Distração Minha escrita por Anita


Capítulo 1
Sobre Aquela Vaca


Notas iniciais do capítulo

Notas Iniciais:
Obviamente, Sailor Moon não é minha. Não confundam as coisas. E Hitomi... Hitomi... Se você você já leram alguma outra fic minha em que esse nome apareceu, favor, também não confundir XD É o mesmo nome, e eu nem percebi isso T__T Ah, e qualquer semelhança com pessoas reais...... Acreditem, ou não, é mera coincidência!!

Ademais, esta história foi feita corrida, quero dizer, originalmente, não era em capítulos, mas ficou muito longa... Por isso, decidi que era melhor dividir. Tentei fazer em "partes que tenham a ver", mas o capítulo um ficou um terço do capítulo dois só para vocês terem uma idéia -_-; Portanto, eu sinto muito se os inícios de capítulo parecem repentinos... Eu, realmente, não costumo dividir fics assim e a experiência que estou tendo com me ensina a deixar as fics longas simplesmente longas!

Então, vamos à fic!! Lembrem-se de me mandar um e-mail anita_fiction@yahoo.com e de visitarem meu site, Olho Azul http://olhoazul.here.ws para as fics mais recentes *__*



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Capítulo 1 - Sobre Aquela Vaca

  Quanto uma frase mal pensada pode mudar o rumo de nossas vidas? Você já parou para perceber que, quando deixamos a pessoa errada ouvir nossos desabafos, às vezes estamos acabando para sempre com uma grande amizade antes mesmo de ela surgir? Ou partindo o coração apaixonado desse rapaz? Porque as palavras têm esse poder invisível de ligar as pessoas, também podem cortá-las para sempre de nossas vidas; muitas vezes, sem que nem mesmo o saibamos.

  Penso que seja por isso que nos sentimos tão aliviados ao podermos ser nós mesmos e botar para fora palavras não filtradas com um determinado alguém. Eu tinha uma pessoa assim, mas não como um amigo, apenas uma pessoa que encontrava todo dia de uma forma ou de outra, normalmente, contra a vontade dele e, aparentemente, também contra a minha.

  Darien Chiba. O homem mais bonito que existia no Japão. Devia ser proibido ser tão belo. Alto, musculoso como super homem, – ou assim devia sê-lo sem aquelas roupas todas, - inteligente, afinal estava sempre com um livro debaixo do braço... A lista era sem fim. E isso se contássemos apenas o óbvio. Eu também podia ver olhos azuis tão profundos que, volta e meia, me deixavam triste e mãos tão largas que poderiam segurar todo meu coração junto com minha garganta, fazendo parecer que eu estava morta ao vê-lo. Resumindo: ele era quase perfeito.

  Sim, “quase”. Por algum motivo, Darien Chiba encontrara uma namorada. De repente, ela começou a aparecer em todos os lugares. Lá estavam eles felizes indo ao cinema, ou felizes passeando no parque, ou felizes conversando com o Andrew. Tinha que haver algo errado, ninguém pode estar tão feliz assim a qualquer momento. Mas Darien Chiba e sua namorada estavam. Em todo canto, como se me esfregassem na cara tudo o que eu não poderia ter.

  Acho que isso resume muito bem o quanto Serena Tsukino estava apaixonada por Darien Chiba, certo? Ah, eu sou essa aí e, sinceramente, não consigo pensar em qualquer coisa boa para me descrever. Trágico... Se bem que eu ainda não cheguei à real tragédia. Eu já sabia o quão intangível me era “o” Darien Chiba, não precisava ter Q.I. positivo para tal, porque um mais um nunca daria... Bem, nunca daria o número que deveria dar, qualquer que ele seja, quando “um” fosse Darien e outro “um” fosse eu.

  O que mais falta para vocês realmente entenderem a tragédia que se seguirá? Claro! Hitomi Yamada. Quem? A namoradinha, parte do casal feliz em qualquer lugar. Prefiro não descrevê-la, apenas dizer que a mulher é uma vaca. Não literalmente, claro, pelo menos nunca a vi cacarejando, ou rosnando, ou sei lá o que vacas fazem... Sabe, aquilo de mastigar quatro vezes a comida. Mascando? Ainda assim, o que importa é que eu nunca vi. Nem chiclete. Mas sempre tive certeza de que ela não era o ideal para Darien. Essa Hitomi era chata, de voz estridente e que só se comportava bem perto dele, mesmo assim, sempre fora insuportável comigo, rindo de cada piadinha que o namorado me jogava.

