A Estória da Guerreira e do Curandeiro escrita por slytherina


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Sonja volta a Shealoussel



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          Sonja e Yovanes dormiram naquela noite em uma caverna. Revezaram-se na vigília, temendo a caçada humana, que com certeza seriam alvos. Por sorte ou por incompetência da milícia de Shealoussel, ninguém os encontrou ou ao menos, passou perto da caverna. Yovanes pouco falou com Sonja. Viu o corpo dela sujo de sangue e pôde adivinhar o que deveria ter acontecido depois que ele foi convidado a retirar-se do solar do prefeito. Ele esperava que Sonja partisse pela manhã. Sonja era muito poderosa, mas não podia contra uma milícia inteira. Tomou um pouco de sumo de ervas do seu estojo de beberagens, e a seguir rezou por Sonja.

          Pela manhã Sonja levantou disposta a retornar à cidade, mas não durante o dia. Faria isso durante a noite, com as sombras e o cansaço natural da milícia a seu favor. Pensava nas pessoas que entregara ao conselheiro. Não sentia culpa. Afinal não estava inteiramente a par do que estava acontecendo, mas lá no seu íntimo, uma vozinha lhe dizia que ela sabia sim que aquilo era errado. Mesmo assim entrara no jogo do conselheiro. Sonja tinha consciência de suas limitações e do mundo em que ela vivia. Era apenas uma mulher contra um mundo de homens. Contra um mundo comandado e controlado por homens. Ela já entrava no jogo perdendo.

 

            _Sonja o que aconteceu?

            _Eu matei o conselheiro.

            _Sua vida estava em risco?

            Sonja olhou para ele. Sabia o que ele queria dizer com essa pergunta. Seus olhos lhe contavam uma história tão antiga quanto o mundo.

            _Não Yovanes, o conselheiro não estava ameaçando a minha vida. Pelo menos não naquele momento. Eu o matei pelas costas, quando ele estava correndo e pedindo socorro. Quer mais detalhes?

            _Por que decidiu matá-lo?

            Sonja olhou compadecida para Yovanes. Como ele poderia ser tão ingênuo? Percebeu que era o que mais gostava nele, sua ingenuidade. Ela também deveria ser ingênua, tranqüila, matriarca de uma família, passando seu tempo cuidando dos filhos e do marido em sua tribo de origem.

            _O conselheiro era um homem mau. Usava os moradores da cidade em rituais de sacrifício humano, em honra ao deus deles: Kulan Gath. Um dos guardas ajudou os moradores aprisionados nas masmorras a escapar. Ele foi assassinado por ordem do conselheiro.

            _O conselheiro lhe contou tudo isso?

            _Foi.

            _O que pretende fazer agora?

            _Voltarei lá esta noite. Destruirei Kulan Gath, e se tiver que matar o prefeito também, que seja.

            _Não há como chegar a uma solução pacífica?

            _Não.

            _Você será morta.

            _Eu me garanto.

            _Como pretende matar um símbolo?

            _Destruirei o templo, o altar, aquela imagem do salão principal. Se tiver que botar fogo no solar do prefeito, eu o farei.

 

            Passaram o resto do dia calados. Keke achou-os. John cuidava dos animais e repunha seu estoque de comezinhas, beberagens e ervas. Orava em silêncio por Sonja. Sabia que não a acompanharia naquela noite. Sabia que era um inútil, e que apenas a atrapalharia se a seguisse. Pediu para tratar seus poucos ferimentos, o que ela deixou. Sonja era inacreditavelmente sortuda. Nenhum osso quebrado, nenhum corte ou machucado. Apenas coisas leves e superficiais que curariam espontaneamente. Yovanes suspeitava que os ferimentos de Sonja fossem íntimos e não visíveis, e que por isso mesmo mais profundo e de difícil cicatrização.

            Após fazerem uma refeição de cascas e sumo de frutas, Sonja ficou inquieta. Examinou sua espada, Alexander. Suas vestes, a sensual armadura de metal que cobria suas áreas genitais, suas botas de pele de animal. Tudo estava inteiro, em ordem. Mesmo assim ela estava apreensiva. Sua desvantagem era muito grande. Talvez se tivesse ajuda de um homem e não daquele rapazinho franzino...

            Yovanes, ele era tão indefeso. O que seria dele se Sonja morresse? Provavelmente morreria assassinado ou devorado por algum animal selvagem. Instintivamente Sonja aproximou-se de Yovanes e o abraçou. Este não reagiu. Suspeitava o que se passava no coração da ruiva. Sonja beijou-o demoradamente. Olhou nos seus olhos escuros de forma passional e tomou uma resolução. Deitou-se com ele.

 

            Quando as primeiras estrelas brilharam no céu, e bandos de pássaros voavam ao longe em perfeita simetria, Sonja preparou-se para o seu destino. Despediu-se de Yovanes com um último beijo, e instruções para que abandonasse aquela região se ela não aparecesse pela manhã. Foi embora com Alexander galopando velozmente. Ao aproximar-se de Shealoussel, desmontou Alexander e deixou-o em um estábulo.

            A cidade estava quieta. Haviam muitos milicianos andando pela rua. Sonja emboscou um deles e o nocauteou. Travestiu-se com suas roupas. Escondeu como pôde sua longa cabeleira ruiva sob o elmo do soldado. Passou a andar como eles e aproximou-se do solar do prefeito. Havia muito movimento por lá. As sentinelas não desconfiaram daquele companheiro imberbe com belíssimos olhos verdes. Sonja passou facilmente.

