– MAS QUE MERDA É ESSA?

Me separei de Ron imediatamente e olhei dentro dos olhos cinza tempestade, que agora estavam quase negros de raiva. Pensei em muitas coisas estúpidas para dizer, do tipo "não é o que você está pensando!" mas era obvio, que aquilo era exatamente o que ele estava pensando.

– Você não vai dizer nada?! - perguntou ele entre dentes.

– O que eu posso dizer? Nada vai fazer o tempo voltar... O que eu fiz está feito. Me perdoe. - disse fitando o chão.

Minha cabeça começou a rodar e eu gritava mentalmente. Por que havia feito aquilo? Não Hermione, esse não é o momento para discussões mentais desse tipo.

– É. Você tem razão. Mas eu quero realmente entender uma coisa: Por que isso? Se não está feliz comigo, por que simplesmente não disse? - ele disse ainda entre dentes.

– Eu... eu não sei Draco. Não sei o que eu tenho... eu...

– Então é melhor você tentar descobrir logo! Por que eu NÃO vou ficar com uma garota que nem sabe se me quer! Eu juro Hermione, nunca pensei que você fosse desse tipo.

– Desse tipo? O que quer dizer com isso?

– E não venha com essa de desentendida. Você não é santa!

Draco virou as costas e saiu pisando duro.

– E NÃO VENHA ATRÁS DE MIM! - berrou ele.

– Draco! Volte aqui! - corri em sua direção, mas Ron me impediu, me puxando pelo pulso.

– Então é isso? - disse ele me olhando nos olhos. - Você me beija e depois vai atrás dele?

Fiquei sem fala por um momento, assimilando suas palavras.

– Ele é o meu namorado. - eu respondi.

–Ah é?! Então por que você retribuiu meu beijo? HEIN?!

– Eu... A culpa é toda sua! Mais cedo quando conversamos, deixei bem claro qual era a minha escolha. E agora... posso ter perdido Draco! Quem quer saber sou eu: Por que você me beijou?!

– PORQUE EU GOSTO DE VOCÊ SUA IDIOTA! E EU JÁ DISSE ISSO UM MILHÃO DE VEZES! E NÃO VENHA ME CULPAR OK? SE NÃO QUERIA, NÃO DEVIA TER RETRIBUÍDO! SABE O QUE EU ACHO HERMIONE? ACHO QUE MALFOY TEM RAZÃO! JÁ ESTÁ NA HORA DE VOCÊ DECIDIR O QUE VOCÊ QUER!

– QUEM VOCÊ PENSA QUE É RONALD, PRA FALAR ASSIM COMIGO? - devolvi no mesmo tom, antes de ser novamente interrompida:

– EU NÃO TERMINEI! HÁ MUITO TEMPO VOCÊ ESTÁ MUDADA HERMIONE, MAS HOJE VOCÊ SE SUPEROU! SABE O QUE VOCÊ PARECE? GALINHA! VOCÊ QUER NÓS DOIS HERMIONE? SINTO MUITO, ISSO NÃO VAI ACONTECER. SE DIVIRTA AÍ, ESCOLHENDO COM QUE VOCÊ VAI FICAR.

Ron deu as costas para mim e saiu pisando duro.

– RONAL! – rugi, com raiva. – VOLTE AQUI AGORA MESMO!

– VOLTAR PRA QUE?! A DONINHA ESTÁ TE ESPERANDO! QUER DIZER, ISSO SE ELE AINDA FOR BURRO O BASTANTE PRA ESPERAR POR VOCÊ HERMIONE! – e com isso ele dobrou o corredor desparecendo de vista.

Lágrimas quentes e salgadas começaram a brotar do canto dos meus olhos. Eu não poderia ser tudo aquilo que Ron falara. E por que, por Merlin, por que ele havia dito tudo aquilo? Pra que tanta raiva de repente...? Ok. Sem se fazer de burra.

Apesar de ter achado Ron um tanto quanto exagerado (Draco é que teria razão para gritar comigo e me xingar) tive que admitir que sou uma estúpida. Quer dizer, que tipo de pessoa eu sou?

Uma raiva imensa de mim mesma preencheu meu peito. Me lembrei que não deveria ficar ali no corredor feito uma idiota, então sai correndo em direção ao salão comunal dos monitores.

Meu trajeto até lá não passou de um borrão. Me deparei com a chorona e murmurei a senha. Vi excitação em seus olhos e depois compaixão, até que finalmente pude entrar. Ora, um quadro sentiu pena de mim. Devo estar um trapo.

