Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 11
Cap. XI — Hedge


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Espero que bem. Bom, eu não faço ideia quando foi a última vez que eu postei, mas espero que não tenha demorado muito e que vocês não me matem se foi o contrário...
Novamente, queria agradecer pelos comentários e recomendações, muito obrigada mesmo. E para quem gostou da Hanna, muito obrigada triplo. E não, eu não me baseei em ninguém para escrevê-la, a não ser em alguns originais meus que tenho aqui no computador.
Espero que vocês gostem deste capítulo e vejo vocês lá embaixo!



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20 de Março de 2012

Quarto da Hanna, Terceiro Andar, TN

08:35 AM

— Você só desmaiou semana passada, pouco depois de acordar?

— Foi.

— Sentiu algumas dores durante o resto da semana?

— Físicas ou psicológicas?

Hanna riu.

— Não, nenhuma — Rachel respondeu um pouco mais tarde.

O estetoscópio fazia cócegas em seu peito enquanto Hanna a examinava. Ela tentava o máximo não encarar os bonitos olhos azuis da mulher, mas era quase impossível. A outra não parecia se importar com a forma hipnotizada que Rachel se encontrava (talvez recebesse aquele tratamento ao redor dela sempre) e fazia seu trabalho normalmente, agora analisando a pupila de Rachel com uma pequena lanterna.

— Bom, parece que está tudo bem — Hanna finalizou com outro sorriso, colocando os equipamentos na cômoda. Rachel sorriu também, entorpecida.

Nos últimos três dias, Hanna transformara seu quarto no último andar da mansão em um pequeno consultório médico. Santana e Sam haviam brigado entre si para que a garota pudesse finalmente examiná-los. Santana ameaçou jogar Hanna de volta ao condomínio, ameaçou roubar o Cadillac de Quinn e ir embora com Brittany para Senhor sabe onde, entre outras coisas, mas no fim acabou cedendo.

Hanna, depois que se passava do torpor de olhar fundo naqueles olhos ou observar o corpo maravilhoso que ela tinha ou até mesmo ficar impressionada com o cabelo brilhante e louro dela, era uma boa pessoa. Apenas Santana e Mercedes pareciam ter um problema com ela. Hanna era a diversão na mesa na hora das refeições, e isso sempre atraía uma grande saraivada de olhares raivosos das duas.

Rachel não via motivo para aquilo. A não ser que Mercedes tivesse se importando muito além da conta com o tempo que Sam passava com Hanna e Santana estivesse com medo de que o remédio para tosse que a garota havia passado para ela fosse, na verdade, veneno, nenhuma delas tinha muito com que se preocupar.

— Por que a Quinn não veio aqui? — perguntou Hanna sentando ao lado de Rachel na cama, oferecendo a ela um suco de laranja feito de saquinho que sempre deixava ali para o final da consulta. Rachel corou até as orelhas (ser a primeira pessoa a ser procurada quando queriam falar sobre Quinn ainda era estranho), mas aceitou o suco. — Eu quero dizer... ela foi a primeira a se posicionar ao meu favor.

Rachel tomou quase o líquido inteiro do copo antes de responder.

— Quinn está fazendo muita coisa... — ela disse lentamente. — A maldita cerca que eles estão construindo. Aquilo tá sendo difícil.

Hanna assentiu em concordância, tomando um gole do suco. Com a proposta de Brittany de apenas usar o gerador à noite, Rachel gastava seu tempo na mansão cuidando de Beth e observando da janela de seu quarto os garotos trabalharem ao redor da casa, andando de lá para cá, vendo o que seria necessário para que construíssem uma boa cerca. No dia anterior, Puck e Santana haviam feito uma corrida ao condomínio e pegado um bom número de materiais para construção que eles tinham encontrado nos fundos do local.

Mas o real motivo de Quinn não ter ido ao quarto de Hanna ainda não era esse. Suas memórias estavam de volta, e Rachel agora lembrava muito bem do dia em que Quinn confessara que tinha um medo insano de hospitais desde o nascimento de Beth. Rachel rira e tentara ignorar, mas toda vez que queria assistir Grey’s Anatomy, Quinn ia embora sem nenhum aviso.

— Quinn é uma garota legal — disse Hanna de repente. — Sorte a sua ser namorada dela.