  E eu a vi com outro. Exatamente. Aquela vaca, mascadora de homens perfeitos, tava com um delinqüentezinho com cabelo de líder de gangue. Os dois de mãozinhas dadas e tudo ao saírem do cinema nem perceberam que eu estava no caminho. Deram-me um encontrão e foram embora sem pedir desculpas ou olhar para trás. Olhando meu pobre sorvete fora da sua casquinha a derreter no chão; eu sim gravei bem a cara de ambos. Mas como contar ao Darien de forma que acreditasse? Não tinha provas... Se ao menos eu pudesse encontrar o yakuza, mas nem isso consegui. Andei por essas gangues com um desenho caprichado dele, perguntando se o haviam visto, mas nada! Até riram da minha obra de arte feita em crayon... Uma busca frustrante.

  Então, o que fazer? Como? Confesso, não tinha quaisquer esperanças de uma situação em que Darien dissesse: "Bem como eu imaginava, você vale mil vezes mais que aquela vaca!", principalmente porque ele não tem cara de quem diga "vaca", sabe? Mais ainda porque ele sequer me daria ouvidos. Riria, perguntaria se eu realmente queria tanto ficar com ele... Não me levaria a sério!

-Então, deixa que eu acabo com a cadela, - disse Rei, quando lhe contei tudo o que fizeram ao meu sorvete no dia anterior. Pois é, Rei também não gostava da Hitomi.
-Não permitiria que levasse todo o crédito!
-Pode deixar. Digo que foi você quem viu.
-Pior ainda! - Senti minhas bochechas queimando. Não era justo ela ser a pessoa na frente de meu amado Darien de coração partido, quando eu ficara no prejuízo por conta da casquinha. Eu queria abraçá-lo, dizer que a vaca não era a única, que ele encontraria alguém mais especial.
-Então por que me contou isso? Não vai me dizer que está apaixonada pelo Darien e que tá doida pra se livrar da outra?
-Rei!
-Na mosca? Serena, se manca. Com ou sem Hitomi, por que ele iria olhar para alguém como você quando tem euzinha, a menina mais perfeita?
-Cala a boca, sua temperamental! Tem você? A mais perfeita, é? Pois não tem coragem de ir até ele e dizer que viu a Hitomi atracada com outro. E é injusto ele continuar enganado assim, porque ele realmente não merece isso. - Eu já estava chorando, o que provavelmente havia emudecido Rei. Não por tristeza, mas frustração.
-Chega, Serena. - Seus olhos escuros nem me encaravam mais por vergonha da cena que eu armava em plena rua.
-Não vou parar não! Aquela vaca precisa aprender a dar valor ao homem que tem, pelo menos! Não é justo, nem um pouco justo.
-Serena, contenha-se.
-Nunca. Não enquanto ela não entender que ou larga o gangsterzinho ou sai de perto do meu Darien! Porque se eu a vir de novo com aquele cara feio derrubador de sorvetes, acho que sou capaz de matar os dois. Ai, como eu queria vê-la de novo para-
-Para pedir desculpas pelas mentiras que está dizendo, menininha? - Uma voz feminina me interrompeu.

  Olhei imediatamente para Rei, querendo ter certeza de eu não estava ouvindo aquela voz de pata da Hitomi. Só podia ser um sonho. Ela ouvira tudo, agora eu não precisava ficar me mordendo pelos cantos, podia ser sincera e partir logo para cima. Se aquela mulher morresse, Darien ficaria livre do mesmo jeito, né? Fôlego recuperado, virei-me com um sorriso triunfal, pronta para aproveitar a chance que o destino me dera; o plano perfeito. Iria resolver nossas diferenças ali mesmo com a bovina!

-Muito pelo contrá... - Comecei, sem consegui encontrar voz para continuar. Minha garganta estava seca e minha boca sequer queria fechar. O "a" continuava preso entre meu pescoço e minha língua. Tive a impressão de tê-lo continuado a gaguejar baixinho, mas no estado em que minha garganta ficara, acho difícil que fosse assim. Meus olhos ficavam olhando a Hitomi e a pessoa com quem ela estava por várias vezes. Depois, voltei-me para a Rei, incerta de se eu queria matá-la ou abraçá-la pedindo por forças.
-Contrário? É essa a palavra que quer? - perguntou Hitomi com um sorriso triunfal. Não tremia nem nada, com uma das mãos na cintura e a outra segurando bem forte o braço da outra pessoa. - Então, o que acha disso, Darien? Viu por que chamo de perda de tempo suas conversas com essa baixinha? Agora quer jogar um monte de intriga sobre mim pelas nossas costas.
-Não é como se a Serena precisasse mentir pra me fazer não gostar de você, Hitomi-san. - Rei pulou na minha frente, quase como se tentasse me defender do ataque de algum youma.
-Hum! - A outra virou o rosto para não encarar a morena à sua frente e pude sentir que puxava discretamente o namorado pelo braço.

