Hoje é dia 31 de outubro, e como a maioria já sabe é Halloween, quem não sabia agora sabe. Esse é um dos meus dias prediletos do ano, as casas sempre estão enfeitadas a caráter e é completamente normal você encontrar alguém fantasiado andando pelas ruas.

Há tempos atrás eram poucas as pessoas que se importavam com essa data e estou muito feliz que as coisas tenham mudado bastante desde então.

Antes, se você aparecesse na rua vestido de qualquer coisa que tivesse a ver com o Halloween, você era tratado como um estranho e esquisito. Agora é mais o contrario, se você não se fantasiar nesse dia é considerado diferente e não é chamado para as incríveis festas feitas especialmente para esta data.

Este ano fui convidada para uma festa que vai ter no meu bairro, estranhei bastante quando recebi o convite, eu estou morando aqui a pouco tempo e não conheço muita gente , por isso perguntei se eu podia levar meus dois amigos comigo. Eles acabaram deixando, então eu e meus amigos, combinamos de nos encontrar na casa da Any, minha melhor amiga, será também aonde nós vamos montar as nossas fantasias.

E aqui estou eu, dentro do ônibus e quase chegando a casa dela. Dei o sinal, desci com a minha mochila nas costas e rapidamente desci a rua para a casa da Any. Toquei a campainha e em alguns segundos Any atendeu a porta sorrindo.

– Oi Stella! Tudo joia? – perguntou ela.

– Beleza. – respondi enquanto entravamos. – Já decidiu o que você vai vestir hoje?

– Ainda estou pensando nisso – ela disse me guiando em direção ao seu quarto. – O que você acha? – ela sinalizou para a cama.

Em cima da cama tinha várias calças e várias blusas de todas as cores imagináveis, franzi a testa para a sua bagunça.

– Eu acho que há essa hora o mínimo que você deveria ter é alguma ideia do que vestir néh? – falei com sarcasmo.

– Eu sei, estava pensando em ir de fantasma, mas sei lá, deu um branco. Você entende disso mais do que qualquer um, principalmente eu, me dá uma ajuda. – ela pediu quase desesperada, mas na minha opinião ela estava fazendo drama.

– Ok, ok, muita calma nessa hora! Vamos ver... Você é um pouco morena então fantasia de fantasma não daria certo, lobisomem nós já fizemos ano passado e eu acho que vampiro não combina nada com você. Bruxa não... – pensei alto. Que saco! De quê que eu posso vesti-la? Tem que ser algo que não acabe com o meu plano, mas o que? – Já sei! O que você acha de ir de vítima? Ouvi falar que o tema de morte vai ser mais predominante hoje do que no ano passado. – propus torcendo para que ela aceitasse.

– Vítima? – ela perguntou indecisa.

– É, de um acidente quase fatal. – falei esclarecendo.

– Mas eu não tenho nenhuma roupa pra isso. – disse ela.

– Isso é fácil de resolver, nos podemos fazer uma agora mesmo! Quais roupas você tem ai que eu possa cortar? De preferencia escura ou preta.

– Tenho essa calça aqui. – ela falou jogando pra mim uma calça escura e com um pequeno rasgo no joelho. – E tenho aquela blusa ali. – ela disse apontando para um canto da cama.

Peguei o pedaço de pano que ela havia indicado e o desdobrei. Era uma blusa roxa escura colada e tinha apenas uma manga comprida, do outro lado havia uma alça fina.

– Perfeito! Posso mesmo rasgar os dois?

– Vá em frente.

–Ok, agora preciso que você vá trocar de roupa para eu poder começar a te pintar. – falei, ela assentiu antes de entrar no banheiro do quarto.

Para arrumar a sua roupa eu comecei abrindo mais o buraco do joelho da calça e fazendo um rasgo maior ainda na canela da outra perna da calça. Na blusa, usando um estilete, fiz vários cortes na barriga, rasguei um pouco a única manga que tinha e fiz um corte na altura dos ombros.

