Quando finalmente terminamos de descer as escadas todos olhavam para mim assustados. O primeiro olhar que encontrei foi o de Tia Rose, ela me olhou e depois olhou para minha mão que estava na de Jacob e seu olhar demonstrava repulsa e decepção, em seguida eu encontrei o olhar de Tia Lice e de Esme, seus olhares não eram diferentes, demonstravam ternura – o que me intrigou foi o fato de que  não havia uma certa frustração nos olhos de tia Lice como sempre acontecia por conseguir ver meu futuro, era como se ela já soubesse disso, mas deixei passar.
     Assim que desviei o olhar de seus rostos encontrei o de tio Jazz e de Carlisle, os dois eram indiferentes, demonstravam apenas um vazio e uma certa curiosidade nos olhos de meu avo, por fim olhei para tio Emmet e havia graça em seu olhar, um sarcasmo enorme também, não entendi o que isso queria dizer, mas como tratava-se de tio Emm deixei passar. Deixei para olhar meus pais por ultimo, minha mãe não tinha espanto nos olhos, no lugar havia apenas preocupação e felicidade – ate dava para ver que por traz de sua mascara perfeita havia um sorriso querendo sair de lá – meu pai estava tenso e pude ver certa raiva em seus olhos, mas fora isso estava tudo bem, sabia que seria difícil ele se acostumar com os fatos.
    Eu não sabia o que fazer. Senti o calor subir para meu rosto e minhas bochechas corarem, estava ciente da mão dele ali na minha, quente e macia, me dando forças, e quando encontrei seu olhar eu soube naquele instante que ele nunca me abandonaria onde quer que eu fosse e assim que tomei coragem para começar.
- Bem... - mas assim que senti os olhares já voltados para mim se intensificarem cheios de expectativas, eu parei de falar na hora e pude sentir minhas bochechas queimarem. Jacob percebendo minha reação apertou minha mão ainda mais forte me encorajando.
Respirei fundo duas vezes antes de continuar.
- Jacob e eu estamos apaixonados e não tem como escondermos isso de mais ninguém.
- Espere ai, alguém já estava sabendo disso? – Alice me interrompeu olhando de mim para minha mãe fingido um olhar magoado e bravo ao mesmo tempo.
 – Sim eu contei isso para minha mãe e para Kate antes de contar a vocês, peço desculpas por não ter falado antes, mas deixem-me continuar. Sei que muitos podem não aprovar nosso namoro, mas suas reações não podem mudar o que sentimos um pelo outro, também sei que não posso mudar o que sentem, mas peço que apenas compreendam que amo muito Jake e que ficaremos juntos para sempre. - as palavras fluíram de minha boca com tamanha rapidez que se eles fossem humanos comuns não conseguiriam entender nada. O alivio que eu senti ao colocar aquelas palavras para fora foi imenso, como se ouvi-las em voz alta só me trouxesse mais certeza da imensidão dos meus sentimentos.
    Passados alguns segundos enquanto todos digeriam as informações tio Emm caiu na gargalhada e pude ouvir os dentes de meu pai trincarem.
-Só pode ser de família – Emmet começou a falar entre gargalhadas – primeiro o pai se apaixona por uma humana fraca e indefesa agora a filha se apaixona por um cachorro chato e fedorento. – e mais uma vez desabou na gargalhada.
Ninguém pareceu achar graça nas palavras de meu tio, principalmente minha avo, que olhava para o filho com perplexidade, como se não acreditasse nas palavras dele.
- Claro Emmett, só não se esqueça que foi essa mesma humana que te derrotou numa queda de braços. – minha mãe disse e o clima se acalmou, arrancando risadas e uma cara de mau humor do meu tio.
- Oh querida, não ligue para Emmet, nós estamos muito felizes por vocês dois e aposto que seu tio não quis dizer isso tudo, não é mesmo Emmet?  –Esme apressou-se a explicar e ao dizer isso virou para encarar tio Emm esperando por uma resposta.
- Oh! É claro que não, me desculpe mesmo, me sinto muito arrependido. – sua voz esbanjava sarcasmo e ironia.
Esme não pareceu muito satisfeita com seu filho, mas deixou passar o ocorrido.

    Depois que o choque passou todos vieram falar comigo e com Jake. Passamos o resto do dia juntos, Tânia e sua família também se juntaram a nós.
Confesso que me surpreendi com a reação de todo mundo, era como se já esperassem por isso, como se aquilo já estivesse obvio há muito tempo, predestinado, mas deixei a sensação passar, pois fiquei feliz por meu pai se entender com Jake, mas desconfio de sua reação. Será que ele esta esperando ficar a sós com Jacob para “explodir”? Será que tinha medo de ferir os sentimentos de Esme e de Bella?
