1998, Vila Cila:

   Depois de 10 anos a viver em Cila, a Night Watcher já se tinha habituado ao seu ritmo perigoso. Dia sim, dia não a vila tinha um novo caso ou um novo ser a habitá-la. Mantinha contacto regular com a Ordem, mas o Sr. Charters já não a vinha visitar tantas vezes, o que era normal, uma vez que tanto o trabalho como a sua idade tinham aumentado. Com o tempo, a sensação de que faltava-lhe algo na vida começou a fazer parte dela… Tinha aprendido a viver com esse sentimento. Em dez anos muita coisa mudara à sua volta… O número de pessoas a habitar a vila aumentou vertiginosamente e o comércio evoluíra imenso. Só a sua vida é que era igual… Nem a sua estatura física havia mudado.

   Todos os dias o seu percurso era o mesmo… Acordava cedo, fazia exercício e treinava, à tarde estudava e à noite dava o seu passeio pela vila. O tempo de lazer que tanto o Sr. Charters aconselhou-lhe ficou pelo caminho pois nunca desfrutou dele. Na realidade, não havia muito que fazer. O tempo passou e Érica possuía agora 28 anos e mesmo assim, não tinha feito nenhum amigo pela vila. Para a jovem, era complicado manter relações e ter de esconder um segredo tão grande. De facto, até já tinha desistido dessa ideia. O que a jovem não contava era que isso estava prestes a mudar…

   Numa das noites de trabalho, saiu de casa com o seu equipamento, pronta para investigar zonas de risco… Tudo apontava para que aquela noite, fosse uma vulgar como tantas outras. Érica procurava uma criatura que andava a causar medo entre os habitantes já há três noites consecutivas. Depois de algum estudo, a Night Watcher concluíra que se tratava de um Lobisomem, um humano que se transforma num ser idêntico ao lobo nas noites de Lua Cheia. E este tinha preferência na zona de ataque, a avenida principal da vila

   Pelo caminho, Érica pensava nestes misteriosos seres… Meio humanos, meio animais. Maioria do tempo eram normais, mas assim que a besta se apoderava deles, perdiam a capacidade de raciocínio e toda a humanidade existente neles. A Night Watcher nunca tinha uma decisão tomada em relação a Lobisomens. Em primeiro lugar tinha de os estudar pessoalmente… E este que procurava, em dois dias, ainda não o tinha visto. Se tivesse sorte, aquela seria primeira noite em que ia ter contacto visual com a criatura. Se não tivesse sucesso, teria de esperar mais um mês até aos próximos três dias de Lua Cheia.

   Ao chegar à avenida, decidiu aguardar… As ruas ainda estavam movimentadas e alguns estabelecimentos abertos. O que não foi grande problema para o Lobisomem nas últimas duas noites. Mesmo com a rua cheia de pessoas a criatura apareceu e causou o caos. Felizmente, ninguém saíra ferido de ambos os acontecimentos. Érica procurou por ele na segunda noite, mas no local errado. O Lobisomem tinha voltado a atacar na avenida. Portanto, tudo apontava que na terceira noite fizesse exactamente o mesmo. E acertou em cheio… Depois de esperar alguns minutos, foram escutados gritos, vindos de dentro de uma mercearia ali perto. Érica correu até ao estabelecimento enquanto várias pessoas saíam de lá à pressa. O espaço era grande e possuía vários corredores, separados por prateleiras cheias de especiarias, produtos e outros tipos de bens. Quando entrou avistou um rapaz a fugir para o fundo da mercearia e ao mesmo tempo, as prateleiras eram derrubadas com agressividade. Algo perseguia o jovem… A Night Watcher abriu a sua mala, tirou de lá uma arma e uma faca e começou a correr para o fundo da loja. À medida que se aproximava, ouvia o som de objectos a serem derrubados… E finalmente quando lá chegou tirou as certezas de todas as suas suspeitas… O rapaz estava encurralado, à sua frente estava um Lobisomem enorme a bloquear-lhe o caminho. Caminhava em quatro patas, se bem que a sua forma era mais humana do que animalesca. O seu pelo era cinzento e as suas garras compridas e afiadas. Os seus olhos amarelos fitavam o rapaz e as suas presas ameaçavam-no… Rosnava assustadoramente para o jovem, enquanto este atirava-lhe objectos. Devagar, Érica tentou-se aproximar, mas os sentidos apurados da criatura caçaram-na… Num segundo, o Lobisomem deu meia volta e rosnou para a jovem que em simultâneo, disparara um tiro. Agilmente, a criatura desviou-se e correu na direcção da Night Watcher. Quando ia a disparar pela segunda vez, a arma encravou… Érica só teve tempo de proteger o rosto enquanto o Lobisomem saltou para cima dela. No chão, tanto a faca como a arma tinha caído para longe e a jovem apenas teve tempo de agarrar os braços da criatura enquanto tentava debater-se para conseguir sair debaixo dela. Tinha-a tão perto de si, que sentia o seu bafo quente enquanto a tentava morder. O jovem que tinha sido salvo não fugira do local… Ainda estava aterrorizado. Só quando viu aquele monstro a correr atrás da rapariga, é que acordou. Ela tentara salvá-lo e agora estava ela em perigo… Corajosamente, levantou-se e apanhou a faca que tinha escapado da mão dela. Aproximou-se por trás da criatura e enfiou-lhe a faca nas costas. O Lobisomem uivou de dor e nesse instante de fraqueza, Érica deu-lhe uma joelhada na barriga e empurrou-o. Ao pôr-se de pé, já a criatura tentava enfrentá-la outra vez. A Night Watcher rodou sob si mesma e com toda a força que tinha pontapeou-o no focinho, fazendo-o escorregar pelo chão. A ganir, o Lobisomem levantou-se e rapidamente fugiu por uma das janelas da mercearia. Érica correu até lá, mas já a criatura tinha desparecido na escuridão da noite. O rapaz correu atrás dela…