Rachel engasgou no suco de laranja e tossiu.

— N-nós não estamos namorando — falou Rachel com dificuldade enquanto sentia Hanna dar tapinhas em suas costas. — Pelo menos, eu acho que não.

Hanna arqueou a sobrancelha, cética. A garota sabia exatamente para onde ela estava olhando: sua camisa xadrez calorenta que Quinn havia lhe trazido da inspeção no condomínio. Rachel não era muito fã daquele estilo, mas não tinha muitas opções no meio de um apocalipse zumbi. Ela só queria uma forma de deixar a camisa mais confortável e — muito — menos quente.

— Rasgue-a — sugeriu Hanna como se tivesse lido a sua mente.

Rachel arregalou os olhos para ela. Hanna levantou-se outra vez e pôs seu copo na cabeceira, dando de ombros. Virou-se para Rachel:

— Quinn não vai se importar, não era dela mesmo.

— Ah, com certeza Quinn vai se importar — disse ela desesperada, rindo de nervoso. — Ela é muito detalhista.

Hanna riu, pegando o copo vazio de Rachel e colocando ao lado do seu. Rachel franziu o cenho diante da mínima preocupação da garota. O que aquela mulher tinha na cabeça?

— Relaxa Rachel, se Quinn reclamar alguma coisa, fala para ela que fui eu — retrucou Hanna displicente, se aproximando de Rachel de forma sorrateira e puxando a manga esquerda da camisa numa rapidez impressionante.

Rachel não sabe dizer por quanto tempo ficou encarando o braço nu em estado de choque, mas quando viu, a grande camisa flanela que vestia não passava de um colete. Ela olhou para Hanna, querendo estar com raiva, mas simplesmente não conseguia, não com ela rindo daquela maneira, tão perfeitamente... perfeita.

— É isso que você vai ganhar com minha consulta? — ela indagou quando conseguiu parar de rir. — Duas mangas de camisa?

— Melhor do que eu consegui com as outras — respondeu Hanna, ainda rindo. Quando se controlou, piscou para Rachel. — Mande sua namorada para cá assim que possível, ok?

— Ela não é minha... — Hanna nem lhe deu tempo para terminar a frase: empurrava-a para fora do quarto apressadamente.


20 de Março de 2012

Sala de Estar, Primeiro Andar, TN

23:11 PM

Harmony sentia-se confortável com Sugar. Por exemplo, naquele momento, ela deitava-se no colo da garota e estava tão bem consigo que nem o ar de inveja vindo de Rory e Puck a afetavam.

Brittany ligara o gerador aquela noite outra vez para que pudesse aproveitar a televisão enorme da sala e o aparelho Blu-Ray de última geração para assistirem um dos DVDs da coleção enorme que o antigo proprietário possuía.

Em um dos sofás estavam Santana e Brittany, abraçadas tão forte que Harmony pensou que os olhos das duas sairiam pelas órbitas. Espremidas num canto do mesmo sofá, Quinn enrolava os dedos nos cabelos de Rachel, o que fazia a garota em seu colo revirar os olhos de sono. Rory sentava-se desconfortável numa das cadeiras da cozinha, tal como Puck, enquanto Hanna usava sozinha uma das poltronas. Sam e Mercedes, mesmo parecendo emburrados um com o outro, dividiam a outra. E para Harmony e Sugar, sobravam-lhe o outro sofá, tão grande que parecia estar lhe engolindo enquanto deitava.

Ela não fazia ideia do por que Brittany insistira tanto para que as duas compartilhassem o sofá enquanto Quinn e Rachel — um casal de verdade, pelo que parecia — sofriam apertadas uma em cima da outra. Será que era isso...?, pensou Harmony franzindo a testa, aconchegando mais a cabeça no colo de Sugar. Brittany queria que elas fossem...?

Impossível. Não se via daquela forma com Sugar. Elas só tinham tirado uma à outra no meio desse inferno todo, Harmony a protegeria sempre que possível, sempre que pudesse. Isso apenas significava que Harmony queria o bem de Sugar, só isso.

Só isso...

— Ah... — fez Rachel, acordando assustada no colo de Quinn. Harmony a encarou, grata por ela ter interrompido seus pensamentos. — Onde estamos?

