À medida que tudo ia fechado as suas portas, excepto os bares, discotecas e claro, o hospital, também o movimento nas ruas parara… Os transportes públicos realizavam as suas últimas viagens do dia, recomeçando todo o processo em poucas horas. Era uma vida cansativa, a dos motoristas. Trabalhavam imenso e até altas horas. No terminal de autocarros de Cila, perto da zona industrial e do aeroporto, o ambiente estava bastante calmo… Todos os veículos encontravam-se devidamente estacionados, existindo apenas uma vaga para aquele que acabara de entrar, a última viagem da noite.

   Depois de ter estacionado, o motorista suspirou, finalmente o seu dia de trabalho acabara. Vinha sozinho, naquela noite nenhum passageiro tinha vindo até ao terminal. Levantou-se do seu assento e deixou o rádio ligado, estava a saber-lhe bem ouvir música. Como sempre, quando acabava uma viagem, verificava todo o interior do autocarro, em caso de algum passageiro ter esquecido algum bem ou até mesmo, para ver se ninguém tinha adormecido. Já não era a primeira vez que ali chegava e levava alguém que já devia ter saído várias paragens antes, a dormir. O que era normal, qualquer transporte dava sono a quem tivesse cansado. Se bem que no caso do motorista era diferente… O homem já estava bastante acostumado.

   Assim que acabou as suas obrigações e verificara que tudo estava normal, dirigiu-se até ao volante para fazer a caixa. A meio caminho uma pancada forte foi escutada e o motorista parou… Parecia vir do autocarro que estava estacionado ao seu lado. Pelo vidro, o homem tentou ver qual tinha sido a origem do som. Mas estava escuro e era difícil conseguir perceber algo… As luzes do autocarro ainda estavam ligadas e iluminavam o seu interior. Mesmo que se tentasse espreitar lá para fora, era impossível… Os vidros reflectiam as imagens, como os espelhos. Foi então que outra pancada foi escutada e desta vez, também sentida, uma vez que fora dada no veiculo onde o homem estava, abanando-o.

   O motorista reclamou… – O que vem a ser isto? – Perguntava revoltado. Pelo som, parecia que estava alguém no topo do autocarro… Chateado, o homem abriu as portas e saiu pra ver quem era o delinquente responsável por aquilo. – Podes aparecer… Não tens para onde fugir! – Avisava, na esperança que o autor daquele vandalismo aparecesse.

   Um vulto pareceu espreitar para o motorista, mas o homem não conseguia ver bem…

   Com uma das suas longas mãos, o Wendigo puxou o homem para o topo do autocarro. Apenas foi escutado um grito arrepiante e o som de algo a rasgar, enquanto sangue salpicava para o chão e escorria pelos vidros do veículo…