Bleed For Me escrita por Joker Joji


Capítulo 1
I - Suspiros.


Notas iniciais do capítulo

Pequena introdução.



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“Se não existissem mistérios, qual seria a beleza de viver?”.

Aquela vontade de gritar obscenidades não sumia de maneira alguma. É nessas horas que você tem vontade de estar no Alasca, berrar todos os seus sentimentos, sem dó nem piedade, e implorar para que uma avalanche o apague naquele momento. E essa conclusão só é aprovada pelo seu cérebro quando você olha para os lados e vê a merda em que você se meteu.

No meu caso, eu via um fusca verde-limão, mãos extremamente avermelhadas, motoristas sorridentes passando por mim e nenhum posto de gasolina. Talvez o que ainda me mantivesse (aparentemente) calmo era uma pessoa nas mesmas condições que eu, posicionada a meu lado, com um sorriso de lado a lado e uma Coca-Cola na mão.

É inútil tentar descrevê-lo. Tanto psicológica quanto fisicamente, você não conseguirá encontrar inúmeras palavras, ou não conseguirá simplificá-lo em uma única.

É inútil tentar descrevê-lo. O Sol iluminava sua face encantada, e parecia realmente que raios solares eram algo divino.

Espere. Eram os mesmos raios solares que me causavam uma dor de cabeça filha da puta?

- Cadê... Eles? – Até sua voz derramava-se com cansaço perceptível. Era digno de pena ver alguém tão pequeno tentando arrastar um fusca por uma serra tão esburacada e infinita, tendo como base apenas uma esperança imortal.

Se existe algo (a mais) que eu admiro no Frank é sua determinação doentia.

- Devem tar sabe-se lá quantos quilômetros a nossa frente...

- Com o Tré dirigindo? Ah, por favor. Eles devem ter parado no primeiro barzinho que apareceu na estrada... Não duvido...

- Não seria nada mal... Uma cervejinha agora, né?

- Cala essa boca e arrasta... A gente pára no primeiro... Bordéu, ou qualquer coisa que aparecer pela frente...

- Olha, Frank, uma barraquinha de coco. Talvez nós possamos parar ali, que tal?

- Gerard, se for para falar merda, é melhor ficar quieto, por favor.

É uma sensação quase erótica irritar os outros, se é que você me entende.

Sinceramente, eu devo ser um porre, só o Frank mesmo pra me agüentar. Virei-me para ele, que olhava para o além de modo distante, como se esperasse um grande acontecimento. Só mesmo um milagre para tirar a gente daqui. Espero que não demore muito, acho que vou ter uma insolação.

Um ano e pouquinho. E eu achava saber tudo sobre seu sorriso misterioso.

Mas talvez eu não estivesse de todo errado. Talvez eu soubesse mais sobre ele do que sobre eu próprio. Talvez todo o nosso infortúnio tivesse algum significado, uma razão para acontecer.

Tais palavras bailavam em minha mente, e eu não via significado algum nessa dança.

- Gerard... Cê tá bem?

Eu estava começando a ficar sem ar. Maldita asma. Logo quando tanto precisamos da minha força, o oxigênio começa a me faltar... Minhas pernas bambearam, e meus braços começaram a tremer.

- Ger! Pêra ae! – Ele saiu correndo para dentro do carro e puxou o freio de mão. O alívio em meu corpo foi instantâneo, e meus joelhos cederam à força da gravidade. O asfalto arranhou minha pele suada de leve, brincando.

- Gerard! Que foi, Gee? Dude, não faz isso! – Agora, principalmente meus lábios estavam sem controle. Eu procurava ar em vão, meu corpo se recusava a aceitá-lo. Senti Frank me puxando para a grama do lado do acostamento, deitando-me debaixo de seu olhar preocupado. Calma, pequeno. Vai dar tudo certo.

- Calma... É só... Asma... – Comecei a tossir. Era um bom sinal, uma prova de que meu corpo começava realmente a desesperar-se e que, em poucos segundos, meu esforço valeria a pena. Eu me recuso a morrer de um modo assim tão patético – apesar de estarmos nessa realidade corrompida, onde nem todos podem escolher de que modo a morte chegará até eles. Realmente, é tudo um caos.

