Come Back escrita por sankdeepinside


Capítulo 47
Destrua o crime perfeito deles




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/183623/chapter/47

– Ele já tem o que precisa Cat.
– Tudo?
– Bom, eu não sei se é tudo, mas é muita coisa. Ele anda cantarolando pelo prédio, está feliz.
Cerrei os dentes com força e apertei os olhos. Finalmente estava acontecendo.
– Sabe quando ele pretende agir?
– E-eu não posso dizer mais nada Cat, me desculpe.
– Por favor, eu preciso saber...
– Eu posso perder meu emprego por isso, já estão desconfiando, isso se ele já não sabe! Não posso mais falar com você, lamento.
Respirei fundo, eu precisava ser gentil, ou caso contrário, ele não falaria mais nada.
– Só me diz mais uma única coisa... Como ele soube?
– O rapaz falou, em troca da segurança da família.
Um sorriso se alargou lentamente em meu rosto.
– Obrigada Billy.
O telefone foi desligado logo em seguida. Aquilo era muito pouco, mas ainda assim era o suficiente. Kail já estava a par do funcionamento da máquina e isso significava que ele já estava articulando algo, ele enfim já tinha tudo o que precisava para agir. Sua pretensão era tomar o laboratório, este era o plano desde o início. Colocaria tudo abaixo, destruiria a máquina e se certificaria de que nenhuma outra dessas fosse construída. Mikail era burro o suficiente para nem sequer ambicionar aquela tecnologia, ele poderia ficar muito rico através disso, mas infelizmente não era assim que a mente dele trabalhava. Kail não trabalhava por dinheiro, trabalhava por um ideal e é claro, por sua sede insaciável de causar terror. Ah, essa era a sua parte favorita.
Nunca me importei com a máquina, eu sempre me importei em cumprir meu dever. Oh, eu era a melhor no que eu fazia, mas ele não foi capaz de ver isso, ele me chutou como se eu fosse uma cachorra qualquer dele, e bom, eu nunca fui muito boa em aceitar a rejeição. É de se espantar que ainda não tenha se dado conta de que eu estava por trás de tudo estar dando tão certo para o lado dele, ou ele era muito burro, ou estava jogando de acordo comigo.
O laboratório já era um alvo livre há vários meses, desde que Max rompera os laços com o FBI, com o governo e em seguida com mais da metade de seus funcionários, tudo se tornou extremamente propício à invasão. O garoto estava entregando os pontos, o único problema era a merda do russo.
Kail só era impaciente enquanto ele não sabia da história toda, quando ele acabava de ouvi-la por completa, ele passava meses inteiros saboreando aquilo, pensando, articulando e principalmente, deixando seu alvo pensar que ele não estava mais interessado. A espera pela ação de Kail poderia durar uma eternidade, e era difícil de saber se Maximillian estava iludido com essa demora, os laços com Lali se desfizeram aos poucos e já não vigiava mais sua vida, não fazia mais sentido vigiá-la depois que ela se desligara do laboratório. Ainda observei o laboratório por algumas semanas, mas nada acontecia, então voltei meus olhos para Kail, era ele quem me interessava agora. Ele e as inúmeras maneiras que eu estava planejando de dar uma morta lenta e agonizante para ele.
Talvez eu pudesse dar a cabeça dele para Whisper, talvez ela gostasse. Mas isso seria depois. Depois de eu conduzir Kail à invasão e surpreendê-lo lá dentro. Eu vou matá-lo, me banhar em seu sangue e depois arranjar um novo hobby. Se o Turner der sorte, talvez ele saia vivo no final.

