Bleed For Me escrita por Joker Joji


Capítulo 10
X - O Rei.


Notas iniciais do capítulo

Um pedido de desculpas bem grandão serve? Especialmente às queridas nunes-gi e geezinha. Vou me esforçar para continuar com a fic o mais breve possível, mas esse ano está realmente difícil.

Obrigada por não perderem as esperanças! ♥



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Como naquelas cenas de filme, o mundo ao redor silenciou-se, as árvores ignoravam o vento calmo e o próprio sangue parecia escorrer mais lentamente. O tempo parecia não se importar em desgastar-se, desperdiçando-se, tornando o momento infindável. Minha respiração forte arrebentava meu interior. Frank deitado atrás de mim, desacordado, eu imóvel. Cercados por, no mínimo, sete outros vampiros.

Ville Valo, o líder.

"E tem de ser agora".

Não íamos durar muito mais. E o pior era a crueldade em seu olhar. Tão sincera. Pois muitas vezes encaramos a morte – porém, naquela ingenuidade bem humana (ou até mesmo vampírica), tudo parece não passar de um sonho. A morte parece tão irreal, tão inatingível! Mas seu olhar... Seu olhar já refletia previamente todo o sangue a ser derramado, a dor em seus gritos dilacerantes, eu e Frank, afogados de liquor envenenado...

E tudo já emanava o fétido odor de putrefação.

O paciente chorou em meus sonhos mais uma vez.

Ville me olhava. Mais, me saboreava, me humilhava, me assombrava com íris prateadas. Com seus trejeitos nobres, mãos polidas e uma capa preta assobiando ao vento. O único som ambiente. O resto era morto.

Eu tremia e dava graças a deus - qual deus? - por Frank estar desmaiado. Esperando a hora em que seus lábios profeririam nossas últimas palavras. Imaginando quais seriam elas.

Arrastei-me até meu pequeno e abracei-o com toda a minha força, rezando para aquele deus desconhecido, implorando por outro milagre.

- Sai daí, Way. Não agüentaria desperdiçar os dois. Mas não se preocupe, sr. Iero – Sua voz sibilava e confundia-se com risos, vento e dentes batendo-se. Sua ironia ao dirigir-se ao meu Frank desacordado doía, molestava-me. – vou tomar conta deste seu vampiro com muito carinho.

Ao que senti um chute em minha cabeça, mãos agarrando-me pelos ombros e peito, unhas afiadíssimas e ensebadas. Ouvi uma gargalhada. E sangue a respingar no chão.

Uma batida em falso de meu coração, um grito.

E logo um dos vampiros caía com a leveza de uma pluma, imediatamente atrás de Valo. Um garoto lambia a ponta de seus dedos, sangue manchava-lhe as bochechas, e seus olhos inexpressivos.

- Suma, Valo.

Ele era o ventríloquo de uma voz muito mais imponente. Uma voz que se espalhava pelo chão seco como névoa, como mar - imensa e ecoante. Tão segura de si que sequer precisava mostrar-se, fantasiava-se daquele garoto de cabelos castanhos-alourados, disfarçava-se em dois olhos laranjas como o fogo do inferno. E o sangue lhe cascateava o pescoço, não o seu próprio. Eu mesmo não era capaz de afirmar com certeza se ele era um ser vivo, ou se ilusão de meu coração temeroso.

Ou a Morte a me buscar.

O fato é que Valo estagnou-se, olhos arregalados, preto e branco, como num filme; manteve o braço seguro por correntes invisíveis de vento gélido, vento vindo da boca escondida do diabo. Talvez eu devesse um pouco mais de gratidão a esse tal diabo, pensei por um instante. Afinal, ele não podia ser pior do que o assassino a minha frente.

O garoto ensanguentado mirou Valo com dois flocos de neve impassíveis e tintos. Havia uma familiaridade monstruosa, um laço entre os dois; reconheciam-se em meio ao ódio, medo e desprezo. A tensão quadruplicara sobre nós, porque eu já não sabia a quem temer mais. Não poderiam se unir e atacar-nos em conjunto? De qualquer modo, a morte era para mim tão certa quanto a insensatez daqueles homens.

- Não me faça pedir de novo, Ville. - A voz seguiu-se a passos espaçados, quebrando aqueles gravetos e martelando o chão do lugar. Em minha imaginação, um rei sairia da névoa - com seu cetro, a capa e o olhar imperial. Valo se ajoelharia. O poder que somente suas palavras possuíam era impressionante, assombroso, indiscutível.

Ville tinha um hálito odioso escapando pela boca e virando névoa. Seus olhos amaldiçoavam o chão, ele com sua pose de astro de cinema, travado no ar. Que espécie de maldição o impedia de prosseguir? Que laços estavam embutidos naquelas falas obscuras? Quem era o dono dessa voz?

O garoto desviou o olhar de Valo para mim. Mantia distância de ambos, porém, a julgar pela velocidade com que apareceu na cena, pressenti que aqueles metros de separação não seriam forma alguma de proteção a meu favor. O suor descia-me a nuca, Frank mais uma vez estava longe de meu alcance (tão perto daqueles loucos!) e a boca seca me dava vontade de tossir. Só que eu simplesmente não mexia. Já ouvira uma vez que o melhor a se fazer quando uma serpente estivesse próxima era não se mover. Acho que, inconscientemente, esse conselho estúpido me dominava dessa vez.

