POV Fred Weasley

Hermione acabou dormindo abraçada comigo. O que deu nela hoje? Nunca que eu poderia imaginar que acabaria por beijar Hermione Granger. Parecia ser tudo tão surreal. Ela me lembrava um bebê. Estava agarrada a mim e seu rosto tinha uma expressão serena. Um vento gelado soprou e ela se aninhou ainda mais em meus braços. Aquilo era no mínimo estranho, mas então por que eu me sentia tão bem ali?

Decidi avisar a todos que iria voltar para o castelo, afinal já era tarde e estava ficando frio.

Adentrei a casa com Hermione em meus braços e vi o estado de todos. A maioria estava no chão, que era coberto de almofadas e travesseiros macios. Draco estava desacordado em um canto, Dino beijava Cho Chang perto da janela, Lilá, junto de Padma e Parvati conversavam deitadas, olhando para o teto. Astória ajudava Harry a vestir a camisa enquanto todos os outros ainda estavam em uma rodinha no chão. Ron e Pansy estavam de mãos dadas, Neville conversava animadamente com Gina e Simas, Blaise continuava bebendo, até que Luna tirou a garrafa da mão dele e saiu correndo. Lino e Jorge estavam sentados no sofá e me olhavam de um jeito malicioso. Hermione estava no meu colo.

– E aí Fredelícia – Lino foi o primeiro a abrir a boca – A Granger não resistiu ao seu encanto?

– Sabe como é, eu sou o mais bonito – disse sorrindo.

– É nada, eu que sou – Jorge se intrometeu – Eu sempre fui o mais bonito.

– Que diferença faz? Vocês são a cópia um do outro – Lino disse farto, jogando a cabeça para trás como se estivesse cheio daquilo.

– Sério, agora chega de gracinhas. Precisamos voltar para o castelo. E o pior, vamos ter que entrar escondidos, já passa da meia noite – disse aos dois.

– Certo, mas o que aconteceu lá fora, Fred? – Jorge perguntou.

– Quer saber dos detalhes, Jorginho? – Lino levantou uma sobrancelha só e fez uma cara estranha, como se tivesse tentando ser sedutor.

– Não aconteceu nada – disse e eles me olharam torto – Ela saiu daqui chorando, e quando fui até lá, ela parecia pior. Dei um abraço nela, e ela acabou dormindo agarrada em mim – expliquei o mais resumido possível, porque parece que nasci com um gêmeo menos capacitado e um amigo meio mongol.

– Sei – os dois disseram ao mesmo tempo, como se duvidassem de mim. E espera, as frases sincronizadas são minhas e do Jorge.

– Lino, você tá roubando meu lugar. Sou eu que falo junto com o Jorge.

– Isso muda quando você nos deixa pra ir lá beijar a Mione – Lino disse e Jorge riu.

– Hey, eu só beijei ela uma vez, e foi por causa daquele jogo.

– Aham – eles fizeram de novo. Perdi meu emprego.

– E a Cátia, Lino? – disse devolvendo na mesma moeda.

– Já foi embora com Romilda. Faz mais ou menos uma hora que saíram – Jorge falou.

– Por acaso você se chama Lino? – Lino perguntou a Jorge.

– Sim. E mais uma coisa, eu amo a Cátia – Jorge disse imitando a voz de Lino e eu comecei a rir. Até tinha esquecido que ainda carregava Hermione. Ela se mexeu um pouco inquieta. Lino e Jorge abafaram risadas.

– Vamos logo? Devem ter pessoas nos procurando nesse momento – disse um pouco preocupado.

– Certo – Jorge confirmou – Acho melhor irmos pessoal. Vamos ter de dar um jeito de entrar no castelo sem sermos vistos.

– Podemos usar a passagem da Dedos de Mel. Entramos pelo porão da loja e chegamos a Hogwarts – Harry deu a ideia.

– Pensei na mesma coisa – eu e Jorge dissemos ao mesmo tempo.

– Então vamos. Temos que dar um jeito de entrar lá ainda – Lino disse já se dirigindo pra saída.