- Vamos tentar mais uma vez... Quando você melhorar um pouco. Não temos condições de subir a serra com você assim. – Havia uma brisa gostosa no ar. O tempo fechava-se quase por completo, e o azul que antes preenchia o céu agora se despedia por trás de um manto de nuvens brancas. Assim como os raios solares daquela manhã. Parece que chovia ao norte dos Estados Unidos, para onde íamos – um hotel escondido, um fim de semana isolado. Ninguém sabia de nós, e isso me fazia sentir leve. O oxigênio voltava a fazer efeito em meus pulmões.

- Tô pronto.

- Tem certeza?

- Absoluta. – Você simplesmente aceitou. Esse seu jeito sincero e inocente me impressiona até hoje. – Vamos. Eu empurro, e você dirige. Sem distrações dessa vez, ok?

- Desculpa, Gee. Okay. – Ele dominou o volante e eu estava pronto para gastar minhas últimas energias. Gritei um “já” desesperado e empurrei com todas as minhas forças.

Forças que eu não fazia idéia de onde teriam vindo. Só sei que meus lábios voltaram a tremer. Junto com o motor do fusca acabado de Frank.

- AE, DUDE! Nem acredito, conseguimos! Entra ae, Gee!

Meio desgovernado, entrei no carro. Agora estava tudo bem. Estávamos a salvo.

De quem? Do quê?

Suas mãos deslizavam pelo volante, despreocupadas. Antes ele olhava para a estrada de modo distante, como se esperasse um grande acontecimento; agora, seu olhar só saboreava uma brisa agitada, o soneto cantado pelas folhas das árvores à estrada.

Eu gostava dessa sua expressão sonhadora. Como se nada que falassem fosse alterar a beleza da vida para você. Era reconfortante. Até seus bocejos pareciam suaves, despejados em uma mesa de vidro.

- Sono, Frank?

- Só um pouquinho. Nada que não dê para continuar no volante.

- Deixa que eu dirijo. Eu tenho carteira.

- Pff... Gerard, você não vai me matar hoje. Ter carteira não significa que você tenha juízo. – Eu já estava tão acostumado às gracinhas de Frank que ria instantaneamente.

Eu ria. O que significa isso tudo? Eu não era assim. Não nasci para ser assim. Lembro-me do dia em que suas roupas coloriram minha realidade, e todas as plantas a minha volta finalmente floresceram. Quando, enfim, eu sorri. De verdade. E você disse que meu sorriso parecia de bebê. Talvez eu estivesse aprendendo a ser feliz.

Maldito dia. Em que eu me perdi completamente. Cadê a lógica? Não há lógica. Não há norte, não há um caminho.

Você vai me ensinar como achá-lo, Frank?

Tantas perguntas. Desde que meu corpo ficou mais quente, e meu sangue mais vermelho. Como posso respondê-las se agora mal posso definir minha vida com palavras, se elas não forem tão suaves quanto as suas? Você bagunçou absolutamente tudo em que eu acreditava.

Nada faz sentido com você por perto.

- Põe uma música, Gee.

- Onde tão os cds? – O que você quiser, pequeno.

- Jogados por aí, debaixo do teu banco. Sabe como é, organização é meu forte. – Abaixei-me e logo senti a capa fria procurando por minhas mãos. Peguei-a.

- E aí? Qual? – Abri os cds e fui passando as páginas, e Frank procurava, indeciso. Seus dedos acariciavam o volante, era incrível como ele não se esquecia de ser doce a todo momento. Sua boca cantarolava pequeninas felicidades.

Mas seus olhos se esqueceram da curva a seguir. E agora era eu que cantava, mas só saíam pedidos desesperados. “Não morra, Frank”. Você disse que eu não ia te matar hoje.

E por que o carro insiste em bambolear com você dentro, desprotegido, com seu cabelo balançando nesse vento assassino?

Nada faz sentido com você por perto, lembra? Imagina então sem você.

- ME SEGURA, FRANK!

Eu mal tinha fôlego para falar. O medo de te perder era muito maior do que eu poderia suportar. O vidro cortava minha pele, deixando o oxigênio vazar. Senti o teto se amassando sobre nossas cabeças, como se a morte estivesse vindo nos buscar. Senti também seus braços em minhas costas. E seu desespero escorrendo por seus cortes.

E o cheiro de seu sangue.

Frank.

Eu quero.

Eu quero morder seu pescoço.


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Notas finais do capítulo

xxxx

Tré e Billie Joe - componentes da banda Green Day, sim? :D

Obrigada aos que leem!