Antes das Seis escrita por Moony


Capítulo 7
Briga




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Sendo assim, em poucos dias estávamos mais uma vez nos preparando para seguir um Remus transformado pelos terrenos de Hogwarts. Eu não sabia exatamente como ele se sentia estando, literalmente, na pele de um lobo agressivo, mas naquela primeira noite em particular, Remus parecia mais um lobo melancólico do que qualquer outra coisa. Podia ter sido apenas a minha imaginação fértil, mas eu tinha quase certeza de que ele estava uivando mais que o normal.

 

Seja por coincidência ou não, foi também o dia em que ele mais demorou a acordar na ala hospitalar. Fiquei lá a noite inteira, sentado ao lado da cama, depois de vencer James pelo cansaço e Madame Pomfrey pela habilidade de me esgueirar para lugares onde não deveria estar.

 

Em algum momento da minha vigília, acabei adormecendo. Senti, não sei quanto tempo depois, umas cutucadas no meu braço e acordei. Já estava quase de manhã e, na fraca luz que entrava pelas cortinas da ala hospitalar, vi que Remus estava preocupado.

 

“O que foi?”, eu perguntei, bocejando.

 

“O que foi isso?”, ele perguntou, apontando pro meu braço. Sem entender muito bem, olhei o lugar onde ele apontava e percebi que era um arranhão não muito discreto, mas também não muito profundo.

 

“Ah, isso. É só um arranhão.”, falei, despreocupado, mas ele ainda me olhava. “Me arranhei num tronco de árvore, Moony.”

 

“Tem certeza? Não fui eu?”

 

“Claro que tenho. Você acha que se eu estivesse prestes a me transformar em lobisomem estaria nessa calma toda? É impossível andar por aquela floresta sem arrebentar um pouco.”

 

Com isso ele pareceu se acalmar um pouco e voltou a se deitar, mexendo de vez em quando numa dobrinha do lençol.

 

“Madame Pomfrey te deixou ficar aqui?”, perguntou algum tempo depois, desconfiado.

 

“Bom, não exatamente... Mas isso não é um problema.”

 

“Ah, claro.”

 

“Eu vou embora antes que ela perceba que estive aqui. Afinal, eu tinha que me certificar que você estava bem, né?”

 

“Mas se eu estou na ala hospitalar, sendo bem tratado, não tem com o quê se preocupar. Tem aula daqui a algumas horas e você nem dormiu direito.”

 

“Você não está sendo bem tratado até que eu decida que está”, respondi, deixando Remus um pouquinho alarmado. “A próxima aula é o quê? Poções? Eu não gosto da matéria mesmo. Slughorn adora me lembrar que todos os Black foram sonserinos. Menos eu.”

 

“Ah, é? E o que você pensa que vai fazer? Dormir quando deveria estar na aula?”

 

“Moony, Moony, você é um gênio.”

 

“Nem pensar. Sai daqui e vai dormir. Depois, você vai pra aula de Poções.”

 

“Ah, vou?”

 

“É claro que vai.”

 

“Posso saber por quê?” Às vezes era impossível resistir à tentação de ver até onde Remus vai para nos tornar caras responsáveis.

 

“Porque, se você não for, vai ficar ouvindo minha voz no seu ouvido te dizendo como você é irresponsável. Em outras palavras, você vai se sentir culpado.”

 

A parte do “você vai ficar ouvindo minha voz no seu ouvido” até que não era tão ruim. Tomei a sábia decisão de guardar esse pensamento pra mim mesmo.

 

“Eu não vou me sentir culpado.”

 

“Veremos.”

 

Depois dessa nota enigmática, ouvimos um barulhinho vindo da sala de Pomfrey. Talvez fosse melhor ir embora, antes que eu me encrencasse. Soltando um último olhar a Remus pra me certificar de que ele estava mais corado e saudável, saí discretamente de lá e segui para a sala comunal da Grifinória, recebendo um olhar incriminador da Mulher Gorda por estar chegando tão tarde (ou tão cedo, dependendo do ponto de vista).

 

Quando me joguei na minha cama, pretendia passar as próximas oito horas dormindo profundamente, mas James acabou com os meus objetivos quando resolveu me chamar para a aula do Slughorn. Ótimo.

 

“Eu não quero ir.” , resmunguei.

 

“E por que não?”, James perguntou, distraído, dando umas cutucadas no Mapa do Maroto enquanto andávamos até as masmorras.

