Usei o argumento de que iria para lá fazer faculdade de economia, mas minha mãe sabia que eu estava indo pela musica, com a certeza de que podia arranjar uma boa oportunidade.

No dia de ir embora, a cena no aeroporto parecia de filme. É claro que apesar de não gostar muito do povo que eu conhecia na minha escola, tinha meu grupo, e mantinha uma boa relação com todas as pessoas da minha classe, e parecia que, além da minha família, todos os meus amigos e colegas resolveram alugar uma vã e ir comigo até o aeroporto. Quando entrei na sala de embarque, só consegui ouvir a Fernanda chorando com a minha mãe e prometendo que ia me visitar enquanto todos acenavam alegremente.

Meus pais já tinham viajado para LA umas quatrocentas vezes pra deixar tudo pronto pra mim, mas nao tinham me levado por causa da minha escola (delícia ficar no Brasil enquanto seu pais estão nos EUA, adooro). Minha matrícula na faculdade já estava feita e o apartamento já estava pronto, tudo para que eu me sentisse a vontade em minha nova casa.

Depois de 8 longuíssimas horas de voo, cheguei em Los Angeles. Uma amiga da minha mãe já estava me esperando com uma plaquinha e uma foto na mão, a tia Tina era amiga da minha mãe desde sempre. Fomos juntas conversando até chegar no meu apartamento. Ela me deixou na porta e falou que qualquer coisa que eu precisasse poderia ligar. Muito fofa.

O apartamento era todo rosa. TODO ROSA. Eu falei para a minha mãe que nao queria um apartamento muito colorido, mas pelo jeito ninguém me ouviu. O bom de ter um catão de crédito sem limites é esse. Gasto o quanto quiser. Muahaha – risada maquiavélica.

Fui em uma loja imensa de departamento e comprei um monte de acessórios não coloridos para minha linda nova casa. Na saída estava com duas grandes sacolas cheias quando trombei com um garoto alto que me fez derrubar tudo no chão e quebrar o porta retrato e os dois abajures novinhos.

Olhei nos olhos dele e senti um arrepio na nuca. Seu ar desafiador me amedrontou, mas sua beleza me fez com que quisesse chegar mais e mais perto. Pedi desculpas compulsivamente e fiquei tão nervosa que comecei a misturar o portugues com inglês, fazendo-o rir. A moça do caixa me falou que trocaria meus produtos por novos por causa do acidente ter corrido dentro da loja.

Saí pela mesma porta e assim que pisei fora da parte coberta, vários pingos de água me etingiram na cabeça e só então percebi que estava chovendo, e muito. O mesmo garoto passou com o carro do meu lado e viu minhas condiçoes. Ofereceu uma carona e eu aceitei, eu estava em uma cidade estranha, sem ninguém que eu conheço e se for a pé meus braços vão cair no meio do caminho até em casa, o que eu tenho a perder? Quando entrei no carro ele riu, me olhei no espelho e percebi o motivo, a minha maquiagem carregada borrou inteira e eu fiquei mais parecida com um panda do que com um ser humano.

- Qual é o seu nome? – Perguntou.

- Ah, meu nome é Manoela. E o seu ?

- Manoela? – Perguntou com um sotaque estranho – Nome bonito. O meu nome é Jake.

- Jake, nome bonito! – Disse e ri.

Ele apertou play e um cd do Nirvana começou a tocar. Olhei para o numero na pequena tela do rádio. Faixa 1, Smells like teen spirit. Nevermind.

- Uau, Jake, você não tem cara de quem gosta de Nirvana não. – Comentei enquanto o carro parava na frente do meu prédio graças ao sinal que fiz com a mão, a loja era bem perto de casa.

- E tenho cara de quem gosta de quê? – Perguntou com uma proximidade perigosa.

- Realmente não sei. – Respondi pulando do  carro com as sacolas. – Mas muito obrigada pela carona!

- Disponha! – Gritou de dentro do carro com um tom divertido.

Passei pela portaria e fiz uma social com o porteiro antes de subir até meu quarto e ficar assistindo TV até de madrugada, vendo filmes que mesmo com meu inglês quase fluente, eu entendia bem pouco.

Dormi algumas horas depois na minha cama babando no travesseiro vendo o  suposto namorado da Miley Cyrus naquele filme A Ultima Musica.