Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 13
Cap. XIII — Funeral


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Espero que bem. Enfim, eu iria acrescentar uma parte ao capítulo de hoje, porém creio eu que ficaria mais interessante no próximo, então, hm, morram de curiosidade até lá :)
Anyway... quero que me perdoem antecipadamente pelas poucas interações Faberry neste capítulo, acredito que tenham coisas mais importantes a serem tratadas - não que Faberry não seja importante, mas ah, vocês sabem...
Espero que vocês curtam este capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/186323/chapter/13

24 de Março de 2012

Quintal dos Fundos, Mansão do Sam, TN

04:30 PM

O grito de Quinn fez Rachel virar. A cena que ela encontrou a fez arfar, assustada.

O walker de Hanna devorara o pescoço de Mercedes com vontade. Os braços da garota estavam abaixados, não oferecendo resistência. Os olhos viravam nas órbitas. Rachel deu um passo para trás, aterrorizada, abaixando sua pistola.

Quinn pegou a arma que Rachel segurava e deu um tiro certeiro no errante. Mercedes desgrudou-se dele e caiu no chão. Rachel estava com medo de se aproximar. Ela agonizava no chão, o sangue espirrava de seu pescoço; a carne tão exposta que, mesmo de longe, Rachel via os ossos de seus ombros.

Rachel permaneceu no mesmo lugar, mas Quinn correu para ela. Sacudiu os ombros ensangüentados de Mercedes, gritou desesperada — e esse foi o único som que fez Rachel se mexer, avançando uns poucos passos —, porém Mercedes deu seu último suspiro ali, no quintal dos fundos da mansão, implorando para que Quinn lhe deixasse morrer.

— Mas que porra é...? — A exclamação irritada de Santana pôde ser ouvida assim que ela virou a esquina da casa.

Não demorou muito tempo para que Santana percebesse o que acontecera. Ela arregalou os olhos para arma de Rachel caída no chão, depois para o walker morto, em seguida para as mãos cheias de sangue de Quinn e, por fim, o corpo de Mercedes estirado.

Brittany, que chegara logo atrás da namorada aos pulos, soltou um grito de terror e agarrou o braço de Santana com força.

— Ah, meu Deus — ela exclamou, avançando em passos lentos na direção do corpo de Mercedes.

Quinn se levantou, olhando para as mãos, abalada; os olhos dela cintilavam de lágrimas. O coração de Rachel apertou, mas continuava a uma distância considerável da cena bizarra que acontecera, parando na metade do caminho para pegar sua pistola jogada no chão por Quinn.

— Ei, o que tá...?

Escutar o grito desesperado de Quinn havia sido uma experiência assombrosa, mas nada superou a expressão horrorizada nem o grito de desespero de Sam. Ele largou a pá que levava no ombro e, mesmo com Puck tentando segurá-lo, se desvencilhou do garoto e tropeçou nos seus pés, derrapando segundos antes ao chegar perto do corpo de Mercedes.

— Não, Mercedes, não! — Sam gritava; a dor em sua voz atingindo Rachel em cheio. — Mercedes, acorde, por favor! Por favor!

A cena era horrivelmente deprimente. Sam sacudindo o corpo da namorada, na esperança de que ela pudesse voltar de alguma forma — e ela voltaria, todos sabiam, essa era a maior preocupação —; Santana, Brittany abraçadas a um lado, chorando; Puck olhando para Sam com o semblante complacente; Quinn com as mãos ensangüentadas perto de Sam, tentando tirá-lo dali; e Rachel, sem saber o que fazer, segurando a pistola como se ainda pudesse haver outras ameaças por perto.

Ela olhou para a porta dos fundos da mansão e encontrou Rory, Harmony e Sugar observando o que acontecia no quintal, cada um parecendo mais deturpado que o outro. Rory tinha as mãos no bolso e tentava não chorar. Por outro lado, Sugar se abraçava à Harmony com força e chorava em seu peito; esta lhe afagando os cabelos, também um tanto chorosa.