Rodrigo - O que é que era aquilo?

Perguntou, curioso. Era Rodrigo, o jovem que tinha sido atacado minutos antes, mas uns anos mais novo… Érica ficara aborrecida por não ter conseguido capturar o Lobisomem mas achou piada àquela pergunta tão espontânea. No entanto, não respondeu.

Érica - Estás bem?

Perguntou para disfarçar.

Rodrigo - Estou bem? Não, não estou! Acabei de ser atacado por um monstro…

Afirmou, ainda espantado.

Érica - Não te preocupes… Sobreviverás!

Rodrigo - Aquilo… Parecia um Lobisomem, ou algo do género… que só vemos em filmes!

Érica - Bem, os filmes retractam a realidade, não é verdade?

O rapaz tinha a certeza do que vira e Érica não podia negar isso… Não queria ser a culpada por ter enlouquecido alguém.

Érica - Se te assusta muito, pensa nisto como uma cão selvagem, ou algo parecido!

Exclamou Érica enquanto preparava-se pra sair dali.

Rodrigo - E quem és tu? Quando chegaste parecia que já sabias para o que vinhas!

Érica olhou para o jovem e achou a perspicácia dele bastante interessante.

Érica - Chamo-me Érica… E é tudo! Ao menos não te podes queixar por não responder a tudo!

Disse enquanto virava as costas.

Rodrigo - Vá lá, espera aí!

Pediu o jovem… Érica parou.

Rodrigo - Estou muito agradecido por me teres salvo a vida, mas não me deixes às escuras… Tenho direito a algumas respostas, preciso de saber se o que acabei de ver é mesmo real!

Érica admirava a coragem do jovem… Qualquer outra pessoa teria fugido ou estava demasiado em choque para querer saber fosse o que fosse.

Érica - O que queres que diga?

Rodrigo - Aquilo era um Lobisomem?

Perguntou pausadamente.

Érica - Como é que eu saberei que não vais contar nada a ninguém? Este tipo de coisas devem ser mantidas em segredo!

Com aquela afirmação, Érica já estava a dar a resposta. Rodrigo percebeu que estava a ser invasivo, então decidiu acalmar o momento…

Rodrigo - Não pareço confiável? Todas as pessoas dizem que eu pareço confiável!

Disse em piada… Érica também deixou um leve sorriso aparecer. Afinal de contas, sabia bem falar com alguém de vez em quando. Não tinha qualquer amizade em Cila.

Érica - Ok… Talvez até nem haja problema!

Rodrigo - Já agora, eu sou o Rodrigo! É errado começarmos uma conversa comigo a saber o teu nome e tu sem saberes o meu!

Exclamou de forma simpática. O ambiente já estava mais calmo… Aos poucos, a tensão de ambos ia desaparecendo.

Érica - Muito bem… Rodrigo! Tens toda a razão… Aquilo era um Lobisomem! Resumindo, aqui em Cila eles existem… Eles e todo o tipo de criaturas que possas imaginar.