— Marty tem que voltar ao futuro para poder salvar seu presente e depois voltar ao passado para salvar o futuro de seus pais. Tudo em cima de um overboard — respondeu Quinn gentilmente no ouvido dela.

Rachel assentiu e voltou a dormir.

— Ah, eu vou dar uma olhada nas janelas — anunciou Hanna, levantando da poltrona e se espreguiçando. Ela bocejou enquanto Doc explicava sobre os raios do dia 5 de novembro.

Harmony ficou encarando a televisão, os olhos mal se agüentando abertos. Podia ouvir os suspiros pesados de Sugar. Quando virou a cabeça para cima, encontrou a garota de boca aberta e a cabeleira ruiva encostada na cabeceira do sofá. Harmony riu de leve e apertou a coxa de Sugar para acordá-la.

— Não estou dormindo — Sugar disse assim que abriu os olhos. Ela abaixou a cabeça e encarou Harmony, que ainda ria em silêncio. — Idiota — murmurou para a garota.

— Acho que tá na hora de alguém ir para cama — falou Santana maliciosamente, seus olhos indo de Rachel para Sugar.

Quinn fez um gesto obsceno para ela, o que mostrou muito bem o que Harmony estava pensando. Contudo, ela levantou do colo de Sugar e sentou-se no sofá, não tão confortável quanto alguns minutos antes. Toda aquela pressão pra cima dela estava lhe deixando sem graça e com um pouco de medo.

— Vamos, Sugar — disse Harmony, tomando toda a coragem que lhe restava. Ela ergueu-se e estendeu a mão à garota. — Hora de dormir.

— Posso ir junto? — perguntou Puck animado.

Santana o encarou furiosa. Harmony, ainda com a mão estendida, sentiu-se corar fortemente.

— Não, você tem Beth como colega de quarto — respondeu Sugar sonolenta, que não parecia ter entendido o tom safado do garoto. — A minha é a Harmony.

Para que Harmony pudesse evitar todo o constrangimento que se seguiu, Hanna voltou à sala naquele momento.

— Têm dois walkers caminhando pelo gramado — disse ela, não percebendo o clima tenso no cômodo. — Quem vai lá comigo?

— Por que você tem que ir acompanhada para matar dois walkers? — perguntou Santana com desdém.

Hanna se atrapalhou nas palavras; Quinn estava tirando Rachel de seu colo prontamente, e o mesmo fazia Sam até o olhar de Mercedes pará-lo, porém Harmony se pronunciou primeiro:

— Eu vou! — e levantou a mão estendida para Sugar, apontando sua certeza.

Quinn voltou a se aconchegar no corpo de Rachel novamente, parecendo desapontada. Santana levantou a sobrancelha para ela. Rory soltou um ronco alto. De Volta Para o Futuro era um filme há muito tempo esquecido se não fosse a concentração de Brittany e o olhar triste de Puck na direção da televisão.

Harmony olhou para a sonolenta Sugar.

— Fique aí — disse, apontando o indicador no seu rosto. — Daqui a pouco eu volto.

Sugar assentiu, deitando no sofá, agora somente dela. Harmony assentiu para Hanna e a seguiu, parando para pegar sua faca na mesa da cozinha.

— Onde estão? — perguntou nervosa ao colocar o pé para fora da mansão.

A faca tremia em sua mão, e Harmony sinceramente não saberia dizer se era de medo ou excitação. A última vez que enfrentar walkers fora na reserva florestal, ainda em Ohio, parecendo anos atrás. Os do porão não contavam, por que, mesmo passando um bom tempo, ainda lhe aterrorizava, e muito.

Nenhum deles confrontara Sam sobre os errantes no porão e no terraço. A maré de boa sorte deles era tão rara que nem mesmo Brittany — a mais “bem colocada” entre eles, por assim dizer — queria trazer esse problema à tona.

— Perto das janelas da sala — respondeu Hanna, ajeitando seu facão emprestado (que causara mais um grande problema com Santana) nas mãos. — Acredito que tenham sido atraídos pelo barulho da TV.

Harmony concordou, acompanhando Hanna dar a volta na casa sorrateiramente. Ela não gostava muito do escuro, mas enfrentar uns errantes era melhor do que ficar muito tempo naquela sala de estar com Santana e Brittany a incitando para que beijasse Sugar.