 

“Porque o Remus disse que se eu não for, vou me sentir culpado. Quero provar pra ele que eu não vou me sentir culpado por perder uma aula estúpida de Poções.”

 

“Oh, sim. Desconfiei que fosse mesmo um desses seus motivos super maduros.”

 

“Não enche. O que você tanto procura aí?”

 

“Quero saber se a Lily está com o Snape.”

 

O quê?”

 

“Eles eram meio que... sei lá, amigos, não eram? Vai ver ele está fazendo a cabeça dela. Por isso ela ainda não percebeu que me ama, entende?”

 

Ok, Prongs estava realmente ficando muito estranho.

 

“Cara, não me leve a mal, mas você está ultrapassando todos os limites do aceitável.”

 

“Não enche.”

 

“É sério.”, continuei, parando em frente a James e o fazendo parar também. “Prongs, ela não te ama. Evans te acha um cara insuportável e arrogante. Conforme-se. Não adianta tentar conquistar a garota pensando que ela já gosta de você por algum motivo. Comece do zero. Ela não te quer e você tem que fazê-la querer. Melhor do que imaginar coisas.”

 

James ficou parado com a boca ligeiramente aberta e as sobrancelhas franzidas por alguns segundos.

 

“Olha...”, ele reagiu, finalmente. “Eu não quero acreditar que estou recebendo conselhos amorosos de um cara que não passa mais de uma semana com uma garota de cada vez.”

 

“Você não quer é ouvir a verdade. Ela não gosta de você. E não vai cair no teu colo só porque você passa na frente dela desarrumando o cabelo ou só porque você ganhou um jogo de quadribol. Até eu sei que pra fazer alguém gostar de você de verdade, tem que parar de olhar só pro próprio umbigo.”

 

Quando terminei de falar, passamos mais alguns segundos nos encarando. James era mais baixo, mas os cabelos serviam pra lhe dar um ar mais ameaçador. Finalmente, quando achei que já tinha se passado uma eternidade, ouvimos vozes, mas não desviamos o olhar.

 

Evans e uma garota da Corvinal vinham conversando e estancaram quando nos viram. Os olhares delas pareciam ir de mim para James e então voltar e refazer o mesmo trajeto, vezes o suficiente para perceber que algo estava errado.

 

“Vamos entrar, Juliette”, Evans falou, empurrando delicadamente a amiga. James e eu nos recompomos e entramos também.

 

Montamos nossos caldeirões lado a lado, como de costume, mas nenhuma palavra foi trocada. Eu não ia voltar atrás no que tinha dito, afinal, era a mais pura verdade. Logo, não estava fazendo nada errado.

 

Quase caí dentro do caldeirão de tanto sono e recebi uma torcida reprovadora de bigodes de Slughorn quando ele viu que a minha poção estava ligeiramente parecida com lama borbulhante.

 

“Oh, credo, Black. Isso está realmente horrível.”

 

“É o que parece.”

 

A sineta tocou antes que ele respondesse, e com um aceno de varinha a minha poção desastrosa desapareceu. James também não tinha tido um desempenho melhor, mas o professor deu gritinhos de prazer ao olhar para o caldeirão de Lily Evans e, algum tempo antes de passar pelo meu, o de Snape. Grande coisa.

 

O almoço também passou sem palavras entre mim e James. Peter olhava pra nós como se estivesse com medo de se aproximar, talvez achando que ia acontecer alguma explosão se o fizesse. Quando terminei, simplesmente levantei e fui até a enfermaria. Sabia que eles iriam também, e logo, então resolvi aproveitar uns dez minutos sozinho com Remus.

 

“Como assim brigou com o James?”, ele perguntou.

 

“Não foi bem uma briga. Eu só disse umas verdades pra ele.”

 

“Que tipo de verdades, Sirius Black?”, ele continuou, no mesmo tom inquisidor.

 

“Ora, eu só disse que ele não podia esperar que a Lily Evans se apaixonasse por ele só porque ele desarruma o cabelo e coisa e tal. Que tinha de fazer alguma coisa de fato e não ficar nessa de achar que ela só tá se fazendo de difícil. Falei alguma mentira?”

 

“Bom, não... Mas você feriu o orgulho dele. Você sabe que o ego do James só perde pro seu.”

 

“Eu sou controlado, tá? E sei do que as garotas gostam.”, nessa parte, ele levantou uma sobrancelha. Resolvi ignorar.

 

“Do jeito que vocês dois são... Vão acabar passando um tempão sem se falar.”