Rodrigo olhava para ela, espantado…

Rodrigo - Ok… Entendo! Curiosamente, prefiro não aprofundar o conhecimento acerca das outras criaturas… Pra já! Continuando, o que é que tu tens a ver com tudo isto?

Érica não tinha nada a perder, então decidira explicar por alto quem era…

Érica - Eu fui treinada para este tipo de situações… Sou eu a responsável por eliminar todas as ameaças nesta vila!

Rodrigo - Como uma polícia?

Tentava compreender o jovem Rodrigo.

Érica - Mais ou menos… Algo parecido! Mas mantenho a minha identidade em segredo! Por isso agradecia-te que fizesses o mesmo!

Rodrigo - Wow, és como uma agente secreta!

Exclamou a rir-se… Érica não achou tanta piada e o jovem percebeu.

Rodrigo - Desculpa… Não foi intencional! Na verdade, parece um trabalho bastante solitário!

Nesse momento, Érica olhou para o jovem e contemplou a sua inteligência… Nunca ninguém tinha chegado àquela conclusão. O rapaz pareceu que lhe tinha lido os sentimentos. Érica simplesmente sorriu…

Rodrigo - Planeavas matá-lo?

Perguntou o jovem para mudar de assunto, enquanto olhava para a arma que Érica já tinha apanhado.

Érica - Não… Na realidade não! Tencionava capturá-lo… A arma não tinha balas, eram tranquilizantes.

Rodrigo - E isso não é perigoso? Qual é o objectivo?

Érica - Por debaixo daquela criatura medonha está uma pessoa… Que pode, ou não, ter noção do que lhe está a acontecer! Vinte e oito dias por mês é um simples humano… Até a altura da Lua Cheia!

Rodrigo - Então ias capturá-lo e esperar até de manhã?

Érica - Exacto!

Rodrigo - E fazes tudo isso sozinha?

Perguntava preocupado. O jovem começara a admirar Érica e esta, estava contente por estar a ter contacto com alguém.

Érica - Como já te disse, fui treinada para tal!

O jovem deu um passo em frente, com um ar determinado.

Rodrigo - Então a partir de hoje passarás a ter a minha ajuda!

Érica arregalou os olhos…

Érica - O quê? Oh, eu não preciso de ajuda… Obrigado!

Rodrigo - Vá lá… Qual é o problema? Até já estou a começar a sentir-me fascinado pelo assunto!

Insistiu o rapaz… Érica sorriu.

Érica - Porque é que irias querer ajudar? Desde quando este assunto fascina alguém?

Rodrigo - Então, eu sou diferente… E eu quero ajudar-te mesmo! Precisas de um amigo!

Érica ficou derretida pela dedicação de Rodrigo… O rapaz estava realmente a ser simpático e até mesmo, engraçado.

Érica - Bem, já tens idade de saberes o que queres… Se queres ajudar, por mim tudo bem!

O jovem sorriu e fez um gesto vitorioso. Érica riu-se e começou a dirigir-se para a saída.

Rodrigo - E tu salvaste-me! Por isso um dia retribuirei o favor e serei eu a salvar-te!

Dizia o rapaz enquanto seguia a Night Watcher, ambos sem terem noção que aquilo era o início de um grande amor…

Érica - Sim sim!

Exclamava ironicamente, enquanto ambos saíam da mercearia…

Presente, Vila Cila:

   Érica Rodrigues tinha desistido… Já chegava de dor. Daria ao vampiro a resposta que este procurava, mas não o faria sem tirar proveito.

Giovanni - Acho que tenho de acrescentar algo à descrição dos Night Watchers… Vocês escolhem sempre o melhor caminho, tomam sempre a decisão certa!

Érica olhou para o vampiro com esforço… Ou melhor, para o seu vulto. A Night Watcher estava muito fraca e bastante ferida, a sua visão acusava que poderia perder os sentidos a qualquer segundo. Mesmo assim, resistiu… Não queria mostrar o lado fraco ao vampiro.

Érica - Qual é a piada… por trás desse comentário?

Perguntou, o mais firme que pôde.

