Tale As Old As Time. escrita por Jajabarnes


Capítulo 59
To Keep You Safe.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Logo adiante, pálido, Pedro observava, e sua expressão me dizia que ele observara tudo.

Recordo-me da surpresa que foi ver Pedro ali. A expressão vazia e cheia ao mesmo tempo, a palidez que lhe revelava a total surpresa independente de ser agradável ou não. Os olhos em alerta percorrendo a face de cada um de nós em perguntas silenciosas, seu corpo parecia cansado, exausto. Certamente estava.

Nenhuma palavra foi ouvida até que eu fechasse a porta do escritório atrás de mim. Caspian já estava no quarto descansando, Lúcia ficaria com ele enquanto eu conversava com Pedro. Deixei sobre a mesa próxima a ele a água que Polly me entregara quando passamos por ela. Pedro a entornou de uma vez só. Respirei fundo, esperando que as palavras certas saíssem de minha boca, pois eu não conseguia pensar em nenhuma.

—Há quanto tempo isso acontece? - perguntou ele, sua voz parecia engasgada na garganta.

—Quando nossos pais sofreram o acidente - disse. - Eles estavam vindo para cá ajudar com Caspian, que havia manifestado a Herança pela primeira vez.

Silêncio. Muitas perguntas passavam pela mente de Pedro naquele momento, era claro em seus olhos. Ele parecia não saber por onde começar.

—Isso... Isso pode acontecer comigo? Digo... Essa Herança... - perguntou depois de alguns instantes.

—Acredito que não. - respondi, ponderando a respeito. - Normalmente há apenas um herdeiro por geração.

—Mas nosso pai também manifestou. - protestou. - Não há garantia de que eu também vá ou não manifestar.

—Sim, mas eu acredito que não. As exceções são muito raras. - expliquei calmamente.

—Como... Como você lida com isso? Por que eu não tenho ideia do que pensar...!

—Não temos escolha, Pedro. - sorri para ele fracamente. - Nossos pais tentaram me proteger de tudo, mas não adiantou, não anulou o fardo ao qual cada Pevensie e cada Kirke está ligado desde a mais antiga geração. Por isso decidi entregar-lhe o diário. Deixá-lo à margem do fardo do seu próprio sangue seria uma mentira e não ajudaria a lidar com ele, nem a mantê-lo seguro.

Pedro ficou em silêncio por um tempo longo, e eu aguardei pacientemente pelo tempo dele. Sentia um peso imenso em meus ombros e uma culpa sem fim por não poder poupá-lo de tudo isso.

—Qual a sua ligação com Caspian? - perguntou de repente, calmo, fazendo-me olhá-lo. - Digo, eu sei que têm sentimentos um pelo outro há tempos, mas o que eu vi hoje no porão... Não era só fruto de um amor. Ele poderia tê-la matado sem nenhum esforço, e não o fez.

—Bem, você tem razão. - comecei. - Eu já nutria sentimentos por Caspian antes de saber de toda a verdade. Como você deve saber depois de ter lido o diário, um herdeiro não deve gerar filhos pois não se sabe quais anomalias a criança pode apresentar. Digory e Harold podem lhe explicar melhor isso, mas é sempre assim. Pela Ordem, nós nem deveríamos existir. Mas surpreendendo a todos, nascemos perfeitos fisicamente. No meu caso, a alteração veio de outra forma.

Pedro olhava-me atentamente, e eu continuei.

—Quando Caspian manifestou a Herança, era esperado que o meu casamento com Dash fosse realizado o mais breve possível. Mas quando eu soube disso, Caspian e eu já estávamos apaixonados, e eu não me renderia a um casamento arranjado.

—Um herdeiro não pode se casar, você mesmo disse. - analisou ele. Assenti.

—É aí que está o problema. - contei. - Eu deveria estar naturalmente destinada ao Imune, à Dash, e estou, porém também estou destinada a Caspian, por ser sua cura. - as sobrancelhas de Pedro se uniram em minha direção, apenas concordei com seus pensamentos usando a cabeça. - Isso mesmo. É complicado. - Ele ficou em silêncio, aguardando que eu continuasse. - Literalmente devo escolher entre eles. Caspian seria a escolha mais natural para mim, mas além de ir contra a Ordem, faz com que Dash enfraqueça e corra risco de vida. - pausa. - O que você viu hoje... Caspian está fadado àquilo para o resto da vida, se eu escolhê-lo, posso livrá-lo disso, anular isso... Porém a vida de Dash estaria em risco. Caso eu escolha Dash, ele viverá e Caspian estará condenado ao isolamento. Digory e Harold acreditam que isto seja resultado de ser filha de um Herdeiro.

