciborgue perguntou, pousando a mão enorme no ombro de seu amigo verde.

- Droga. – pensou Mutano. – Ele não facilita.

- Aliás. – ponderou o titã metálico. – Vendo você tentar escapar assim me fez lembrar de uma coisa: aonde você tem ido nas últimas tardes e noites?

            O cerco estava se fechando. Se Mutano não pensasse em algo rápido, ia acabar falando antes da hora.

- Amigo Mutano de fato tem desaparecido após as refeições. – acrescentou Estelar. – E eu gostaria de saber o porquê.

            Não havia saída. Mutano tinha que responder algo. Algo que fizesse sentido. Algo em que seus amigos pudessem acreditar. E a resposta, por incrível que pareça, veio da máquina em que estivera minutos antes:

- Aula de dança! – ele gritou. – Eu estive fazendo aulas de dança! Satisfeitos agora?

            Os quatro titãs o olharam de uma forma indefinida, mas que poderia, ainda que de forma aproximada, ser descrita como: “Cuméquié?”

            Mutano observou os rostos incrédulos de seus amigos. Será que tinham acreditado na sua mentira? Parecia que não. Evidente que ninguém ia cair numa lorota tão mal contada como essa. Ele se estapeou mentalmente por não ter conseguido pensar em algo mais convincente, mas o estrago já estava feito. Ciborgue estava rolando no chão de tanto rir, e Estelar estava saltitando e batendo palmas.

- Espera aí. – O metamorfo pensou, surpreso. – Ciborgue está rindo?

            E estava mesmo. Rindo e MUITO. Na verdade, Mutano nem se lembrava da última vez em que tinha visto seu melhor amigo rir TANTO assim. Ele devia ter ficado aliviado por seu colega cibernético ter caído na sua história, mas Ciborgue estava rindo de forma tão histérica que o estava deixando com raiva. Estava prestes a dar-lhe um chute (não lhe ocorreu que provavelmente ia quebrar o pé ao chutar a blindagem de seu amigo) quando Estelar o agarrou pelos ombros e o levantou no ar.

- Amigo Mutano, isto é maravilhoso! – Ela estava dando pulinhos de alegria enquanto o segurava, e o pobre garoto sentia seus ombros virando geléia com o aperto da tamaraneana. – Você TEM que me ensinar a arte da dança da maneira como você fez hoje! Mal posso esperar para começar e...

- Estelar, meus braços! – interrompeu o metamorfo, antes que seus ossos virassem pó.

- Oh. – exclamou a tamaraneana, soltando-o sem seguida.

            Robin não falou nada. Mas ele sabia que seu colega de equipe não estava falando a verdade. Ele tinha observado alguns dos passos de Mutano na máquina de dança, mas, acima de tudo, tinha observado os olhos do titã verde. O que ele tinha visto ali lhe dera a certeza de que aqueles movimentos não eram de dança, mas de combate. Ele tinha visto não a atenção de alguém que quer tentar seguir uma instrução sem errar, mas uma concentração de nível quase meditativo, uma determinação inumana, quase...feral. Como um predador prestes a saltar sobre sua presa. De fato, aqueles olhos, naquele momento, resumiam com perfeição uma frase que o menino-prodígio ouvira muito tempo atrás, durante seu treinamento: “Olhe para os olhos de seu oponente. É daí que o ataque vem.

            Os seus sinistros pensamentos foram interrompidos quando a mão de Ciborgue pousou pesadamente em seu ombro. Ele ainda estava rindo muito, e parecia ter dificuldade para ficar de pé.

- Meu Deus do céu, essa foi hilária...Robin, nós temos uma bailarina na Torre. – Ciborgue estava com um vestido rosa de bailarina nas mãos, que aparentemente tinha tirado do nada. – Espere até os Titãs do Leste ficarem sabendo dessa! Verde e rosa não combinam muito, mas mesmo assim o show vai ser inesquecível!