  E eu? Que diabos vocês acham que eu podia fazer numa saia justa dessas? Não é como se eu fosse a típica descarada como a Rei era para assumir tudo o que eu disse bem na frente do Darien. Normalmente, se fosse só ele, eu até diria que estava delirando, coisas assim e ainda lhe daria língua. Mas eram os dois! Sozinhos ainda dava para enfrentar, só que juntos... Tudo o que eu sentia era tontura, enquanto minha boca sequer fechava. E vocês ainda esperam que eu pudesse fazer algo?

-Vamos, Darien... - Hitomi vocalizou a ansiedade empurrando o outro enquando virava-se para sair.

  Tudo aconteceu de forma tão estranha que fico pensando se não foi pura imaginação minha. Enquanto os cabelos da Hitomi balançavam de um lado a outro e seu perfume forte me deixava tonta, Darien deu um passo à frente e segurou bem forte seu braço, mas tão forte que até em mim doeu.

-O que quer dizer com tudo isso, Serena? - perguntou-me, olhando bem dentro dos meus olhos e, provavelmente, sem perceber, mexendo o pequeno corpo de Hitomi de forma brusca.

  Era a primeira vez que de fato me chamava pelo nome. Foi o pouco que registrei da cena. E fora um som tão bonito aquele que fizera. "Serena"... Como eu queria saber o que falar, que nem uma daquelas cenas em que a heroína dá um discurso tão lindo que massacra a vilã; no meu caso, a vaca balançando do lado do Darien.

-Coisas de criança, Darien, - respondeu Hitomi, prontamente, tentando se livrar da mão quase em seu cotovelo, - Não acha que eu te trocaria por um gangster, né?
-Ela não disse só isso.
-Ignora ela... Deve ter visto tudo errado, Darien. -Interrompeu Rei, com um sorriso bem calmo nos lábios. Claro, não foi ela quem se entregou pro cara de quem gostava. - Não que essazinha não seja bem capaz de buscar mais emoção com um daqueles caras nojentos.
-Viu, até a amiguinha dela concorda com o absurdo. - Hitomi virou-se novamente para sair, levantando bem o rosto para mostrar controle.
-Eu perguntei à Serena, por que as duas responderam por ela? - Percebi nessa última frase o tom frio que sabia daqueles lábios tão perfeitos e tremi por dentro.

  Não só meu estômago se revirava, mas minhas pernas balançavam tanto que devia ser visível. Talvez estivesse suando bastante, mas tudo o que ouvia era o quão alto meu coração estava batendo, como um cronômetro de o quanto minha resposta demorava. O que dizer? Como? O que fazer agora? Não havia mesmo mais nada que me viesse à mente além de uma forte vontade de...

  Foi olhando de volta, bem naqueles olhos azuis, que eu perdi as forças. Minhas pernas cederam à pressão do peito e tudo dentro de mim explodiu enquanto eu caía no chão. E comecei a chorar. Pelo menos, desta vez minha voz estava saindo, né? E como... De certa forma, aliviava bastante a dor que sentia antes com meu coração batendo descontroladamente. Sim, sim, como é bom chorar! Confesso que tem seus pontos ruins como a forma como seu olho fica ardendo de tanto você limpar as lágrimas de qualquer jeito com a mão, ou a dor que vem depois, talvez porque o choro irrita a vista e deixa-a vermelha. Ainda assim, amo chorar. Dá um alívio incrível, e essa vez não foi exceção. Era como se a situação embaraçosa não existisse mais. Era apenas eu, o meu joelho no chão e minhas lágrimas caindo enquanto dava um berro. Ah, berrar também era um alívio após ficar aquele tempo todo quieta, incapaz de dizer qualquer palavra. Enfim, chorei bastante!

