A Estória da Guerreira e do Curandeiro escrita por slytherina


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Sonja descobre a verdade sobre os fugitivos.



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                     No dia seguinte Sonja chegou a uma choupana em um despenhadeiro. Era uma casa pequena, coberta com paus e vegetais. Havia uma família composta de velhos e crianças. Eram muito pobres e vestiam-se com trapos e farrapos. Mais uma vez não lhe ofereceram resistência. Nem poderiam, uma vez que eram esquálidos e mirrados. Houve mais choro e gritos das crianças. Elas se arrastavam pelo chão, derrubando objetos e agarrando-se às pernas de Yovanes. Os idosos abraçados uns aos outros, choravam quietinhos, como criancinhas temerosas de castigo. Sonja, imponente e ameaçadora com sua longa espada prateada, irritou-se com aquilo, tornando-se mais irascível e impaciente.

                     _Parem de chorar seus pirralhos, eu não suporto tanto barulho. E vocês velhos, onde está o orgulho de vocês? Tem sangue de barata, por acaso? Não sejam tão covardes. Eu quero que me digam o nome de vocês.

                     Uma das crianças, uma adolescente de cabelos louro acinzentados, olhos encovados e tristes, comprida e esquelética, tinha o nome na lista. Sonja ficou perplexa, releu a lista com os nomes mais uma vez. O que aquela menina tinha feito de tão ruim assim? Que espécie de civilização era aquela que encarcerava menininhas?

                     _Eu exijo saber por que você foi presa. Diga-me a verdade. O que você fez?

                     _Ela não fez nada. - Disse a velhinha.

                     _Minha netinha não fez nada. - Disse o velhinho.

                     _A maninha não fez nada. - Disse a meninazinha.

                     _Nada não moça. - Disse o meninozinho.

                     Sonja não discutiu, sabia que era a verdade. Ela embainhou sua espada e saiu da choupana. Ao chegar do lado de fora, respirou profundamente, fazendo movimentos com os ombros para auxiliar na respiração. Sentia-se sufocar com aquela história toda.

                      Sonja resolveu partir sem levar a menina, mas desconfiou que o conselheiro do prefeito fosse mandar outro caçador de recompensas atrás dela. Ela resolveria um problema de cada vez. Agora o mais importante era tranqüilizar aquela família e deixá-los com sua filha. Rumaram por outro caminho, seguindo nova pista para o resto dos fugitivos. Encontraram outro nome da lista. Um homem obeso e afogueado.

                      _Por favor... Não me levem... Eu juro... que não sou... um malfeitor... Por favor... Eu não quero... morrer... Por favor...

                      Yovanes teve pena dele quando Sonja o amarrou pelas mãos e saiu arrastando-o, montada em seu cavalo. O pobre gordo freqüentemente tropeçava nos próprios pés e saía rolando, arrastado pelo cavalo. Ele simplesmente não conseguia andar e respirar ao mesmo tempo.

                      _Sonja, tenha pena dele. Ele é muito gordo, não agüenta andar.

                      _Exercício faz bem, vai ficar resistente.

                      _Ele mal consegue respirar direito, Sonja. Deixa-o ir montado no cavalo.

                      _Não. E deixe de ser estúpido. A guarda do prefeito vai fazer coisa pior com ele.

                      Yovanes então desmontou do seu cavalo e foi auxiliar o pobre homem roliço a levantar-se. Guiou-o até seu próprio cavalo e ajudou-o a montar.

                      _Você é um idiota Yovanes. Não sei como sobreviveu todo esse tempo. Isso não vai mudar o destino desse suíno.

                      Assim sendo Yovanes seguiu a pé, correndo por vezes para alcançar Sonja que aumentou a velocidade do trote, para dar uma lição em Yovanes.

                      Mais tarde, Sonja resolveu não caçar mais outros fugitivos. Decidiu procurar o conselheiro novamente, para discutir a real necessidade de aprisionar aquelas pessoas. O caso da menininha ainda martelava em sua cabeça. Sabia por experiência própria que quem necessitava de prisão e açoite eram as autoridades daquela cidade. Temia perder a cabeça com aquele que lhe pagava pelos serviços. Pressentia que aquilo tudo não iria acabar bem. Confiava na sua espada e em suas habilidades para safar-se com vida. Mas e depois que ela se fosse? Acaso o conselheiro não iria continuar massacrando aquele pobre povo? Se ela desse cabo do conselheiro, acaso o prefeito não iria convocar um novo bajulador sanguinário? E acima do prefeito quem mais havia? Como Sonja poderia quebrar aquela corrente de terror e arbitrariedades? Ela sabia que nenhuma solução seria pacífica ou perfeita. Sempre haveria mais um e mais outro, até que a própria Sonja tombasse sem vida, morta quem sabe pelas próprias pessoas que ela pensava proteger.

 

 

                      _Aqui, mais um fugitivo que eu capturei. Cadê a recompensa?- Disse Sonja para o chefe da guarda, ao chegar ao solar do prefeito em Shealossel.

                      _Aqui está Sonja. 50 dracmas. Você não nos trouxe muitos hoje. Está perdendo o faro? - Disse o chefe da guarda.

                      _Eu não. Mas se não parar com as gracinhas vai perder o seu. Avise ao conselheiro que eu quero uma audiência com ele. - Retrucou Sonja com a cara feia.