            Essa cena durou alguns minutos. Ciborgue rindo às custas da “bailarina”, Robin concentrado em alguma coisa indefinida, Estelar falando aos demais sobre como ela ia começar a aprender todas as danças da Terra, Ravena indiferente e um Mutano que, em vez de feliz por ter conseguido enganar a todos e manter seu segredo, estava era bem nervoso com seu melhor amigo.

            Finalmente, o Titã cibernético se cansou de rir, apesar de a expressão de louco divertimento ainda dominar o seu rosto. Ele se sentou e perguntou para seu amigo verde.

- Mutano, o que foi que te possuiu para você decidir fazer aulas de dança?

            Estava bem claro que Ciborgue não ia deixar o metamorfo em paz por muito tempo ainda. Mas Mutano não pretendia deixá-lo se divertir sozinho às custas de outro. Na verdade, tinha acabado de ter uma idéia que poderia fazer com que Ciborgue calasse a boca.

- Como assim? – Mutano perguntou, fingindo-se ofendido. Não foi difícil, pois já estava meio irritado mesmo.

- Ora. – Ciborgue falou, balançando o vestido rosa de bailarina quase na cara de seu colega. – Aula de dança é coisa de menina.

            Essa declaração lhe rendeu alguns olhares glaciais por parte das mulheres que estavam por perto e ouviram. Mas ele não se deu conta disso, pois Mutano colocou sua idéia em prática.

- Exatamente. – Ele disse, olhando diretamente nos olhos de seu colega cibernético.

            Ciborgue demorou alguns instantes para responder. Estava esperando que o metamorfo se encolhesse, sem graça, e tentasse mudar de assunto. Mas não se deixou incomodar por isso, pois já tinha pensado em várias formas de provocar seu colega. Ainda sorrindo, ele levantou a mão direita, apontou um dedo para o alto, encheu os pulmões de ar, abriu a boca para falar e... a compreensão o atingiu como um míssil intercontinental.

            Ele quase murchou com isso. A cara que ele fez foi tão patética que Mutano lamentou não estar com sua máquina fotográfica pronta. Uma discreta olhadela lhe revelou que Robin e Estelar estavam suprimindo risadinhas. Não viu Ravena, mas pelo cheiro sabia que ela estava em algum lugar atrás dele. E decidiu dar o golpe de misericórdia.

- Pois é, cara, a tarde inteira numa sala lotada de gatinhas. – ele enfatizou a palavra “lotada”. – E ninguém resiste às orelhas pontudas. Eu só preciso esticar o braço e pegar. – Ele fez uma leve pausa, para que Ciborgue assimilasse tudo aquilo, e finalizou. - À hora que eu quiser.

            Mutano apreciou a inveja mudando a cor de seu amigo para cinco ou seis tons diferentes de verde. Mas não pôde fazê-lo por mais do que alguns segundos, pois uma voz conhecida, normalmente comedida, elevou-se acima das demais, confrontando-o:

- Então, é isso? – A voz perguntou, agressiva.

            O Titã verde virou-se e deparou-se com Ravena. Devido ao capuz que escondia boa parte do rosto dela, Mutano não tinha como ver sua expressão. Mas o olhar e o tom de voz lhe disseram aquilo que ele precisava saber:

- Ela vai me bater de novo. – ele pensou, prestes a entrar em pânico. – Oqueeufaçoalguémmeajudesocorroelavaimematar!

- E então? – A empata perguntou mais uma vez, avançando dois passos. Ciborgue não-tão-discretamente saiu de perto dos dois. Não queria ficar no meio do fogo cruzado.

            Mutano, visivelmente amedrontado, recuou. Em alguma parte de sua mente, ele lembrava que jamais deveria perder a calma, que devia exibir serena autoconfiança, mesmo que seus pernas estivessem bambas de medo. Mas isso era uma memória consciente. O instinto, por outro lado, dizia algo bem diferente. O idioma foi perdido, e alguns elementos lingüísticos não podem realmente ser convertidos, mas, numa tradução aproximada, dizia: “CORRA PELA SUA VIDA, SEU IDIOTA!”