— Cuidado! — gritou Harmony sem querer e por instinto quando Hanna estava prestes a virar outro canto da mansão. A mulher a olhou como se estivesse louca, mas não deu outra: o errante saiu caminhando pelo lado que Hanna queria seguir.

Hanna arregalou os olhos, mas logo recuperou do susto. O walker foi para atacá-la, mas Hanna era mais rápida. Harmony ouvira falar que ela combatia somente com uma metralhadora, porém Hanna também tinha perícia em luta corpo-a-corpo. Num segundo, a cabeça do errante caía no chão cimentado ao redor mansão.

— O próximo deve vir daqui a pouco, graças a seu grito... — disse Hanna, não deixando de pôr despeito em seu tom. Harmony deu-lhe um sorriso amarelo.

Harmony não tivera um tempo a sós com a garota nova (além da sua “consulta”, na manhã anterior), mas pelo que pôde perceber, ela parecia ser metida e, no entanto, tinha todas as razões para que fosse metida. Ficara sinceramente impressionada com o tanto de brigas que Santana poderia arranjar em três dias só por causa daquela garota.

Hanna apontou com o queixo para algum ponto atrás dela, pondo o facão em guarda outra vez. Harmony assentiu, pedindo na forma de sinais para que Hanna a deixasse cuidar desse.

Ela ouvia os grunhidos do walker agora solitário nas suas costas. Passou a língua pelos lábios, tentando se concentrar, sentindo passos arrastados chegar a poucos metros dela. Hanna a encarava franzindo o cenho, Harmony sorriu e piscou.

A mulher estava pronta para pular na sua frente e matar o walker quando Harmony virou-se como um foguete e enfiou a faca que possuía na cabeça do morto-vivo de forma certeira. Puxou de volta para si a faca e deixou que o corpo caísse aos seus pés, sorrindo vitoriosa.

— É, você me deixou preocupada com essa — admitiu Hanna ao voltar para dentro da mansão, limpando seu facão no pano sujo que Mercedes deixara na cozinha especialmente para isso.

— Só porque eu sou um ano mais nova que eles não signifique eu não saiba matar walkers — respondeu Harmony sabiamente, limpando sua faca logo após Hanna.

As duas voltaram à sala em tempo de ver Quinn carregar Rachel no colo e subir as escadas. Mercedes, Sam e Rory não estavam mais lá. Brittany, Santana e Puck eram os únicos que tinham os olhos atentos no filme, enquanto Sugar roncava alto no sofá.

— Boa noite — disse Hanna teatralmente, sorrindo para Harmony e lançando um olhar irônico a Santana, como sempre acontecia quando uma das duas saía do cômodo. Santana esperou que a garota subisse os degraus para fazer-lhe um gesto obsceno e resmungar uns palavrões sem sentido.

— Sugar, acorde. — Harmony sacudiu o ombro da garota. — Por favor, Sugar, temos que ir deitar.

Sugar balbuciou algumas palavras bizarras e abriu os olhos. Ela sorriu quando viu Harmony e sentou no sofá, fazendo bico.

— Não vou carregar você no colo, levanta — respondeu Harmony terminantemente.

Ela xingou mais um pouco, mas logo estava de pé, cambaleando, mas felizmente em pé e andando por conta própria — se ignorar o fato de que abraçava à Harmony firmemente. Santana não deixou de reparar e, enquanto ela mesma se ajeitava com Brittany no sofá, sorriu para as duas.

— Noite — murmurou Sugar com sono.

Ela revirou os olhos e despediu-se dos três, tentando ignorar o olhar de Puck as seguindo com desejo. Harmony não conhecera a sua namorada, mas desejara que ela não estivesse morta. O garoto tentava cobrir sua saudade e carência com toques safados e sorrisos cafajestes, e não pegava muito bem para ele.

— Tem sangue na sua blusa — comentou Sugar quando as duas já estavam deitadas na cama de casal gigante, a vela deixando sombras bruxulearem pelo quarto de uma forma aterrorizante. Mais que o escuro, Harmony tinha medo das silhuetas que se formavam à luz de velas. Se não fosse por Sugar, a vela teria sido apagada há muito tempo.

Ela olhou para a borda da camisa folgada que estava usando e viu as manchas de sangue do walker que matara meia hora antes. Engoliu em seco, se perguntando se aquilo seria algum problema.