                      _Por favor... Não deixe eles... me levarem... Buaaah... Buaaah... Tenha piedade... Me ajude... - Chorava o pobre pançudo, enquanto era arrastado pelos guardas para as masmorras.

                      _Sonja! - Exclamou Yovanes com os olhos marejados de pena do infeliz obeso.

                      _Quieto Yovanes. - Disse-lhe rispidamente Sonja.

                      Sonja e Yovanes foram conduzidos novamente ao salão de audiências. Esperaram algum tempo até que o conselheiro apareceu.

                      _Pajem Yovanes, por favor, retire-se do recinto. Na primeira vez em que aqui esteve, só foi recebido por mim porque eu não sabia tratar-se de um mero servo. Não fica bem eu, um alto conselheiro receber um reles servo como igual.

                      Ao ouvir isso Yovanes prontamente virou-se e saiu daquela sala. Sonja trancou a boca com força. Ela estava no limite, mas não deveria pôr tudo a perder.

                      _Se depender somente da minha vontade, nunca mais volto aqui. Não me sinto bem em ambientes onde as pessoas são consideradas indignas, apenas porque não tem relevância social.

                       O conselheiro deixou passar essa gafe, mas anotou mentalmente dar um corretivo em Sonja, mais tarde.

                       _Muito bem conselheiro, o motivo pelo qual eu vim aqui é o seguinte: Eu quero saber do que são acusadas as pessoas em minha lista de fugitivos.

                       _Belíssima amazona, entendo sua... digamos consternação. Creia-me, houve necessidade de encarcerarmos tais pessoas. Tudo é feito pensando no que é melhor para Shealossel. O prefeito está ciente de tudo que temos feito e aprova todas as decisões que tenho tomado.

                       _Chega de enrolação. Eu quero a verdade. Vocês colocaram crianças nesta lista. O que me diz agora?

                       _Minha cara Sonja. Eu como o alto representante de nossa prefeitura não necessito lhe dar explicações. Nem necessito da sua compreensão. Sua opinião a respeito de nossas leis tem tanto valor quanto o brilho da lua. É bonito mas não nos faz falta.

                       _Fala de uma vez velho, tá me deixando irritada.

                       _Peço-lhe que modere o seu linguajar, guerreira.

                       _Humpf.

                       _Bem, as pessoas na lista não cometeram nenhum crime. A não ser o de fugir de nossas masmorras, ajudadas por um dos guardas, que pagou por isso com a vida.

                       _E você diz isso nessa calma toda, velho doente?

                       O conselheiro espremeu os olhos com ódio. Intimamente ele selou o destino de Sonja.

                        _Precisávamos dessas pessoas em nossas cerimônias.

                        _Que cerimônias?

                        _As cerimônias em honra a nosso Deus. Kulan Gath.

                        O conselheiro então encaminhou-se até o painel que adornava a parede daquele salão. O ser dourado, meio humano, meio demônio, que hipnotizava todos que o olhassem.

                        _Vocês estão fazendo... sacrifício humano?

                        _Não, estamos dando um significado à vida e à morte daquelas pessoas descartáveis.

                        _Ora seu... desgraçado.

                        Sonja na mesma hora em que sacou sua espada, foi cercada pela guarda do solar. Ela os enfrentou sozinha. Usou de toda sua habilidade no manejo de sua espada forjada nas terras nevadas do nordeste. Desfez-se de sua capa para facilitar seus saltos acrobáticos, enquanto desferia golpes certeiros. O chefe da guarda chamou os lanceiros e Sonja teve que improvisar um escudo de uma pesada porta de madeira, que ela arrancou do batente.

                        Já haviam uns 11 homens em pé e oito jaziam mortos, espalhados pelo salão. Sonja então deu um salto para o meio daquele grupo de homens, mas segurou-se no candelabro de grossas correntes do teto. Sacudiu-se para dar impulso e com isso arremeteu outro salto em direção à saída do salão. Ao ver que Sonja vinha em sua direção, o conselheiro saiu correndo, gritando. Sonja o alcançou a tempo de desferir-lhe um golpe mortal com sua espada.

                         Diante da estupefação da guarda em ver seu senhor decapitado, Sonja aproveitou para fugir. Saiu correndo em direção ao estábulo e montou Alexander. Soltou Keke e deu um tapa no traseiro do animal para que ele corresse. Sonja galopou até a estalagem e chamou Yovanes do meio da rua. Este apareceu na janela do segundo andar e avistou Sonja e a guarda do prefeito avançando contra ela.

                         Ele decidiu que devia tentar algo arriscado. Então saltou da janela do seu quarto. Para sua sorte caiu sobre um monte de barris que se espatifaram. Sonja o agarrou pelo braço e puxou-o para sua garupa. A seguir estavam galopando o mais rápido que podiam, enquanto as flechas da guarda zuniam nos seus ouvidos enquanto passavam por eles.

                         Quando já estavam bem longe de Shealossel, e a guarda havia desistido de segui-los, resolveram diminuir o ritmo da cavalgada. Sonja sabia que Alexander podia agüentar bem mais que isso, mas ela não queria afastar-se demais da cidade. Ela tinha contas a acertar com Kulan Gath.

 

                          Fim do capítulo

 

 


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Notas finais do capítulo

Shanna, este é o ato 1: human sacrifice. Você já sabe o que vem depois. "Kulan Gath" é o nome de um personagem da HQ Red Sonja, um tipo de arquiinimigo da ruiva.



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