Giovanni - Não há piada! Estava só a tentar exemplificar… Agora, neste momento, estás a fazer a escolha certa! Vais responder-me ao que tanto quero e eu acabarei com o teu sofrimento. É simples e todos saímos felizes… Todos excepto tu, claro! Tu não vais a lado nenhum…

Dizia o vampiro com ar doentio e Érica sorria por dentro. Ia responder e tinha noção que seria o seu fim. Naquele momento pensou em toda a sua vida, na educação que os seus pais lhe deram, na saudade que sentia desde que estes tinham partido, do momento em que conhecera a Ordem e tornara-se numa Night Watcher, do dia em que chegara a Cila e finalmente, de quando conheceu o seu grande amor, Rodrigo. Todos estes momentos correram na sua mente como flashes. A mulher ficou emocionada mas não o mostrou… Naquele pequeno instante aprendera algo e chegara a uma grande conclusão: afinal de contas, era feliz e não faltava-lhe nada. Sentia-se preenchida de amor e bastante concretizada.

Érica - Chega de conversa… Faz a pergunta!

Giovanni - Outra vez?

Perguntou com impaciência.

Giovanni - Ok, eu percebo… Não estás no melhor estado! Aqui vai: O que é tu e a jovem Vanda conversaram há uns meses atrás? Objectiva e directa, não podia perguntar de melhor modo…

Explicou Giovanni com muita calma, ao ouvido da Night Watcher.

Érica - Querem saber… a conversa inteira, ou só o seu teor?

Giovanni olhou para a mulher, de sobrolho franzido.

Giovanni - Tanto faz, quero lá saber! Quero saber o essencial… A resposta nem sequer é para mim!

Exclamou despreocupado.

Érica - Ok então…

Preparou-se Érica. Estava a chegar o momento… Não havia nada a fazer.

Érica - Nós falámos… por um breve instante! O teor da conversa… não foi nada de especial. A rapariga estava assutada e eu disse que faria o que fosse possível para a ajudar. Mas nunca consegui! Por isso vejam… tanto trabalho, para uma coisa… tão insignificante. Como vocês!

Ao acabar de falar a Night Watcher começou a rir, enquanto tossia, cheia de dores. Giovanni olhava para ela, furioso.

Giovanni - ESTÁS A BRINCAR COMIGO?

Perguntou enraivecido.

Érica - Não!

Respondeu enquanto continuava a rir-se. Giovanni agarrou-lhe nos cabelos e com toda a força puxou-os de modo a levantar a cabeça da Night Watcher.

Giovanni - ESPERAS QUE ACREDITE NISSO?

Érica - É a verdade!

Respondeu ainda a rir. A dor já não a afectava…

Érica - Acredita se quiseres… E já agora, não sei o porquê da preocupação! Isto… não te afecta em nada, a resposta… não é para ti!

Giovanni largou-a e recuou…

Giovanni - Nisso tens razão… Não é nada comigo. Ter vindo aqui e ter-te provado já valeu o esforço!

O vampiro pegou outra vez na faca e olhou para Érica…

Giovanni - E agora, és descartável! Na verdade, nem consigo suportar-te nem mais um minuto!

Érica sentiu um arrepio profundo… O momento estava a chegar, ela sentia.

Giovanni - Últimas palavras?

Perguntou com um enorme sorriso plantado nos lábios. O qual rapidamente desvaneceu-se quando a porta de entrada do apartamento onde estavam, fora violentamente arrebentada e alguém entrara…

Rodrigo - ÉRICA!

Foi Melissa quem arrebentara a porta e entrava em primeiro lugar com Rodrigo. Logo atrás vinha Isabella, Ísis e Camila.

Giovanni - Se fosse a vocês, não avançava!

Exclamou rapidamente o vampiro. Todos pararam e olharam aterrorizados para a cena que estavam a ver… Érica amarrada a uma cadeira, completamente ferida, com membros partidos e coberta de sangue.

Érica - O que é que fazem aqui? Saiam…

Avisou Érica, preocupada. Aquilo era um risco muito grande, Giovanni era muito forte.

Giovanni - Então são estes os teus salvadores… Pergunto a mim mesmo como é que descobriram que aqui estávamos!

Afirmou, bastante curioso. Ísis e Camila não conseguiam falar, aterrorizadas. Melissa estava boquiaberta, Rodrigo furioso e Isabella deu um passo à frente.

Isabella - Tu és o Giovanni… Vampiro ancião da raça com o mesmo nome!

Indicou com certeza. Como Night Watcher, Isabella tinha um vasto conhecimento acerca de seres. Vampiros, era um deles.