—Nossa... - Pedro apoiou a cabeça nas mãos e os cotovelos nos joelhos. - É muita coisa...

—Eu sei... Se quiser um tempo para pensar...

—Não, não...! Estou pensando em tudo o que eu li desde que pus os olhos na primeira página daquele diário... - ele respirou. - Não há nenhum jeito? Deve haver alguma saída para esse cerco!

Senti meus olhos arderem, e consegui conter. De fato havia uma saída, mas eu não contaria a ele.

—E há. - soou uma outra voz, vinda da porta. Espantanmo-nos naquela direção e encontramos Lúcia, que logo tratou de fechar a porta atrás de si. Sua expressão era de uma neutralidade falsa, pois por mais que demonstrasse calma, seus olhos a traíam. Não consegui palavras.

—Há? - o olhar de Pedro pulou dela para mim. Lúcia assentiu.

—Lúcia - chamei, quase em repreensão, porém fui ignorada.

—Sim. - continuou ela, calmamente, olhando para ele. - A única solução para manter o equilíbrio e todos da família vivos, é que você se case comigo.

Fechei os olhos com força.

—Não. - protestei firme. - Essa não é uma solução.

—Do que está falando? - Pedro perguntou a ela.

—Além de também carregarem a Herança, os imunes estão fadados a dar continuidade à família. - continuou Lúcia. - Antes de você aparecer, Dash e Susana eram os únicos Imunes aptos ao casamento. Mas com você entre nós agora, como parte da família, há mais uma opção. Papai já havia me explicado isso.

—Não há outra opção! - protestei. - Isto está completamente fora de cogitação! Ninguém tem que arcar com a responsabilidade que é minha...

—Su. - Pedro chamou, ao mesmo tempo que uma lágrima escorreu pelo rosto de Lúcia e antes de ela desviar o olhar. - Vamos ter tempo para conversar sobre isso. Por hora, já está tarde, vamos comer alguma coisa e ver como Caspian está.

—Ele adormeceu - tranqulizou Lúcia, limpando o rastro da lágrima.

—Isso é bom - disse Pedro, dirigindo-se a mim. - De uma forma ou de outra, pareceu bloquear tudo o que lhe incomodava para poder aliviar a situação. - Dará tempo para você descansar também. Vamos comer alguma coisa, sim?

Assenti para ele, concordando, e Pedro tomou a dianteira para sair da sala, eu o segui parando perto de Lúcia, que dirigiu a mim um meio sorriso fraco sob o olhar emocionado. Toquei-lhe o braço, um convite silencioso para ela viesse também. Convite este que foi aceito, e caminhamos até a porta onde Pedro nos aguardava.

Sem dúvida alguma teríamos a oportunidade de conversar sobre aquela questão em outro momento. Pedro tinha razão, estava tarde e ainda não tinha comido nada direito com o dia de agonia que tivemos. Polly, inclusive, já havia providenciado tudo quando saímos do escritório. Foi um jantar silencioso. Harold e Digory carregavam os hematomas da luta com Caspian, felizmente eram marcas que sumiriam em pouco tempo, uma dádiva, visto o que ele poderia realmente ter feito a eles e a todos nós. Lúcia estava absorta em si mesma. Do fundo do meu coração, queria que Digory jamais tivesse mencionado aquela possibilidade à ela. Porém sabia que não fizera por mal. Eu o compreendia completamente.

Digory estava em uma situação muito difícil, a possibilidade iminente de perder um dos filhos o assombrava a todo momento e por todos os lados. Não deveria ser fácil ter a decisão sobre a vida de seus filhos nas mãos de outra pessoa. Da mesma forma, eu compreendia por quê defendia e insistia em meu casamento com Dash, não que ele preferisse um filho ao outro ou se importasse demais com a Ordem, mas porque era a única opção em que não perderia nenhum dos dois. Como eu poderia culpá-lo por isso?