— Não tem problema se você tirá-la — disse Sugar, virando para o outro lado a fim de dar privacidade a Harmony. — Nem estou olhando.

— Depois posso apagar a vela, então? — sugeriu Harmony com o ar de riso.

— Claro — respondeu Sugar, vencida. — Eu te odeio.

— Sei disso — falou Harmony, deitando no seu lado da cama após colocar uma camisa limpa e deixar a outra jogada no chão do quarto. — E me ama também, né?

Sugar sussurrou um sim antes de começar a roncar.


21 de Março de 2012

Área dos Fundos, Mansão do Sam, TN

12:35 PM

— Quinn, mova a viga uns dois metros para a esquerda — ordenou Sam.

Quinn fez um sinal positivo e levantou a trave de metal com toda a força que tinha. Arquejou um pouco, segurou-a firme entre as mãos e rumou para onde Sam desejava a viga, afundando ela uns quarenta centímetros no chão.

Limpou o suor da testa e olhou para as janelas do segundo andar da mansão, encontrando Rachel acenando para ela animada. Ela estava com Beth no colo. Quinn retribuiu o cumprimento, desajeitada, e logo Sam começou a ralhar com ela por não estar concentrada no trabalho.

— Quinn! — ele gritou de longe. A garota tirou os olhos da janela e fitou o amigo, sem expressão. — Pare de conversa, temos de trabalhar!

Ela revirou os olhos, mas pegou as outras duas vigas e as colocou a mais ou menos três metros de distância da primeira, de modo que esta estivesse no meio. Sam a vigiava agora de perto. Quinn não sabia por que ele estava pegando pesado pra cima dela, sendo que podia ouvir claramente Puck e Santana brincando com a mangueira ao invés de molhar o cimento para criar concreto e o colocar nas vigas já fincadas.

— Voltamos! — disse Santana ao surgir em um dos lados da casa carregando um carrinho de mão. Ela sorria, suas roupas estavam todas molhadas e Puck vinha atrás dela, igualmente encharcado. — Olha só o seu cimento, Sammy...

— Não me chama de Sammy — resmungou Sam em voz baixa.

— Podem começar com as primeiras vigas, ali — apontou Quinn quando Santana ignorou o garoto. — E façam esse serviço rápido, estou com fome.

Santana abriu um sorriso maroto ao passar por Quinn, deixando o carrinho de mão ser trabalho de Puck. Quinn revirou os olhos e pôs-se a trabalhar nas grades que Sam havia encontrado no porão da casa. Eram surpreendentemente fortes e grossas, o que seria uma dificuldade caso walkers aparecessem. O plano era enrolá-las ao redor das vigas e formar uma cerca, muito mais potente que a antiga de arame farpado.

Meia hora mais tarde, o concreto segurava as vigas firmemente, a grade se amarrava de maneira segura nas primeiras traves levantadas e os quatro meninos observavam seu trabalho orgulhosamente. Santana, antes que eles pudessem comemorar mais um pouco, contudo, apontou para frente, a expressão preocupada. Quinn apertou os olhos e viu mais um walker caminhando na direção deles.

— Espera, espera — disse Quinn apressada ao notar que Santana já erguia sua pistola e se preparava para atirar. Ela abaixou a arma da amiga e a fitou. — Vamos ver se essa parte da cerca tá boa.

— Tá tudo molhado ainda, Quinn — justificou Puck. Ele também havia tirado sua arma do coldre e, ao contrário de Santana, estava livre para atirar. — Não vai dar.

— Acho que não — decidiu Sam quando seu olhar encontrou o de Quinn. — Vamos ver o que acontece.

Santana e Puck reviraram os olhos, mas guardaram suas armas. O errante se aproximava lentamente, e Quinn não resistiu ao lembrar-se de alguns dias antes, quando ensinara Rachel na marra como devia se atirar. Um sorriso iluminou seu rosto, porém desapareceu logo ao ver que Puck lhe encarava fixamente.

A grade rangeu quando o morto-vivo foi de encontro com ela. Ele recuou alguns passos, parecia confuso, e avançou outra vez. Quinn se controlou para não cair na risada. O errante recuou e avançou algumas outras dez vezes, porém, a cada tentativa furada, ele ficava mais furioso. Puck não foi tão forte quanto Quinn e soltou uma gargalhada.