Giovanni - Muito prazer! A mim parece-me que és outra Night Watcher… O que é bom para mim, logos duas na mesma vila!

Afirmou de modo perverso. Giovanni percebeu que Isabella era uma Night Watcher por um pequeno detalhe… Ela chamou-o de vampiro ancião, algo que só os Night Watcher fazem. No meio do seu clã, ele é conhecido como mestre, ou pai e não ancião.

Melissa - Érica, como é que te sentes? Vamos tirar-te daí!

Falou para a Night Watcher.

Giovanni - Não tenho tanta certeza acerca disso! Eu prometi à Érica que acabava com o seu sofrimento!

Exclamou enquanto avançava na direcção da mulher.

Rodrigo - Afasta-te dela! JÁ!

A raiva do homem por muito grande que fosse, não assustava o vampiro.

Giovanni - Ninguém precisa de gritar… Eu sou um homem de palavra!

Disse com calma, enquanto colocava-se atrás de Érica…

Giovanni - Vamos todos manter a calma… Afinal, eu só quero que vocês vejam este momento!

E mal acaba de dizer estas palavras, enfia duas a vezes seguidas a faca nas costas da Night Watcher, fazendo-a gritar desesperadamente. Todos viram aquele momento em camara lenta… Só quando Ísis gritou é que todos pareceram acordar. Érica deixou de mexer-se…

Giovanni - Sempre adorei causar este tipo de terror… As vossas caras estão a ser a segunda melhor surpresa deste dia!

Exclamou em provocação enquanto lambia a faca com o sangue de Érica.

Rodrigo - NÃOOO!

Gritou Rodrigo ao ver a sua mulher, possivelmente, nos últimos minutos da sua vida. Giovanni ria-se descontroladamente…

Melissa - Meteste-te com as pessoas erradas!

Disse para o vampiro. Melissa e Isabella avançaram sem pensar duas vezes. Giovanni precisava de ser eliminado, o mais rápido possível. A Night Watcher Isabella pegou no morning star que trazia consigo, arma medieval que possuía uma esfera de metal repleta de picos, e tentou atingir Giovanni. Este recuava enquanto Isabella manejava a arma em todas as direcções. Quando não conseguiu mais, parou e desviou-se… Deu uma cambalhota rente ao chão e passou para trás da Night Watcher que, acidentalmente, não previu o desvio de Giovanni e enterrara a arma na parede. Num incrível agilidade, o vampiro pontapeou-a nas costas mandando-a de cara ao chão. Entretanto já Melissa estava frente à criatura e com força, deu-lhe dois murros no abdómen e com a palma da mão atingiu-lhe a cana do nariz. Giovanni cambaleou para trás com as mãos na cara. Ao mesmo tempo, Rodrigo tirou da sua mochila uma besta. Carregou-a, apontou-a ao vampiro e disparou. Por alguns centímetros que acertava-lhe no coração, mas falhou. No processo, Camila tentou puxar por Ísis, mas a jovem estava branca e assustada, não queria sair dali. Ao ver aquela reacção Camila desistiu e sorrateiramente, de modo a que ninguém visse, aproximou-se de Érica para a soltar. Por muito assustada que tivesse, a jovem tentava sempre reagir com clareza. Em momentos de perigo, Camila tinha um bom momento de reacção.

Giovanni - Devo dizer que para uma rapariga comum, tens bastante força!

Provocou… Melissa não respondeu e voltou a avançar na direcção dele. Desta vez, Giovanni já estava preparado… No momento em que a jovem preparava-se para atacar, o vampiro tirara a seta que tinha enterrada no peito e lançou-a à rapariga. Sem saber ao certo como, Melissa desviou a arma com uma suprema agilidade. Ao ficar surpreendida consigo mesma perdeu tempo e Giovanni aproveitou-o… Com toda a força, deu uma enorme cabeçada na jovem e lançou-a para longe. Melissa caiu em cima de uma mesa de madeira e partiu-a por completo. Rodrigo preparara outra seta e disparava-a agora… mais uma vez falhou e acertou na barriga do vampiro.

Giovanni - Outra vez?

Perguntou enquanto puxava a seta da barriga.

Giovanni - Começo a fartar-me dessas armas medievais!