Subi em direção ao meu quarto. Tudo estava vazio, não havia sinal de Draco. Sentei na borda da minha cama e até pensei em deitar lá e nunca mais sair. Mais eu já havia sido fraca demais durante todo esse tempo. Decidi pegar meu kit de banho. Uma boa dose de água quente poderia clarear meus pensamentos.

Tornei a descer as escada e atravessei a pequena sala desanimadamente. Quando me aproximei do retrato, ele se abriu.

– Oh. – disse Parkinson quando me viu, trocando olhares pouco discretos com Zabini que estava ao seu lado.

– Viemos atrás do Draco... – disse a garota. – Precisavamos de uma ajuda com poções. Você está bem?

– Estou ótima. – menti desanimada.

– Hmm... e onde está Draco?

– Em algum lugar por ai... lamentando ter me conhecido. – algum tempo mais tarde, eu olharia para esse cena e desejaria ardentemente me presentear com o prêmio drama do ano. Porém naquele momento, me sentia péssima.

– Garota, pare com isso! – disse Zabini. – Vem, senta aqui. – o moreno me puxou pelo braço até o sofá. Uma troca de olhares louco com Pansy e os dois se sentaram de frente para mim.

– Vai, começa a falar. – disse o garoto.

– Mas... não. Ficou doido? Porque eu falaria qualquer coisa para você? – respondi fracamente, o rosto ainda manchado de lágrimas.

– Porque não vai fazer a menor diferença. Draco vai nos contar... mas talvez eu e Pansy possamos ajudar.

– Como? – perguntei.

– Bom, ai você quer de mais. Como que eu vou saber no que posso ajudar se você ainda não nos contou o que houve?

Pensei por alguns segundos. Eu já estava no auge da minha loucura, mais essa não iria fazer muita diferença mesmo.

– Bem... – contei aos dois como estava me sentido já há algumas semanas, como Ron estava agindo e sobre o que havia acontecido alguns minutos atrás no corredor da biblioteca. Devo admitir, Parkinson e Zabini são excelentes ouvintes. Mas a cara deles não era das melhores. Terminei e voltei a soluçar.

– Uou. – disse Zabini. – Complicado. Sempre esqueço como os grifinórios são sentimentais... hehe.

– Ora, cale a boca Zabini. – disse Pansy. – Granger, escute: o que você fez não foi cem por cento legal, você sabe disso. E Draco é homem. E orgulhoso. E sonserino. Tem noção de como o ego dele deve estar? Mas... não é o fim do mundo ok? Agora me diga uma coisa: você gosta do Ron?

Fitei a morena e de repente me senti uma vadia insensivel. Não fazia nem duas semanas que Ron e Pansy haviam terminado. Argh eu me odeio.

– Pansy eu... vocês não precisam fazer isso. Me desculpem. Acho que perdi a noção do-

– Hermione, para com isso. – devolveu Pansy. – Eu não ligo. Se Ron não gosta de mim, vou achar quem goste, de verdade. Agora: você está lidando com duas pessoas que eu gosto. Vamos ter certeza de que pelo menos uma delas estará feliz. Agora responda minha pergunta.

– Eu não sei. O problema é esse... eu não-

Nesse momento o retrato se abriu novamente, revelando a pessoa que eu ainda não estava preparada para ver.

Draco ficou estático, nos encarando, enquanto nós, estáticos fitavamos sua face.

Tomei coragem e me levantei.

– Draco, me escuta.

– Eu já escutei Hermione. Você “não sabe”. – respondeu ele friamente.

– Draco...

– Isso é mais dificil pra mim do que para você. Pode ter certeza. Você tem noção do que eu senti, quando vi a única garota que eu já gostei de verdade, a minha namorada, beijando outro? Você quebrou todas as minhas expectativas, você me decepcionou de tal maneira... porque você é Hermione Granger, a garota corajosa, leal e verdadeira que salvou o mundo bruxo. Essa garota não poderia me trair. Pela segunda vez ainda! Meu Merlin! Da primeira, todos nós fingimos que nada havia acontecido. Mas nem um cego poderia discordar agora.

Nesse momento eu soluçava tanto que pensei que chegaria a desmaiar. Doeu. Doeu muito ouvir tudo aquilo dele.

– Draco...

– Conversamos mais tarde Hermione. No momento, em que você decidir o que você quer da sua vida.

Olhei fundo nos olhos dele e vi que ele estava falando sério.

– Você terá que escolher Hermione. E uma vez feita essa escolha, não voltará atrás. Se decida de uma vez: você quer a mim ou ao Weasley?