— Ela vai voltar. — Sam levantou a cabeça para eles, decidido. As lágrimas caíam pelas suas bochechas, mas concordou com o que dizia. — Todo mundo sabe o que acontece, ela vai voltar.

— Mas não será ela, Sam — Quinn retrucou lentamente, como se estivesse falando com uma criança de dois anos. — Não vai ser a garota que você amava, será um...

— Ela vai voltar — o garoto repetiu, não dando atenção à Quinn. Abaixou a cabeça outra vez e acariciou os cabelos cheios de sangue de Mercedes. — Ela vai voltar.

O silêncio que se seguiu foi o pior que Rachel já teve a infelicidade de participar. Ninguém queria sair dali, nenhum deles queria ir para a mansão. Todos estavam esperando o pior. Como uma bomba-relógio, só esperando o último tique para que pudessem finalmente sair do transe e decidir o que fariam em seguida.

E então, distraindo todos eles com sua beleza estonteante, Hanna surgiu no portal carregando Beth no colo, o semblante confuso.

— Solte Beth! — Santana gritou no mesmo instante, aproximando de Hanna a passos largos. Hanna a encarou, perplexa. — Agora! Dê ela a Harmony!

Ainda em estado de choque, Hanna fez o que lhe foi mandado. Harmony se desvencilhou de Sugar e pegou Beth, que, devido à gritaria de Santana, começara a chorar.

— Você causou isso — acusou Santana, agora tão perto de Hanna que seus narizes se tocavam. — Você matou Mercedes.

— Santana — alertou Quinn, apreensiva. — Pare com isso...

— Você trouxe essa merda pra cá — continuou a garota, sem se importar com os avisos da amiga. — Você chegou aqui e Mercedes começou a se sentir péssima. É tudo culpa sua.

Rachel tinha que admirar a paz que havia no rosto de Hanna. Se Santana estivesse lhe acusando de tais coisas, ela já estaria longe, provavelmente com as calças sujas. Ela engoliu em seco, o único som que quebrava o silêncio novamente imposto eram os soluços de Beth e os balbucios sem sentido de Sam para Mercedes. Santana permanecia encarando Hanna na mesma proximidade de antes. Nenhuma das duas parecia querer retroceder um passo.

— Você tem razão — Hanna disse por fim, soltando um suspiro e baixando a cabeça. — Foi um erro deixar um walker aqui, sabendo que não teria muito a se fazer sem o aparato necessário.

— Que bom que viu isso agora — revidou Santana com desdém.

— Santana, chega — cortou Quinn com firmeza. Sua mão jazia esquecida no ombro de Sam. — Por favor.

Só o toque de Brittany fez a garota se afastar de Hanna, e mesmo assim, ficou longe dela lançando um último olhar de ódio na sua direção. Contudo, antes que pudesse xingar ou dizer mais alguma coisa, Sam soltou um grito e se encolheu longe de Mercedes. Rachel entendeu um segundo mais tarde o que acontecia: ela tinha acordado como walker.

Rachel levantou sua pistola e tentou mirar na testa de Mercedes, porém o clique da arma não disparou nenhuma bala. Esquecera de que a última bala fora usada minutos antes por Quinn para matar o errante de Hanna.

— Segurem-no! — gritou Quinn alarmada, empurrando Sam para longe do walker Mercedes, que já abrira os olhos e gemia, procurando por suas primeiras vítimas.

Rory e Puck agiram rápido. Enquanto Sam esperneava e tentava chegar perto de Mercedes novamente, os dois o prenderam numa chave de braço perfeita. Mercedes agora se sentara e observava o local com os olhos cinzentos. Eles focalizaram Quinn, a mais perto dela.

Os sentidos de Rachel aguçaram. Ela não tinha a pistola, mas a adaga que Quinn lhe dera estava atada à sua perna naquele momento. Num movimento rápido, tirou-a do coldre e deu um passo na direção do walker. Suas mãos tremiam violentamente, ela não sabia se conseguiria fazer aquilo.