Exclamou furioso. Partiu a seta com as mãos e avançou para Rodrigo. Camila continuava a tentar soltar Érica e assistia a tudo, ao mesmo tempo. Isabella desmaiara. Ísis continuava estática. Melissa já se estava levantar novamente… A sua resistência era incrivelmente espantosa. Resistia a coisas que os outros jamais conseguiriam. Rodrigo lançou a besta contra Giovanni, para ganhar tempo. Mas foi inútil, o vampiro não parou nem por um segundo. Ao chegar ao pé do homem, tentou diferir-se um murro mas Rodrigo conseguira atirar-se para o chão no momento exacto. No seu lugar, Melissa apareceu a correr e no ar, deu um valente pontapé no rosto hediondo do monstro. Ao vê-lo cair, a jovem continuou a avançar, destemida. Rodrigo aproveitou e juntou-se a Melissa. Giovanni topou-os e esperou… Quando estes aproximaram-se o suficiente, deu um impulso com as pernas e atingiu-os aos dois. Ao pôr-se de pé, diferiu um pontapé rotativo a Rodrigo lançando-o para perto de Ísis. De seguida, pegou na besta que estava no chão e atirou-a à cabeça de Melissa. O impacto fez com que a arma partisse-se e a jovem ficasse tonta. Giovanni fez um ar curioso… Outra pessoa qualquer teria perdido os sentidos com aquele impacto. Nesse instante, Camila fizera um pequeno barulho a tentar soltar Érica e o vampiro reparou… A jovem deu um grito, assustada, e levantou-se.

Giovanni - Vejam bem… Temos aqui um rato!

Exclamou referindo-se a Camila, enquanto dirigia-se a ela.

Camila - AJUDEM-ME! ÍSIS, FAZ ALGUMA COISA!

Gritava histericamente. Ísis ficou confusa e ainda mais em pânico… Não sabia o que fazer. Então, pegou na sua mochila e atirou-a ao vampiro. Este parou, olhou para trás e riu-se.

Giovanni - Se insistes em ser a primeira…

Disse Giovanni, mudando de direcção para Ísis. Aflita a jovem decidiu bruxa decidiu tentar algo…

Ísis - Sequestrare!

Ísis esticara as mãos na direcção de Giovanni e tentara realizar em silêncio, um encantamento para afastar o vampiro… Em vão. Estava muito nervosa para conseguir ter o mínimo de concentração requisitado ou as palavras saírem-lhe em voz alta.

Ísis - Aversio!

Tentara uma vez mais a jovem Ísis… Mas nada aconteceu. Entretanto Giovanni chegara ao pé dela e riu-se.

Giovanni - Estás em pânico linda menina? O que é que estás a tentar fazer de braço esticados? Queres pegar-me ao colo?

Perguntou a rir-se da rapariga e sem perceber o que esta tentava fazer. Ísis não respondeu e o vampiro agarrou-a pelo pescoço e levantou-a. A pressão que exercia sob o seu pescoço estava a asfixiá-la. A jovem tinha o terror espalhado na cara.

Camila - ÍSIS?

Gritava Camila bastante aflita perante tudo aquilo. Era a única que ainda estava bem. Enquanto todos estavam a tentar reagir, Isabella acordara e analisou a situação. E sem ninguém dar por isso, começou a correr e lançou-se ao vampiro atirando-o ao chão. Com o choque, Giovanni largou Ísis e esta tombou no chão…

*

   Lá fora, em plena luz do dia, a vila continuava na sua incansável rotina… Pessoas a deslocarem-se para os seus postos de trabalho, os estabelecimentos em funcionamento, tudo parecia estar dentro da normalidade. De todos os locais existentes em Cila, o ferro-velho era o menos movimentado… O que era normal, uma vez que o sítio não tinha muito para mostrar a não ser lixo e tralha. Durante o dia, os trabalhadores encarregavam-se de prensar tudo para que o espaço fosse capaz de suportar mais materiais. Claro que estes não sabiam da existência de habitantes por aquela zona… Os Goblins. Enquanto o sol brilhava e espalhava a sua luz por Cila, as criaturas mantinham-se escondidas no seu profundo sono, eram nocturnas.

   Enquanto dormiam descansados encostados uns aos outros, o líder do grupo, cujos calções e t-shirt eram pretos, acordou de relance. Pareceu assustado e um pouco agitado. No momento a seguir os restantes fizeram o mesmo. Pareciam confusos, tentavam encontrar algo… De repente, todos olharam para o mesmo sítio e passados meros segundos começaram aos pulos e aos gritos uns entre os outros. Numa desorganização tremenda, saíram a correr do seu esconderijo e saíram do ferro-velho… Os Goblins tinham sentido o medo da jovem que tanto gostavam. Ísis estava em perigo…

*

   Isabella e Giovanni debatiam-se no chão… A Night Watcher, por cima do vampiro, diferia-lhe continuamente socos no rosto enquanto este ria-se psicoticamente. Ísis rastejava pelo chão para conseguir afastar-se daquele cenário. Camila voltara até Érica e continuava a tentar libertá-la. Rodrigo e Melissa recuperaram e dirigiam-se até Isabella para ajudá-la.