– Espere. Quem vai levar o Draco? Ele apagou já tem um tempo – Blaise apontava para o loiro atirado em um canto.

– Você e Ron levam ele até lá – disse ao Blaise.

– Por que eu? – Ron perguntou ao lado de Pansy.

– Porque você é ruivo – disse tentando achar uma desculpa.

– Você também é – ele rebateu.

– Mas eu já to levando a Mione.

– Então pede pro Jorge – Ron continuou.

– Jorge vai na frente. Ele já tem mais experiência na passagem secreta – disse e Ron desistiu.

– Tá – disse puxando Blaise par ajuda-lo. O moreno estava levemente bêbado. Então cambaleava de um lado pro outro.

– Todos prontos? – perguntei saindo da Casa dos Gritos. Houve uma concordância geral, então fomos o mais silenciosamente possível para frente da Dedos de Mel.

– O que faremos agora? – perguntou Astória em meio à escuridão da rua.

– Alohomora – Jorge disse com a varinha em punhos, abrindo a porta do estabelecimento. Entramos cautelosamente e nos dirigimos ao porão. Já estávamos na passagem. Era ainda mais escuro lá dentro. Tínhamos apenas pequenas luzes na ponta de nossas varinhas.

– Ai Lino – Gina exclamou – Você pisou no meu pé!

– Foi mal. É meio apertado aqui pra todo mundo, sabe – Lino disse como se fosse óbvio.

– Por que essa Fuinha tinha que apagar? Sobrou pra gente – Ron reclamou.

– Menos papo Weasley, mais carregamento – Blaise disse e nós rimos.

Ron bufou. Lilá ia com suas amiguinhas logo atrás de Jorge. Dava pra escutar que falavam do Neville, e do quanto ele beijava bem. Ri internamente com isso. Hermione ainda dormia em meus braços, e de vez em quando se abraçava mais a mim. Era como se um arrepio passasse pelo meu corpo inteiro. Era uma sensação diferente.

– Chegamos – Jorge disse e eu saí de meus pensamentos – Harry, você tá com o mapa do maroto aí?

– Estou – Harry tirou o pergaminho do bolso traseiro da calça.

– Juro solenemente que não vou fazer nada de bom – Jorge disse apontando a varinha para o mapa – Sujou! Filch está bem aqui em frente – Jorge sussurrou – Fiquem quietos.

– E o que vamos fazer? Passar a noite aqui dentro? – Luna perguntou baixinho.

– Se for preciso – eu disse e consegui ver a expressão da loira, mesmo na escuridão. Ela parecia cansada.

– Façam alguma coisa – Ron pediu – Não são vocês que tão carregando o garotão aqui – apontou com a cabeça pro Malfoy.

– Fred? – Jorge chamou e eu já sabia o que ele estava pensando.

– Acha mesmo que funcionaria? – perguntei a ele e todos ficaram confusos.

– Do que vocês estão falando? – Pansy perguntou, na base dos sussurros.

– Vocês vão ver – Jorge disse tirando um estilingue do bolso com um tipo de flecha bem pequena.

– Vocês vão matar o Filch? – Blaise quase gritou e Luna colocou a mão na boca dele – Que isso gente, ele é só um trabalhador! – O moreno estava assustado.

– Relaxa. Isso é um tranquilizante. Ele apaga o Filch por meia hora e nós damos o fora – eu disse e todos suspiraram aliviados.

– Anda logo Jorge. Não é muito legal ficar aqui. É muito apertado – Astória falou enquanto passava por todos com dificuldade. Afinal, eram dezoito pessoas em um corredor em que cabiam apenas umas quatro ou cinco.

Jorge então disse a senha “dissendium” e uma pequena escada apareceu. Ele precisava ser rápido. Filch com certeza já devia estar no topo da escada nos esperando. Jorge subiu rapidamente e tudo ficou em um silêncio mortal.

– Ele pegou o Jorge? – Cho sussurrou.

– Não dá pra saber – Harry respondeu.

Então ouvimos passos descendo a escada. Se fosse o Filch estaríamos fritos.