Quinn se rastejou pelo chão, desesperada. Os outros observavam em choque, longe demais para poderem ajudar. Rachel respirou fundo, e no segundo seguinte, ultrapassava Quinn e chegara aos pés do walker, olhando-o por cima com pena.

— Me desculpe — disse Rachel num murmúrio antes de enfiar a faca na cabeça de Mercedes.

O som do objeto perfurando o cérebro era mais estranho do que o da arma em si. Rachel tentou não prestar atenção, mas o silêncio deles não era tão alto quanto o barulho do crânio sendo perfurado, do cérebro sendo esmagado, do corpo finalmente inerte caindo no chão.

— O que faremos agora? — perguntou quando conseguiu tirar a faquinha da cabeça de Mercedes, limpando-a na calça.

— Queimaremos — respondeu Brittany.

Rachel arregalou os olhos para ela. O mesmo fez Sam e Quinn. O garoto parou de gritar por um instante.

— Não! — disse Rory, indignado, relaxando um pouco a chave de Sam. Rachel não notara antes, mas o garoto mantinha uma expressão culpada no rosto. — Ela era nossa amiga, não podemos simplesmente jogá-la com os outros walkers que matamos.

— Não queimamos os nossos — apoiou Quinn. O olhar da garota se encontrava em Sam, que pedia desesperadamente por alguma justiça.

— Estranho, por que eu não me lembro de termos enterrado Mike, Artie ou Tina propriamente — alfinetou Santana, do lado da namorada. — Ou Kurt e Blaine, quando os encontramos na estrada.

Quinn crispou os lábios e olhou diretamente para Santana, com raiva.

— Os tempos mudam — disse ela friamente. Ela olhou para o céu, que começara a escurecer. — Nós vamos enterrá-la amanhã pela parte da manhã. Alguém é contra?

Ninguém fez alguma objeção, nem mesmo Santana e Brittany, tão ativamente contra minutos antes. Beth, que havia parado de chorar por um tempo, voltara a se sacudir e gritar nos braços de Harmony. Hanna olhava para Quinn respeitosamente, como se tivesse orgulhosa de algo.

— Ótimo — disse Quinn, tentando limpar o sangue coagulado das mãos na barra da calça. — Puck, Rory, leve Sam para o quarto. Fiquem com ele. Hanna, arranje um cobertor para que possamos cobrir o corpo de Mercedes. Harmony e Sugar, por favor, cuidem de Beth para mim. E Brittany e Santana...

Ela olhou condescendente para Santana. Rachel não soube dizer quando quanto tempo as duas ficaram se encarando.

— Cuidem do jantar hoje.


24 de Março de 2012

Segundo Andar, Mansão do Sam, TN

07:02 PM

Não era possível. Não, aquilo tudo era apenas um pesadelo, um terrível pesadelo do qual ele não conseguia acordar. Ele fechou e abriu os olhos tantas vezes que eles começaram a coçar. Queria acordar, queria achar Mercedes ao lado dele na cama.

Mas no fundo, ele sabia que não podia.

Tentou se desvencilhar do abraço apertado de Puck durante todo o percurso do quintal dos fundos ao seu quarto. Não queria entrar, não com a imagem do corpo de Mercedes caído ao seu lado, completamente ensangüentado, soltando pedaços de carne de seu ombro e pescoço.

Ele ainda tinha nas mãos sangue dela. Ainda tinha a imagem do rosto da garota, tão bizarramente calmo e sofrido ao mesmo tempo, em sua cabeça. Sam não queria estar perto de ninguém, só de Mercedes, e sabia a única coisa que o faria ficar próximo dela novamente: a morte.

Quinn não deixou Sam chegar perto dela quando Mercedes deu seu primeiro gemido e voltou dos mortos. Jogou ele para longe, temendo que fizesse alguma loucura. Sam não iria fazer nada. Somente pediria desculpas à Mercedes. Por ter se deixado levar por uma garota bonita, por ter esquecido o quanto maravilhosa sua namorada era. Sam queria dizer um último “eu te amo”.

