POV Crystal

            Há uma semana que eu e Seth não nos falamos, ou melhor eu recusava-me a falar-lhe e a ouvi-lo. Eu estava deveras magoada com ele.

            Tudo bem que era uma imposição da sua tribo, mas se ele me amava assim tanto, ele devia pelo menos lutar um pouco por nós.

            Depois ele ter-me aceitado sendo um ser que é inimigo mortal dele, achei que ele faria de tudo para ficarmos juntos…mas o que eu podia fazer?

            Com tudo isto, eu e Paul tornámo-nos grandes amigos.

            Sabem o Paul é alguém totalmente diferente quando está comigo. Quando ele está acompanhado de outros ele pode até ser um imbecil, mas comigo, ele é um cavalheiro. Quer dizer, às vezes ele tem uns ataquezinhos e manda umas bocas na brincadeira.

            Tinhamos combinado ir dar um passeio de “despedida”, porque no dia seguinte ia começar a viagem pela Europa.

            - Crystal – ouvi-o chamar.

            - Já desço.

            Peguei no meu blazer e na minha mala. Também ia levar a máquina fotográfica e obrigaria Paul a tirar fotos comigo. Ele detestava fotos, mas ele tinha-me prometido tirar algumas comigo antes de eu viajar e eu sabia que ele pensava que eu me tinha esquecido…

            Desci as escadas a correr.

            Eu estava ansiosa por este passeio, apesar de viver nos subúrbios de Londres há algum tempo, nunca tinha visitado a cidade na qualidade de turista.

            - Vamos? – perguntei a Paul.,

            Ele sorriu para mim em sinal de aprovação e pegou-me na mão, como sempre fazia, mas não existia ali nenhum constrangimento, aquilo de eles serem o que a sua impressão precisa é verdade. Naquele momento eu precisava de um amigo e era isso que ele era.

            Disse adeus a Rose e a Esme, que estavam na sala e fomos embora.

            Fomos primeiro ao Big Ben onde Paul me tirou algumas fotos e onde eu obriguei a tirar algumas comigo, pedindo a um senhor que lá passava para nos fotografar.

            Depois fomos para um café onde ele comeu uma tosta e bebeu um sumo.

            Eu estava a observá-lo a comer, até que ele parou e me perguntou:

            - Estás ansiosa?

            Sorri-lhe e respondi:

            - Mais ou menos, esta viagem sempre foi uma coisa que eu quis fazer.

            Ele olhou-me durante um pouco, penso que a estudar-me, ele era muito bom observador, até que ganhou coragem para falar.

            - Tens a certeza que queres ir sozinha? Podias levar Rose ou Jasper, não sei… - ele olhou-me nos olhos – só acho que não devias ir sozinha…

            - Não precisas de te preocupar, eu sou uma vampira, sei-me defender, e além disso o máximo que me pode acontecer é algum dos meus guias dar para cima de mim.

            Eu disse aquilo para o provocar e resultou, kkk, ele soltou um rosnado indignado. Eu ri-me e ele ficou amuado.

            Era mesmo hilariante ver Paul cheio de ciúmes.

            Ao ver que eu me ria, ele percebeu que estava a ser idiota e acabou por se juntar a mim com uma gargalhada.

            Eu e ele só nos tínhamos aproximado há pouco tempo, mas já tínhamos uma relação forte, mesmo não sendo namorados.

            - E já sabes qual vai ser o roteiro da viagem? – ele perguntou, notava-se que estava interessado e não só a fazer conversa.

            - É assim, eu tive de escolher alguns países para visitar, porque parecendo que não, a Europa é bem grande. Então vou começar pela Alemanha, em seguida vou à Bélgica, depois vou à Suiça, França, Espanha, Portugal, Itália e Grécia.

            Ele estava muito concentrado, penso que devia estar a localizar os países que referi mentalmente.

            - E porque é que escolheste esses?

            Sorri-lhe, ele andava o tempo todo a tentar conhecer-me melhor, sempre a fazer este tipo de perguntas. Eu nem me importava, só demonstrava que ele se importava comigo.

            - Bem eu sempre quis visitar Berlim, na Bélgica está o parlamento europeu, Suiça tem os Alpes, Paris é a cidade do amor e da moda, Espanha e Portugal pelas culturas, monumentos e praias, Itália por Milão que é a capital da moda, por Florença e Veneza pela arte, e a Grécia por causa da história.

            - Humm, ok. Depois não te esqueças de dar notícias com frequência…

            Ri-me, ele ainda estava de pé atrás em relação a deixar-me ir sozinha, mas via-se que já estava a aceitar um pouco mais.

            Passámos o resto da manhã e da tarde a passear.

            Durante a viagem de carro para casa, viemos a conversar animadamente sobre o dia que tínhamos passado.