  Quando percebi, Hitomi não estava nem mais por ali, mas Andrew havia aparecido com a mão estendida pedindo para eu me acalmar e segui-lo até o salão de jogos onde trabalhava. Levantei-me a muito contragosto e perdi novamente o equilíbrio, caindo em um chão tão escuro que talvez eu nunca sequer o alcançasse...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Acordei sentindo o quente sol de sábado chamando-me para uma volta pela cidade. Alguns passarinhos cantavam e vestígios do sonho ainda estavam colados nas minhas pálpebras. Eu os podia ver um pouco embaçados sempre que fechava novamente os olhos, imaginando se o melhor não era voltar para lá.

  "Venha, é por aqui..." uma voz grave me chamava, enquanto seu aperto bem forte em meu pulso puxava-me por entre arbustos. Parecíamos estar em um parque onde o cheiro da primavera exalava por todo o canto.

  Ao final, estendeu sua enorme mão e afastou as últimas folhas para uma luz bem forte que me foi custoso enxergar direito o que aquela mata toda escondia. Abri os olhos, esforçando-me para registrar o que se encontrava bem na minha frente, inundado por um belo pôr-do-sol. Flores? E água... Tinha um lago brilhando laranja e vermelho. E um teto. Teto, lago e flores se misturaram cada vez mais até formar o meu quarto e eu estava acordada, ainda sentindo aquela mão tão forte a me segurar.

-Darien... - chamei-o inutilmente. Não passara de um sonho aquele passeio pelo belo parque na primavera. Vir-me-ei para o outro lado da cama decidida. Cobri-me até a cabeça e fechei bem os olhos, tentando me lembrar das figuras embaçadas daquele lago e daquele pôr-do-sol tão agradável.

  Tinha que esvaziar a mente por completo, meus olhos só veriam o Darien, os arbustos, as flores. Os coelhinhos da minha coberta não existiam. Nem aquele cheiro perto de mim. Nem mesmo aquele cheiro que mexia tanto com meu estômago, vazio desde o dia anterior. Um cheiro quentinho... Um doce? Estava tão perto... Não! O lago! As flores e Darien. Tinha que voltar.

  Tirei a coberta não mais agüentando de curiosidade e encarei uma cesta de piquenique. Levantando a sobrancelha, percorri com a vista todo meu quarto para contar as coisas que não deveriam estar ali. Pessoas. Cesta. Cheiro de bolinhos.

-Ela demora tanto para acordar que já deixou de ser engraçado... - disse Rei, pisando forte enquanto andava para lá e para cá.
-Deixe-a em paz. Não é legal ser acordada de repente, - respondeu Lita, sentada ao lado da cesta.
-Acho que ela dorme tão pesado que não deve ter realmente sido acordada porque a chamamos. - Rei parou e encostou-se num canto, mostrando toda a impaciência comigo.
-Meninas! O que fazem aqui a esta hora? - Sentei-me na cama, ainda sem conseguir tirar os olhos da cesta de onde o cheiro tão bom vinha. Enfim, percebi que quem a segurava era Ami.

  As três usavam roupas de passeio bem aquecidas, perfeitas para aquele começo de outono, e me fizeram notar que até o calor do sol que sentira ao acordar ainda fazia parte do sonho. Esfreguei os olhos e dei bom dia as três.

-Trouxemos bolinhos para te alegrar, Serena, - anunciou Lita, apontando para o colo de Ami que sorriu.
-Sinto muito por não ter vindo antes te ver, - disse a mesma, - É que eu estava com a leitura atrasada por causa das missões em que Lua nos mandou semana passada.
-E eu não fazia idéia de que estava tão mal, Serena! - Lita pulou na minha cama e me abraçou.
-Ei, ei, meus ossos. Quebrando. Ai! - reclamei, fazendo o possível para me afastar.
-Mas é sério! Rei não nos contou a história toda de quinta-feira. Só que você discutiu com a garota do Darien. E aí você não foi à aula sexta e nem te encontramos no salão de jogos... Quando perguntei ao Andrew e ele me contou a história toda... Mas já estava um pouco tarde.
-Enquanto eu lia, Lita e Rei ficaram jogando fliperama. Aquele autor escreve tão bem que nem vimos a hora passar. - Ami balançou a cabeça.
-É, um jogo novo lá, você vai adorar, Serena! Chegou ontem mesmo. -Lita voltou a seu lugar e pareceu lembrar-se de algo. - Ah, pra compensar termos te abandonado, fiz uns bolinhos. Estão fresquinhos, vamos comer?