Giovanni - Já te divertiste bastante… Não achas?

Perguntou enquanto agarrara os braços de Isabella e com força, empurrou-a para longe de si de modo a que fosse contra Rodrigo e Melissa, derrubando-os aos três. De seguida, levantou-se…

Giovanni - Se por um segundo pensaram que estavam em vantagem, enganaram-se! Como é que se atrevem a achar que são mais fortes que eu, vampiro mestre do clã Giovanni?

Vangloriava-se o vampiro, cujo ego era gigante.

Melissa - Não és o único que é forte!

Respondeu a jovem, colocando-se novamente de pé. Melissa não tinha medo… A sua força, resistência e agilidade permitiam-lhe ser destemida. Persistente, voltou a lançar-se ao vampiro mas este bloqueou-lhe o ataque agarrando-a e atirando-a logo de seguida contra uma parede. Rodrigo voltara a pôr-se também de pé… Sentia-se cansado, mas estava cheio de adrenalina. De algum modo tinha de afastar o vampiro senão não conseguiriam salvar Érica nem saírem dali. Giovanni dava gargalhadas perversas.

Giovanni - Não sabes o que fazer pois não? Estás esgotado!

Dizia para Rodrigo. O homem continuava de pé a fitar o vampiro. Giovanni reparara que Ísis estava perto dele…

Giovanni - Para onde vais minha jovem?

Perguntou enquanto voltava a pegar nela.

Giovanni - Pareces ser muito doce!

Ísis continuava aterrorizada e imóvel. O vampiro, convencido do seu poder face aos adversários presentes, não ligou mais a Rodrigo e este teve uma ideia que talvez fizesse alguma diferença… Com rapidez, o homem chegou perto das janelas e abriu-as, permitindo que a luz do sol entrasse na sala. No momento em que isso aconteceu, Giovanni largou de imediato a jovem e correu para o único espaço da sala onde os raios solares não incidiam… O seu corpo quase fora queimado. Furioso, rosnou e mostrou as suas presas a Rodrigo.

Rodrigo - Talvez não sejamos mais fortes que tu, mas pelo menos somos mais inteligentes!

Entretanto, Camila finalmente conseguira soltar Érica. Melissa já se encontrara ao lado de Rodrigo. Isabella deslocara-se até Ísis e ajudava a jovem a levantar-se.

Giovanni - Quando eu chegar aí…

Ameaçava e Melissa interrompeu.

Melissa - O que é que vais fazer? Eu gostava de ver… Tenta lá!

Provocou, sorridente.

Giovanni - Acham isto engraçado? Esperem até pôr as minhas mãos em vocês…

Subitamente foram escutados uns gritos animalescos e o som de objectos a serem partidos. Todos calaram-se e ficaram a olhar para a porta de entrada… O som parecia estar a aproximar-se. Sem demora, os Goblins entraram de rompante e olharam para o cenário que estava instalado, curiosos… Pela primeira vez em algum tempo, Ísis reagiu. Todos os outros estavam boquiabertos e um pouco confusos.

Ísis - Goblins!

Exclamou a jovem. Os Goblins pareceram ficar contentes por vê-la e aproximaram-se. Isabella assustou-se e largou a rapariga.

Ísis - O que fazem aqui?

Perguntou igualmente confusa.

Giovanni - Comovente… O que é isto? Animais de estimação?

Mesmo preso num espaço, o vampiro era provocador. Em simultâneo, os Goblins olharam para Giovanni… Começaram aos pulos e a gritar para o vampiro. Rapidamente desataram a correr na direcção da criatura.

Ísis - NÃO! VOLTEM!

Gritou a jovem para os Goblins, receosa que algo pudesse-lhes acontecer. Giovanni observava-os com interesse. Para seu espanto e de todos os outros, as criaturas pareciam estar a organizar-se delicadamente. Com perícia, formaram um círculo à volta do vampiro.

Giovanni - O que é que vocês querem?