Jimmy

Calor. Era impressão minha, ou nos últimos cinco minutos tudo tinha ficado ainda mais quente? Minhas pálpebras pesavam uma tonelada e eu sentia o suor descendo gelado pela curva do meu nariz, descendo devagar como se zombasse de mim.
O zunido dos pratos oscilando ainda ecoava em meus ouvidos, mas eu já não estava mais na bateria há algumas horas. Meu corpo pendia para frente, mole e sem força, podia ouvir meu coração fraco se forçando a aguentar aquilo, mesmo sem ter chance alguma.
– Hey Man, se senta um pouco okay? – Era uma voz amiga, embargada de tristeza e pesar, mas de quem era? Matt? Zacky? Johnny? Não era o Brian, eu podia vê-lo de onde eu estava, com o rosto enterrado entre os joelhos para que eu não pudesse ver seu rosto.
Algo gelado tocou meus lábios, água. Virei o rosto e empurrei o copo para longe.
– BEBA! – Meu rosto foi puxado sem muito carinho para a posição inicial e a água foi colocada em minha boca, escorrendo em pequenos filetes pelos cantos da minha boca. Meus olhos a encontraram, o rosto pálido estava avermelhado, assim como os olhos. – Não acho que seja uma boa ideia deixar que ele viaje assim, digo, olhe só para ele!
– Eu não fico nem mais um segundo nesse lugar. – Minha voz era estranha, saiu quase sem nenhum comando. Me coloquei de pé, ignorando todos os pedidos para que eu permanecesse sentado. – Eu vou arrumar minhas coisas, vejo vocês lá embaixo.
– Eu arrumo suas coisas pra você Jimmy...
– Eu perdi meu pai, não as mãos, mas obrigada Val.
Saí caminhando meio sem forças para fora da sala, ao som de protestos cochichados. Minhas pernas me arrastaram até o quarto e então pude me jogar na cama, sentindo aquele nó na minha garganta se desatar em um grito de desespero.
Era pra ser eu, desde o princípio, era eu que tinha que ter morrido antes. Aquilo era mais uma punição? Aquela dor? “Olha só, ele acha que tem o direito de permanecer vivo esse sabichão, vamos mostrar para ele o que é bom para tosse”, o destino deve estar rindo muito da minha cara.

Flashback on

– As notícias não são muito boas Sr. Sullivan. – O olhar dele passou rapidamente pelo garoto deitado na cama, mas logo voltou para a cardiologista.
– Estou ouvindo.
A mulher pigarreou de leve e o olhou novamente o prontuário, apesar de saber tudo que estava escrito nele.
– Nós diagnosticamos que seu filho tem cardiomegalia. – Antes que o homem pedisse que ela explicasse com mais clareza, ela retornou a falar. – É uma doença delicada, o coração dele trabalha mais devagar e precisa bombear uma maior quantidade de sangue pra que as necessidades de seu corpo sejam supridas, o coração acaba aumentando de tamanho e se desgastando com maior facilidade. Ele vai precisar de muitos cuidados, medicação bem estipulada e manter uma vida moderada.
– E essa coisa tem tratamento? Tem cura?
– Nós podemos tratá-la, os remédios são fortes, mas são eficazes, mas não podemos curá-lo, senhor. O caso dele não é cirúrgico, com moderação ele não vai ter nenhum problema em ter uma vida normal, como a de qualquer criança da idade dele.
Joe riu de leve.
– Você não conhece meu filho, senhora. Mas fico feliz de saber que ele ficará bem.
A médica sorriu sem muita emoção e saiu do quarto, quando Joe se voltou para o filho, encontrou os olhos dele bem abertos e o fitando com uma expressão confusa.
– Impressão minha, ou ela me chamou de criança? – A voz do garoto era meio arrastada e era visível que ele ainda estava meio grogue por causa da forte medicação.
Joe se sentou na ponta da cama e pegou o braço magrelo do garoto, bagunçou os cabelos lisos e loiros dele e abriu um enorme sorriso.
– Você ainda é uma criança Jimmy, aceite os fatos.
– Cale a boca, eu já tenho 14!
– Grande coisa. – Joe riu pelo nariz. – Como está se sentindo?
O garoto pensou por um pequeno instante em responder.
– Me sinto alto, tem maconha nesse soro?
– Se tivesse você estaria mais forte, tenho certeza.
Os dois riram juntos.
– Pai, é verdade o que ela disse, sobre meu coração?
– Acho que sim Jimmy.
– Ainda vou poder tocar bateria? – Aquela era a única preocupação nos olhos do garoto.
– Claro que vai, eu mataria aquela mulher se não pudesse.
– Ah, então não tem problema.
– Ah tem sim, você ouviu o que ela disse? Vai ter que ser mais cuidadoso.
– Eu não preciso ser cuidadoso, eu estava fazendo aqui as minhas contas, acho difícil que eu passe dos trinta.
– Por quê?
– Porque eu já tenho 14 e o coração de um cara de 40, imagina só com trinta. Eu fui feito pra ter os anos contados em anos de cachorro!
– Isso é idiotice, acho que colocaram mesmo maconha no seu soro. – Joe tirou uma mecha dourada da testa pálida do filho.
– Não faça pouco caso da minha lógica, ela é mais lógica do que a própria lógica.
– Se essa lógica é tão certeira assim, me diz então até quantos anos eu vou viver? – Joe arqueou uma das sobrancelhas, desafiando o filho.
– Ah, você? Bom, você tem o coração de uma criança, mas fuma feito vagão de trem, então isso chega à marca de 60 anos.
– Isso não é justo, por que você vive bem menos do que eu?
– Anos de cachorro pai, anos de cachorro.