— Me deixe voltar! — gritou desvairado quando Puck o jogou para dentro do quarto. Sam tropeçou e caiu em cima da cama. — Eu preciso falar com ela, por favor!

— Cara, ela tá morta — afirmou Puck, olhando significadamente para Rory. O garoto assentiu e saiu do quarto. — Não vai adiantar falar nada para ela agora.

Sam abriu a boca, mas voltou a fechá-la. As lágrimas, que haviam parado quando viu Hanna encobrir o corpo de Mercedes, voltaram sem constrangimento. Sam caiu de costas na cama, abraçando o travesseiro mais próximo. Puck ficou observando-o de longe.

Odiava admitir, mas Puck estava certo. Terrivelmente certo. Sam não poderia mais falar nada a Mercedes. Nem um terço do quanto ele a amava, nem o quanto queria ter filhos um dia. Ele não podia mais nem contar a ela que todas as noites antes de dormir, ele juntava as mãos em palmas e agradecia pela garota ter salvado ele da cidade, pelos dois terem conseguido sobreviver durante tanto tempo.

Agora estava tudo perdido, jogado às sombras.

— Não posso ficar aqui, Puck — Sam murmurou por fim. — Não posso dormir aqui.

Com a cabeça enfiada no travesseiro, Sam duvidou que o garoto tivesse entendido alguma coisa. Para a sua surpresa, Puck respondeu:

— Entendo. Nós temos um quarto livre no terceiro andar, se você quiser. Ou posso oferecer meu quarto.

Assentiu, forçando seu corpo a corresponder seus pensamentos. Logo estava de pé. Não sabia por que, mas tremia dos pés à cabeça. Ele olhou para Puck, desolado, e, quando percebeu, se abraçava ao garoto tão forte que pensou que o quebraria.

Sentiu ser carregado para fora do quarto. Tudo no corpo dele doía; tudo machucava sua mente. Ele estava cansado, desejava poder dormir e esquecer o inferno que aquele dia havia sido. Desejava poder acordar no outro dia com Mercedes ao seu lado.

Sam chorou mais um pouco para aliviar a dor antes de entrar no quarto de Puck. Fechou os olhos e ouviu Puck fazer a ronda no corredor e entrar no quarto de meia em meia hora. Sam não jantou. Ele ouviu as discussões vindas do andar de baixo, mas não distinguiu quem brigava.

Acabou por dormir chorando.


24 de Março de 2012

Sala de Jantar, Mansão do Sam, TN

07:31 PM

— Ainda não acredito que ela fez isso — Harmony disse. Ela continuava em estado de choque. Sugar, ao lado dela, assentiu abalada.

Quinn preferiu não comentar. Comia seu macarrão instantâneo feito por Brittany sem vontade. Não por que estava ruim ou sem molho, e sim por que o gosto de sua boca era tão desagradável que nada podia superá-lo.

Aparentemente, todos estavam no mesmo humor. Ela não podia culpá-los por isso. O silêncio, quebrado apenas pelo som da mastigação, perturbava Quinn. Sentava-se na ponta da mesa (lugar antes ocupado por Sam), mas nunca havia se sentido tão culpada por tomar o lugar de alguém. Era errado estar ali, sabia. Com as memórias daquele tarde tão vívidas nas mentes dos outros, ficava difícil tomar alguma liderança ali.

Rory e Puck estavam com Sam. Quinn ouvira os gritos do garoto sendo levado para dentro enquanto lavava suas mãos no banheiro do andar de baixo. Escutava os choros e berros, e fazia tudo para controlar suas lágrimas.

Seus olhos ardiam. Somente quando Rachel finalmente a deixou sozinha, em suas próprias ordens, Quinn sucumbiu. Precisava manter a calma, porém, parecia inacreditável que Mercedes se atacaria daquela forma, machucando Sam a tal ponto que não deixara sequer um corpo para enterrar.

— É tudo minha culpa.

