‘’Esse aqui é perfeito pra você, Livie’’ minha mãe parecia convencida de aquele corte de cabelo era perfeito para mim. Lá estávamos nós, depois de oito meses de discussões, ironias e portas fechadas com toda a força, em um salão na Soho, no meu ‘’dia de princesa’’, segundo a minha mãe. O dia em que eu mudaria completamente – contra a minha vontade – por ter cansado de lutar contra a Sra. Rosalie McKinley. O ambiente da minha casa, e todas as circunstâncias culminaram para que o inferno parecesse um lugar legal. Foram oito meses cansativos, não agüentava mais a minha mãe e seus chiliques. Certo, eu não sou Top Model ou algo do tipo, mas a minha mãe é uma pessoa obcecada por aparência. Eu não ligo. E vivemos um período turbulento, tudo começou logo depois do meu aniversário de 15 anos. Resolvi não comentar nada com Peter. Não foi fácil driblá-lo todas as vezes que eu parecia ‘’estranha e inerte’’, segundo ele. Foi melhor ele não saber, sobre todos os planos da minha mãe sobre a minha pessoa. Mas, vamos por parte. Nesse momento, estou num dia estressante, cheio de ‘’isso é perfeito para o seu tom de pele’’ ‘’nossa, como o seu cabelo tem uma cor bonita’’ ‘’essa bolsa Chanel parece melhor que aquela Valentino’’ ‘’esses são os tons de batom que ficam bem em você. ’’ Tudo extremamente sacal. Estou pagando todos os meus pecados, todas as vezes que esquecia de fazer o exercício e Peter me ‘’emprestava’’ o dele para que eu copiasse. Ou todas as vezes que zoamos de Maryanne e seu séquito.

‘’E, que escolha eu tenho... ’’ foram as minhas últimas palavras até eu sentir a navalha de o que parecia ser um Drag Queen - realmente não consegui identificar o sexo da pessoa que está dando um jeito no meu cabelo – Pude ver meu cabelo caindo no chão, rapidamente, e foi como se fosse a minha vida toda sendo cortada, caindo no chão rapidamente. Todos os anos, a minha trajetória sendo invisível, com um único e melhor amigo, todas as aulas da Sra. Gomez, o ensino médio, tudo pareceu ser só... O meu passado. Não voltaria mais. Tentei me enganar, dizendo para mim mesma que aquilo era exterior e eu continuaria a mesma de sempre por dentro. Mas, a verdade era que não seria mais a mesma. Já tinha quinze anos. Os planos da minha mãe eram muitos, e alguns até incluíam um pouco de vontade própria. As coisas não seriam as mesmas. E eu tinha que aceitar os fatos. Sem nem mesmo concluir meus pensamentos, senti meu rosto corar, e simultaneamente as lágrimas caírem queimando, desde a minha bochecha até o queixo, num ciclo vicioso, que parecia estar longe de acabar.

‘’Você está bem?’’ a cabeleireira – DESCOBRI! MULHER! – parecia preocupada comigo. Minha mãe tinha saído e me deixado no salão, e iria me buscar assim que eu ligasse. ‘’Estou. ’’ Menti. ‘’Bom de qualquer maneira, você vai ficar linda, de verdade, e eu estou me esforçando para fazer um bom trabalho. Eu sei como são difíceis essas mudanças repentinas e radicais, principalmente na adolescência. ’’ ‘’Principalmente quando você só tem quinze anos, passou os últimos oito meses vivendo um inferno, o seu melhor amigo não sabe de nada disso, e é obrigada pela mãe a praticamente nascer de novo, porque ela não está satisfeita com quem você realmente é. ’’ Disse, quase que automaticamente, alternando soluços e palavras. ‘’Você quer que eu converse com ela?’’ ‘’Como se fosse adiantar. ’’ É eu não estava medindo as palavras. ‘’Livie, querida, você quer que eu pare o procedimento?’’ ‘’COMO você vai parar? Quer que o meu cabelo fique metade desse jeito e metade como ele era antes? Agora não têm mais saída, continue.’’ ‘’Tudo bem.’’ E tentei engolir todo o choro que ainda marejava os meus olhos, e aquele nó na garganta, parecia cada vez maior.