            Mas ele não se mexeu. Não conseguia. Estava paralisado tanto de medo pela surra que Ravena era capaz de lhe dar, quanto pela forma como ela estava agindo. Normalmente, quando a empata estava irritada com ele, tentava manter a atitude apática; seu comportamento era normalmente uma reação a alguma coisa feita pelo metamorfo. Mas agora, não. Pela primeira vez na vida, Ravena parecia zangada sem que Mutano tivesse feito nada. Pelo menos ele achava que não tinha feito nada.

- Você vai me dizer ou não? – Ravena perguntou mais uma vez, e seu tom estava menos amigável.

- Ah, er, dizer o quê? – Mutano perguntou, coçando a nuca como sempre fazia quando não tinha certeza do que dizer. A verdade é que ele não tinha a menor idéia do que ela estava falando.

            Com um movimento das mãos, Ravena envolveu o metamorfo em sua energia negra, suspendendo-o no ar. O pobre coitado não podia mexer nem os braços nem as pernas, mas podia ver que sua captora não estava com humor para brincadeiras.

- Hum, é sobre as aulas de dança? – Mutano decidiu falar. A empata apenas concordou com a cabeça.

- O que é que tem elas? – Ele perguntou, ainda sem saber o porquê desse fuzuê todo.

- Como assim, o que é que tem? – Agora Ravena estava furiosa. Usando seus poderes, ele começou a sacudir Mutano para cima e para baixo sem misericórdia. Nem lhe ocorreu que o garoto verde não ia conseguir lhe dar uma resposta enquanto estivesse sendo sacudido como uma batida de limão.

            Apenas quando algumas das cadeiras e mesas da pizzaria foram envoltas por energia negra e começaram a vibrar de forma ameaçadora é que Ravena parou; ela largou Mutano de concentrou-se. Lentamente, os objetos afetados voltaram ao seu estado normal. Quando a empata abriu os olhos novamente, viu que os outros três Titãs a estavam olhando de uma distância segura, sem entender o que tinha acabado de acontecer. Ela não pretendia responder às perguntas que sentiu que fariam, e por isso teleportou-se de volta para seu quarto na Torre, dizendo que precisava meditar.

            - Mutano, o que significa isso? – Perguntou Ciborgue, enquanto ajudava seu amigo a levantar.

- Cara, não tenho e menor idéia. – Confessou o Titã verde.

- Rapaz, se não fosse a Ravena, eu seria capaz de jurar que ela estava com ciúme. – Considerou o Titã metálico.

            Esse comentário fez com que os outros Titãs o olhassem como se nunca o tivessem visto antes. Percebendo que tinha falado besteira, Ciborgue rapidamente retirou suas palavras. Afinal, era da Ravena que estavam falando; ela não sentiria uma coisa mundana como ciúme, não é mesmo?

            Além do mais, o que é que poderia haver ali para causar ciúme?

 

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            Ravena materializou-se no interior de seu quarto na Torre. Nervosa com o comportamento de seu colega de equipe, decidiu que uma caneca de chá poderia acalmar seus nervos.

            Enquanto se dirigia à cozinha, não pôde impedir seus pensamentos de voltarem à revelação de alguns minutos antes.

- Então, ele está fazendo aulas de dança. – pensou Ravena, irritada. – Para poder ficar numa sala cheia de “gatinhas”. Acho que os meninos são todos iguais, mesmo. Acho que eu deveria ficar surpresa se ele tivesse um comportamento maduro, para variar.

            A empata chegou à cozinha, e colocou a água com folhas de chá para ferver.

- Mesmo assim, eu achava que ele estivesse acima de se meter com uma fã acerebrada qualquer. Ou várias. Acho que me enganei. – Ravena ainda estava remoendo esse assunto.

            Ela sentou-se em uma cadeira, de frente para a chaleira onde o chá esquentava.