Caspian descansou bem até o dia seguinte. Passamos o dia com Lillian e Corin para evitar qualquer desconfiança. Não conseguia imaginar como alguém poderia desconfiar do que acontecia, mas Harold e Digory insistiram que era necessário. Lúcia estava tranquila como de costume, mas o brilho de preocupação em seu olhar continuava lá, visível só para quem a conhecia. Pedro, após uma noite de sono pesado, parecia estar mais disposto, mas ainda não voltou a tocar no assunto comigo. Edmundo e Dash permaneciam do mesmo jeito. Ao que parecia, Dash não ficara sabendo do ocorrido e, se dependesse de mim, continuaria assim.

—Entendo sua posição, Su. - disse-me Edmundo, quando caminhamos juntos para o jantar. - Mas acho difícil que isso aconteça. Lúcia e Rilian estão praticamente noivos.

—Por isso mesmo. - falei. - Não posso sequer cogitar a ideia de tirá-la dessa felicidade.

—Uma coisa é certa. - disse ele, após ponderar por dois passos. - Se a decisão estava nas suas mãos até aqui, agora também está nas mãos de Lúcia e Pedro.

—N... - comecei a protestar.

—Su. - ele interrompeu. - Já faz meses. Meses que um casamento deveria ter ocorrido, meses que você não decidiu um rumo para tudo isso, sendo fácil ou não. Agora Lúcia e Pedro tem a decisão em mãos também. Se eles decidirem algo, são adultos o suficiente para não serem impedidos de realizar.

Chegamos às escadas e já ouvíamos as vozes. Então a nossa conversa cessou e entramos nos assuntos triviais que nos aguardavam. Eu sabia que Edmundo estava certo. Sabia e a culpa me pesava. E enquanto sentávamos para jantar, o desespero tomava conta do fundo do meu coração.

Três dias depois retornei à Londres com Polly e Harold. Aos poucos, os convidados retornaram para a cidade ou para suas respectivas propriedades e fomos uns dos últimos a partir. Duas semanas se passaram desde chegamos. Nesse tempo, tive poucas notícias de Dash, e vi Caspian constantemente, em especial em passeios pela tarde. Jantava com Pedro quase todas as noites, e conversávamos muito sobre nossa infância e sobre nossos pais. Pedro sentia um amor e gratidão enormes por seus pais de criação e deixou claro que não os culpava por terem-lhe omitido sua adoção. Em nenhum momento ele mencionou o que ocorrera no porão de Lantern, não descobri por quê, mas respeitei sua posição.

—Oh, eu não poderia ter mais orgulho da pessoa que ele se tornou! - exclamou Polly, um dia, logo depois de Pedro ter saído. - Certamente seus pais se orgulhariam muito mais. Fico aliviada em saber que a família que o acolheu era boa e sadia, e pôde dar a ele todo o amor e educação. - ela suspirou, encostada em uma cadeira quando estávamos em meu quarto, e eu, sentada à penteadeira escovando os cabelos, a olhava pelo reflexo.

—É por isso que o mima tanto toda vez que o vê? - brinquei, dirigindo-lhe um meio sorriso.

—Ora, isso não é verdade! Sorri com essa lembrança.

Polly o mimava sim, das mais diversas formas, mas jamais admitiria. Quinze dias após meu retorno à Londres, Caspian chegou pelo meio da tarde como de costume, para nosso passeio ou o que quer que fôssemos fazer. Como sempre, antes de ele chegar, Polly reformulava todo seu repertório sobre minha relação com Caspian e o quanto já se corria pelas más línguas que eu havia caído no conto do aventureiro e seria a próxima vítima. Sempre algo novo que ouvira. Eu não a culpava, comunicação desse tipo sempre tendia ao lado ruim e era um dos motivos de eu jamais dar importância ao que se dizia, mas isso não fazia os comentários menos afiados e a consequente pena ou desdém das pessoas dos quais Polly tentava me poupar.

—Não adianta, Polly. - eu dizia a ela, na sala de estar, enquanto Harold fora atender a porta - Só não falarão se eu mudar-lhes a mente, e não o que faço ou deixo de fazer.

—Sabe que temo qualquer exposição, essa gente se intromete demais. - disse ela naquele dia, pouco antes de Caspian chegar e Harold ir àquele cômodo me chamar. Desci para o escritório onde ele aguardava, flagrando-o observar os próprios pés. O estalo da porta se fechando atrás de mim o despertou, fazendo-o olhar-me e erguer-se. Sorri para ele, e Caspian retribuiu sincero, mas breve. Havia algo estranho em seu olhar.

—Como vai, Caspian? - perguntei.

—Bem - assegurou. - Mas preciso falar com você.

