Aqui estou eu, Hermione Granger, sentada na longa escadaria de Hogwarts, chorando. Tirei os sapatos que já machucavam meus pés e joguei-os nos degraus. Era para ser o baile mais perfeito da minha vida: inverno - minha época do ano preferida -, um vestido maravilhoso, uma maquiagem perfeita e Ron Weasley ao meu lado. Sempre fomos amigos, mas o que eu sentia por Ron era bem mais do que isso. Quando ele finalmente me convidou, senti que tudo estava prestes a mudar. Bem, eu estava certa.

Momentos antes do baile...

Dava pra notar a minha ansiedade. Esta seria uma noite para ser lembrada, com certeza.

Desci as escadas e estranhei ao ver que Ron não estava me esperando. Decidi ir para o salão principal, onde estava acontecendo o tão esperado baile.

Chegando lá encontrei meus amigos e perguntei:

– Onde está o Ron?

Todos se olharam ao mesmo tempo, e pude notar que estavam escondendo alguma coisa.

Ron estava dançando com a Lilá Brown. Não acreditei!

– Ron, você estragou tudo! – gritei

– Hermione... Eu posso explicar – Falou Ron enquanto se desgrudava de Lilá.

Foi isso que aconteceu. Ele acabou com minha noite, acabou com tudo o que eu tinha pensado que poderia acontecer entre nós. Ele...

Tirando-me de meus pensamentos, escuto a voz mais desagradável do Mundo Mágico dizer:

– Ora, ora. Pensei que a inabalável Granger jamais choraria.

Ah, tinha que ser ele, o mais insuportável, o mais desprezível, o mais irritante: Draco Malfoy.

Ele se sentou.

– Por acaso eu deixei você se sentar ao meu lado?

E por um momento, a voz desagradável de Draco Malfoy tirou a imagem de Ron da minha mente. Contrariando completamente tudo o que eu julgo ser ou não Draco Malfoy, ele disse:

– Pelo o que posso ver alguém te deixou muito mal.

– Isso não é da sua conta.

Ele se levantou e ofereceu a mão que eu hesitei em segurar. Agora ele me guiava para o jardim. E naquele momento eu me perguntei: O que estou fazendo? Segurando a mão de alguém que sempre me chamou de sangue-ruim, que sempre me humilhou e fez da minha vida um inferno? E ah, espere, eu estou sendo levada por ele para um lugar que eu nem faço ideia de onde.

Só voltei a mim no momento em que Drac... quer dizer, Malfoy passou uma de suas mãos na frente dos meus olhos, me fazendo acordar do transe em que eu estava.

– Hey Granger, será que você poderia responder?

Estávamos sentados perto de uma árvore bem afastada do castelo. O vento soprava e balançava as pequenas folhas de grama em nossa volta.

– Como? – perguntei confusa com o que ele tinha acabado de dizer

– Eu perguntei o que aconteceu. Por que você estava chorando?

E naquele momento eu voltei aos meus pensamentos. Será que deveria contar pra ele? Quer dizer, ele é o Malfoy. Mas quer saber, ele foi um dos únicos que se preocupou comigo. Ninguém se deu ao trabalho de ir atrás de mim pra ver como eu estava.

– Foi o Ronald – eu disse como um sussurro

– Oh, disso que já sei Granger. – ele falou com certo tom de sarcasmo em sua voz – O que ele fez pra você ficar desse jeito?

– Bem... – OK, eu iria contar tudo pro Malfoy, mas nem me importava mais.

A única coisa que eu queria era poder desabafar. E eu não estaria sendo fraca por fazer isso, eu estava sendo forte por guardar aquilo dentro de mim por tanto tempo.

– Ele me convidou pro baile. Quando cheguei ao Salão Principal ele estava agarrado com a Lavender Brown. – eu começei, e então falei tudo o que tinha acontecido nesses últimos meses, na verdade, nesses últimos anos.

Eu sempre gostei do Ron, e quando ele finalmente percebe, me faz uma coisa dessas? Me convida e depois não se dá nem o trabalho de ir comigo?