Rory apareceu misteriosamente à porta da sala de jantar, tirando Quinn de seus pensamentos. Ele não foi à cozinha para pegar a parte de seu macarrão, simplesmente sentou-se na cadeira livre ao lado de Hanna e afundou o rosto nos braços. A garota levantou as sobrancelhas para ele.

— Mercedes falou com a gente antes de sair — Rory continuou; a voz saía abafada. Pelo “a gente”, Quinn presumiu que fossem Harmony, Sugar e ele. — Eu senti que ela iria fazer algo. Tentei impedi-la, mas ela não me ouviu. Se eu tivesse sido um pouco mais firme...

Um ruído contido informou a Quinn que Rory começara a chorar. Ela olhou perplexa para Rachel, que retribuiu o olhar em igual choque. Hanna deu tapinhas no ombro do garoto, sem graça.

— Não é sua culpa, Rory — ela disse bondosamente.

— É pura verdade, Rory — apoiou Santana, levantando os olhos subitamente para Hanna, maldosa. Brittany tentou-lhe impedir de falar, mas a garota continuou: — Não leve a culpa de outras pessoas nas costas.

— Santana! — exclamou Brittany antes que Quinn o fizesse.

Santana voltou sua atenção à namorada. As duas se encararam por longos minutos. Quinn nunca tinha visto tanta raiva em seus olhos durante uma singular troca de olhares. Nenhuma das duas, no entanto, iria desistir tão cedo.

— Está do lado dela também? — Santana se levantara e apontava para Hanna descaradamente. A garota, por outro lado, parecia não dar importância e continuava acariciando as costas de Rory, consolando-o. Rachel, Sugar e Harmony estavam mortalmente quietas. — À tarde, que eu me lembro, nós estávamos do mesmo lado. Vai deixar com que essa garota foda com a gente outra vez?!

— Santana, por favor — pediu Brittany, elevando a voz e olhando diretamente para a namorada, determinada.

Quinn não sabia o que fazer. Olhou para Rachel, pedindo ajuda silenciosamente, mas a garota apenas meneou a cabeça, assustada. Ela nunca vira Santana e Brittany discutirem, muito menos com aqueles tons tão acusatórios. Rory levantara a cabeça e enxugara as lágrimas, afastando um pouco a mão de Hanna de seu ombro. Sugar era a única que ainda mexia com o macarrão, dando ele a Beth, que acompanhava a cena em completo silêncio.

— Isso não é sobre Hanna, agora fique quieta. — Brittany puxou a camisa de Santana, fazendo com que ela sentasse à força.

A técnica de Brittany não funcionou nem dez segundos: Santana se desvencilhou da namorada, tremendo de fúria. Abriu a boca, olhou fixamente para Quinn, pronta para dizer algo, mas parou na metade da primeira palavra. A saída dela raivosa deu por encerrada a discussão. Brittany a seguiu, pedindo desculpas à Hanna. Beth voltara a chorar.

Ninguém quis terminar a refeição depois da pequena briga. Rory e Rachel arrumaram a mesa. Incrivelmente, ela o consolou melhor do que Hanna. Sugar e Harmony subiram logo após Hanna (e Quinn poderia jurar que vira um lastro de lágrimas descendo pelas bochechas dela), levando Beth para o quarto de Quinn, já que a garotinha dormira assim que elas conseguiram acalmá-la.

Quinn englobou Rachel em seus braços quando ela lavou a última louça. Seu olhar encontrou o de Rory, e ele agradeceu com um aceno, Quinn sequer sabia o quê. Retribuiu com um sorriso fraco. Ela deu um beijo na testa de Rachel e subiu as escadas junto dela, se perguntando o que teria de enfrentar no dia seguinte.


25 de Março de 2012

Quintal dos Fundos, Mansão do Sam, TN

07:43 AM

Puck limpou o suor da testa com as costas da mão, cansado. Presumia que não era nem oito horas da manhã, mas a forma que ele suava fazia pensar que estava debaixo de um sol de meio-dia. Suspirou, exausto, e continuou a cavar a cova para o corpo de Mercedes.