—Diga, então. - sinalizei para que ele se sentasse comigo, logo tomando meu lugar no sofá.

Caspian hesitou, ao passo que uma das criadas entrou pedindo licença e nos deixou uma bandeja de lanches e chá. Quando ela se retirou, Caspian finalmente se moveu e veio sentar.

—Trago notícias. - explicou ele. Aguardei que continuasse. - E sei que você não vai gostar.

—Está me deixando preocupada.

—Pedro foi até minha casa ontem. - disse ele. - Quando cheguei ele e Lúcia falavam com meu pai. Eles decidiram realizar o casamento.

Não sei quanto tempo se passou até que eu pudesse puxar ar para os pulmões novamente. Meu maior medo.

—O quê...? - exprimi.

—O que me contaram foi que haviam conversado alguns dias atrás e hoje decidiram. - explicou ele. Esperou para que eu dissesse alguma coisa. - Meu pai pediu para eu vir buscá-la para o jantar de hoje.

Hoje?!— tornei-me para ele. Caspian somente assentiu. Pus-me de pé, andando pelo cômodo. -Como... Como...

—Ninguém sabia. Eles decidiram entre si. - explicou.

—Pedro tem vindo aqui todos esses dias para o jantar e nunca mencionou nada!

—Ficamos tão surpresos quanto você! - garantiu.

—Isso não está certo. Preciso falar com eles.

—Hoje a noite é a oportunidade perfeita. - Caspian deu de ombros.

—Como você consegue parecer tão tranquilo? - perguntei calmamente. Caspian olhou-me.

—Essa ideia não me agrada como você e meu pai acham que agrada. - disse. - Mas é o primeiro raio de luz que vejo em tempos, e eu estaria sendo um belo mentiroso se dissesse que isso não me dá esperança. - aguardei que ele continuasse. - Estaria mentindo se dissesse que não me culpo por isso. Sem dúvida, eles decidiram isso por nós, para que tanto nós dois quanto Dash possamos sobreviver a toda essa maldição.

O que ele disse fez meu coração se apertar de dor e culpa, mas era verdade. E era óbvio. Óbvio que aconteceria. Eles decidiram se sacrificar para que nós três possamos ter paz. Jamais me perdoaria por isso. Senti que Caspian me observava, porém não disse nada além daquilo, permitindo que se seguissem alguns minutos de silêncio. Respirei fundo.

—Falarei com Pedro. - disse por fim. Caspian se aproximou de mim. - Preciso falar com ele.

—Su - começou com cautela, depois de sentar ao meu lado e segurar minha mão. - Você não poderia se casar com Dash mesmo se quisesse, não é seu destino. Talvez... - esperei que ele continuasse. - Talvez esse seja o melhor caminho a tomar. Talvez seja o melhor até para Pedro e Lúcia e descobriremos isso em alguns anos... A verdade é que eles fizeram o que não tivemos coragem de fazer há bastante tempo.

Eu sabia disso. Sabia de tudo aquilo. Mas o olhar de Caspian dizia mais que suas palavras. Haviam coisas que gritavam em suas íris negras. Um misto de apreensão, falta de palavras e um toque de insegurança. Eu olhava em seus olhos, e ele não resistiu ou desviou a vista, sabia que estava se denunciando.

—O que está querendo me dizer, Caspian? - perguntei, quase um sussurro. Ele hesitou, sem desviar o olhar do meu. Senti suas mãos fecharem-se mais em volta das minhas num leve aperto. Uma batida na porta nos despertou.

—Entre. - falei, sem tirar os olhos dos de Caspian.

—Querida - chamou Harold, ao entrar. - Um mensageiro deixou isto para você. É de Pedro. - e estendeu-me um envelope selado com as iniciais da família que o acolheu. Peguei-o.

—Obrigada, Harold. - falei. Ele assentiu, e assim se retirou. Quando ele saiu, tornei-me para Caspian, que fitava a janela.

—Su, eu preciso... - começou ele. Pus a mão em seu braço, que o fez parar. -Compreendo seu lado, Caspian. - continuei, calmamente. - Não podemos obrigá-los a escolher o que queremos para eles, claro. Vamos para o jantar, e fazer o que estiver ao nosso alcance.

Ele respirou fundo e assentiu. Caspian estava incomodado. Havia algo que ele queria dizer, mas ainda não conseguira. Decidi não forçá-lo, e aguardaria o momento dele. Baixei os olhos para o envelope e deslacrei, encontrando ali dentro um único papel dobrado ao meio com a caligrafia simples e charmosa de Pedro.