Perguntava Giovanni a olhar à sua volta. De um momento para o outro, os Goblins começaram a emitir uma luz esverdeada que em poucos segundos tornou-se bastante intensa. Todos estavam boquiabertos…

Melissa - O que é que se está a passar?

Ísis - Parece Magia…

Após as palavras da jovem, a situação foi comprovada… Um feixe de luz verde saiu de cada um dos Goblins e envolveu o vampiro que aos poucos, começou a ser elevado do chão.

Giovanni - PONHAM-ME NO CHÃO!

Exigiu Giovanni. E o seu desejo foi cumprido. Logo a seguir à ordem que deu, foi disparado violentamente pela sala e cuspido por uma das janelas para o meio da rua. Todos seguiram-no com a cabeça e olhavam para o vampiro que, aos gritos no meio da rua, levantara-se ferido e começara a queimar derivado à luz do sol. Lutando pela sua vida, Giovanni correu para longe de modo a salvar-se. Todos os elementos da sala continuavam espantados, no entanto, aliviados por verem o vampiro a ir embora. Rodrigo apressou-se a chegar ao pé de Érica.

Melissa - Aquilo foi incrível…

Dizia a jovem espantada enquanto Ísis olhava para os Goblins a sorrir… Afinal, estes possuíam Magia.

Rodrigo - Precisamos de levá-la a um hospital!

Exclamou Rodrigo. Érica estava em muito mau estado. Todos colocaram-se à volta e olharam assustados.

Camila - Não temos carro! É melhor chamarmos uma ambulância!

Referiu a jovem, mais uma vez a mostrar que poderia ser prática em situações complicadas.

Isabella - Temos de ser rápidos! Receio que não tenhamos tempo! A Érica está praticamente às portas da morte!

Avisou Isabella enquanto analisava Érica.

Rodrigo - FAÇAM ALGO!

Pediu Rodrigo desesperado. Ísis estava calada… Pensativa, olhava para os Goblins enquanto estes festejavam o facto de terem expulsado o vampiro daquela casa. Animados, pulavam de um lado para o outro, num barulho vitorioso.

Ísis - Acho que tive uma ideia…

Arriscou Ísis. A jovem ficou muito mais calma desde que os Goblins tinham chegado. E depois do que vira, fluiu-lhe uma ideia na mente…

Ísis - Goblins! Venham cá!

Contentes, as criaturas deslocaram-se até Ísis. Todos olhavam ansiosos para a rapariga.

Ísis - Este é um daqueles momentos em que falo para vocês e espero que consigam entender-me!

Afirmou esperançosa. Os Goblins olhavam-na e pareciam curiosos.

Ísis - Ate agora não sabia que possuíam Magia… O que é óptimo e bastante útil! Eu gosto de Magia!

Começou a jovem…

Ísis - Mas o que queria mesmo pedir-vos era um favor… Neste momento, a minha amiga Érica está muito mal! Será que conseguiam fazer algo? Podem ajudá-la?

Melissa, Camila, Rodrigo e Isabella entreolharam-se. Os Goblins fizeram exactamente o mesmo e de seguida olharam para Érica. Pareciam ter compreendido a jovem… Decididos, avançaram em direcção à mulher.

Ísis - Abram espaço!

Pediu a jovem aos amigos e estes assim o fizeram. Os Goblins chegaram ao pé de Érica e puseram as suas pequenas mãos sob ela. Aos poucos, a Night Watcher também ficou coberta de luz verde… E incrivelmente, as suas feridas estavam todas a ser curadas a uma velocidade vertiginosa. Todos estavam muito expectantes a olhar esta cena, mas por pouco tempo… Em segundos, Érica estava totalmente curada e os Goblins afastaram-se. A Night Watcher acordara.

Rodrigo - Érica!

Exclamou Rodrigo abraçando a mulher. Melissa, Camila e Isabella sorriram aliviadas. Ísis festejava com os Goblins.

Érica - Estão todos bem? Onde é que está Giovanni?

Perguntou preocupada, olhando à sua volta.

Rodrigo - Está tudo bem Érica… Não fiques preocupada!

Érica - Mas… como?

Perguntou admirada.

Rodrigo - Temos alguém a quem agradecer!

Avisou Rodrigo e olhou para os cinco Goblins. Érica olhou para as criaturas e ficou confusa… Não percebera a afirmação de Rodrigo. Mas não haveria problema, felizmente, tudo tinha acabado bem…