            O interior do solar também estava apinhado de guardas. Sonja percebeu que no salão com a imagem de Kulan Gath, haviam colocado um altar com o corpo do conselheiro. Haviam vários homens desconhecidos e ricamente vestidos ali. O mais imponente e soberbo deles deveria ser o prefeito. Não seria possível a Sonja chegar até aquele homem com tanta gente no salão. Não sem uma grande confusão. E ele poderia muito bem escapar ileso.

            Sonja resolveu afastar-se dali por enquanto. Lembrou-se dos fugitivos. Talvez houvesse algum vivo, e ela pudesse ajudá-lo. Seguiu por instinto o caminho que ela julgou dirigir-se às masmorras. Desceu por uma escadaria rústica de pedra. Ao final abriu-se uma pequena câmara, que parecia ser um dos estágios do inferno. Havia diferentes instrumentos de tortura ali. Ela resolveu não se demorar naquele ambiente. Procurou por portas. Havia uma na outra extremidade. Estava aberta.

            Do outro lado estavam alguns dos prisioneiros que ela havia capturado. A mulher, o gordo e o primeiro homem que ela capturou não estavam ali. Sonja suspeitou que estivessem mortos. Os restantes estavam em péssimas condições. Todos muito maltratados, feridos e enfraquecidos.

            _Veio nos matar Sonja?

            _Não, eu vim libertá-los.

            _Não trabalha mais para o conselheiro?

            _Parem de fazer perguntas. Guardem as energias para fugir daqui.

            _Por quê? Vão mandar outro caçador de recompensas para nos pegar de volta. O melhor que pode fazer por nós é acabar com nosso sofrimento. Aqui e agora.

            _Não desistam tão fácil da vida. Eu matei o conselheiro.

            Os prisioneiros a princípio ficaram chocados. Depois esperançosos. Começaram a pedir a Sonja que se apressasse em libertá-los. Ela assim o fez. Arrebentou suas correntes com sua espada prateada. Todos saíram arrastando-se e apoiando-se uns nos outros. Sonja pediu que eles a seguissem. Sabia que seria difícil passar pelos milicianos com todos aqueles prisioneiros.

            _Sonja tem um caminho que podemos seguir. Passa pelos subterrâneos do solar.

            _Como sabe disso?

            _Eu passei por lá quando fui torturado.

           Sonja resolveu seguir o prisioneiro. Afinal ela não tinha alternativa. Não podia atravessar aquela edificação sem atrair a atenção de tanta gente. Seguiram por corredores e escadas toscas. Até uma passagem que dava no pátio de flagelação. Por ironia, não havia guardas ali. Sonja saiu primeiro e certificou-se que era seguro.

            Cobriu-os com capas e mantos para que não vissem seus ferimentos. Conseguiram sair do solar pelo pátio, miraculosamente, sem atrair a atenção dos soldados. Logo depois todos debandaram pelas vielas da cidade. Sonja retornou ao solar.

            Retornou pelo pátio e pela câmara de tortura. Infelizmente dessa vez haviam guardas lá. Ela tentou passar despercebida, pois ainda estava travestida de soldado, mas dessa vez não deu certo. Um deles a chamou, e ela reconheceu a voz do chefe da guarda para quem ela entregava os fugitivos. Sonja nem tentou argumentar. Desembainhou sua espada e desferiu vários golpes nos guardas presentes. Todos tombaram sem vida.

            Sonja ainda tinha esperança de que a sua presença não fosse anunciada. Pelo menos até ela chegar ao dono do solar. Ela chegou ao salão principal e baixou a cabeça. Aproximou-se das autoridades. Neste momento haviam três homens ricamente vestidos, ao lado da figura imponente do prefeito. Sonja calculou um golpe certeiro no coração dele. Infelizmente um soldado com as vestes sujas de sangue não consegue passar despercebido. Sendo assim ela foi interpelada antes de acercar-se do prefeito.

            _Ei você. Onde está com a cabeça? Não percebeu que está imundo? Quer parar no poste? Merecia um castigo bem dado, seu imbecil.

            Sonja baixou a cabeça e tentou retirar-se, mas o guarda agarrou-a pela orelha e saiu arrastando-a para fora. Sonja cerrou os dentes de raiva. Ela teria que esperar o momento em que o prefeito estivesse se retirando para seus aposentos.

            Então algo inesperado aconteceu. Todas as autoridades se retiraram em direção às masmorras. Foram escoltados pela guarda do solar. O guarda que a puxou pela orelha, chamou-a com um movimento da cabeça.

            _Você vai acompanhar a escolta do prefeito. Mas não se aproxime muito seu imundo, do contrário eu mesmo acabo contigo. - Assim Sonja fez.

            Todos eles entraram em uma nova câmara, grande e espaçosa o suficiente para caber a todos. Era uma espécie de arena. No centro uma grande estátua de Kulan Gath, com as mão abertas como garras, lembrava-a quem era o verdadeiro inimigo a ser vencido. Ao lado daquela aberração haviam dois postes com pessoas acorrentadas. Sonja sentiu o sangue gelar. Em um dos postes estava o primeiro fugitivo que capturara. No outro estava Yovanes.            

 

 

Fim do capítulo

 

 


 


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Notas finais do capítulo

Contrariando o cânon, permiti Sonja unir-se a Yovanes.



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