Quando Any saiu do banheiro ela estava com um bustiê e um short pequeno, ambos da cor preta. Retirei os potes de tinta da minha mochila e os espalhei em cima da escrivaninha, ela se sentou na cadeira a minha frente e eu peguei seu braço já começando a pinta-lo.

Sou muito fã desse tipo de coisa, tipo vampiros, lobisomens, fantasmas, caveiras... acho que praticamente tudo que esteja relacionado ao Halloween. E por eu gostar tanto do dia das bruxas eu resolvi aprender tudo o que eu podia sobre seres místicos, fantasias e pinturas em corpos e agora eu posso fazer praticamente qualquer tipo de maquiagem e pintura de fantasia.

Não é a primeira vez que eu faço pintura na Any, no ano passado eu a fantasiei de lobisomem, fiquei a tarde inteira pintando ela naquele dia, mas tenho certeza de que valeu a pena o tempo que gastei, ele ficou perfeita.

Any ficou completamente parada enquanto eu pintava o seu braço, fiz uma pintura de uma ferida aberta, como se ela tivesse um machucado bem profundo no braço onde se podiam ver os seus ossos, falsos é claro. Fiz esse mesmo tipo de pintura em boa parte do seu rosto, nas mãos e nos lugares onde eu havia justamente rasgado as suas roupas.

Acho que levei umas três horas só pintando ela.

– Pronto, terminei. – falei olhando para a minha obra de arte. – Parece que tentaram te desmembrar, mas não conseguiram. – falei rindo enquanto pegava o espelho dela e o colocava em sua frente. Sua boca se abriu e seus olhos se arregalaram ao ver a imagem a sua frente.

– Cruz credo! Dessa vez você conseguiu se superar! Esta muito real! Acho ate que sou uma sobrevivente de algum serial Killer. – ela disse e fez menção de encostar na tinta fresca.

– Ei! Nem pense em fazer isso! Se você borrar essa pintura a gente vai sair no tapa e aí sim essas fraturas parecerão mais reais ainda. – ameacei estreitando os olhos em sua direção.

– Você tem sérios problemas sabia? – disse ela abaixando a mão e revirando os olhos.

– Sabia. Agora sossega o facho e espera isso secar enquanto eu termino a sua roupa e me arrumo. – falei e tirei a blusa ficando somente de bustiê.

Remexi em minha mochila e tirei de lá tudo o que eu precisava para a minha fantasia favorita. Em todas as festas de Halloween que eu vou ou eu me fantasio de lobisomem ou de vampira, minha predileta.

Ano passado eu fui de bruxa só pra ver como seria, mas não gostei muito. Meu negócio mesmo é vampiros e lobisomens, e como eu fui de lobisomem no ano retrasado agora é a vez da vampira.

Na minha pele eu não precisei fazer muita coisa, apenas clareei um pouco o meu pescoço, os ombros, o peito e os braços. E a maquiagem no rosto é simplesmente a parte que eu mais gosto de fazer, acho que é porque o rosto é que faz a diferença em uma fantasia de vampiro.

Quando terminei de fazer o clareamento nas partes do corpo eu me sentei na cadeira da escrivaninha e, com a ajuda de um espelho pequeno, fiz o clareamento no rosto, passei lápis preto nos olhos e embaixo deles escureci um pouco, mas sempre tomando o cuidado de não deixar muito marcado e fazer o mais real possível, passei uma sombra meio avermelhada e nos lábios passei um batom que tinha a cor um pouco mais clara que o vermelho.

No pescoço fiz a pintura de uma mordida indicando a minha suposta transformação, também fiz uma mordida em meu pulso direito, apenas para enfeite. Voltei para a minha mochila e peguei uma caixinha com duas divisórias que estava no bolso da frente. Voltei para a cadeira e abri a pequena caixa, com um pouco de cola tudo fixei as presas de vampiro que eu mesma havia feito em meus próprios dentes, me levantei e, com a caixinha nas mãos, fui ate o banheiro. Lavei as mãos e com habilidade coloquei as lentes de contato vermelho vivo, passei uma escova nos cabelos e os deixei soltos.

