Eu estava sentada admirando o Lago da Lula Gigante. O sol estava se pondo e eu podia escutar o canto dos passarinhos ficar mais calmo. Recostei-me em uma árvore bem grande que havia ali. Acho que era um dos meus lugares preferidos de Hogwarts.

Estava quase apagando quando escutei uma voz. É, eu conhecia muito bem aquela voz.

– O que faz aqui, Granger?

– Vejo que voltamos a nos tratar pelos sobrenomes – constatei, ainda de olhos fechados.

– Me desculpe Hermione – ele deu ênfase ao meu nome – vai ser meio difícil de acostumar. Velhos hábitos, sabe?

Confirmei com a cabeça e esboçei um sorriso tímido. Foi então eu senti um vento gelado batendo forte contra mim. Um arrepio percorreu minha espinha e eu tive calafrios de cima a baixo.

- Nossa, está ficando frio – passei minhas mãos em meus braços na tentativa de aquecê-los.

– Eu posso ajudar a te esquentar – disse Draco, sentando-se ao meu lado e me acolhendo em seus braços enquanto eu dava um sorriso irônico.

Ajudar a me esquentar? Tudo bem, isso era estranho, mas gostoso de ouvir.

– Obrigada – disse como um sussurro a ele, apoiando minha cabeça em seu ombro, sentindo aquele seu cheiro.

Em nenhum lugar eu me sentia segura desse jeito. Mesmo com o vento forte, as folhas das árvores farfalhando e o lago se agitando um pouco, tudo parecia tão calmo e fresco como uma gota de chuva.

Comecei então a lembrar no que havia pensado antes de dormir: isso iria ficar uma completa loucura quando todos soubessem que eu e Draco estávamos juntos.

– Draco, - eu o chamei, levantando a cabeça do seu ombro - Você tem certeza...

- O quê? - ele perguntou com um meio riso ultrapassando seus lábios.

- É que... Você tem certeza...? Digo...

Por que será que algumas palavras são perfeitamente aceitáveis dentro da nossa cabeça e completamente ridículas quando articuladas? Senti meu rosto corar depois de ouvir minha declaração adolescente e insegura.

- Adoro quando se atrapalha. Principalmente depois de uma situação em que você acredita ter se mostrado vulnerável.

- Você gosta de coisas estranhas. Tantas coisas melhores ao meu respeito e você foi se apaixonar bem pelo meu lado imbecil?

Sem controlar a gargalhada ele me apertou contra o peito e me beijou.

- Gosto de tudo em você e não vou a lugar algum. Quero você por perto.

Eu o olhei, meio admirada e meio insegura, como se borboletas estivessem tendo uma aula de voo dentro do meu estômago.

- Quer mesmo que todos fiquem sabendo de nós? - perguntei.

Ele me olhou de um jeito tão profundo e sincero que acho que eu nem precisaria de uma resposta. Segurou meu rosto com suas mãos e foi se aproximando ainda mais de mim até que...

– Hermione, acorda sua preguiçosa! Vamos perder o café da manhã sua castanha sonolenta! – Escutei Gina dizendo enquanto fazia questão de jogar um travesseiro na minha cara.

Reprimi meu instinto de lhe dizer algumas palavras pouco educadas e abri meus olhos, deixando que a claridade do quarto me cegasse por completo.

– Gina, como você é delicada – me sentei na cama e passei as mãos em meus olhos para melhorar a visão – Muitos diriam: Acorde Hermione. Vamos minha querida amiga, se não iremos perder a hora do café. Mas não, você é especial demais pra isso – Confessei e caí na gargalhada.

– Exatamente – concordou a ruiva, se sentando em minha cama e dando um empurrãozinho em meu ombro – Agora vá se trocar, porque só temos mais 45 minutos pra chegarmos a tempo.

– Tudo bem – falei enquanto me levantava e escolhia uma roupa – Vou estar pronta em cinco minutos, me espere pra descer, certo?

– Certo, mas não demore – disse ela penteando os cabelos lisos brilhantes.

Entrei no banheiro, fiz minha higiene pessoal, prendi os cabelos, tomei um banho rápido e me vesti. Voltei ao dormitório e vi que Gina ainda estava se maquiando.

– Como se você precisasse de tanta maquiagem assim, Gina – parei atrás dela, podendo ver nosso reflexo no espelho da penteadeira.

– Sempre é possível melhorar Hermione, fique sabendo disso – falou ela, apontando um pincel de blush em minha direção.

– Ah, claro - eu desviei da mira daquela arma mortal de corar bochechas - Agora , será que a guru de maquiagens e eu podemos ir tomar café?

Eu disse aquilo com tom de sarcasmo, o que chegou a me surpreender. Eu não era sarcástica. Só podia estar aprendendo isso com o Draco .

– Podemos sim. Hermione, qualquer dia você não quer ser minha modelo? Posso te maquiar agora? – ela ficou animadinha de uma hora para outra.

