Tremendo, mexi o braço até o abajur, e acendi-o. Consegui atender ao telefone.

–Alô?

–Chihiro? Te acordei? - Era uma voz conhecida, mas não a que eu queria ouvir.

–O que você quer Seiji?

–Perguntar por que você não veio pra escola hoje. - Ele disse, me deixando irritada.

–Não é da sua conta.

–Desculpa...

–Tudo bem - Eu disse - Só não me ligue de novo, está bem?

–Certo. Até mais.

Desliguei o telefone sem ao menos responder.

Não consegui mais dormir, então resolvi sair um pouco, mesmo já sendo uma hora e meia da manhã.

Tirei o pijama e coloquei uma calça jeans e um casaco comprido e preto por cima da camiseta branca. Peguei minha carteira e meu celular e saí.

Andei pouco. Cerca de três quadras. Encontrei um casal andando por uma praça perto da minha casa. Pareciam um tanto quanto felizes. Ouvi dizerem algo e apontarem para mim. Acelerei o passo até e casa.

Alcançaram-me. Pude perceber que eram apenas Takara e Aeiji, completamente bêbados.

–Oi Chihiro! -Disse Takara, me deixando enjoada com o cheiro de bebida que emanava.

–A gente tá indo pra minha casa - Disse Aeiji - Quer vir?

–Não, obrigada - respondi - Tenho que fazer tarefa de casa.

–ok.

Voltei pra casa com um sentimento muito ruim, ao chegar, tirei o casaco, e joguei no sofá. Olhei para o relógio. Duas e meia. Ainda dava tempo de tocar piano até ficar com sono.

Dormi muito. Dormi tanto que nem pude ouvir o despertador tocar. Quando acorde já era meio dia. E meu celular com vinte e sete chamadas perdidas de Seiji.

Fui até a cozinha, mas não havia mais nada na despença, então, pedi comida pelo telefone. Assim que o motoboy chegou, paguei a conta, e fui comer, mesmo sem vontade.

Hoje eu estava definitivamente sem vontade de fazer nada. Com exceção de chorar. Fui até meu quarto, deitei-me na cama, abracei o snubull e comecei a chorar, sem tentar conter as lágrimas, nem nada do tipo. De tanto chorar, caí no sono. Novamente, acordei dois dias depois, faltando dois dias de aula. Mas, em nenhuma dessas noites eu tive algum sonho com ELE.

–Por quê? – eu me perguntava – Por quê?

Eu o queria por perto novamente, mas ele nunca vinha. Há uma semana ele não vem. Nem em meus sonhos. Sinto sua falta mais do que nunca. Eu preciso dele aqui. Como nunca precisei de ninguém antes. Uma semana se arrastara como se fosse um ano sem ele.

Quando percebi, a campainha estava tocando. Tive que me levantar e descer.

Ao abrir a porta, me deparei com Sayu, com aquela cara amarrada.

–Porque você faltou uma semana de aula?

–Bem... eu não consegui acordar... - respondi

– Os professores estão perdoando suas faltas, mas só porque falta uma semana e meia para as férias , e eles não vão passar mais matéria.

–Hm...

–Tenta acordar no horário, ok?

–Vou tentar, prometo.

–Já almoçou? - ela perguntou.

–Já. - Menti. Não queria que ela desse discurso.

–Então tá. Eu vou encontrar o Tori-kun. A gente vai sair... te vejo amannhã.

–Tchau.

Assim que ela saiu, fechei a porta, e fui para a cozinha. Encontrei um bilhete a da faxineira, dizendo que viera fazer seu trabalho, mas que eu estava dormindo.

–Por isso a casa está limpa - Sussurei pra mim mesma.

Abri a geladeira e percebi que mesmo estando quase uma semana sem comer, a fome não me atingia. Subi para o quarto, e fui dormir.

Finalmente, depois de semanas, tive aquele sonho novamente. Sonhei com ELE. Estava feliz com aquilo.

Ouvi um som. O da janela se abrindo.

–Senti sua falta - Eu disse - Onde você estava?

–Longe demais para conseguir suportar.

Ficamos ali, por um longo tempo, sentindo seus dedos em meu rosto.

–Quem é você? - Perguntei sentindo-o ir até a janela.

–Sou seu amigo.

Ele foi embora novamente.Deixando somente o ar frio da madrugada, que entrava pela janela. Mais uma vez, me encolhi em minha cama e começei a chorar. Sem me dar conta, acabei adormecendo, mais uma vez, sendo acordada pela minha amiga Sayu tocando a campainha incomodativamente.

Desci para abrir a porta e encontrei com ela e com Tori ne porta.

–Nem me venha com a desculpa de que não conseguiu acordar! - Ela disse tirando os sapatos e jogando a mochila em cima deles, e fazendo com que Tori fizesse o mesmo.

–Querem almoçar comigo?

–Claro! - Respondeu Tori com sua delicadeza usual.

–O que vamos comer? - Perguntou Sayu.

–Yakissoba - respondi.

–Delicia! - disseram em coro.

Chihiro, porque você acorda tão tarde? - Perguntou Tori.

–Eu tenho sonhos estranhos à noite. Não consigo descansar, e então acabo acordando muito tarde.

–Tentou dormir mais cedo? - Perguntou Sayu.

–Já tentei de tudo, mas nada adianta.

–Tentou um psicólogo? - Perguntou Tori.

–Depois de sete anos com esses sonhos, ele nem quis me atender.

–Sete anos? - Sayu se espanta - Sete anos e o mesmo sonho?

–É - respondi - Sete anos.

–É bastante tempo, de fato. - Disse Tori.

–São sete anos - repetiu Sayu - você ficou sabendo sobre a Takara?

– O que houve com ela? - perguntei.

–Ela engravidou do Aeiji - Disse Tori

–Eu sabia que ela era louca, mas... caramba!

–Pois é... - Tori suspirou

–Ele é uma péssima influência pra Takara, ela tá indo pro buraco. - Comentou Sayu.

Quando o assunto acabou, fomos pedir a comida. Depois de comer Sayu e Tori me convidaram para sair, mas como eu não quis segurar as velas fiquei em casa e fui dormir.