Kyle e Zachary me encaravam. Só agora eu conseguia ver a semelhança entre os dois: o mesmo sorrisinho cínico, o mesmo ar superior... Era tão óbvio, como eu não consegui pensar nisso antes?!

-Eu... Mas... – gaguejei, engoli em seco e tentei falar direito – P-por que fizeram isso tudo?!

-Não é simples, caro Gee? – disse Kyle, com um sorrisinho cínico – Eu tinha que me vingar de você por tirar a Lindsey de mim. E meu tio tinha que se vingar do seu querido Frankie ali... Por fazer a mãe dele terminar com ele – Kyle apontou para Frank vagamente – Essa é uma das diferenças entre nós. Eu pego meus inimigos pelo coração e pelos sentimentos. Ele prefere resolver do jeito físico mesmo. – ele deu de ombros.

-Jeito físico? Como as... – foi só aí que notei o olho roxo e o corte que ainda sangrava na testa de Frank. Este último, que já estava sem a mordaça, chorava de dor. Ajoelhei-me ao seu lado e acariciei sua bochecha esquerda, ignorando os outros que me assistiam. Senti uma raiva crescente tomar conta de meu peito e virei-me em direção a Zacky e Kyle, com uma fisionomia raivosa.

-Você é um idiota, Kyle. – rosnei – Não precisava fazer isso com o Frank. Ele não tinha nada a ver com isso. – passei a ponta de meus dedos em seu olho roxo. Ele gemeu de dor. Eu sentia vontade de chorar com tudo isso. Mordi o lábio, tentando conter o choro. Não era justo, nem comigo e nem com ele.

-Frankie, perdoe-me... Eu me sinto horrível agora... Nunca vou conseguir me perdoar... – senti as lágrimas começarem a escorrer em meu rosto enquanto eu encostava meus lábios levemente em sua bochecha. Ele fez que não com a cabeça.

-A culpa não é sua, Gee. – ele se aproximou um pouco de mim (o tanto quanto podia, tendo as mãos e as pernas amarradas) e beijou meu rosto, bem onde uma lágrima escorria.

-Argh, nojento. – disse Zacky, revirando os olhos e fazendo uma careta de nojo.

-Controle sua homofobia, sim? – disse Kyle – Eu até que estou me divertindo aqui.

Ignorei os dois. Bob e Ray ainda estavam estáticos, aproveitando o fato de que nem Kyle nem Zacky haviam notado os dois.

-Gee, eu estou com medo... – sussurrou ele, como uma perfeita criança em um lugar escuro.

Era fofo.

Ri amargamente e afastei a franja que teimava em cair em seus olhos.

-Não se preocupe, nós vamos sair dessa. Eu prometo. – falei, olhando diretamente em seus olhos.

Eu tinha a leve impressão de que aquilo era mais direcionado a mim do que a ele, mas balancei a cabeça e tentei parecer otimista. Virei novamente na direção de Kyle e Zacky.

-Tudo bem, já conseguiram o que queriam. Me deixaram tempo demais sem o Frank e quase me mataram de susto. Será que vocês podiam me deixar ir agora?

Os dois riram sarcasticamente.

-Tá brincando, meu caro Way? – disse Zacky – Nós só começamos!

Não sei por que, mas senti um leve arrepio percorrer meu corpo por causa daquela frase.

-Ele está certo! – sorriu Kyle – Nós não pretendemos ver o Frankie sair vivo...

Arregalei os olhos e notei que senti um pouco de falta de ar por causa do tamanho do choque. Não. Eles não podiam fazer isso.

-C-como assim?

-Eu não acabei de dizer que quero me vingar? – disse ele, ainda sorrindo.

-N-não... Vocês não p-podem fazer isso... – gaguejei – P-podem me matar no lugar, mas deixem e-ele ir.

Senti que Frank se agitava atrás de mim.

-NÃO, VOCÊ NÃO VAI FAZER ISSO, GERARD!

-Vou sim, Frank. – me virei em direção a ele – Você não sabe a dor que seria se eu te perdesse. – acariciei sua face docemente – Por favor, Frankie, entenda que eu não posso viver sem você.

-Entenda você isso! – replicou ele – Eu não vou te deixar, Gerard. – seu tom era de uma criança pirracenta. Bufei e abri a boca para discutir, mas fui interrompido por Zacky.

-Porra, chega disso! Então vocês dois morrem!

-Até que não é má ideia... – disse Kyle, ponderando. Zacky sorriu e bagunçou os cabelos do menor.

-Esse é o meu sobrinho! – seu tom era orgulhoso. Kyle corou fortemente e ignorou o comentário do tio.

Frank, que observava os dois com uma expressão de medo, soltou um pequeno gemido de preocupação.

-V-vocês vão mesmo matar a g-gente?

-Claro. – Kyle sorriu – Eu vou ter que fazer o mesmo com o bebê da Lindsey, não vai fazer diferença para mim! – enquanto isso, Zacky estava pegando uma coisa que parecia ser uma arma. Tremi um pouco quando vi que não era só uma, mas sim duas armas. Ele entregou uma para Kyle e apontou a outra para a cabeça de Frank. Kyle pegou a própria arma e apontou para mim.

-Últimas palavras? – disse Zacky, que se divertia com a situação toda. Frank se virou para mim e pediu em uma voz chorosa:

-Gee, se aproxima de mim?

Fiz o que ele pediu e, segundos depois, senti seus lábios nos meus. O gosto de seus lábios era salgado por causa das lágrimas, mas não me importei. Eu queria e precisava sentir seus lábios uma última vez.

-Eu te amo, Gee... – murmurou ele, roucamente – Você foi a melhor coisa que já aconteceu comigo...

-Eu também te amo, Frankie... – colei minha testa na sua e beijei a ponta de seu nariz – Desculpe por tudo terminar assim... – virei-me na direção dos dois novamente – Eu só tenho um pedido a fazer.

-Fala. – disse Kyle, com a voz apressada e entediada ao mesmo tempo.

-Eu... Quero morrer junto com ele. No mesmo minuto.

Kyle pensou por alguns segundos, mas deu de ombros.

-Pode ser. – Zacky foi até Frank e o desamarrou, deixando-o de pé ao meu lado e voltou para o próprio lugar.

Os dois empunharam as armas novamente e o mais velho começou a fazer a contagem.

-Um...

-Eu te amo, Frankie. – abracei-o de lado, apertando-o contra o meu peito.

-Dois...

-Eu também te amo. – ele enterrou o rosto no meu pescoço. Fechei os olhos com força e...