Quando terminei sai do banheiro e voltei para o quarto de Any onde a mesma se encontrava e que para a minha surpresa estava parada bem quieta.

– Acho que já secou. Venha vou te ajudar a pôr a sua roupa. – falei, mas ela não se moveu. – Qual é o problema?

– Você sabe que me dá medo quando você se veste assim e pra piorar a minha situação a cada ano que passa você melhora nas suas fantasias! – ela disse e pela sua voz pude perceber que ela estava realmente com medo de mim.

Sorri pelo elogio, mas isso só a fez dar um passo pra trás ao ver minhas presas falsas de vampiro, revirei os olhos.

– Não se preocupe, eu não vou te morder. – falei rindo e voltando para a escrivaninha onde eu havia deixado às roupas dela, dessa vez ela me seguiu e parou na minha frente, peguei a blusa e fui para trás dela, não resisti e me inclinei para mais perto do seu ouvido. Respirei fundo e sussurrei: – Mas sabia que o seu sangue me dá agua na boca?

Ela acabou dando um gritinho, mas não sei dizer se ela se assustou com a minha aproximação ou com o que eu lhe disse. Ri ainda mais.

– Para com isso! Não tem graça! – reclamou ela.

– Deixa de ser boba menina, você sabe que eu estou brincando.

– Sei, mas ainda assim me assusta. Parece que é como se eu não te conhecesse mais. – ela falou abaixando a cabeça. Eu me aproximei dela, segurei suas mãos e esperei ate que ela olhasse diretamente pra mim.

– Não importa como seja a minha aparência hoje ou amanhã, minha aparência por fora sempre vai mudar, mas por dentro eu sempre serei a Stell. – falei olhando em seus olhos.

– Eu sei disso, mas às vezes sinto como se a qualquer momento eu irei perder a minha melhor amiga. – disse ela se segurando para não chorar.

– Bah! Você nunca vai me perder! Você vai ter que me aturar por muito tempo ainda. Eu sempre estarei com você, prometo. – falei. Ela sorriu, me deu um rápido beijo na bochecha e se virou de costas para mim novamente.

Peguei a sua blusa e com cuidado a ajudei a se vestir, também a ajudei com as calças. Quando terminei de ajuda-la fui terminar de me arrumar. Vesti uma calça jeans preta colada, uma bota cano longo de plataforma e uma blusa simples também preta de manga curta e que possuía istras brancos colados nela e que se concentravam na parte de cima à esquerda e na lateral à direita. Peguei uma tira de pano preto e a amarrei em volta do meu pulso esquerdo e no meu antebraço, como se fosse uma luva comprida e sem dedos.

– Você está linda! – disse Any por trás de mim, sorri constrangida. – Se eu não te conhecesse diria que você é mesmo uma vampira.

– Obrigada, mas eu acho que você está exagerando.

– Não estou não, deixa o Dany chegar pra você ver se ele não concorda comigo. – disse ela, revirei os olhos sorrindo e fui guardar as minhas coisas de volta na mochila.

– Até quando vocês dois vão ficar nessa de rola ou não rola? – perguntei me sentando na cama.

– Do que você esta falando?

– Ah! Fala sério! Você sabe muito bem do que eu estou falando. Você e o Dany se gostam, dá pra ver isso de longe, mas se nenhum dos dois tomar a iniciativa... aí fica difícil néh? – falei a olhando enquanto ela juntava nos braços as roupas que estavam em cima da cama.

– Sei disso Stell, mas eu acho estranho que seja a menina a dar a iniciativa, não é? – disse ela e logo se virou para o armário tentando sair da conversa. É sempre assim, quando eu falo com ela sobre os dois ela logo arruma um jeito para mudar de assunto.

– Não acho nem um pouco estranho. – falei, mas ela me ignorou. Suspirei desistindo, às vezes a Any é tão cabeça dura que chega a se parecer comigo.