Quinn queria trabalhar por conta própria em tudo que estivesse relacionado ao enterro, mas Puck a impediu. Fazia tempo que ela não passava um tempo com Beth, então resolveu se oferecer para o trabalho enquanto a garota esquecia-se do mundo com a filha. Mandara Rory ir vigiar Sam e agora se esforçava sozinho na cova.

Tirou mais três pás cheias de terra do buraco que se formava. Ele sorriu, satisfeito. Um pouco mais e conseguiria a altura necessária para poder enterrar Mercedes. Puck parou por um instante e olhou por cima do buraco, exprimindo uma careta ao notar o embrulho feito de lençol a alguns metros dele. Era estranho imaginar que a namorada do melhor amigo se encontrava nele. Mais estranho ainda era pensar que ela havia feito aquilo para se livrar do mundo em que viviam.

Puck não se demorou encarando o corpo de Mercedes. Ele achava injusto o que a garota tinha feito. Ela só tinha pensado nela, nunca em Sam ou nos outros. Ela não sabia a conseqüência que seu ato causaria neles, e jamais iria saber. Era errado se livrar da sua dor e se esquecer o que ela poderia causar às outras pessoas.

— Finalmente! — exclamou ele minutos depois, quando percebeu que estava a sete palmos do chão. Puck jogou a pá primeiro e deu um impulso, subindo logo após. Observou, orgulhoso, a sepultura que tinha cavado, pegou outra vez a pá e voltou para dentro da mansão, deixando ela perto da porta dos fundos.

Encontrou Sugar e Harmony cochichando na cozinha, preparando o café-da-manhã deles. Cumprimentou-as, deprimido, pois nunca teria uma chance com nenhuma delas, e passou direto para a sala de estar, onde Quinn e Rachel brincavam com Beth. Quinn pegara um violão da sala de música e tocava uma melodia suave, impressionando Rachel e a garotinha, que fazia exclamações e pedia por mais.

— Tudo pronto — disse ele, sentindo-se péssimo por interromper o momento delas. Quinn ergueu a cabeça para o garoto. — Podemos enterrá-la agora.

Quinn pôs o violão de lado e assentiu, se levantando. Beth fitou a mãe, parecendo entender a importância da conversa que Quinn estava tendo no momento.

— Rachel, chame Hanna e as garotas — Quinn ordenou, pegando a filha no colo. — Puck, suba até o quarto de Sam e avise-o.

Puck fez um aceno com a cabeça, um tanto chateado. Não queria ter de encontrar Sam completamente deprimido outra vez. O garoto era seu melhor amigo — e talvez até fosse certo que ele ficasse de luto pelas últimas horas —, mas, tal como ele superara a morte de Shelby, Sam ia superar a morte de Mercedes. Sam tinha que seguir em frente, como os outros seguiram. Era a melhor coisa a se fazer.

Puck chegou ao seu quarto e não encontrou Sam, tampouco Rory. Correu os olhos pelo cômodo, preocupado, e notou a silhueta de Sam no espelho do banheiro. Avançou lentamente, pigarreando para chamar a atenção do garoto.

— Pode entrar.

A voz de Sam era abatida. Puck empurrou a porta com cuidado e viu um Sam vestindo um terno coberto de poeira se olhando no espelho de modo deprimente. Ele franziu a testa, se perguntando onde ele tinha arranjado o terno e por que o vestira.

— Achei-o no guarda-roupa — respondeu Sam aos pensamentos de Puck, sem tirar os olhos do espelho. Terminava de arrumar a gravata. — Imaginei que seria adequado. Mercedes sempre dizia que gostava de me ver arrumado.

— Cara, tire o pó, então. — Puck entrou no banheiro e espanou o ombro direito de Sam, a poeira fazendo seus olhos lacrimejarem. Ele fez isso por mais alguns minutos, até que o terno estivesse limpo. — Agora tá melhor.