– Gina, para com isso – eu tentei conter um sorriso e uma risada ao mesmo tempo – Não era você que não queria se atrasar para o café?

– Mas agora eu tenho um motivo importante – ela fez um olhar de cachorrinho que caiu da mudança – Vai Mione, deixa.

– Gina, agora não dá. Vamos pro Salão Principal e talvez depois eu deixe você brincar de boneca comigo.

Ela não se deu por vencida tão cedo. Tive que sair puxando Gina pela escada e pelos corredores até chegamos ao Salão Principal. Como sempre, sentamo-nos à mesa da Grifinória. Ron estava lá, e eu tentei ignora-lo.

Acabei ficando entre Harry e Gina e de frente pra Ron. Merlin, você me odeia. Só que saber de dificultar as coisas pro meu lado!

Ele - não Mérlin, o Ron -, estava com a boca cheia de torrada com ovos mexidos e lia um exemplar do Profeta Diário. Como não tinha outro plano a não ser fingir que ele nem estava lá, comecei a comer meu cereal quanto notei que Gina olhava pra mesa da Sonserina.

– Mione, ele não para de te olhar – sussurrou ela em meu ouvido.

Eu ia me virar quando Gina me puxou de volta.

– Não agora, ia ficar muito óbvio – ela disse alto e, droga, eu já senti o que estava por vir.

– Óbvio o que, Hermione? – perguntou Ron, fazendo o olhar de Harry, Neville, Simas e Dino ir direto pra mim.

– É – OK, eu ia começar a gaguejar e todo mundo iria perceber que qualquer coisa que eu dissesse seria mentira – Bem... eu...

– Iria ficar muito óbvio que a senha da Grifinória deveria ser outra – disse Gina e eu agradeci internamente por isso – Diabretes azuis? Mais que diabo de senha é essa?

Gina sabia mentir muito bem. Ela falou aquilo de um jeito tão confiante que eu até cheguei a me perguntar se era esse mesmo o nosso assunto. Acho que eu não soubesse que era mentira, acreditaria nela.

– Alguém falou em Diabretes? – Luna surgiu logo atrás de mim e de Gina – Vocês sabiam que eles podem mudar de cor conforme o humor?

Se tinha uma coisa que eu adorava em Luna era aquele tom sonhador em sua voz e também o seu dom de fazer a conversa mudar de rumo de uma hora para outra. Eu a agradeci mentalmente várias e várias vezes.

– Oh, pudim! – a loira exclamou, e então ela se sentou com a gente.

Aproveitei que não era mais o centro das atenções e olhei discretamente pra mesa da Sonserina. Gina estava certa, Draco ainda não tinha parado de me olhar. Ele se certificou de que ninguém estava o vendo antes de piscar pra mim. Sorriu e recebeu um sorriso meu em troca.

– Gente, eu vou dar uma volta. Depois nos falamos – avisei enquanto me levantava e fazia um sinal com a cabeça pra que Draco me seguisse para fora do salão.

– Tudo bem Mi, nos vemos depois – disseram Gina e Luna antes de eu dar uns passos em direção à saída.

– Hermione – gritou Ron, correndo para me alcançar – Nós precisamos conversar – falou o ruivo um pouco ofegante.

Eu fiquei o olhando, me sentindo péssima. Tinha certeza que Draco estava me vendo, e isso me deixava um pouco apreensiva.

– Olha, me desculpa tá? - continuou o Ron - Eu fui um idiota ontem à noite e... Será que podemos ir para um lugar mais reservado, eu não quero que todo mundo escute a nossa conversa – pediu ele, olhando para um grupo de meninas que prestavam atenção na gente.

Droga. Eu ainda iria me dar muito mal por não saber dizer não!

– Tudo bem Ron.

Ele pegou na minha mão e fui me conduzindo para fora do salão. Olhei para trás e Draco estava com um olhar confuso. Tudo o que eu consegui dizer foi “não é nada demais, depois nos falamos” de um jeito mudo, apenas gesticulando com os lábios, para que Ron não escutasse.

Tomara que Draco tenha entendido.

E lá estava eu, de mãos dadas com o Ron, indo para um corredor deserto, somente eu e ele. Se isso fosse há um dia atrás, eu estaria dando gritinhos de felicidade por dentro, mas agora não.

Tudo bem que eu e Draco só tivemos aqueles momentos ontem à noite, mas me sentia como se estivesse o traindo apenas de ir para um lugar afastado com Ron. Sozinha. Apenas eu e ele. Algo com certeza não estava certo. Talvez não só algo.

– Hermione – disse Ron, parando em minha frente.

Estávamos tão próximos que eu senti que mais um passo na sua direção seria considerado um crime terrível.

– Eu fui um tremendo idiota e entendo se não quiser me perdoar. Eu só sei estragar tudo. Por favor, me desculpe. – continuou ele, desta vez passando uma de suas mãos em meu rosto e olhando diretamente para a minha boca.

Ele ia se aproximando mais e mais até que eu fui colocada contra a parede. Oh Merlin, o que eu faço agora?