- Mas ele ainda vai acabar com coração partido. De novo. Assim que perceber que só querem dizer que estão saindo com um Titã. Aposto que nenhuma das “colegas de classe” dele dá a mínima para quem ele é de verdade, por dentro.

            Quanto mais pensava, mais Ravena tinha uma sensação desagradável; era como se, de repente, tivesse perdido algo importante e daquele momento em diante tivesse que se virar sem esse algo. A última vez que a empata se sentira assim fora meses atrás, quando arremessara Mutano pela janela a quase 40 metros de altura. Ela quase tinha se esquecido de como essa era uma sensação desagradável.

- Se bem que, na verdade, não há com o que se preocupar; mesmo que ele tente, não vai aparecer aqui com outra Terra ou similar. Quem poderia se interessar pelo Mutano, afinal de contas? – A empata perguntou a si mesma.

- Ele é imaturo e irritante. – Mas ela descartou esse fato. Mutano era, sim, imaturo, e sim, podia ser irritante, mas isso também se aplicava a quase qualquer outra pessoa da idade dele, então provavelmente não iria afastar ninguém lá nas “aulas de dança”.

- Ele é baixinho e magrelo. – Ravena lembrou, mas isso também não servia. O físico pouco avantajado do metamorfo não impedira que legiões de fãs se reunissem em volta dele na viagem a Tóquio, quase um ano antes. Além disso, ele simplesmente não era mais nanico e magricela. A empata ainda não se acostumara a olhá-lo da altura dos olhos, e, na última avaliação física apenas um dia antes, tinha reparado bem no seu colega verde: ele certamente não estava sarado, mas definitivamente estava em forma. Ravena sentiu-se corar ao perceber que a nova musculatura de seu colega estava perfeitamente proporcional ao biótipo dele. Estava...bonitinho.

- Ele é verde. – Ravena lembrou, deixando-se recostar à mesa da cozinha.

- Ele tem aquela presa saindo da boca. – Ela fechou os olhos, ainda recostada à mesa.

- Ele tem orelhas pontudas. – A esta altura, um observador atento poderia detectar um levíssimo sorriso formando-se no rosto da empata.

            Foi o som do bule de chá apitando que tirou Ravena de seu devaneio. Alarmada, ela correu para colocar o chá pronto em sua caneca habitual. Foi nesse momento em que ela conseguiu dar voz a uma pergunta que a incomodava desde o momento em que se materializara no quarto:

- Por que ele não se contenta com o que tem aqui na Torre? – Ela perguntou amargamente, um pouco mais alto do que costumava falar. Parecia um desabafo.

            Seja por que foi a primeira frase dita em voz alta desde que voltou, seja por causa da pergunta em si, Ravena finalmente se deu conta do que estivera pensando até o presente momento. Por um instante ficou atordoada com a constatação, mas rapidamente recuperou a compostura, descartando esses pensamentos:

- Acho que eu não devia dar tanta atenção a esse assunto. Afinal, não é da minha conta. E, mesmo que fosse, qual seria o problema? Não é que eu esteja com ciúme do Mutano ou coisa parecida.

            E, com isso, a empata terminou de saborear os eu chá, dirigindo-se em seguida para o seu quarto, onde pretendia dormir o resto da noite. Dizer para si mesma que não estava com ciúmes a fez sentir melhor.

            Mas ela ainda estava zangada com Mutano enquanto se deitava.

 

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            Manhã seguinte. Os Titãs haviam pago a conta e começado a viagem de volta para a Torre pouco depois de Ravena deixá-los. Uma vez de volta, cada um foi direto para seu quarto dormir.