E ao longe apareceram fios dourados. Como o sol, expulsando as nuvens de maus agouros. Olhos claros, cristalinos, olhos divinos - angelicais. Um homem surgia da névoa como chuva quente de verão, o vento cálido do fim primaveril, e todos os outros vampiros, praticamente imóveis, para ele se viraram.

Havia uma capa escura pendendo de seus ombros.

Abram alas para um verdadeiro rei.

Sua expressão cravada em Valo, e esse a ignorá-lo friamente, como se somente os ladrinhos o atraíssem. No entanto, vinha como se não passasse de uma reunião amigável entre amigos, passos lentos e comedidos. Onde estaria seu alazão? Sua lança de prata?

Como Ville temia aquele homem que, mesmo com olhar de Medusa, vendava a si próprio em sinal de paz?

- Deixe-os comigo, Valo. Não vou repetir.

Ville Valo rodou em seus calcanhares com toda a pose que lhe era possível. Sem jamais perder a compostura. Os olhos claros refletiam uns nos outros e nas nuvens ao nosso redor, prismáticos, decompunham-se em sensações as mais diversas. Sentimentos exóticos em confluência.

- Bryar.

Naquele simples apóstrofe outras tantas indagações e indignações atropelavam o interlocutor. "O que está fazendo aqui?", "Já não lhe disse para que não se intrometesse em meus assuntos?" ou "Como queira, babaca". Apesar de tudo, Valo, por algum motivo, não era capaz de desobedecê-lo ou desacatá-lo. O que o tal de Bryar significaria para o vampiro, eu não fazia ideia. Até porque, para mim, ele era somente um homem, então isso excluía minhas hipóteses de ele ser alguém assustador para todos os vampiros.

Valo chicoteou o próprio braço no ar, lançando gotas de sangue no chão, e logo começou a caminhar sozinho na direção contrária aos acontecimentos. A cabeça alta, apesar do orgulho dilacerado. Os vampiros restantes encararam-se com um quê indigesto no rosto, indo depois ao encontro do mestre. Sobramos eu e Frank no chão frio, pés, cabeças e corações latejando, Bryar e sua presença austera, e o outro, jovem e ensanguentado. Quatro indivíduos, ao menos dois vampiros.

E o sangue.

Arrastei-me com toda a pressa do mundo para Frank, prendendo-o em um abraço infinito, desesperado, queria fundi-lo em meu corpo. Logo me voltei com um olhar venenoso para o tal de Bryar, desafiador. Morto de medo, mas disposto a proteger Frank com unhas e dentes. Isso até ele me encarar também. Até ele me petrificar com uma maré azul. De algum modo, acalmou-me. E veio até mim.

- Gerard Way, acho melhor você vir comigo. Consegue andar?

Fiz que não com a cabeça, tinha medo de ouvir minha voz. Medo de checar os estragos que os últimos minutos haviam feito dentro de mim. Meu pé, com certeza quebrado, latejava.

- Por que não tenta? Você é um vampiro, esqueceu-se?

Encarei-o de baixo, o que só aumentava minha sensação de inferioridade. O rei jogava suas ordens sob falsa gentileza, e eu realmente temia o que me aconteceria caso o desobedecesse. Seria isso o que selara Ville há alguns instantes?

Levantei-me. O pé martelava meus nervos, no entanto se movia. Meu corpo, de maneira geral, pouco sofrera com os machucados; era surpreendente. Uma sensação inusitadíssima lançou-se em meu sangue como álcool, deliciosa e ardente, imortalidade! Sentia-me uma aberração e um felizardo simultaneamente. Frank em meus braços, intacto. Protegido.

- Só não pense você também que é imortal. Já perdi muitos assim, física e psicologicamente. - Bryar alertou-me, com um tom de voz seco e fechado. Agridoce. Então estendeu sua mão. - Robert Nathaniel Bryar, Michael James. - Apontou para o garoto magricela. - Vem conosco?

O convite me pegou não com surpresa, mas com receio. Michael me olhava lateralmente, o mesmo olhar direcionado a Ville Valo, o mesmo olhar que vestia enquanto saboreava o sangue do morto. Que por sinal permanecia caído no chão - ele e White -, apavorando-me ainda mais. Bryar parecia, senão mais humano, mais... bondoso. Menos perturbado, talvez. Não soube dizer.

- Não se preocupe, já lhe curei uma vez. Você só vai aumentar sua dívida comigo.

O espanto bateu em meu rosto como um vento forte, deixando-me estático e de olhos arregalados.

Robert Bryar? Lembro Frank falando que um fazendeiro havia cuidado de nós antes de irmos para o hotel. Lembro um homem de roupas pretas num dia de muito sangue e estilhaços em minhas costas. O que para mim não passara de sonhos irreais agora se materializava com perfeição sob meu olhar, embora não sob minha razão.

- Venha conosco e poderemos conversar melhor. Você já correu perigos demais, acredite que a sorte está ao seu lado dessa vez.

Optei por seguir seus passos em meio à névoa até um carro preto e, posteriormente, até uma casa clara no meio da floresta. Frank em meu colo, junto com um milhão de perguntas.


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Notas finais do capítulo

Deve estar com alguns errinhos, estou sem word... Sem dúvida, ele faz falta.

Obrigada por acompanharem!



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