            - Lembraste quando eu vinha a correr atrás de ti e te agarrei de repente e a aquela velhinha me chamou de cafageste???kkkkkkkk.

            - Aahahhahahah, foi mesmo giro, mas gostei mais de quando ela te tentou bater com a mala, ahahahahahaha.

            Vínhamos a falar e a rir abraçados quando entrámos pela porta. Ao entrarmos reparámos que toda a gente se calou e baixou o olhar.

            Olhei para todos e reparei que havia alguém a olhar para mim com mágoa patente nos olhos, Seth.

            Não percebi aquele olhar de Seth, afinal foi ele que criou esta situação, foi ele que escolheu.

            O dia estava a ser tão bom, porque é que decidiram todos fazer fita agora?!

            - O que é que se passa, podem-me explicar? – perguntei irritada.

            Seth levantou-se e foi-se embora. Ele estava muito tenso, notava-se pela sua postura corporal.

            Eu afastei-me de Paul e aproximei-me do resto das pessoas que estavam na sala: Carlisle, Esme, Rose, Emmett, Alice, Jasper, Edward, Bella, Jake e Renesmee.

            Bella levantou-se e veio ter comigo.

            - Olha, minha fedelha, tu nem penses que vais andar a brincar com os sentimentos de Seth deste modo! Acabas com ele e atiras-te logo a Paul à frente dele. Mas eu não vou deixar que o magoes, ai não, não! Ele é meu amigo e eu devo-lhe muito. E nem que eu tenha de te dar a educação que te falta, mas uma coisa eu te garanto, não vais magoá-lo mais!

            Bati palmas no fim do discurso dela. Sabem quando uma pessoa consegue chegar a ter graça, quando tenta ensinar moral, sem ter nenhuma?

            Quando cheguei àquela família foi me ensinado que existiam assuntos intocáveis, mas eu não me consegui controlar naquela altura.

            - Bravo, Isabella! Não percebo, juro mesmo que não percebo, como é que andaste a comer o Edward e o Jacob ao mesmo tempo. Se estás assim tão carregadinha de moral…não consigo mesmo perceber… Ah, e eu não sou como tu. Só porque Seth não me escolheu, não quer dizer que eu vá andar por aí feita morta viva, nem me vou tentar matar. Não, eu não me chamo Isabella Swan. E queres saber? Ainda bem!

            Bella ficou especada a olhar para mim de boca aberta, até que se fartou e, muito enervada, saiu da sala.

            Olhei à minha volta e vi que toda a gente estava a olhar para mim chocada. Vi desilusão em vários rostos.

            Então, foram todos saindo, até ficarem só Rose, Jasper e Paul.

            Jasper virou-se para Paul e, como um gesto muito subtil, acenou-lhe para ir com ele, então ambos saíram e deixaram-me a mim e a Rose sozinhas.

            Ela andou na minha direcção e eu abracei-me a ele e chorei. Chorei pela minha vida humana que me foi tirada, chorei pela desilusão que Seth me trouxe, chorei pela confusão de sentimentos que Paul me provocou, chorei por ter desiludido toda a gente ao tocar num dos assuntos intocáveis… Chorei por tudo que me vinha a consumir a alma durante todo este tempo.

            No dia seguinte, iria viajar e toda a gente estava desiludida comigo.

            - Rose, todos estão tão desiludidos comigo…- disse-lhe no meio do choro.

            Ela acariciou-me os cabelos e disse:

            - As pessoas não ficam desiludidas connosco, quando cometemos uma loucura por amor, por isso também não deviam ficar desiludidas quando cometemos uma loucura por estarmos magoados pelo amor. – e deu-me um beijo na testa, naquele modo maternal dela – Nunca te julgarei, eu própria cometi as minhas loucuras.

            Sim, eu sabia a que loucura a que ela se referia, a sua vingança, mas ela não tinha magoado toda a sua família.

            Depois de algum tempo, quando deixei de ter lágrimas e comecei a chorar em seco, ele levou-me para o meu quarto e deitou-me na cama.

            - Dorme minha princesinha, amanhã começas a tua viagem e precisas de estar cheia de forças.

            Ela aconchegou-me as roupas da cama e deu-me um beijo de boa noite na testa.

            No dia seguinte, começaria a minha viagem e eu teria tempo para pensar em toda a minha vida com clareza e calma, ou então poderia simplesmente ignorá-la e aproveitar ao máximo a viagem. A segunda ideia parecia-me bem melhor.

            De repente ouvi a porta a abrir e Rose entrou sorridente.

            - Se ajudar, eu sempre lhe quis dizer aquilo.

            E saiu a rir-se maquiavélicamente e eu tive de me rir, também.

            Apesar de tudo o que eu tinha feito e pudesse vir a fazer, eu sabia que tinha sempre alguém comigo, para me ajudar.