Sam agradeceu com um aceno. Um sorriso mínimo surgiu em seu rosto. Puck bateu nas costas dele, sem saber o que dizer. Nenhum deles havia acendido uma vela para Shelby, nem tido um funeral falso numa homenagem a ela. Puck nem ao menos salvara uma parte de seu corpo para que pudesse fazer jus à namorada mais tarde.

— Você perdeu sua namorada — disse Sam de repente, virando-se para Puck. — Como consegue viver?

— Graças ao meu senso de humor maravilhoso e à minha saúde de ferro — respondeu Puck com uma risadinha. Sam revirou os olhos. — É assim, Sam. Aprenda. Nesse mundo, temos que nos dar ao luxo de agradecer o que temos e jamais desejar mais. Olhe só para você, salvou Hanna, Harmony e provavelmente todos nós. Perdemos um, mas temos outros para nos apoiar.

Puck deu de ombros e saiu do banheiro, deixando Sam sozinho. O garoto esperou na porta do quarto pacientemente. Rory passou por ele, e até pensou em puxá-lo e dá-lo um soco por ter deixado Sam por conta própria no quarto, mas desistiu no último minuto. Não adiantaria nada bater num garoto de quinze anos antes de descer para um funeral.

Sam reapareceu, os olhos cintilando de lágrimas, porém firme. Ele conseguiu esforçar um sorriso lacrimoso para Puck, que o abraçou, sem constrangimento. Sam precisava daquilo, sabia.

— É agora — disse Sam com a voz embargada. Arrumou a gravata outra vez e limpou os olhos. Puck, estranhamente, sentiu um imenso orgulho daquele garoto.


25 de Março de 2012

Segundo Andar, Mansão do Sam, TN

07:37 AM

— Eu sinto muito. Fui uma idiota, eu não devia ter gritado com você na frente de todo mundo, ainda mais daquela forma...

— Santana...

— Na verdade, eu não acredito que deveria ter gritado com você de forma alguma, mas você sabe que aquela garota me irrita pra caralho e só de pensar que você estaria concordando com ela e...

— Santana...

— Não, eu sinto muito. Sinto muito mesmo. Eu prometo que não vou voltar a gritar com você, Brittany, jamais. Ah, além disso...

— Santana! — gritou Brittany, perdendo a paciência. A namorada a encarou, surpresa, mas logo abaixou os olhos, envergonhada.

Brittany revirou os olhos. Santana elevava muita coisa a extremos desnecessários. Como na noite anterior, em que se recusara a dormir no quarto das duas e havia passado a noite no sofá da sala. Era uma briga muito estúpida, para falar a verdade. Brittany tinha corrido atrás de Santana para fazê-la acalmar, contudo, a única coisa que conseguira tinha sido outra saída furiosa da garota.

E agora, na manhã seguinte, Santana a acordara batendo à porta com tanta insistência que pensou que a mansão estava desabando. Ela mal teve tempo para vestir seu roupão cor de rosa quando a namorada entrou desesperada no quarto, soltando palavras para todos os lados. Tentara sossegá-la, mas aparentemente tinha sido inútil.

— Não precisa se desculpar por nada — disse ela gentilmente. — Eu sei o quanto você não gosta de Hanna, vive reclamando dela.

Santana riu, aliviada. Brittany abraçou a garota pela cintura e lhe deu um selinho.

— Mas você não me deixou irritada ontem — continuou Brittany enquanto Santana deitava a cabeça na curva de seu ombro. — Você tá sempre acostumada a gritar com todo mundo, e com os acontecimentos mais recentes, imaginei que tivesse pensado o que sentiria se fosse eu...

Brittany se interrompeu. Santana ergueu a cabeça, parecendo um pouco perdida. Ela xingou-se mentalmente por ter dito o que havia dito. Obviamente, tocar no ponto fraco de Santana — ela própria, Brittany — não havia sido muito inteligente no momento. E não deu outra: os olhos de Santana se encheram de lágrimas e ela repousou a cabeça no peito de Brittany, fungando.