Quinn sabia que o momento não merecia risadas (na verdade, nenhum momento no apocalipse merecia risos), mas não deixava de ser engraçado. Os quatro haviam construído algo que retardava os errantes, estavam melhor que o governo estadunidense.

— Bom... — disse Sam interrompendo os risos de Puck e Quinn. — o momento acabou. Já vimos que a grade está firme e — ele ergueu seu facão — é hora de matá-lo.

— Espera! — Um grito veio de dentro da mansão. Quinn virou-se, impressionada por encontrar Hanna correndo na direção deles.

Ela parou ofegante ao lado de Quinn, que rapidamente enrijeceu o corpo, querendo o máximo de distância possível entre elas. O “efeito Hanna”, como era chamado por Santana, não parecia ter passado nela. Quinn não podia evitar, Hanna era tão bonita...

— Não matem esse, por favor — falou Hanna. A frase tirou Quinn de seu transe, ela olhou incrédula para a garota.

— Por que não? — indagou Sam, o facão apontado para a cabeça do walker, que ainda tentava ultrapassar a grade.

Os olhos de Hanna pararam numa das vigas que restavam para completar a cerca. Depois, partiram para umas cordas jogadas no chão e voltaram para a garota. Quinn mordeu o lábio e acenou que entendera.

— Eu quero examiná-lo — respondeu Hanna. Santana bufou. — É sério, porra! Já pensou que não há mais ninguém lá fora cuidando ou querendo resolver essa merda? Você já pensou que ninguém mais está se importando com o que pode acontecer, com algum tipo de cura?! Se é que existe alguém lá fora...

Eu sou capaz de ver o que pode estar acontecendo com eles. Fui treinada para ser médica, trabalhar nessa área. Sei mais de anatomia do que qualquer um de vocês, alunos do ensino médio, vão saber um dia.”

Santana ficou calada. O errante agora andava de um lado para o outro, procurando uma saída por dentre a cerca. Quinn suspirou; Sam abaixou o facão vagarosamente enquanto o walker dava a volta na cerca, encontrando uma forma de chegar até eles.

Quinn agiu primeiro: seguiu o walker por trás e o prendeu numa espetacular chave de braço. Ela nunca chegou a saber como não havia sido mordida pelo errante faminto, mas ficou satisfeita com o resultado. Gritou para que Santana estancasse a viga no chão de terra e para que Puck pegasse a corda. Rapidamente, os dois fizeram o que foi mandado.

Quinn soltou o walker no minuto exato em que Puck o laçou num lance perfeito da corda e Santana enterrava a trave no chão. O garoto o empurrou até o local da viga e amarrou o errante seguramente nela. O morto-vivo tentou avançar neles outra vez, mas o nó de Puck era firme. Hanna sorriu agradecida para Quinn.

— Não deixe as crianças aqui fora sozinhas — avisou Santana. Ela ainda estava emburrada com o fato de Hanna estar certa, mais uma vez.

— Beth só tem dois anos e nunca tá desacompanhada — retrucou Quinn, confusa.

— Não ela. Rory, Harmony e Sugar — a amiga respondeu como se explicasse o óbvio. Puck a acompanhou para dentro da casa, de onde o cheiro do bacon roubado de Quinn no condomínio vinha.

— Hora do almoço — cantarolou Quinn sorrindo, puxando Sam para dentro também, deixando Hanna observar o walker, sozinha.


21 de Março de 2012

Quarto de Quinn, Segundo Andar, TN

08:44 PM

— Eu não acredito que a Hanna fez isso. — Quinn parecia decepcionada. — Quer dizer, era uma boa camisa...

Rachel riu da importância aparentemente boba que Quinn dava a uma camiseta achada numa casa qualquer no meio do nada. Estava no quarto dela, que agora estava mais para quarto das duas. Suas roupas ocupavam parte do guarda-roupa de Quinn, algumas camisas e calças sujas jaziam jogadas no chão displicentemente, e Rachel deitava-se de forma confortável no colchão, sentindo a respiração tranqüila e triste de Quinn em seu pescoço enquanto era abraçada por ela.

