Bleed For Me escrita por Joker Joji


Capítulo 12
XII - Pulsação.


Notas iniciais do capítulo

Mais uma vez, peço perdão pelo longo, longo período de espera. Só para deixar claro que jamais abandonarei a fic. Jamais! Ela é minha xodó eterna, assim como vocês, fiéis leitores ♥ agradeço humildemente pela paciência!

Aproveitem o intenso capítulo xD



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O que aconteceu imediatamente depois daquelas palavras permaneceu por pouco tempo em minha memória. Havia tanto dentro de mim que me sentia uma pequena jarra em que é derramada água demais. Não, foi um exemplo muito estático. Havia uma correnteza dentro de mim, e pedras, e jacarés, e qualquer outro tipo de perigo que se possa imaginar nesses cenários. Aquela frase incendiara-me por dentro, mas como poderei explicar?

E se eu disser que não foi uma sensação ruim?

Vê-lo morto. Jamais imaginara que meu desejo chegaria a tamanha insensibilidade. Ele criou pernas e amadureceu, cheio de vida, como uma criança, e agora já entrava na puberdade. Perguntava-me por quanto tempo conseguiria controlá-lo, um desejo rebelde, ora essa. Só que não fora somente essa sensação que me acometera ao ver seus olhos de manteiga, como também medo (só para variar um pouco). Mikey era apavorante. Mikey me dava nos nervos, por ser ainda uma criança, por ter um corpo magro e fraco, mas por ser tão cheio de vontade. Uma vontade como a minha, ou talvez maior.

Frank respirou um pouco mais forte na cama, tirando-me de meus devaneios. Não fosse ele e eu acreditaria ter-me tornado um completo desacreditado já. O fim da tarde me acalmava. A vista de nosso quarto, com uma pequena varanda, um meio-termo entre sacada e varanda propriamente dita, dava para uma densa floresta, vascularizada, pulsante. O vento circulava por entre as folhas com suspiros, suficientemente audíveis, que se confundiam com os meus, palavras silenciosas que pediam para que Frank acordasse o mais rápido possível.

Batidas secas estalaram na porta. Com certeza não seria Michael, resmunguei um "pode entrar" inexpressivo, recebendo um Robert com cara preocupada. Eu não o entendia, nada, de forma alguma. Michael ainda era mais previsível com seu olhar e sede de matança. Bob, por outro lado, parecia ter palavras tão doces, mas que eram invadidas com uma frente de vingança. (Seria mesmo vingança? Debaixo daquela capa tão trabalhada, haveria mais um ser vazio, como nós?)

- Como Frank está? - Sem dúvida, havia certo pesar na voz. E nos olhos, e na própria postura majestosa.

- Melhorando. Parece que está somente dormindo... Deve ter dormido pouco esses dias. - Suspirei, também culpado por não haver percebido isso antes.

Bob fez um movimento involuntário com a cabeça, como se negasse alguma coisa, talvez a simples enrolação que estávamos promovendo.

- Quero saber o que você vai fazer daqui para frente.

Incisivo. Pensei por um tempo se responderia, se ignoraria, se indagava o porquê de ele estar perguntando isso. Suas palavras me resgataram de algum ponto sombrio da mente. "Confie que a sorte está do seu lado agora".

- Vamos sair daquela pousada. - Virei os olhos para o chão e pus uma mão na frente da boca, como se pensasse seriamente acerca do assunto. Bob levantou as sobrancelhas, não surpreso, apenas como se concordasse, como se o assunto fosse corriqueiro. - Assim que Frank acordar, vou conversar com ele.

- Que motivo você vai dar? - Logo depois da pergunta, Robert deu um riso abafado e negou com a cabeça.

- Acho que não preciso muito de motivos, ele tem desconfiômetro.

Pouco, mas tem.

- Acho melhor vocês irem embora logo, mesmo. Ville pode se tornar mais perigoso com o tempo. Quanto menos você souber, Gerard, das armadilhas que ele prepara, melhor. - Ele sorriu. - Ou do que ele passou.

Seus olhos de platina refletiram o crepúsculo em minha direção. Bryar devia saber muito, senão tudo, de Valo. E de vampiros. Talvez aquele brilho laranja em seus olhos refletissem exatamente o futuro que ele previra para mim.

