O calor do fogo aceso na lareira aqui no quarto, próxima a missa onde escrevo nesse exato momento, aquece o ambiente e me envolve num calor aconchegante. O silêncio profundo que reina aqui e no resto da casa favoreceu minha concentração, dando-me uma privacidade maior com minha mente e facilitando para que as lembranças fluam com mais facilidade.

            As memórias estavam tão fortes que eu seria capaz de ver as cenas com nitidez. Tão nítidas quanto permaneceram em minha mente durante todos esses anos. Intactas e preservadas.

            Como já falei, aquele baile foi movimentado. Marcante. E naquele momento em troquei as primeiras palavras com ele não fazia ideia de que a noite estava apenas começando.

            Assim que consegui estancar as lagrimas que fugiram, Caspian me acompanhou de volta ao salão.

            - O que aconteceu? – Lucia veio ao nosso encontro e juntando-se em nossa ida até os outros. Caspian não respondeu então entendi que ele queria que eu respondesse.

            - Nada que mereça sua preocupação, Lucia. – Eu sorri de leve. Lucia deu de ombros. Logo ela e o irmão foram na direção do pai que conversavam com Pedro e Rillian enquanto eu chegava até Lilliandil e Jill.

            - O que aconteceu, Susana? – perguntou-me Jill, séria.

            - Nada demais. – respondi.

            - Como nada demais, Su? – Lillian me encarou. – Vimos quando você deixou Dash plantado no meio do salão e quando ele foi atrás de você furioso. – contou. – Ele fez alguma coisa a você?

            - Não... Tentou, mas não fez graças a Caspian... – acrescentei.

            - Mas por que você o deixou no meio do salão? – perguntou Jill.

            - Dash veio com mais de suas insinuações. – expliquei.

            Elas não perguntaram mais nada. Lucia se aproximava de nós com Caspian e o pai.

            - Desculpe atrapalhar a conversa, senhoritas, mas fui comunicado da atitude de Dash. Vim em nome de minha família pedir desculpas pelo modo como ele agiu, senhorita Pevensie. – disse-me o Duque.

            - Desculpas aceitas, senhor. – sorri de leve.

            - Vou falar com meu filho e garantir que tal atrevimento não se repita. – assegurou. Assenti.

            - Bom, vamos pôr um pedra sobre esse assunto, não é, Su? – Lucia sorriu. Fiz o mesmo.

            - Claro.

            - Lucia – chamou Jill – Porque você não toca piano para nós? – sugeriu.

            - É uma ótima ideia. – o Duque concordou. – O que acha, querida?

            Lucia deu de ombros, sorrindo.

            - Eu adoraria. Principalmente se alguém me acompanhasse cantando.

            - Susana, você não fazia aulas de canto? – Lillian perguntou, assustando-me com a possibilidade.

            - Fazia, mas tem um bom tempo que parei... – tentei falar sem gaguejar.

            - Venha me acompanhar, Su, aposto como sua voz deve ser linda. – Lucia pediu de um jeito que não consegui dizer não e acabei sorrindo e concordando.

            - Tudo bem, você venceu. – minha resposta fez Lucia ficar muito contente. – Que musica vai tocar?

            - The Beauty and the Beast. Conhece?

            - Conheço, mas não é um dueto? – perguntei. Lucia uniu as sobrancelhas.

            - É um dueto mesmo... – ela pareceu pensar. – E eu nem posso cantar com você, minha voz é horrível! – ela riu.

            - Eu canto com ela. – disse Caspian, seguro. Todos os envolvidos na conversa olharam para ele, porém Caspian olhava para mim e eu para ele e por um momento, perdendo-me no negro de seus olhos, eu hesitei sentindo meu coração martelar no peito só de pensar em cantar com ele na frente de todos os convidados.

            - Tudo bem para você, Su? – perguntou Lucia tirando-me de meus devaneios e me fazendo quebrar o contato visual que mantive com Caspian sem perceber.

            - Claro. – tentei demonstrar tranquilidade, suponho que tenha funcionado.

            Lucia abriu outro sorriso radiante.