Acabara de contar a história do consultório de Hanna, mas antes que a convencesse de subir ao quarto da mulher, teve que parar por um minuto para que Quinn pudesse processar a ideia de ter sua camisa de flanela favorita rasgada nas mangas. Rachel ocultara de propósito uma das outras partes que a aterrorizara (Hanna chamando-a de namorada de Quinn), desejando não pôr Quinn em algum tipo de pressão.

— Quinn, era só uma camiseta, credo — retrucou Rachel, rolando os olhos. — E minha, acima de tudo. Eu podia fazer o que quisesse com ela.

— Acho que você tem razão — murmurou Quinn se soltando dela e caindo do outro lado do colchão, continuando arrasada. — Não vamos descer para ver algum filme, não?

— São apenas três vezes na semana. Hoje não é uma dessas três vezes — disse Rachel, virando-se para a garota e sorrindo por causa da forma esparramada que ela caía na cama. — Falando nisso... Quando você iria me contar que ainda não foi ao “consultório” da Hanna?

Quinn levantou a cabeça, assustada, e olhou para Rachel.

— Bem... E-eu... É...

— Você ainda tem medo de Grey’s Anatomy, né? — Rachel deitara de novo do travesseiro, rindo. A fobia de Quinn poderia ter saído de algo sério, mas ela não conseguia não se lembrar da expressão apavorada da garota durante as idas dela à sua casa quando Rachel mencionava que queria assistir ao seriado. Era hilário, e continuava sendo.

— Ah, qual é, para de rir — pediu Quinn emburrada. Rachel mal a ouviu no meio de suas risadas escandalosas. — Rachel!

— Sinto muito — disse, limpando as lágrimas de riso e pulando em cima de Quinn, dando-lhe um selinho após. — Mas me prometa que irá vê-la amanhã, ok?

— Depois que o Sam me liberar do meu trabalho escravo...

Rachel não tivera a coragem de ir à área dos fundos por causa do errante amarrado lá (onde concordava com Hanna da razão de ele estar ali), mas Santana e Quinn disseram que a primeira cerca estava firme, e não havia muitos motivos para desconfiar das duas. Levaria mais dois ou três dias para que eles pudessem terminar de colocar outras cercas ao redor da mansão, mas Rachel se mantinha positiva em relação a isso. Mais algum tempo e ela e Quinn estariam verdadeiramente seguras.

— Você fica linda à luz de velas... — murmurou Quinn embaixo de Rachel, sorrindo apaixonadamente. Os cabelos negros praticamente tampavam o rosto de Quinn, então Rachel não sabia dizer muito bem como ela conseguia ver alguma coisa, muito menos seu rosto, à luz de velas.

Ela deu de ombros e inclinou-se alguns centímetros para beijar a boca de Quinn. Tudo parecia tão natural agora que era bizarro. Meses antes, beijar Quinn pareceria errado, algo não muito correto de se fazer, mesmo se não estivesse namorando Finn. Mas, naquele momento, tudo o que Rachel pensava era em como faria Quinn feliz, de todas as formas possíveis e imagináveis, como elas passariam por aquilo tudo, tendo só uma à outra.

— Oh — fez Quinn, interrompendo o beijo. Ela deixou que Rachel caísse ao seu lado e a puxou para perto outra vez, abraçando-a de lado. — Acho que alguém não está muito feliz.

Rachel apurou os ouvidos e identificou duas vozes raivosas vindas de algum lugar no corredor. A única pessoa naquela casa além dela que gritava tão alto era Mercedes. Ela subiu os olhos para Quinn, que fez um sinal de silêncio, ouvindo atentamente a discussão. Não demorou a Rachel perceber que a outra pessoa era Sam.

— Devemos interromper? — sussurrou incomodada.

— Não, é bom para eles brigarem um pouco.

— Mas, Quinn, eles estão berrando e... — um barulho de objeto se chocando com a parede fez-se ouvir, assustando Rachel — jogando coisas um no outro!

— Rachel, não é problema nosso — respondeu Quinn categórica. — Vamos esperar a poeira baixar e depois, quem sabe, perguntar a eles o que aconteceu, na maior cara-de-pau.

Rachel bufou descontente. Quinn riu de sua expressão e a puxou para o mais perto dela possível, apertando Rachel tão forte contra si que chegava a doer.