            Agora, todos estavam reunidos à mesa do café-da-manhã (exceto Ravena). Diferentemente do usual, desta vez Robin e Estelar não se viram obrigados a testemunhar as infindáveis discussões carne vs. tofu protagonizadas pelos outros dois Titãs. Mutano estava pensando no que ele iria alugar para a tarde: tinha cinco filmes para escolher, e pretendia tirar o máximo proveito. Já Ciborgue estava despreocupado quanto a isso. Seu melhor amigo nunca o tinha deixado na mão antes, então ele tinha certeza que o metamorfo iria escolher apenas BONS filmes, ou seja, filmes cheios de explosões, sangue, carnificina, alta velocidade, e o mais importante: ninjas!

            Mas esta tarde o Titã cibernético teria uma surpresa. A mente de seu amigo verde estava funcionando de forma muito diferente do habitual, e, desta vez, não haveria como prever as escolhas do metamorfo.

            Após o café, cada um deles foi dedicar-se a seus respectivos hobbies. Robin foi para a sala de evidência organizar pistas a respeito de vilões ainda à solta, Estelar foi tomar conta de Silkie, Ciborgue foi trabalhar em seu carro, e Ravena continuou trancada em seu quarto, lendo. Já Mutano passou a manhã nas locadoras, procurando os filmes que ele tinha escolhido cuidadosamente. Devido ao propósito que o metamorfo pretendia dar a eles, foi difícil encontrar os títulos desejados. Afinal, nem todo livro tem uma versão em cinema, e os games que viram filme são ainda menos numerosos. Mas ele conseguiu encontrar o que queria.

 

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            Robin, Estelar e Ciborgue examinaram a seleção de filmes estupefatos: Mutano tinha escolhido títulos completamente diferentes de qualquer coisa que eles estivessem esperando.

- Mutano, mas que raio de filme é esse? – Ciborgue perguntou, ainda sem acreditar no que tinha em mãos. – “Os Filhos de Duna”? E ainda tem mais 2 desses filmes “alguma-coisa-Duna” aqui!

            Robin também estava tentando entender o que levara o metamorfo a escolher aqueles filmes, sem sucesso. Alguns deles (em especial os três filmes “Duna”) lhe eram familiares, mas ele não conseguia lembrar o porquê.

- Star Wars: Knights of the Old Republic, versão Machinima. – Estelar leu em voz alta o nome de outro dos filmes. – Amigos, o que é machinima?

- Machinima são filmes feitos usando videogames, Estelar. – respondeu o menino-prodígio, apreensivo. É bem verdade que ele gostava de games, mas quanto a usá-los para fazer cinema, não. Algumas coisas, acreditava Robin, eram pura e simplesmente muita falta de noção.

            Quanto ao Titã que havia alugado os filmes, este se encontrava esparramado no sofá, cansado. Tinha vasculhado quase metade das locadoras da cidade hoje, e não fora fácil encontrar os cinco filmes a que tinha direito. Muito embora o primeiro dos livros da série Duna tenha rendido várias versões cinematográficas, os dois livros seguintes, “O Messias de Duna” e “Os Filhos de Duna”, não tinham realmente chegado a inspirar produções Hollywoodianas. Mas esses não foram os mais difíceis. O machinima de Star Wars teve praticamente que ser baixado da internet e gravado em DVD para esta tarde. E o último filme era um longa animado de um mangá brasileiro, Holy Avenger. Mutano mal podia acreditar que escolher filmes pudesse dar tanto trabalho.

            Mas havia um propósito nessa seleção. Ele lembrava que, no desastre com o dragão Malquior, Ravena experimentara liberdade emocional, sem perder o controle. No entanto, a empata sempre dizia que não podia, que não lhe era permitido sentir qualquer coisa que fosse, ou seus poderes iriam destruir tudo à sua volta. Mutano sabia, porém, que Ravena era capaz de sentir, afinal, ele próprio estava constantemente testando a paciência dela. No entanto, ele tinha percebido uma coisa: embora fosse verdade que as emoções da empata precisassem ser mantidas sob controle, não era isso o que ela estava fazendo. Mutano percebera (ou assim esperava) que na verdade Ravena tentava suprimir suas emoções, e não mantê-las controladas. “Você não pode controlar aquilo que você força a não existir, certo?”. Fora esse o pensamento que o metamorfo tivera ainda na noite anterior, enquanto voltava para a Torre junto com os colegas. E ele agora pretendia apresentar, através de algumas cenas que ele sabia estar nesses filmes, algumas idéias que levassem Ravena a deixar de suprimir as emoções. E isso se tornara realmente importante. Mutano não conseguia imaginar como alguém podia ser feliz sem sentir nada - agora que visualizara uma chance de fazer Ravena sentir, iria apostar tudo o que tinha.