Quando terminei de colocar tudo aquilo pra fora, percebi que estava chorando. Malfoy me olhava de um jeito quase carinhoso. Passou delicadamente as costas de sua mão em meu rosto, deixando apenas úmida a parte onde antes havia uma lágrima. Depois disso se levantou e estendeu a mão para mim. Eu a segurei e ele me puxou contra seu corpo.

– Já que nada saiu como você planejou Granger, o que acha se dançarmos agora? – ele disse, olhando dentro dos meus olhos

– Mas não tem música – eu contrariei, desviando o olhar e dando um sorriso fraco.

– Não tem problema – disse ele, entrelaçando nossos dedos e colocando a sua outra mão em minha cintura.

Apenas sorri.

Quem diria que um dia isso iria acontecer? Hermione Granger dançando com Draco Malfoy em uma noite estrelada sob a luz do luar? Pensando desse jeito fica até um pouco engraçado. Com isso na cabeça, acabei dando uma pequena gargalhada.

– O que é tão engraçado Granger? – ele perguntou e pude sentir um pequeno sorriso se formando eu seus lábios.

– Isso. Quer dizer, tudo. Você e eu, aqui dançando. Não é meio estranho? – confessei enquanto dançávamos em um ritmo lento e embalado.

Eu devia estranhar a proximidade de nossos corpos, mas não. Eu até que gostei, devo admitir.

– É – ele concordou, tirando sua mão da minha cintura e pegando minha mão que estava em seu ombro.

Entrelaçou nossos dedos e olhou nos meus olhos novamente. Naquele momento eu via como o azul acinzentado dos seus olhos contrastava com sua pele alva. Via como cada traço de seu rosto era perfeito.

– Hermione, me desculpe por tudo o que eu fiz a você todos esses anos. Sabe, eu fui criado assim, e digamos que meu pai não é exatamente o que posso chamar de uma boa influência – o loiro deu um sorriso de lado - Você me perdoa?

Eu nem acreditava no que estava ouvindo. Ele me chamou pelo primeiro nome e ainda estava me pedindo desculpa? Tudo o que eu consegui fazer foi concordar com a cabeça enquanto ele dava mais um sorriso, só que dessa vez um mais bonito, como eu nunca havia o visto sorrir igual antes.

Ficamos apenas nos olhando sem dizer nada. Na verdade, acho que nem era preciso. De repente sinti um pingo cair em minha testa. Estava começando a chover e pelo visto, Draco também tinha notado.

Ele segurou minha mão e começou a correr. Pelo impulso, corri também. A chuva apertou e já estávamos todos ensopados. Comecei a rir e vi que Draco me acompanhava. De repente, ele parou em minha frente e eu bati de frente com ele. Caí no chão molhado e Draco caiu por cima de mim.

Senti o peso do seu corpo sobre o meu e, do mesmo, jeito continuávamos a rir, isso até que escutamos um trovão. Olhei para Draco e vi que ele também me olhava.

Seus cabelos loiros platinados estavam encharcados e bagunçados. Ele passou de leve a sua mão em meu rosto, como um carinho. Aproximou sua boca da minha e repousou seus lábios sobre os meus.

Foi um beijo lento e sem pressa. Parecia que a chuva levava com ela nossos ressentimentos e tudo de ruim que já havíamos passado. Ali, agora, éramos apenas Hermione e Draco, sem receios ou preconceitos. Éramos apenas nós dois nos beijando de baixo da chuva que resistia em cair. Só nos separamos quando faltou o ar. Draco deitou ao meu lado e ficamos quietos, processando tudo do que havia acabado de acontecer enquanto escutávamos nossas respirações alteradas e ao longe o som dos trovões que ficavam mais silenciosos.

– É melhor voltarmos pro castelo – falei, me sentando – Podemos pegar um resfriado desse jeito.

– Não – ele falou de um jeito manhoso, me puxando por trás enquanto eu sorria pelo simples contato entre nossos corpos – Fica aqui comigo.

– Draco Black Malfoy, não seja preguiçoso. Anda, me solta e levanta de uma vez – falei enquanto dava pequenas risadas da cara dele.