O que é que estou fazendo, é tão difícil assim acreditar que meu pai aceitou numa boa e que ele se preocupa com minha felicidade? Senti-me super culpada por pensar tudo isso de meu pai, e prometi silenciosamente que de agora em diante tentaria ser mais compreensiva. Estava tão perdida em pensamentos que me assustei com os lábios quentes que encostaram em meu ouvido e a voz rouca que tirou-me de meus devaneios.

- Nessie vamos lá para cima? – Jake sussurrou em meu ouvido. Ele havia deixado a TV de lado pela primeira vez depois que o estresse passou e agora estava ao meu lado, seus braços me envolvendo pela cintura, deixando a mostra seus músculos bronzeados.
    Concordei com a cabeça, distraída demais - com seu cheiro amadeirado - para pronunciar alguma palavra. Parei apenas para dar uma olhada rápida em minha mãe pedindo ajuda e ela apenas assentiu segurando a mão de meu pai quando este trincou os dentes e ficou tenso, sinal de que agora eu e Jake estávamos sob proteção de Bella, a qual lançou um olhar que dizia claramente para nós: “Juízo”.
    Assim de mãos dadas subimos a escada, e chegando a meu quarto Jake fechou a porta e foi sentar-se em minha cama, deixando-me parada ainda na porta o admirando, ficamos nos olhando por um bom tempo, nossos olhares envolvidos em uma dança sincronizada por cada pedaço de nossos corpos, meu desejo era de tê-lo só para mim, de beijar cada parte de seu lindo e perfeito corpo e sabia que não era um desejo só meu. Fui andando devagar ate estar ao seu lado e sentei-me em seu colo encaixando quase perfeitamente nele, Jake me embalou nos braços e me beijou intensamente, e de pronto retribui o com a mesma intensidade, jogando meus braços em torno de seu pescoço, tudo estava tão perfeito, perfeito demais para falar a verdade. Quando Jake que tinha acabado de colocar os braços em minha cintura e sua língua pedia passagem entre meus lábios, ouvimos um pigarro alto e uma risada estrondosa vindo lá de baixo. Jacob riu e eu suspirei alto soltando-me de seus braços. Será que ninguém nesta casa conhece a palavra privacidade?
- Vamos descer esta bem, depois agente continua. – seu tom de voz era calmo, mas em seus olhos negros havia um leve quê de irritação, o que me arrancou um sorriso satisfeito, afinal eu não era a única a sentir um desejo avassalador.
     Quando descemos a escada, e vi toda minha família ali, eu percebi que ficar sozinha com Jake nesta casa seria completamente impossível hoje, teria que esperar as coisas se acalmarem por aqui. Conformada com este fato fui me juntar a Tânia na cozinha, pretendendo ajudá-la a preparar o jantar para mim e meu namorado, – o gosto desta palavra em minha boca era doce e delirante – Esme depois de muita insistência da loira, deixara o jantar por conta dela, o que era raro, porque desde que me conheço por gente Esme cozinhara todas as minhas refeições quando estava por perto. Tânia sabia disso e estava radiante por ter finalmente conseguido fazê-la ceder, cantarolava enquanto mexia algo na panela que cheirava incrivelmente bem e quando ameacei ajudar ela rosnou de leve e disse que hoje aquela vitoria era só dela. Eu ri com o comentário e dizendo-lhe que não atrapalharia mais dirigi-me a porta que dava para a varanda.
     Sentir a brisa noturna em meu rosto era esplêndido, resfriava minhas bochechas que queimavam de desejo interrompido e de vergonha pela interrupção. O cheiro de pinheiro, o barulho do riacho, a musica dos animais noturnos que se escondiam na imensidão verde da floresta que se abria em meu campo de visão me lembravam de Forks. Um sorriso veio diretamente aos meus lábios ao lembrar meu antigo lar, lembrar-me dos lobos, da minha infância prematura, do meu avo, ah como sentia saudades dele, queria poder sentar em seu colo de novo e ouvi-lo contar como eu era diferente de Bella, “quer dizer, vocês duas tem os mesmos olhos e você é compreensiva como ela, mas também é teimosa e anda sempre a procura de shoppings, barulho, compras, parece uma Alice em miniatura”, então nós dois riamos. Charlie era tão forte, superou seus medos e crenças ao me aceitar do jeito que sou e nunca deixou de amar minha mãe só por estar diferente agora fisicamente, pois para ele eu sei que ela seria sempre a Bells. Anotei mentalmente que deveria ligar para ele amanha contando-lhe as novidades.
     Mas agora eu só queria dormir, hoje havia sido muito agitado e cansativo, precisava dormir para agüentar mais um dia aula e para sonhar com meu amor, como sempre fazia todas as noites.