- Acho que podemos acordar o Frank, não? - Sem esperar por minha resposta, ele caminhou suavemente pelo piso de madeira até a borda da cama de casal (que beleza), forrada com um delicioso edredom branco, no qual Frank afundava sua cara de boca aberta.

- Ei, espera. - Bob tinha uma de suas mãos a alguns centímetros do ombro de Frank, prestes a acordá-lo. - Eu acordo.

Mas que patético, pois é. Só que eu não queria que aquele ser encostasse nele. Seu presente tentava insistentemente inspirar confiança, mas seu passado era refletido com tanta claridade por entre aqueles cabelos loiros... Ele sabia disso, porque sorriu e simplesmente abandonou o quarto. Ele sabia que, para mim, ele era tão monstruoso quanto Mikey ou Ville. E Frank, tão puro em seus sonhos vários, não pode ser manejado por alguém como você. Já bastam os pecados que eu escrevi sobre seu corpo e mente.

Apaguei as luzes para importuná-lo menos e sentei na borda da cama, reparando que Frank parecia ainda uma criança. Seu corpo tão pequenino e esbranquiçado. Sua falta de compostura. Pus uma mão em cada lado de seu ombro, procurando ver seu rosto melhor, cuja metade se afundava no travesseiro de penas. A colônia que costumava usar me enfeitiçou por um instante pequeno e leve, como ele.

À mostra estavam apenas seus lábios rosados entreabertos e seu pescoço pálido escancarado. Uma dor de cabeça súbita me acudiu, obrigando-me a fechar os olhos e pôr uma das mãos na cabeça, apertando, lutando. Minha cabeça foi lentamente caindo, até que minha testa encostasse no ombro esquerdo do pequeno. O perfume era ainda mais forte assim, o que, porém, me acalmou dessa vez.

De olhos fechados era mais fácil suportar os gritos do meu eu-vampírico desesperado.  O demônio que pulsava dentro de mim, com tanta força que parecia me arrebentar. Só que esse era ele despedaçando as correntes que ainda o selavam – correntes cada vez mais sem função.

Frank, o que será de você assim?

Como se respondesse a minha pergunta, Frank moveu-se, a princípio enroscado como um gato, até que senti suas mãos em meus cabelos desgrenhados. Enovelava-os ainda mais num carinho arrítmico, ainda desacostumado com a ideia de estar vivo, talvez. Eu não queria abrir os olhos mais uma vez, sequer conseguia falar qualquer coisa, por medo de ouvir a voz de outro.

Seus dedos suaves circundaram meu rosto até estacionarem eu meu queixo. Senti, confuso, a cabeça levantar-se, enquanto suas unhas engatinhavam pela minha pele fria. Meus olhos abriram-se pouco, muito pouco, trêmulos como meus lábios, também inúteis, também obcecados. O quarto escuro apenas me enganou ainda mais, e o brilho singelo da Lua em seus olhos me fez irracional por um momento.

Você estava tão perto, tão perto.

A mão que estava em minha bochecha foi a que puxei primeiro, até seu corpo vir junto. Só senti seus lábios machucados assaltarem os meus com um desejo explícito, e então você também me puxava pela nuca, pela boca, pelo olhar. Um olhar tão invasivo que nem eu suportei. A escuridão era a melhor maneira de disfarçar a realidade, obscena de tão idealizada que era.

Seus lábios tinham um gosto cálido de sono e lençóis. Amargos, mas doces, mal passados, deles escapavam os suspiros mais furtivos e proibidos do universo. Apenas aos poucos Frank foi realmente se permitindo aquela pequena infração, apenas aos poucos seus lábios umedeceram-se e passaram a deslizar pelos meus, sua respiração felina acariciava-me numa noite de Lua cheia. Havia um Frank em meus braços entre lençóis numa cama king size, sua língua enroscava-se na minha boca e eu começava a ficar meio louco com isso.