Flashback off

Fechei a mala e a coloquei de pé no chão, as lágrimas haviam secado, mas meu peito ainda doía, não pelo defeito natural dele, mas pela tristeza. Íamos voltar para a América, ia ter um funeral para ele e provavelmente o cremariam depois. Essa era grande poesia do mundo não é? Nascer do nada e voltar a ser nada? Eu devia ter ido antes, não era para eu estar sentindo isso.
Recolhi as baquetas espalhadas pelo quarto e as coloquei no bolso do casaco, mas ainda parei um pequeno instante encarando um print impresso da última conversa no Skype com Allie e Shannon, a barriga já estava enorme e Shay havia desenhando meu rosto nela. Era uma boa lembrança. E lá estava meu outro Joe.
– Você não morreu pai, você só morre quando eu morrer. – Sussurrei sozinho.
Dobrei o papel e o coloquei no bolso do casaco novamente. Os demais shows da turnê foram cancelados, estávamos voltando para a América.

Max

Já estava tarde, só restava a mim naquele laboratório vazio. Eu estava ficando cada vez mais maluco, mas eu precisava terminar o que estava fazendo o quanto antes, o meu tempo estava acabando, eu sentia que estava.
Estava escuro e a única fonte de luz que eu tinha era uma lamparina potente incidindo sobre meu rosto, mais duas laudas de física quântica e estava finalizado. Todo o conhecimento que eu tinha usado para construir a máquina, tudo que eu sabia, tudo que havia feito aquela máquina tão poderosa.
Olhei de relance no relógio, já eram quatro da manhã, mas eu estava perto de acabar. Depois de digitado, eu teria que codificar tudo aquilo para que apenas alguém realmente capaz pudesse utilizar.
Estava difícil de confiar em qualquer um, ainda mais depois de Lali ter pedido demissão sem nenhum motivo aparente. Eu não tinha mais ninguém, só Sarah, mas ela se mantinha sempre em uma distância razoável de mim.
Um barulho vindo do andar inferior fez com que eu interrompesse minha atividade. Esperei que o som se repetisse e logo identifiquei passos, suaves e cautelosos. Rapidamente peguei a pistola em uma das gavetas da escrivaninha e me coloquei de pé, apontando-a para a porta. Os passos ficaram mais nítidos e próximos, até que pararam. Batidas tímidas na porta e uma voz doce que eu já conhecia muito bem soaram.
– Max? Está aí?
– Sim, pode entrar. – Abaixei a pistola e logo a porta foi aberta, a mão dela foi direto ao interruptor e a luz encheu a sala como uma explosão. – ARG! MEUS OLHOS!
– O que faz aqui no escuro?
– Me sinto mais confortável no escuro, obrigada! – Suspirei e voltei os olhos para ela. – O que faz aqui? É perigoso vir até aqui essa hora da noite.
– Estou fazendo meu trabalho. – Ela caminhou até mais perto da minha mesa e lançou um olhar sobre os papéis espalhados sobre a mesa. – O que VOCÊ está fazendo aqui a essa hora?
– Apenas digitalizando umas coisas.
– E você precisa de uma pistola pra fazer isso é? – Ela parecia estar se divertindo um pouco com aquilo.
– A ideia era de que com a pistola, talvez minha segurança pudesse ter um pouco descanso.
– Você com uma arma só significa que eu vou ter que trabalhar em dobro, Max.
– Você não devia estar aqui, devia estar em segurança, com seus colegas do FBI.
– Eu quero estar aqui.
Ela se distraiu por um pequeno instante com um pêndulo sobre a mesa e pude fitá-la por completo, mas eu só fazia isso quando ela não estava olhando. O cabelo loiro estava preso em um coque mal feito, como de costume, usava camiseta, jeans e botas que eu desconfiava que ele tivesse comprado na seção masculina da loja. Mas ainda assim, ela não conseguia deixar de ser feminina. Seu rosto ainda denunciava que era mulher, não por maquiagem, ela quase não a usa, mas pelos lábios rosados, pelos olhares furtivos.
Ela não havia dado nenhuma outra brecha para que eu me aproximasse, e por mais que eu respeitasse sua vontade, aquilo me consumia. A cada dia eu sentia que a desejava um pouco mais, eu queria tocá-la outra vez, senti-la, amá-la.
– Tá olhando o quê? Volta pro seu trabalho okay? Vou ficar ali fora.
Era sempre assim, ela fugia de mim, mas hoje não. Era quatro da manhã, eu estava com fome, minha cabeça doía, eu estava morrendo de medo de ser morto, mas hoje eu não ia deixá-la ir embora.
Assim que ela passou perto de mim, agarrei seu antebraço.
