Jonghyun P.D.V.

Não faço idéia do porque que a voz daquela ruivinha mexeu tanto comigo. Só sei que tem algo diferente nela. Deve ser a cor dos olhos, ou dos cabelos, ou o sorriso... Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Nunca fui do tipo que se apaixona. Principalmente por quem eu nem conheço direito. Só namoro mulheres uma vez, são os famosos casos de uma noite.

Fui para a varanda do meu quarto. Eu precisava pensar. Falar com a alma da minha mãe. Pelas estrelas. Assim que cheguei a minha varanda, eu a vi. Apoiada na grade de segurança, conversando com as estrelas. Ouvi-a dizer que sentia a falta. Falta de quê? Ou de quem?

- Vovô, a vida nunca mais foi igual depois que você foi embora – ela dizia, para as estrelas. O rosto deformado pelo choro. O sorriso cai melhor em seu rosto, tive vontade de dizer – De vez em quando, percebo que não eu me lembro de mais do seu rosto, do seu cheiro ou da sua voz. Perdoe-me por isso, vovô. Sinto tanto a sua falta.

Agora eu sei o porquê de ela chorar. Provavelmente, ela perdeu o avô recentemente ou algo parecido com isso. Olhei para o rosto dela novamente, percebi que ela me encarava. Ela parara de chorar e agora, olhava meu rosto com uma expressão de surpresa... A noite estava calada, eu a ouvia enquanto ela falava baixo. Espero que ela me ouça também.

- Desculpe, eu não sabia que estava aí – eu disse – Não se preocupe, não ouvi muito mais que uma frase.

- Tudo bem – ela respondeu – Eu falava com a mais brilhante estrela. Cresci com a lenda de que a quando uma pessoa muito boa falece, ela se transforma em uma estrela. E a estrela que mais brilhar, será o olhar dessa pessoa que você tanto ama e sente falta. Perdi muita gente das quais sinto falta, mas a pessoa que mais me faz falta é o meu avô. Ele faleceu quando eu tinha oito anos. Ele era muito, muito importante para mim.

- Sinto muito. Eu não fazia idéia de que essa lenda existia no Brasil também. Costumo falar com a minha mãe da mesma maneira que você fala com o seu avô. Pelas estrelas. Minha umma se foi quando eu tinha só cinco anos de idade. Desde então, sempre que a noite está estrelada, venho falar com ela.

- Vidas parecidas... Nisso pelo menos – ela tentou sorrir, mas seu rosto carregava um semblante triste – Vamos acordar todo mundo desse jeito. Que tal descermos para o pátio e conversarmos decentemente?

- Vai ser legal – eu disse, sorrindo. Conhecê-la seria ótimo. Aquela ruiva me chamou a atenção.

Eu não esqueceria aquele dia tão cedo. Líh era muito diferente. Ao seu modo, mas era diferente. Conversamos durante um bom tempo, até eu poder dizer que era amigo dela. Todos os assuntos foram discutidos: música, política, amizades, família, lugares que nós visitados, manias estranhas, tipos de pessoas, enfim... Sobre tudo.

Líh era completamente louca. Tinha uma gata preta, que todo mundo diz dar azar, chamada Mistic. Compunha músicas, mas nunca as mostrava pra ninguém. Cantava, mas nunca se deixou ouvir por ninguém. Escrevia histórias, mas falava delas como lixo. Dançava, mas nunca dançou para alguém ver. O que essa garota tem nessa cabeça para se esconder assim?

- Líh, talento existe para ser mostrado. – eu disse, estupefato.

- Eu não gosto de me exibir. Meus pais me ensinaram a ser humilde. – ela olhou o relógio e deu um pulo de susto – Ai, meu Deus, está tarde... Meus pais vão me matar! Eu não quero ser decapitada agora... Gosto da minha cabeça exatamente onde ela está agora.

Ela fez uma cara de desespero muito fofa e engraçada. Eu ri alto. Tinha como não rir daquela cara? Ela fechou a cara, fazendo bico, que me fez rir ainda mais.

- Não ria, Jonghyun. – ela disse, brava – Eu, provavelmente, vou perder minha cabeça.

- Então é melhor você ir...

- É, é melhor mesmo... Com licença, Jonghyun.

- Oyasuminasai², Líh.

- Oyasuminasai, oppa. – ela disse, finalmente se retirando. Na verdade, ela começou a correr desesperada até o elevador. 

Eu subi para o meu apartamento ainda rindo daquela ruivinha tão legal.