 

“Muito animador. Obrigado.”

 

“Pede desculpas a ele.”

 

“O quê? Eu não fiz nada de errado!”

 

“Mas a questão não é se você está ou não está errado. É uma questão de convivência. Se os dois são cabeça-dura o bastante pra não se falarem por isso, então alguém tem que dar o primeiro passo, não?”

 

“Olha, Moony, faz só duas horas e meia que a gente não se fala. Daqui a pouco ele vai sentir minha falta.”

 

“Oh, claro. Acredite no que quiser.”

 

“É sim. E isso é só mais um prova do que essa garota está fazendo com ele.”

 

“Eu não tenho que ouvir isso de novo, Sirius...”

 

Nesse momento, James e Peter chegaram para ver com Remus estava. E logo estávamos sendo expulsos por Madame Pomfrey, que alegava que tínhamos aulas para nos preocupar também. E não, James não voltou a falar comigo por livre e espontânea vontade nas próximas horas daquele dia.

 

- x -

 

No dia seguinte, Moony continuava lá, na mesma cama, depois de mais uma noite de transformação. Apesar de toda aquela aparência frágil e pálida, Remus era o mais forte de nós. Passar por aquilo todo mês não é pra qualquer um.

 

“Eu não acredito que vocês ainda não se falaram.”

 

“Fica quieto. Você tem que descansar.”, reclamei, assustado com a sua voz fraca.

 

“Eu tô bem. Vocês é que são uns idiotas.”

 

“Ei... e nós?”, disparei, de repente.

 

“Nós o quê?”

 

“Você sabe. Do que a gente conversou. Em Hogsmeade.”, expliquei, cautelosamente.

 

“Ah... isso.”, ele sussurrou, voltando sua atenção para as unhas.

 

“Pois é. E aí, já digeriu tudo? Faz séculos que a gente conversou.”

 

“Séculos, é?”, ele reclamou, com um vestígio de sorriso. “Foram só alguns dias.”

 

“Ora, mas já deu pra pensar em alguma coisa, não deu?”

 

“Padfoot, eu não sei se você percebeu, mas eu estive ligeiramente ocupado com meus compromissos lunares.”

 

“Bom, mas esse não é exatamente o tipo de assunto que você pode esquecer e deixar pra outro dia, não é? Vai dizer que não pensou em absolutamente nada?”

 

“Ah, Sirius... não fique falando como se fosse fácil pra mim.”

 

“Eu sei que não é. Mas veja o meu lado: eu não quero esperar muito pra saber.”

 

“saber o quê, exatamente?”

 

“Se você quer ficar comigo, oras.”

 

“Hã?”, ele se assustou, dando um pequeno pulo na cama. “Há cinco minutos você queria que eu pensasse no assunto, e agora já quer isso?”

 

“Ora, é o resultado natural das coisas, não? Eu gosto de você, você gosta de mim, nós ficamos juntos e ficamos felizes. Simples.”

 

“Simples, não é? Vem cá, Sirius... Você por acaso já esteve com algum cara antes?”

 

“Oh... bem... não.”

 

“Viu só! Você não sabe onde está pisando. E eu muito menos. Não é simples.”

 

Com isso, ele se virou e apagou o abajur da mesinha de cabeceira. Era minha vez de ficar olhando pras minhas unhas.

 

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Notas finais do capítulo

N.A.: AEEEE!! Eu sei, foi realmente MUITO tempo sem atualizar esta fic, mas eu realmente não desisti dela. Acontece que nos últimos meses eu tive dificuldades até para atualizar as originais, então acabei deixando esta de lado e o capítulo empacou. Mas, nessas férias, eu resolvi reler os dois últimos Harry Potter, e fui assistir o filme, claro, e acabei ficando com uma saudade enorme dos Marotos. Então, aí está, mas um capítulo de Antes das Seis. Eu confesso que planejava que ela tivesse apenas seis capítulos, mas vi que isso é impossível. Ah, e eu sei, é meio angustiante este Remus indeciso, mas... Tentem ver o lado dele; é uma situação difícil... Ah, e obrigado a Raito Tsukishiro, que recomendou a fic :D Desculpem a demora em responder os comentários... Mas eu respondo, ok? É que realmente entrei muito pouco no Nyah ultimamente.

Btw, publiquei aqui uma oneshot Sirius/Remus antiga, chamada Os Outros. Se quiserem ler, está lá no meu profile (óbvio) :D

Até mais.



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