– Luke, eu realmente não quero ir te visitar na cadeia… - falei. Eu e Luke passamos a noite toda planejando uma maneira de recuperar as caixas, só não pensei que ele fosse mesmo fazer o que planejamos. Se alguém nos pegasse ali, poderíamos ser presos, mesmo que tudo aquilo nos pertencesse.

– Certo, até parece que nunca fez isso - respondeu ele - Vai dar tudo certo.

– Assim espero - murmurei. Luke deu um impulso e pulou o muro. Ouvi um barulho, como se um saco de batatas tivesse caído no chão.

– Estou bem! - ele disse, com certa dor na voz. – Ok, vou te passar as caixas, e você as leva direto para o carro, ok?

– Pode deixar… - respondi. Ele demorou alguns minutos, e ouvi algumas portas sendo abertas, até que finalmente ele passou a primeira caixa. Peguei-a e tive o cuidado de ir até o carro sem ninguém perceber. Tudo estava dando certo, até Luke começar a gritar, muito. Eu não sabia o que estava acontecendo, muito menos o que fazer.

– Luke? O que aconteceu? - perguntei, tentando não gritar muito alto. E então, descobri o que havia acontecido. Ouvi gritos. Gritos furiosos, mas femininos.

– O que você pensa que você está fazendo aqui, seu verme? - berrou a garota.

Bom, eu não podia ficar ali parado. Coloquei minhas mãos sobre o muro e na mesma hora, uma caixa foi arremessada ao meu lado. Deixei-a ali e quando dei um impulso para ver o que estava havendo, Luke caiu bem em cima de mim.

– Cara, valeu por amortecer minha queda! Agora vamos, se quisermos sobreviver! - ele disse, se levantando, pegando a caixa em seguida e correndo para o carro. Demorei um tempo para me recuperar, já que 300 quilos de Luke (ou nem tanto assim) haviam caído em cima de mim. E acredite aquilo fora uma má ideia. Quando me levantei, dei de cara com dois tênis All Star sujos. Olhei pra cima e dei de cara com uma garota com os cabelos curtos, pretos e olhos castanhos avermelhados. Clarisse La Rue. Minha outra inimiga segurando um taco de baseball, pronta para me atacar.

– Ora, ora… Temos mais um ‘amiguinho’ na briga… - ela falou. Aquilo me deixou seriamente apavorado. Até hoje me lembro da surra que ela havia me dado quando ganhei dela no pique-esconde. Aquela menina era terrível. Páreo duro para Thalia.

 Tive que agir rápido. Puxei a perna dela, fazendo-a cair no chão, e me levantei o mais rápido que pude, correndo para o carro. Abri a porta e me joguei.

– Acelera, Luke! - disse pra ele, e ele ligou o carro e pisou fundo. Clarisse ainda teve tempo de jogar o taco no vidro do carro, que por sorte não quebrou. Ainda pude ouvir ela nos xingando de toda forma possível, até virarmos algumas ruas. Finalmente estávamos a salvo, mas Luke não desacelerou o carro. Percebi que seu braço estava cheio de arranhões e a perna toda vermelha. Ele apanhou feio… Ele foi se acalmando aos poucos, assim como a velocidade do carro. Mas, bem, isso não adiantou muito.

– LUKE, CUIDADO! - berrei enquanto virávamos uma esquina. Ele freou com tudo, Alguém gritou e eu ouvi também vidro se espatifando. Era só o que faltava, atropelamos alguém.

– Merda! – Like gritou descendo do carro. - Cara, o dia não está pra mim, sério!

Não demorou muito para perceber que o dia não estava pra mim também - como se isso fosse novidade. Havíamos atropelado Thalia. Sim, a minha prima infernal. Apesar de ser morto e provavelmente preso, tive que segurar uma gargalhada. Thalia caíra de quatro, e do meu campo de visão Luke na sua frente e ela parecia estar com o rosto no… Enfim, acho que você já percebeu o que se parecia.

Quando ela percebeu que não estava no céu (ou no inferno que o lugar dela), ela se levantou, e começou a esmurrar Luke.

– Seu idiota! Você não sabe dirigir não? Meu Deus, eu vou ter que passar por isso tudo?

– Calma! - ele disse tentando segurar os braços dela - Desculpa! É que…

– Cale a boca, você quase me matou e acha que desculpas vão adiantar? - ela berrou.

– Bom, isso é o que geralmente acontece - ele disse, sorrindo pra ela. E aquilo a irritou ainda mais.

– Wow, se acalme Thalia! - eu falei, tentando segurar ela.

– Ele é seu amigo, cara de golfinho? Ah, mas tinha que ser mesmo! Me solta, seu imbecil!

– Bom, agora vamos ver quem é o mais fraco… - eu falei, rindo, e ela começou a se contorcer, até que eu finalmente soltei-a. Ela se abaixou e começou a catar o que havia caído. Pareciam… garrafas.  Garrafas de cerveja.

– Para tudo, um segundo da atenção de vocês! Vocês se conhecem?

– Eu preferia não conhecer - murmurou Thalia, colocando tudo na sacola.

– Bom, eu acho que sim. Thalia esse é meu amigo Luke. Luke, minha… prima, Thalia - eu disse com um nó na garganta. Era constrangedor falar que eu era parente daquela garota. Bom, eu finalmente me dei conta de que Luke iria morrer quando ele soltou:

– Ela é sua prima!? E de Nico também? - ele disse, com cara de interrogação - Espera, vocês não me contaram que tinham uma prima emo!

– Cala sua boca! - ela berrou, partindo pra cima dele novamente. Ela começou a esmurrá-lo na boca do estômago. Ele começou a rir da raiva dela. Sério, aquilo era normal?

– E ainda por cima é problemática! - disse Luke, rindo - Cara, vocês deveriam ter me falado dela!

E então tudo piorou. A rua agora havia se tornado um ringue de luta. As pessoas que passavam nos encaravam feio, e saíam de perto o mais rápido possível. Luke gargalhava alto, enquanto ela batia nele, e aquilo parecia diverti-lo cada vez mais e eu estava ali, que nem um mané, sem saber o que fazer.

– Thalia! Eu não posso deixar você sozinha por um segundo que você já se mete em confusão? - disse uma voz doce vindo do outro lado. Aquela voz fez correr um arrepio pela minha espinha, e assim como eu, Luke e Thalia dirigiram o olhar para trás.

– Uau. – Eu fiz involuntariamente.

Uma garota de longos cachos loiros corria em nossa direção, ela parecia preocupada. Eu devo ter ficado parecendo um idiota, porque meu queixo caiu quando os olhos cinzas tempestuosos dela alcançaram meus olhos.