– Tudo bem sua sabe-tudo mandona – disse ele, rindo enquanto se levantava e me puxava em direção ao castelo. Seu braço em volta dos meus ombros me passava algo realmente bom, algo que eu ainda não conhecia vindo de um garoto: segurança.

Chegamos à entrada do castelo e ele me colocou contra a parede. Selou mais uma vez nossos lábios enquanto minhas mãos passavam pela sua nuca, o puxando pra mais perto de mim.

– E como ficamos agora, Granger? – ele disse logo depois de separarmos nossos lábios.

Parecia mais que alguém havia me dado uma chinelada na cara. De primeira, não soube muito bem como reagir. Draco continuou me olhando.

– Nós? Você tem certeza de que quer levar isso pra frente? – perguntei, tentando olhar o mais profundamente possível em seus olhos.

– E você ainda duvida? Quando eu gosto de alguma coisa, eu cuido. E a partir de hoje, Senhorita Granger, você é minha, ouviu? – ele disso com um sorriso vitorioso nos lábios.

E mais uma vez ele me pegou de surpresa. Uma queimação na boca do estômago apareceu de repente e eu senti um arrepio ao mesmo tempo.

– Sua é? – desafiei

– Só minha.

Sem dúvida alguma, voltamos a nos beijar. Nossas línguas travavam uma batalha divertida entre si. Novamente o ar faltou e tivemos que nos separar.

– Draco, isso vai ser como um segredo?

Ele me olhou de um jeito misterioso, aproximando seu rosto do meu.

– Você quer manter isso em segredo? - ele questionou.

– Não sei. Quer dizer, até uns momentos atrás nós nos odiávamos, e nunca nos falamos sem ser por motivo de briga. Você acha que devíamos assumir isso agora? – perguntei, fixando meu olhar em uma pequena poça no chão

– Ei – ele levantou meu rosto para encará-lo – Não sei quanto a você, mas por mim eu não vejo problema em fazermos isso. Tudo bem, de início vai ser uma loucura. Todo mundo vai achar que piramos ou que tomamos uma poção do amor muito forte – ele riu enquanto eu voltava a sorrir. – Mas é uma coisa que acho que podíamos arriscar, não acha? - ele colou nossas testas, me fazendo viajar naqueles olhos azuis tempestade.

– Acho – falei, e ele sorriu novamente.

Ele chegou cada vez mais perto com o rosto. Ia me beijar de novo, mas desviei dele e olhei para a torre do relógio.

– Que isso Hermione? O que aconteceu?

– Por Mérlin, Draco, já é muito tarde. Ron e Harry devem estar atrás de mim nesse momento.

Ele bufou e balançou a cabeça em negação, dando um sorriso afetado ao mesmo tempo.

– Hermione, e daí que está tarde? Amanhã é domingo e não teremos aula.

– Eu sei, mas eu não gosto de dormir muito tarde – retruquei, colocando minhas mãos sobre seus ombros

– Chata.

– Eu não sou chata – discordei, tentando conter uma risada – Só não gosto de perder a manhã inteira dormindo.

– Chata – ele falou mais uma vez

– Ah é? Pois vai dormir sem beijinho de boa noite Malfoy – eu dei uma de vingativa, me virando na tentativa de ir em direção ao meu salão comunal.

– Oh, espera aí – disse ele, me pegando por trás e encaixando seu queixo entre meu pescoço e meu ombro – Não vai embora sem antes me dar meu beijo.

– Você sabe que eu posso – eu tentei irritá-lo, me divertindo com a situação

– Não pode nada - ele contrapôs - Eu não vou deixar você sair daqui antes de conseguir o que eu quero – ele sorriu, encostando seus lábios em minha orelha.

– Então tá, eu vou te dar um beijo, mas só porque eu estou muito cansada – menti e me virei de frente pra ele.

– Por mim tudo bem, vou conseguir meu beijo, mesmo – ele disse, aproximando sua boca da minha.

E lá estávamos nós de novo, nos beijando. Vendo que Draco com certeza não iria acabar de me beijar tão cedo, tratei de terminar o beijo com vários selinhos.

– Boa noite Draco – sussurrei ao me distanciar dele

– Boa noite Hermione – pude o ouvir dizer antes de virar um corredor.