— Ok, acho que por essa eu tenho que pedir desculpas — falou ela, apertando mais Santana ao corpo dela. — Foi mal.

— Tá tudo bem — respondeu a outra com a voz rouca.

Brittany sentiu o hálito quente da namorada em seu pescoço. Ela levantou a cabeça de Santana para dar-lhe outro beijo, dessa vez mais demorado.

— Uou! — exclamou alguém ao abrir a porta do quarto. Brittany se desgrudou de Santana e encontrou Rachel com a expressão chocada para elas. Santana limpou as lágrimas e olhou com superioridade para a garota. — Foi mal, gente, mas, hm, Puck já terminou a sepultura. Hm, vamos enterrar... ahm, agora...

E saiu do quarto. Brittany olhou para a namorada, embaraçada com a reação de Rachel. Se não estivesse numa situação tão deprimente, até teria rido da garota.

Ao invés disso, contudo, apertou a mão de Santana contra a sua e desceu as escadas na direção do quintal dos fundos, onde todos eles já se encontravam. O corpo de Mercedes estava ao lado da sepultura que, pelo que Rachel dissera, Puck cavara. Sam era amparado por Quinn e Puck; Rory e Hanna conversavam a um canto mais afastado; Harmony e Sugar tomavam conta de Beth.

— Todo mundo está aqui? Ótimo — falou Quinn, se aproximando, ainda que receosa, da cova de Mercedes. Ela recebeu um olhar corajoso de Rachel. — Eu, hm, acredito que deveríamos falar algumas palavras... Algo que lembre Mercedes a vocês, a garota audaciosa e diva do nosso antigo Glee.

E assim, cada um falou um pouco. Quinn mencionou a vez que ajudara Mercedes a superar o problema de comida com as Cheerios; ela também chorou um pouco e foi consolada por Rachel. Puck, pelo jeito, não havia se esquecido de quando namorara a garota — uma coisa que Brittany sequer se lembrava mais —, elogiando sua personalidade.

Santana foi a terceira a falar. Chegou próximo ao corpo da garota e cantarolou uma das canções que Brittany se recordava vagamente, algo que Santana cantava para ela quando estava com medo durante a infância delas. Tal como Quinn, não suportou muito a dor e buscou um abrigo nos braços da namorada. Brittany falou pouco, no entanto. Não tinha muitas lembranças com Mercedes, gostava dela, gostava de ela ter cuidado delas enquanto viva, e sempre a agradeceria por ter feito pouco, mas, ainda assim, muito.

Rory, Harmony e Sugar disseram palavras rápidas. Brittany tinha a impressão de que Hanna estava ali apenas para terminar o serviço; a garota permanecia em seu canto, em silêncio. Rachel não se demorou, e deu logo espaço para que Sam se despedisse. Os olhos do garoto, como sempre, brilhavam de lágrimas. Tentou várias vezes dizer algo, porém sempre se traía. Por fim, quando julgou necessário enterrar Mercedes de uma vez só, abaixou-se para ficar perto do corpo e passou a mão por sua cabeça.

Quinn, Hanna e Puck desceram delicadamente o corpo da garota na sepultura. Puck recomeçou seu trabalho, agora jogando terra sobre o corpo recém-enterrado de Mercedes. Brittany olhou para cima e viu o céu, brilhando intensamente sobre si. O sol quase a cegava. Era injusto, pensou. Um dia tão bonito, para estar numa situação daquelas, em um mundo daqueles.

Ela acenou com a cabeça, lembrando-se de quando se hospedara na reserva florestal, parecendo-lhe anos antes. O que Santana havia lhe dito martelou na sua cabeça. Talvez a namorada estivesse certa, então. Talvez Deus não estivesse sendo justo com nenhum deles.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E o que vocês acharam? Tenho que admitir que esse tanto de drama não é exatamente meu forte, por isso preciso muito da opinião de vocês agora.
Espero que tenham gostado, mandem seus reviews, suas sugestões e até o próximo capítulo!