Não se ouviam Mikey ou Bob, ou sequer um grilo que fosse, apenas palavras de amor sussurradas em nossa respiração forte. Seu corpo dançava embaixo do meu nos lençois, escorregávamos nós e nossos lábios, minhas mãos apertavam seu pescoço e barriga como se eu precisasse deixar alguma marca em seu corpo pequeno e honesto. Estalos e gemidos percorriam a escuridão, doce escuridão, que segredava nosso desespero. E Frank ardia por inteiro, pedindo que eu beijasse cada parte de seu ser, mesmo sabendo que o frescor de lábios úmidos só pioraria sua situação. Frank voou do pálido moribundo ao mais corado garoto da face da Terra, dono do hálito mais excitante do mundo e das mordidas mais prazerosas da galáxia.

Tudo que falávamos dissolvia-se no silêncio. Apenas seus olhos verdes e seus lábios úmidos refletiam a luz da Lua naquele momento. Aquele Frank, puro como a noite. Mas havia também aqueles olhos, uivando desesperadamente para que eu maculasse aquela pureza em meio às trevas.

Que assim seja, então.

Segurei-o pela gola da camisa e tombei para o lado da cama, atiçando-o com beijos na curva dos ombros, sem saber bem o que fazer com aquele garoto. Eu queria devorá-lo, no sentido humano da palavra. Estava descontrolado, era verdade, mas a sede de sangue não me importunava. Por mais que eu arranhasse seus lábios com meus dentes e sentisse o cheiro de seu pescoço fresco. E sua própria pulsação fazia meu coração bater mais rápido, num único tom.

Frank puxou-me para que ele ficasse por cima dessa vez, agarrado à gola da camisa que eu usava e a meus lábios, indo e vindo em cima de mim, serpentino. Puxava meus cabelos, sugava meu pescoço, e quando eu conseguia pensar em algo era só “como alguém tão puro é capaz de se transformar dessa forma?”. Meu sangue efervescia a cada novo contato, e a tentação de ir um pouco mais além começava a me fazer mal.

Foi então que suas mãos vieram para minha cintura. Mais precisamente, agarraram-se à camisa que eu vestia – ou melhor, vestira em algum momento anterior – e meu abdômen se contraiu com o frio noturno. Segurei-o pelos pulsos e fiz com que nos sentássemos, soltando seus lábios por um minuto apenas. Naquela posição, a Lua transformava Frank em um anjo. Os lábios eram cor de cereja, os olhos estavam semicerrados de torpor, a pele alva tinha pequenas manchas vermelhas espalhadas docemente por sua extensão. Os fios negros emolduravam a meiguice do anjo, grudavam-se em mim e em si próprio. Suas duas mãos fixas debaixo de minhas orelhas, quase em minha nuca, impediam que nos afastássemos mais de cinco centímetros. Olhávamos os dois.

Só quando comecei a retirar-lhe suavemente a blusa é que Frank expressou algum sinal de vida novamente, começando com uma série de beijos leves por meu rosto, orelha, nuca. Subia sua camisa arranhando-o devagar pela barriga, ansioso pelo momento de deitá-lo novamente no colchão confortável, totalmente inconformado pelos poucos minutos em que nossos lábios não estavam se tocando.

Seus braços envolveram-se sobre meus ombros e eu admirava aquele garoto como se fosse uma obra de arte. Ele sorriu lateralmente, chamando-me, atiçando-me, e seus lábios estavam próximos como antes...

Mas aí vem sempre o “de repente” para atrapalhar os momentos mais preciosos.

De repente, o barulho de vidro rasgando os ares fez com que nós dois encolhêssemos, trazendo consigo uma série de má recordações. Só que não tivemos sequer tempo para pensar nelas, o vento desmanchou a cortina e uma pequena explosão assustou-nos ainda mais. Uma tempestade? Não havia chuva ou neve. O silêncio mais uma vez se instaurou, porém tenso, quebradiço. Frank estava entre meus braços, nossos corações ainda mais disparados, olhos e ouvidos atentos a qualquer suspiro que pudesse cruzar o quarto.

Mudos.

Até a porta do nosso quarto voar longe com um forte chute, seguido imediatamente de um estouro, e Bob abaixar-se na entrada do quarto. De sua mão direita escorria uma quantidade considerável de sangue, em sua mão esquerda uma pistola reluzia. Atrás dele víamos o brilho amarelado das chamas, e o calor das labaredas batia em nossos rostos apavorados.

- LEVANTEM, ANDEM!