- E então, Mutano, o que é que a gente vai assistir primeiro? – Perguntou Robin.

- Ah, não sei, cara, o que vocês querem ver? – Respondeu o Titã verde, indiferente.

- Você ganhou a aposta ontem, verdinho, você escolhe. – insistiu Ciborgue. – Além do mais, a gente não tem a menor idéia se esses filmes são mesmo bons...

- Coloca o “Duna” primeiro, então. Tem que ver o primeiro livro, digo, filme, para entender os outros dois. – Ele decidiu.

            Sem perder um segundo, o líder dos Titãs pegou o DVD e o inseriu no aparelho. Foi enquanto os créditos de abertura estavam na tela que Mutano percebeu que uma pessoa estava faltando.

- Caras. – ele perguntou. – Cadê a Ravena?

- Não tenho nem idéia, mano. – respondeu Ciborgue. – Não vi ela hoje o dia todo.

- Acho que ela não saiu do quarto hoje. – acrescentou Robin. – Deve estar meditando.

- Amiga Ravena não deixou o quarto por um instante sequer. – Completou Estelar.

            Mutano soltou um grunhido de desapontamento; ele tinha escolhido esses filmes para que ELA visse. E não tinha a menor intenção de perder essa oportunidade.

- Dá uma pausa aí, gente. Eu vou buscar ela. – Declarou o metamorfo, levantando-se.

            Os demais Titãs simplesmente deram de ombros ao ouvir isso. Não acreditavam que ele fosse capaz de convencer a empata a fazer alguma coisa que considerava sem sentido, tal como passar a tarde assistindo televisão. Mas, por outro lado, não achavam que o filme fosse ser mesmo interessante, e por isso decidiram esperar até Mutano voltar.

 

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            Ravena não tinha saído de seu quarto ainda. Não que fosse novidade: ela costumava ficar bastante tempo trancada no quarto mesmo. O que era novidade era a razão pela qual ela estava lá. Pela primeira vez em meses, a empata sentira um impulso de se olhar no espelho, e não tentara resistir. Tinha passado a manhã toda ocupada com uma atividade mais familiar a Estelar do que ela; tinha passado boa parte da manhã cuidando da própria aparência. Mas agora, no começo da tarde, Ravena não conseguia acreditar que tinha gasto tanto tempo fazendo algo tão inútil.

            Haviam algumas razões para a frustração da empata. Em primeiro lugar, ela não era de forma alguma uma pessoa vaidosa. Não usava maquiagem, e os únicos itens em seu quarto que podiam afetar a aparência de alguém eram sabonete, xampu, escova de cabelo e de dente. Só. Além disso, Ravena não gostava do que via no espelho. Ela olhava para a superfície polida e via um rosto sem expressão ou atrativos, com pele acinzentada que anunciava ao mundo alguém que parecia jamais ver a luz do sol O chackra em sua testa, com sua cor vermelho-sangue, mais parecia uma ferida não cicatrizada. O cabelo era curto demais na nuca, e um pouco mais longo na frente, desalinhado; e a sua cor violeta, num tom um pouco mais escuro que seus olhos, só servia para mostrar o quanto era...anormal.

            Era isso que Ravena via no espelho todos os dias, e não gostava nem um pouco. Ela tinha passado a manhã toda tentando melhorar essa imagem, sem sucesso, e isso a estava incomodando bastante.