  Assenti enfaticamente e avancei na cesta cujo cheiro parecia brincar com as minhas narinas como uma criança travessa. Dei uma mordida com muita vontade por não haver comido quase nada no dia anterior, de tão deprimida que ficara. Então, lembrei o porquê da minha depressão e meu estômago voltou a dar voltas.

  Segurei o bolinho com ambas as mãos. O silêncio pelo quarto fez-me perceber o quanto o estava apertando. Sentia raiva, muita raiva daquela vaca que não parava de mastigar os homens. Por culpa dela...

-Tudo por causa dessa Hitomi o Darien nunca vai me ver como uma mulher! - gritei, olhando o bolo e o imaginando achatado contra sua cara magra.
-Ai, Serena, acalme-se... - Lita disse, não tirando os olhos do lanche que me preparara.
-Não é saudável carregar toda essa tensão no corpo, - explicou Ami com um sorriso, - Por que não vamos fazer um exercício? Li ontem uma pesquisa onde se concluiu que correr-
-Correr? - Rei interrompeu, andando até o terceiro banco, provavelmente trazido por minha mãe para as três se sentarem, - Eu proponho matar. Vocês não viram como ela nos chamou, meninas! Entendo perfeitamente a raiva da Serena. Se Darien não estivesse bem lá, eu mesma teria pulado em cima da mocréia e metido a unha nela.
-Tenho certeza de que violência não é a melhor solução. - Ami assentia enquanto parecia nos dar um sermão. - Hitomi-san parece uma mulher madura o bastante para isso por si só a faça superior a esses instintos, Rei-chan.
-Como já disse, você não tava lá Ami, - insistiu a outra e fui obrigada a concordar, mexendo enfaticamente com a cabeça.
-Mas... Não estamos olhando a questão pelo ângulo errado? A Serena ficou deprimida por causa do Darien. -Lita pegou para si um dos bolinhos, já que ninguém mais os estava comendo.

  Corei levemente com a observação, logo acrescida "ah, é" e "tem razão" pelas outras. Agora que eu me confessara publicamente, nunca mais poderia negar a paixão que nutria por aquele moreno e como queria desvendar todos os bosques sendo levada por ele. Ah, meu sonho... Sem dúvidas valia mais a pena que aquela conversa.

-Não é como se ela tivesse chance, - complementou Rei balançando o indicador e logo apontando-o para mim, - Hoje é um belo sábado de outono, em que todos estão aproveitando nos parques a agradável temperatura depois daquele verão insuportável e ela está às onze da manhã de pijama de coelhinho. Imagine se Darien a visse agora?
-Nada é impossível para o amor, é o que eu penso. - Lita sorriu, talvez se lembrando de alguma história romântica.
-E é científico que os opostos se atraem, Serena, não se preocupe com o que a Rei está dizendo, - disse Ami.

  Assenti desesperada. Nem minhas amigas acreditavam na possibilidade de um romance entre eu e o Senhor Perfeito. Aqueles argumentos para me incentivar eram tão piegas que sortiam o efeito contrário, muito pior que o da Rei.

-Por falar no Darien... - Ami pareceu lembrar-se algo, deixando-me aflita.
-Não diga, -interrompi, afundando-me de volta na cama, - Não quero saber o que ele disse depois daquilo tudo. A menos que aquela Hitomi tenha ido parar no hospital ou algo assim, não me importa o Darien.
-Mas ele realmente - tentou explicar Lita, mas pus as duas mãos em sua boca, sentindo minhas lágrimas rolarem. - Serena... - disse ela com o som abafado.
-Não é isso. - Ami sorriu-me com uma meiguice que só ela poderia ter. - É só que ele veio me falar depois. Ontem, na verdade, perguntar onde você estava.
-Diga que me mudei pra Bruxelas pra ver o Arco do Triunfo. - Cortei novamente, notando o rumo que tomaria.
-Mas eu ainda não sabia de nada na hora, - insistiu.

  Aquela confissão me deixou preocupada. Darien conseguira falar com Ami antes que ela pudesse ouvir toda a história; normalmente, não faria diferença, porque ela ainda também não fazia idéia de que eu me recusava a sair de casa. Mesmo assim, Ami parecia envergonhada.

-O que respondeu? - perguntou Rei, repentinamente interessada.
-Que não sabia. Serena tinha faltado aula e eu esperava que aparecesse ali no salão de jogos.

  Notei que Lita assentia, mas nem o rosto da Ami nem o da Rei voltaram ao normal.