– Sentiram minha falta? – Jorge surgiu e todos pareceram aliviados – Andem, vamos logo. Eu acertei a flecha na bunda dele. O efeito deve passar em uns quinze minutos.

Então subimos as escadas. Andamos um pouco e decidimos nos separar. Luna e Cho seguiram para o salão comunal da Corvinal, enquanto Pansy trocava de lugar com Ron para carregar o Draco. Ela, Blaise, Astória e o loiro desmaiado foram em direção às masmorras.

O resto seguiu pra torre da Grifinória. Estava tudo na mais perfeita paz até que Pirraça surgiu, atravessando uma parede.

– Olha o que temos aqui. Doze alunos fora da cama – ele disse nos rodeando.

– Cala a boca seu Poltergeist fofoqueiro – disse Lilá.

– Vejam o sujo falando do mal lavado! – ele tornou a falar, enquanto eu fazia de tudo pra não rir. Pirraça tinha razão desta vez. Lilá era uma das pessoas mais fofoqueiras que eu conhecia.

– Acho melhor irmos. Isso não vai dar em boa coisa – Jorge sussurrou em meu ouvido. Eu apenas assenti. Continuamos andando até que o que eu mais temia aconteceu.

– Onde pensam que vão? – Pirraça voava com rapidez até nós, o que só nos fez acelerar o passo – ALUNOS FORA DA CAMA! ALUNOS FORA DA CAMA! – ele gritou aos quatro ventos, e eu escutei o Filch vindo até nós. Devia estar no corredor abaixo.

– Corre! – gritei e todos saíram em disparada pra frente do quadro da mulher gorda.

– Diabretes azuis! – Gina falou o mais alto possível.

– Anda Filch. Eles vão escapar! – Pirraça gritava também.

A passagem se abriu e todos entraram o mais rápido possível. Acabou que todo mundo tropeçou e acabou caindo, empelotando o caminho.

– Anda! Fecha de uma vez – Harry disse para o quadro. Dava para ver Filch e Pirraça virando o corredor, até que o quadro atendeu ao pedido de Harry. Estávamos salvos. Todos respiraram fundo e começaram a rir. Que noite mais louca. Ficamos bêbados, eu beijei Hermione Granger, desrespeitamos regras da escola, invadimos uma loja, fizemos o Filch de cobaia para um experimento, fugimos de Pirraça e continuamos vivos.

– E eu achando que a minha vida fosse sem graça – disse o Neville e todos voltaram a rir.

– Acho melhor irmos dormir – Gina bocejou – Querendo ou não, todos têm aula amanhã.

Todos trocaram murmúrios de insatisfação, enquanto já se encaminhavam para seus dormitórios.

Hermione ainda dormia. Subi com Gina até o dormitório feminino e a coloquei na cama. A cobri e ajeitei seu travesseiro. Minha consciência me dizia para dar um beijo de boa noite nela, mas eu não fui estúpido a esse ponto.

Ela foi abrindo os olhos calmamente, e deu um fraco sorriso a me ver.

– Fred – disse com a voz baixinha. O sono a dominava.

– Boa noite Hermione – dei um beijo na testa dela e fui embora. Pude escutar um “Boa noite, Fred” enquanto saia dali.

POV Hermione

Acordei com uma leve dor de cabeça. Como sempre, fui uma das primeiras a levantar. Fui ao banheiro e tomei um banho gelado para ajudar a me despertar. Foi então que eu me lembrei de tudo o que havia acontecido ontem à noite. A lembrança de Draco e Padma se beijando me fez me sentir mal. Senti um aperto no peito, enquanto a água continuava a escorrer pelo meu corpo. Saí de baixo de chuveiro e me sequei. Enquanto me vestia, comecei a lembrar de mais coisas. Oh meu Merlin, eu beijei Fred Weasley. Ok, isso soava muito estranho vindo de mim, mas era difícil de acreditar, mesmo que eu repetisse isso um milhão de vezes. Penteei o cabelo e usei um feitiço para secá-lo. Voltei ao dormitório e peguei minha mochila. Hoje não teria nenhuma aula com a Sonserina. Agradeci mentalmente por isso. Fui até a cama de Gina e notei que ela ainda dormia.