            Já tinha passado da hora do almoço quando a empata saiu da frente do espelho. Queria meditar um pouco. Talvez isso a ajudasse a clarear a mente, e a entender essa súbita preocupação com a aparência, que não a levaria a lugar algum. Queria esquecer essa manhã. Queria esquecer o que vira no espelho.

            Foi quando ela tinha começado a meditar que ouviu alguém batendo à porta de seu quarto.

 

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            Mutano tinha percorrido todo o trajeto desde a sala comum até o quarto de Ravena repetindo uma frase, como se fosse um mantra: “Confiança...irradie confiança”. Podia parecer calmo e alegre por fora, mas por dentro estava bastante nervoso. Sabia que não ia ser fácil convencer sua reclusiva amiga a passar uma tarde em frente da televisão, e temia acabar falando alguma besteira e estragar tudo.

            Ele também não entendia o porquê do nervosismo. Afinal, durante anos o metamorfo tinha gastado sua energia tentando fazer a empata sorrir, se entrosar mais com o resto da equipe, divertir-se, enfim, ser feliz. E praticamente todas as suas tentativas não só fracassaram como resultaram em abuso físico ou verbal para cima dele. Mas, mesmo assim, ele jamais deixara de continuar tentando; jamais tivera a menor gota de medo (bem, talvez algumas). Por que logo agora Mutano sentia o corpo tremer como se fosse geléia? Por que agora, diferente de todas as outras vezes, ele precisava fazer um esforço de vontade para seguir em frente?

            Se ele tivesse parado para pensar no assunto, veria que a resposta era simples. Ele estava com medo porque não queria falhar desta vez. E não queria falhar porque meses atrás, descobrira seus próprios sentimentos em relação à empata. Mas o metamorfo não era do tipo que pára para pensar, não é mesmo?

            Ele parou por um instante em frente à porta de Ravena, preparando-se. Após reunir o máximo de autoconfiança que pôde (ele agradeceu antes ao Sr. Smith por ter lhe ensinado a diferença entre serena autoconfiança e a arrogância agressiva do adolescente médio), bateu três vezes à porta.

            Nenhuma resposta veio.

            Ele bateu de novo. Nada. Bateu outra vez. Sem resposta. Então o metamorfo decidiu usar a voz.

- Rae, você está aí dentro? Sou eu, Mutano.

            Ravena já tinha percebido que era ele. Afinal, podia sentir uma sensação de ansiedade e expectativa, que foram em seguida substituídas por uma determinação forçadamente calma. Ela conhecia as emoções que irradiavam de seus amigos bem o bastante para saber quem eles eram. E, além disso, Mutano era o único na Torre que não se identificava logo na primeira batida à porta.

            Ela não estava realmente meditando, mas não queria falar com ele. Estava zangada. Ele que fosse ficar a tarde toda num salão “lotado de gatinhas”.

            Mas as pancadas na porta se intensificaram. Ao que parece, Ravena não ia ser deixada em paz tão cedo.

- Anda, Rae, os filmes! Tá todo mundo nos esperando lá embaixo! – Insistiu Mutano, batendo mais forte na porta.

            A empata percebeu que simplesmente ignorar seu colega verde não ia dar certo: ele podia ser bem teimoso às vezes. Irritada, ela decidiu abrir a porta e acabar de uma vez com essa brincadeira.

- Mutano, eu tenho coisas mais importantes para fazer do que ficar a tarde toda na frente da TV. – Ela disse por trás da porta, que tinha entreaberto.

- Mas, Rae, só falta você! Tá todo mundo esperando lá na sala! – Ele repetiu. A “serena autoconfiança” estava esquecida agora.

- Não estou interessada. – respondeu ela. – E meu nome é Ravena!

- Mas vai ser divertido. – ele estava a um passo de fazer o que costumava fazer antes: implorar. – Vamos? Por favor?

- Mutano, eu posso passar meu tempo sozinha com um bom livro. – disse a empata, rolando os olhos. – Eu não me divirto.

- Mas aí você vai ficar sozinha trancada no seu quarto! Como sempre!