-E aí? - Tinha certeza de que o problema ainda não estava ali.
-Eu sabia que você tinha brigado com a Hitomi-san, imaginei que fosse por isso que Darien queria falar contigo. - Ela abaixou ainda mais a cabeça. - E dei seu endereço. Ai, Serena, eu sinto muito! Sei que não deveria! Mas o Darien sempre me pareceu uma pessoa de confiança e talvez ele quisesse trazer a Hitomi-san para as duas fazerem as pazes. Na hora, a idéia me pareceu tão boa que tive medo de perguntar se era isso mesmo e me passar por enxerida.
-Mas ele não veio, né? - Rei olhava para mim.
-Na verdade... - Apontei para a minha escrivaninha ao lado delas. Lá, um pequeno buquê de rosas vermelhas parecia brilhar com a luz do sol. - Minha mãe o recebeu e disse, a meu pedido, que eu estava dormindo. Ele veio ontem à tarde e deixou o buquê.
-O que está escrito no cartão? - Lita havia se levantado e cheirava as rosas, segurando o papel salmão com uma das mãos.
-Não quis ler. Pode ser qualquer coisa, mas nada que vá mudar meu estado de espírito.

  As três balançaram as cabeças, no fundo, concordando. Ainda assim, Lita abriu o cartão e ficou por um tempo fitando-o. Apertei bem meus punhos, torcendo que ela não me contasse. Virou-se para nós e em vez de repetir o que estava escrito em voz alta, trouxe-o até as outras.

-É justo... - Rei foi a única a se pronunciar a respeito.
-Serena, tudo bem se formos falar com ele? - Lita ainda estava de pé e seus olhos carregavam uma seriedade incomum.
-O que ele escreveu!? Digo, não falem! Apenas... Dêem uma dica! É muito ruim? O que falariam com ele?
-Vou perguntar como a Hitomi-san está e pedir pra ele esquecer toda a história. Não há como resolver de nenhuma outra forma, né? - Lita bateu uma mão na outra e suspirou. - Está tudo bem, então? Irmos falar com ele...

  Não sabia como responder. Fiquei olhando para a minha colcha e me lembrando do que Rei dissera, realmente, uma menina como eu não teria nunca chances com Darien, por mais que os opostos se atraiam. Ainda assim, eu tinha esperanças de que naquele cartão estaria escrita alguma melosa confissão de amor e, portanto, nunca poderia lê-lo sem despedaçar esse essa pequena fonte de brilho para meu amor não correspondido.

  Quando voltei para olhar Lita, ela já se havia ido com Rei, restando apenas Ami, a única que parecia se importar de fato com a minha resposta. Deixei soltar o ar que havia prendido sem perceber e assenti.

-Não deixe elas exagerarem... - disse-lhe, recebendo um sorriso em troca.

  Meu coração sentiu-se feliz com isso. Mesmo a Ami que vivia preocupada com os estudos agora estava ali para mim, franzindo a testa. A menina levantou-se da cadeira, deixando a cesta onde antes se sentara e se despediu, prometendo apenas dizer a Darien o essencial desta vez.

  Observei a porta fechar-se ao mesmo tempo em que Lua soltou um miado. Nem a havia percebido no quarto, mas parecia ter estado ali o tempo todo. Andou até minha cama e pulou no meu colo com os olhos fixos nos meus:

-Serena, estou sentindo uma energia maligna... Mas está ainda muito fraca. Decidi esperar que elas voltem para irmos investigar.
-Então por que tá me dizendo? - perguntei, voltando a me deitar com a cabeça em meu sonho anterior. Teria como retornar a ele?
-Talvez seja melhor você ir até lá... Uma só pessoa não chama tanta atenção, se fossem as quatro, o youma poderia fugir antes de assumir sua forma definitiva.

  Levantei as sobrancelhas:

-Vá atrás e peça a elas que estão animadas, Lua! Fica incomodando uma garota de coração partido com esses assuntos triviais...

No mesmo momento, senti três unhas fincarem na minha pele da mão.

-Acho que criei resistência contra sua pata, - respondi à ameaça dando-lhe língua.

  Lua pulou da minha cama e foi direto ao cartão que acompanhara o buquê de Darien, agora em cima de uma das cadeiras em que as meninas se sentaram.

-Se te unhar não adianta, então, talvez eu deva ler um recadinho, né? - Com algum esforço, conseguira abri-lo e meus olhos tiveram contato com os kanjis escritos sem rasura no papel. - Decidiu?

  Assenti enfaticamente, levantando-me para trocar a roupa.

Continuará...

Anita, 2008


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