Infelizmente não tive tempo de pensar que Frank estava dormindo há horas por uma razão. Pusemo-nos de pé e no mesmo instante meu pequeno desmoronou em meus braços. Só pude gritar um “merda” bem alto e ouvir Bob apressar-nos. Porque um outro estouro, dessa vez, me deixou verdadeiramente imóvel.

Dessa vez, foi a janela que disparou em direção à parede oposta.

A capa preta dançava com o vento; de mãos nos bolsos, Valo encarava-nos da varanda através da janela arrombada. As presas à mostra, os olhos ensanguentados. Ele nos olhava de cima, o nariz apontava para o céu. Sorria de lado a lado do rosto.

- Boa noite, Frank, Gerard. – Ville saudou-nos com uma reverência. – Oh! Parece que o encontrei.

Os olhos azuis de um encaravam o vermelho sangue do outro. Ville assumia uma pose verdadeiramente majestosa agora, enquanto Bob apoiava-se no umbral respirando minimamente. O que havia acontecido previamente eu não fazia ideia. Mas o grito fora do próprio Bob. No momento, eu só esperava que Mikey estivesse vivo.

- E então? O que você disse a eles, Bryar? – O vento arrastava a capa e os cabelos do vampiro demoníaco. Meu deus, ele tinha cheiro de sangue pulsante, e a loucura completa se estampava em seus olhos doentes. Percebi que eu tremia. Aquele descontrole de Valo, os estouros e as chamas me fizeram perceber o que era medo de verdade, medo de me sentir o mais tolo e impotente dos seres. Frank ainda estava em meus braços... Mas por quanto tempo eu seria capaz de resistir?

Robert permaneceu quieto, compenetrado em seu silêncio. As sobrancelhas torciam-se de dor, mas isso não parecia afetá-lo. A força do azul límpido de seus olhos me arrepiou por um momento.

E foi esse o tempo necessário para que eu levantasse Frank do chão e fosse até Bryar, para então – ninguém sabe exatamente o porquê – eu ficar de pé, imóvel, cara a cara com Ville Valo. Um ignorante, talvez. Entretanto, eu sabia que as próximas palavras de Valo misturariam “morte” com “agora”, e Bryar, por mais misterioso que fosse, não me parecia cruel o suficiente para ouvi-las nesse momento.

- O que é isso, Gerard? – Suas sobrancelhas dobraram-se em forma de dúvida. – Há um minuto atrás você queria despedir-se para sempre de minha pousada, agora permanece de pé para salvar um desconhecido?

- Algo me diz que a morte dele vai me causar alguns transtornos. Ainda há em minha cabeça algumas perguntas que você jamais responderia.

Ville virou os olhos para o lado e fez um “pff” de desprezo. O sorriso sumiu de sua face como se nunca houvesse estado lá. Seus olhos rodaram pelo quarto numa espécie de autismo, deixando-nos em dúvida se era melhor correr ou esperar que Valo voltasse ao normal.

- Fujam, vocês dois. – Bob gemia, em meio à respiração ofegante. – Ele bebeu sangue demais essa noite. Não faz sentido ele estar aqui hoje... E é esse o problema.

E então seus olhos travaram em mim. Eram de um peso que minha cabeça latejou, mas eu não estava nem um pouco disposto a ceder de qualquer forma. O fogo ardia minha nuca, as cinzas me deixavam meio zonzo. Meu coração disparado só pensava em Frank. Pensei em avançar em Valo, mas isso não faria a menor diferença.

- Eu não quero você hoje, Gerard. Muito menos Frank. Saiam do meu caminho. Hoje... Somente meu irmão me importa.

Seus olhos voltaram ao azul cristalino de sempre.

Eu sabia que eu conhecia aquele tom muito, muito bem.

Ville apareceu atrás de mim num piscar de olhos, antes mesmo de Bob ter tempo de apertar o gatilho, antes mesmo de Mikey arregalar os olhos e alcançá-los. Tapava a boca de Bryar e o segurava com força, apenas por tempo o suficiente para misturarem-se às cinzas que contaminavam o ar.

Depois disso, só sobraram nós três e os estalos ígneos de madeira de qualidade em chamas. 


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Notas finais do capítulo

Reviews sinceras! Sinto que ando um pouco enferrujada, oh.



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