- Melhor do que passar a tarde toda vendo alguma coisa sem graça que VOCÊ tenha escolhido. - Ela falou enfatizando a palavra “você”.

- Escolhi os filmes de hoje pensando em você, Rae... – Ele confessou.

            Ravena parou. Por um instante, considerou que talvez devesse descer e se juntar os demais. Bem lá no fundo, tinha gostado de ouvir que ele tinha feito suas escolhas pensando nela. Mas ela AINDA não o tinha perdoado.

- Mesmo assim, não estou interessada. – disse a empata. – Agora, se você não tem mais nada a dizer, eu vou me recolher. – E com isso ela começou a fechar a porta de seu quarto.

- NÃO!!! – Mutano praticamente gritou, segurando a porta para que sua colega não a fechasse.

            Ravena ficou sem ação, surpresa. Ele nunca antes tinha levantado a voz para ela antes. A súbita mudança de atitude do metamorfo a deixou sem saber como reagir. Já Mutano tinha esquecido do medo e do nervosismo. Não era uma simples dica de comportamento, mas algo que saíra de dentro do peito. Quando vira a porta começar a se fechar, o único pensamento que teve foi que não, desta vez ela não iria fugir.

            A empata tentou falara alguma coisa, mas foi interrompida.

- Ravena, isso não foi um pedido. – ele falou carinhosamente, mas mesmo assim sua voz estava completamente séria. – Eu quero que você venha assistir aqueles filmes comigo. Eu exijo que você venha comigo.

            Ao perceber a ênfase que o rapaz verde à sua frente colocara nas palavras “quero” e “exijo”, ela teve vontade de mandá-lo para outra dimensão naquele mesmo instante. Mas essa vontade passou assim que ela percebeu a forma como ele proferira a palavra “comigo”. Ela não conseguiu fazer outra coisa a não ser olhar nos olhos dele. Seu rosto estava sério, coisa raríssima para o mais novo dos Jovens Titãs. Seu olhar continha um mundo de significados, e, ao contemplá-los, Ravena percebeu que não estava mais zangada. Mas, mesmo assim, ela não iria deixar ninguém sair por aí fazendo exigências para ela.

- Ah, você exige? – respondeu a empata, tentando fazer a pergunta soar como uma ameaça mortal. – Mas o que saiu foi um tom diferente. Mais parecia curiosidade. Curiosidade e... expectativa?

            Mutano descontraiu-se ao ouvir essa pergunta. As sutis mudanças na postura, na voz e principalmente no olhar da empata, captados por seus sentidos ampliados, lhe mostraram que ela não estava mais com raiva. Mais parecia estar esperando seu próximo movimento. Seu sorriso de sempre estampou-se em seu rosto enquanto ele a olhava.

- Tenho meios de fazer você vir, Rae. - Disse o metamorfo, balançando as sobrancelhas daquele jeitinho que só ele sabia.

            Ravena achou que isso só podia ser mais uma piada sem graça. Desde quando Mutano podia forçar ela a fazer alguma coisa? De fato, essa idéia era tão absurda, mas tão absurda, que ela na verdade achou graça. Ela concluiu que ele estava precisando de uma pequena lição de humildade, isso sim. Sua própria sobrancelha direita moveu-se em resposta às de seu colega, levantando-se para formar a face questionadora da empata.

            Mutano, ao ver a cara que Ravena fez, transformou-se em um ganso e, com seu bico, arrancou três penas verdes de sua asa, voltando ao normal em seguida, sorrindo levemente enquanto passava uma das penas pela face.

- É isso que o que você pretende? - perguntou ela, tentando esconder o fato de que não conseguia entender o que seu amigo pretendia. – Você vai se depenar até eu implorar para ir ver os filmes?

- Rae - respondeu Mutano, avançando. – Você está apenas meio certa.

- AAAAAAAAAAHHHHHHHHH!!!!!! – O grito da empata pôde ser ouvido em toda a Torre Titã.


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