Depois de 2h 37 min o médico que atendeu Sophie veio falar comigo. Tinha uma leve impressão de que: ou os médicos eram frios e não gostavam de falar com parentes de pacientes ou eles gostava de torturá-los com o tempo. Ou os dois. O médico veio até mim e Josh. O cara que me acompanhou na ambulância - descobri que se chamava David - se aproximou para ouvir a conversa.

– Olha, Sophie não morreu. Mas ela está muito muito mal. Você sabe me dizer há quanto tempo ela se drogava?

– 3 meses - disse David rapidamente.

Nunca vi aquele cara na minha vida e ele sabia muita coisa sobre minha irmã e parecia se importar com ela. Ele parecia ser gente decente.

– Bom - o médico fez uma careta - acho que ela exagerou na dose e acabou forçando o corpo dela. De qualquer jeito não podemos dar remédio nenhum para que ela não fique viciada.

– Mas, ela vai ficar bem? - perguntei confusa.

– Sim, ela vai. Só se ela ir para uma clínica de reabilitação.

Agradeci a Deus. Aquelas palavras pareciam música no meu ouvido. Sophie iria ficar bem e ela ainda iria para uma clínica se recuperar. Era tudo que eu pedi! Senti uma pontada de esperança. O médico ainda disse mais algumas coisas e depois saiu. Fomos até a sala onde Sophie estava e ela dormia. Sentei na poltrona que estava ao lado da sua cama e fiquei segurando na mão dela.

Josh e David começaram a conversar sobre algumas clínicas. David era estudante de medicina e se drogava às vezes mas nada que o deixasse viciado. Ele conheceu muitas pessoas que foram à tratamento de dependência química então sugeriu a melhor. Estava tão aliviada que encostei a minha cabeça na poltrona e dormi.

–

Sophie's POV

Arg. Abri meus olhos e sentia um dor terrível. Aparentemente não conseguia enxergar nada, só via uma luz branca. Que luz era aquela? Com certeza não era da casa do Peter - um dos meus fornecedores. Olhei para o lado e vi minha irmã dormindo. Que dor de cabeça terrível. Reparei que o meu braço estava ligado a uma aparelho que me fornecia soro. Mas que merda eu fiz ontem a noite? Vi Josh dormindo numa cadeira de ferro e ele estava descaradamente desconfortável. Só tentava lembrar o que eu devia ter feito para estar ali. Eu fui assaltada e alguém me esfaqueou? Alguém me estuprou? Quando me virei para o outro lado da cama vi David. Seus cabelos loiros e levemente cacheados sempre me encantaram mas não entendia o motivo dele estar ali. Aliás não entendia porra nenhuma.

Levei minha mão aos meus olhos. Que sede eu sentia. Misturada com dor de cabeça e dor em tudo quanto é canto. Percebi que acordei Mandy, ela me olhava com uma cara de "eu não acredito".

– Eu não acredito que você acordou! Ah! - conheço muito bem a minha irmã - Está tudo bem? Sente alguma coisa? Quer que eu pegue alguma coisa?

Minha garganta estava seca, não conseguia falar alguma coisa. Então, com a maior lentidão do mundo, fiz um sinal de beber e ela disse que voltava já. Uns trinta segundos depois ela voltou com dois copos de água. Ela me ajudou a levantar um pouco na cama e eu bebi. Como era bom aquela sensação de matar a sede. Tinha até esquecido do gosto que a água tem. Bebi mais um copo. Dessa vez consegui falar.

– O que aconteceu? - minha voz ainda saía meio rouca.

– Nada demais. - percebi que ela falou aquilo só para me tranquilizar - vá dormir, você precisa descansar.

Como num toque de mágica, deitei e dormi.

Mandy's POV

Aaah, como eu estava aliviada. Sophie já estava bem melhor e suas olheiras estavam diminuíndo. Rezei mais uma vez. Quando acabei de rezar percebi que Josh estava acordando.

– Bom dia! - cochichei.

Mesmo cochichando ele pôde notar a minha alegria.

– Bom dia Cinderela! - ele riu.

– É a Bela Adormecida que dorme muito - respondi.

Ele riu de novo e fez aquele sinal com as duas mãos de "ui, ela sabe qual é a princesa". Incrível a capacidade de Josh me fazer rir a qualquer hora do dia.

– Ela parece bem melhor - ele já estava ao meu lado, sentado no chão.

– Ela acabou de acordar, e acabou de dormir também! - dei aquele sorrisinho de lado - Ela acordou, pediu algo para beber e dei para ela dois copos de água. Depois dormiu de novo.

Eu estava tão aliviada que era capaz de sair flutuando por aí.

– Você deve estar com a coluna doendo por dormir naquela cadeira, não? - perguntei já sabendo a resposta.

– Não, nem doeu.. - Josh não sabia mentir para mim também.

Forcei-o a trocar de lugar comigo. Agora ele estava na poltrona e eu peguei a cadeira em que ele havia dormido e arrastei para o seu lado. Ela era extremamente desconfortável. Ficamos conversando mais um pouco até que minha barriga roncou - super - alto.

– Vem, vamos comer. - disse Josh - Tô morrendo de fome também.

Ele pegou na minha mão e caminhamos até a porta. Mas antes, acordei David e disse que estávamos saíndo, falei sobre o acontecido e ele disse que não tinha problema que ele iria ficar ali. David parecia ser um cara muito gente boa, agradeci e saí do quarto. Devia ser umas 8 hrs da manhã porque o Sol invadia as janelas do hospital.

– Eu conheço um dinner aqui perto, topa? - perguntou Josh.

– Nessa hora... - peguei minha mão e passei na minha barriga com movimentos circulares - eu como até papel!

Saímos dali rindo. E de mãos dadas. Não parecia errado soltar as mãos mas era tão bom a sensação daqueles dedos longos entrelaçados entre os meus.

O dinner parecia ser aconchegante e tinha uma aparência agradável. Sentamos e veio uma mulher de vestidinho azul com avental branco. Tinha uns 30 anos. Usava um decote tão grande que todos os homens ali olhavam. Até algumas mulheres. Ela veio até nós e fiquei reparando no Josh. Pedimos umas panquecas e dois capuccinos. E ele nem olhou para o decote. Josh só podia ser uma espécie de ~homem perfeito~ porque ele não olhava para os decotes, era fofo e educado e ainda era meu melhor amigo. Eu não era de fazer muitos amigos, ainda mais meninos - por ser muito tímida - e ele tinha que ser muito perfeito para me aguentar.

O pedido chegou rápido e não demorou para a gente acabar de comer. Pagamos a conta e saímos dali. Precisava passar em casa. Josh e David podiam não ter reparado mas eu estava fedida e me sentia imunda! Josh disse que precisava passar na casa dele, então nos despedimos ali. Ele beijou meu rosto e me abraçou. Disse alguma coisa sobre estar feliz pela minha irmã mas não reparei direito. Estava notando naquele narizinho perfeito, bem afiladinho. E aqueles olhos de mel?