– Gina – chamei enquanto sacudia de leve o ombro da ruiva.

– Que? – ela disse colocando o travesseiro na cara – Ela está dormindo no momento. Por favor, volte mais tarde – falou como se fosse uma moça que dá informações em um balcão.

– Ah, claro. Então diga a ela que eu passei aqui e que se ela não acordar agora, vai se atrasar.

– Pode deixar. Direi a ela – disse ela virando para o lado e fazendo um sinal positivo com a mão. É, eu tentei chama-la.

Saí do dormitório e cheguei ao Salão Comunal. Ainda estava bem vazio. Deviam ter no máximo umas seis pessoas. Decidi então ir tomar café. Atravessei o buraco do retrato e segui pelos corredores, enquanto rezava para não encontrar aquele loiro desgraçado. Eu não estava para papo hoje. Principalmente para ele.

POV Draco Malfoy

– Anda Draco, acorda – a voz de Blaise estava longe e sentia alguém me sacudindo – Não vai querer se atrasar hoje. Os dois primeiros períodos são com o seboso.

Apenas virei para o lado e voltei a dormir. Minha cabeça estava explodindo. Eu estava com “a ressaca”.

– Já acordou ele? – a voz de Pansy vinha da entrada do dormitório.

– Tentei, mas essa criatura não levanta – Blaise reclamou.

– Espera – Pansy disse e escutei seus passos irem se aproximando de mim.

– Draco – ela sussurrou no meu ouvido e eu sorri – A Granger está aqui – e então eu levantei com um pulo da cama. Onde ela estava? Foi ai que eu entendi. Pansy e Blaise riam da minha cara.

– Anda, se arruma de uma vez, e vê se dá um jeito nessa cara – Pansy falou e saiu do quarto.

– Caramba – coloquei as mãos em minha cabeça. Ela latejava – Eu não me lembro de nada.

– Nada cara? – Blaise disse colocando o sapato.

– Nada mesmo. A última coisa de que eu lembro é quando já estava na sétima cerveja amanteigada da aposta. E a aposta? Eu ganhei?

– Digamos que não – Blaise tinha um sorriso nos lábios.

– Eu não tomei as dez?

– Tomou. Acho que foi até mais que isso.

– Então? Eu venci.

– Aí que você se engana. Digamos que você fez besteira depois.

– Blaise, o que aconteceu? – comecei a ficar preocupado.

– Você descobre ao longo do dia. Agora se arruma coisa loira, temos que tomar café – ele saiu e me deixou sozinho no quarto.

Fui até o banheiro e tomei um banho rápido. Eu ainda estava com a roupa da curtida. Enfim, fiz minha higiene, vesti o uniforme e deixei o cabelo bagunçado. Segundo a Pansy, “ficava mais legal” desse jeito. Desci para o salão comunal e encontrei Blaise e Pansy. Fomos andando juntos pelos corredores. Avistei Luna, ela tinha uma marca de chupão no pescoço.

– E ai Lovegood. Quem fez essa marca? – perguntei um pouco alto. Ela estava meio longe. E eu pensando que ela fosse santinha.

– Você – ela respondeu no mesmo tom e todos no corredor olharam pasmos para mim. O QUE?

– Blaise, o que aconteceu naquela casa? – perguntei totalmente perturbado.

– Eu também não me lembro de muita coisa cara – Blaise respondeu.

– Oi Draco – Padma Patil passou acenado pra mim.

– Certo, o que foi isso? – perguntei ainda mais aturdido.

– Você deu o maior amasso nela ontem, Draco – Pansy respondeu e meu queixo caiu.

– EU FIZ O QUE? – já estava totalmente assustado.

– Vamos tomar café. Eu te lembro do que aconteceu – Pansy pegou na minha mão e na de Blaise e nos puxou em direção ao Salão Principal.

Oh meu Merlin, eu estraguei tudo né?