21 de Março de 2012

Quarto de Sam e Mercedes, Segundo Andar, TN

09:12 PM

— Você o quê?! — gritou Mercedes, andando em círculos pelo quarto.

— E-ela pediu, disse que era para pesquisa! — Sam atrapalhou-se nas palavras. O tom da namorada era realmente assustador. Ele nunca a tinha ouvido falar daquela forma. — Eu não vejo nada demais nisso!

— Forçar seus amigos a aceitar uma pessoa que você conhece em menos de duas horas no seu bando, colocá-la para dentro da sua casa, deixá-la pôr um walker no seu quintal... — Mercedes ia contando nos dedos, o que fazia o garoto sentir-se cada vez pior. — Tem gente que faz burrice, mas você está ultrapassando elas num bom nível!

Sam se permitiu um grito frustrado. Sentou na cama, observando Mercedes dar voltas e voltas no quarto dos dois, pisando tão forte que o impressionava o fato de que ninguém ainda não subira para reclamar.

Estava cansado. Da pressão, da namorada louca, da atração que sentia por Hanna e não deveria... Ele queria um minuto de descanso, só isso, era pedir demais? Ele não agüentaria muito tempo... Essa coisa de liderança era pra gente como Quinn e Santana. Sam era tipo de garoto que ficava na espreita, só aproveitado os privilégios de ser o segundo no comando. Pouco mais de um ano lidando com Finn e o Glee Club havia lhe mostrado isso.

— O que vai fazer? — perguntou Mercedes após um longo período de silêncio, parando na frente dele.

— Em relação a quê?

— Expulse-a.

O garoto levantou no mesmo momento, uma raiva desconhecida tomando seu corpo.

— Não! — disse.

O rosto da garota estava a centímetros de Sam, como tantas vezes antes, mas ele não via nenhum amor em seus olhos. Ele não conseguia enxergar a garota poderosa por quem se apaixonara um dia. A garota na sua frente era uma pessoa totalmente diferente.

Mercedes engoliu em seco e se afastou de Sam. Parou em frente à janela e ficou olhando o lado de fora da mansão.

— Eu não vou mandá-la embora — continuou Sam, o tom de voz que usava impressionando até ele. — Ela precisa de ajuda, e olha só o que ela já fez pra gente!

— Sim, e estar na metade do curso de Medicina que jamais será terminado é algo bom — contestou Mercedes em um murmúrio, ainda olhando pela janela.

Sam revirou os olhos. O que era preciso fazer para que Mercedes se desse bem com Hanna? Um conselho para decidir qual das duas eles mandariam embora? Pelo mau-humor que Mercedes estava nos últimos dias, não seria muito difícil resolver quem iria.

— Essa vida não é pra mim — desabafou ela, a voz embargada. — Sam, me desculpa, mas isso não é meu mundo.

— Nós podemos resolver isso! — exclamou Sam, preocupado com o tom de funeral da namorada. Sam se aproximou lentamente dela, mas hesitou no último instante quando Mercedes virou-se outra vez para ele. — É sério! Estamos bem aqui, não estamos? Tudo vai voltar ao normal um dia, nós podemos...

Nunca vai voltar ao normal, Sam, você ainda não entendeu? — contrapôs Mercedes, os olhos brilhando de lágrimas. — Nosso passado, nosso antigo mundo, aquilo tudo já era... Não somos mais os mesmos, jamais voltaremos a ser.

Sam não fez nada além de abraçá-la com força. Alguma coisa em Mercedes estava deixando-o assustado. A maioria deles havia mudado a personalidade, havia perdido entes queridos, eles haviam transformado terrivelmente nos poucos meses daquele inferno. Contudo, Sam tinha fé. Acreditava fielmente que eles iriam sair bem daquela. Era só mais uma grande aventura, como nos filmes. Ele não suportava tristeza por que não tinha razão para ficar triste. Era só mais uma aventura...

Mercedes se desvencilhou dele e deitou na cama, sem falar mais nada durante a noite toda.



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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Eu particularmente morri de tanto fofura nos momentos Sugarmony e Faberry KKK
Ah sim, o filme que eles estão assistindo é De Volta Para o Futuro, um clássico dos anos 80 e que eu recomendo a todos.
Beijos para vocês e até o próximo!