"Querida Su,

Ontem estive com Lúcia, e decidimos realizar o casamento. Sei que não aprova, mas decidimos juntos que esta é a melhor maneira de manter todos a salvo. E bem. Tanto Lúcia quanto eu nos importamos com cada um e não seremos capazes de viver com o sofrimento ou perda sabendo que poderíamos ter evitado. Você é a única pessoa que me restou, a única família que tenho e eu a amo como se fosse há uma vida. Por isso, estou mais que disposto a fazer o que está ao meu alcance para a sua felicidade. Não se preocupe comigo, de verdade. Aguardo você para o jantar hoje a noite na casa de Lúcia.

Com amor,

Pedro"

Levantei os olhos do papel. Caspian havia levantado enquanto eu lia, e agora estava ao lado da janela, observando o movimento.

—Está quase na hora do jantar. - comentei, pondo-me de pé. - Vamos juntos?

Caspian pareceu despertar de seus pensamentos e tornou-se para mim.

—Su, escute - ele falou, vindo até mim e segurando minhas mãos. - Eu preciso lhe falar.

—Cas - interrompi. Sabia que havia algo a ser dito, algo que ele sabia e precisava que eu soubesse, mas não havia o que poderia ser dito para mudar a situação, além de uma única coisa. E eu não queria correr o risco de ter que lhe dizer, até por que não sabia se eu estava pronta para dizer. - Está tudo bem. Não quero que se sinta responsabilizado. A culpa é toda minha.

—Por favor, você sabe que a culpa não é de nenhum de nós. - lembrou ele, levando uma de minhas mãos até seus lábios e beijando o dorso. Assenti.

—Não seria de bom tom nos atrasarmos, certo? - falei. Um ar de sorriso passou rapidamente por seu rosto e logo foi embora.

—Não. - concordou. - Conversamos depois então?

—Sim. - concordei. Caspian deslizou seus dedos por minha face até o queixo e trouxe a sua para mais perto, até que seus lábios tocassem os meus.

Ele ainda estava tenso, era nítido. Seu beijo, porém, era doce e caloroso, cheio de palavras não ditas também. Em meu peito, a cada vez que simplesmente o olhava ou nossos olhares se cruzavam no ar, flamejava aquele amor que parecia ser mais velho que a primeira batida do meu coração, mais antigo que as nossas famílias. Seus beijos nos trancavam num mundo só nosso, do qual eu jamais sairia se pudesse. Contudo, a realidade era algo pesado demais para ser ignorado naquele momento.

—Nos vemos em meia hora. - sussurrei para ele, quando interrompemos o beijo. Seus olhos ainda muito próximos dos meus. Toquei seu rosto e garanti. - Teremos tempo para conversar.

—Creio que o tempo não seja meu aliado. - sussurrou ele. - Talvez quando eu abandonar a covardia seja tarde demais. -Se Pedro e Lúcia casarem, aí sim já será tarde demais para fazermos alguma coisa. - lembrei. -Não creio que possamos fazer qualquer coisa.

—Eu não vou conseguir viver em paz com isso, Caspian.

—Eu também não, mas talvez seja preciso. - disse ele, rápido. Parei, observando-o. Caspian desacelerou. - Podemos não conseguir mudar as coisas. Tudo isso... toda essa "ordem", esse destino... Pode ser o melhor para eles ficarem juntos.

—Lúcia não o ama. - lembrei. - Ela ama Rilian. Caspian balançou a cabeça.

—O romance com Rilian é de antes de ela saber a verdade. - explicou Caspian. - Lúcia compreende que é um risco muito sério casar com alguém de outra família que não um Pevensie. Não é algo impossível, mas é muito arriscado. Porém, ao escolher Rilian... Sentiria como se houvesse nos traído. A conheço o bastante para saber disso.

—Caspian - comecei calmamente, escolhendo as palavras. - Eu o amo com todas as minhas forças, mas não quero a nossa vida ao custo de nenhuma outra. Se houver um jeito de impedir esse casamento, eu o farei. - disse. As palavras não ditas ainda pairavam em seu olhar. Caspian não disse nada. - Estarei pronta em um instante.


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Notas finais do capítulo

Feliz ano novo para todos vocês! Ficarei muito feliz se quiserem deixar reviews :3
Até o próximo!
Bjs!!



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