– Sarah, hoje não, por favor. – Ela me olhou confusa, os olhos dourados correndo pelo meu rosto tentando ler minha mente. Levei meu corpo para mais perto do dela e a senti estremecer, engraçado, eu nunca havia feito ninguém estremecer antes. – Eu assusto você?
– Não tem nada de assustador em você, você é um pacote de nachos ambulante. – Ela olhava para o chão, ergui seu maxilar e beijei seu queixo.
– Eu quero você Sarah, por favor, não fuja. Você adora nachos. – Selei seus lábios com os meus e a puxei para que seu corpo ficasse bem colado ao meu.
Suas mãos seguraram meus ombros e por um instante achei que fosse me afastar, mas ela apenas os pressionou de leve e depois subiu as mãos até minha nuca. Beijei seu queixo outra vez e depois seu pescoço, ainda sem me afastar dela. Era uma sensação única, e recíproca.
Empurrei seu corpo de encontro à mesa e deixei que minhas mãos corressem por sua silhueta, parei em seus quadris e as subi lentamente, trazendo sua camiseta para cima junto com elas. Pude sentir a maciez de sua pele sob meus dedos e ouvir seu pequeno suspiro enquanto eu passeava pelo seu corpo.
Tirei sua blusa e pude ver o par de pequenos seios escondidos atrás de um sutiã sem bojo. Beijei seus lábios de forma mais ávida e segurei ambos os seios com as mãos, eu a desejava de uma forma que eu jamais havia desejado ninguém, mas então ela interrompeu o beijo. Segurou meu rosto entre suas mãos geladas e me encarou por um longo instante.
– Você é tão lindo Max. – Não pude deixar de sorrir com o elogio. – Mas você é meu chefe, eu não posso...
– Para com isso, eu esperei por você minha vida inteira. – Encostei minha testa à dela e apertei os olhos, inalando o aroma agradável de seu corpo. – Se não sentir o mesmo por mim, pode ir embora, não vou prendê-la aqui contra sua vontade.
– Eu não sou esse tipo de garota. – Agitei a cabeça um tanto indignado, como ela podia estar pensando uma coisa dessas? – Meu trabalho é mantê-lo em segurança, nada mais do que isso. Se me puder me dar licença.
As mãos dela me empurraram com relutância, manteve os olhos baixos e timidamente pegou a blusa do chão. Dei um passo para trás e aguardei que ela se vestisse.
– Você está entendendo tudo errado, Sarah.
– Devia terminar seu trabalho, senhor. Estamos ficando sem muito tempo.
Assenti com a cabeça e logo ela saiu da sala a passos apressados. Caminhei até a mesa e me sentei diante do computador novamente, mais duas laudas e estava pronto.
– Ela é bonitinha. – Saltei da cadeira assustado ao ouvir aquela voz junto ao meu ouvido. – Procurei pela pistola na mesa, mas não achei. – Procurando por isso? – Ela agitou a pistola em movimento pendular diante dos meus olhos e tentei tomá-la de suas mãos, sem sucesso. – Calma garoto, eu não vim te machucar.
– SARAH! – Gritei, mas rapidamente Catelyn me puxou para trás e encaixou a pistola em minha têmpora.
Sarah irrompeu pela porta e se assustou com o que viu, antes que engatilhasse a arma, Lyn disse com sua voz de pedra:
– Se você puxar essa arma eu puxo o gatilho. – O olhar de Sarah correu do rosto de Lyn para o meu diversas vezes. – Minha intenção não é machucar ninguém, mas eu machuco se alguém me forçar.
Mantive o contato visual com Sarah e ela desistiu, com certa relutância, de pegar a arma, logo em seguida, Lyn me empurrou para junto de Sarah, mas manteve a arma apontada para nós.
– Pensei que só não quisesse nos machucar, por que ainda está apontando a arma? – Sarah disse perturbada.
– Porque estou vendo o quanto a sua mão está coçando para pegar a sua no bolso. – Pude ver o rosto de Catelyn, não havia mudado nem uma pequena linha. Os cabelos castanhos e cortados Chanel formando a moldura de seu rosto longo e rígido. – Vou abaixar a arma, mas primeiro, florzinha, coloque a sua no chão e a chute pra cá.
Sarah não se moveu.
– Faça o que ela diz Sarah. – A loira me olhou como se eu tivesse dito a coisa mais absurda da face da terra. – Eu sou o seu patrão, me obedeça. – Disse mais incisivo, logo ela colocou a pistola no chão e a chutou. Catelyn a pegou e em seguida guardou ambas as pistolas.
– Boa garota.
– Como entrou aqui?
– Um mágico nunca revela seus segredos, meu querido. – Se sentou em minha cadeira de forma despreocupada.
– O que quer? – Sarah perguntou extremamente irritada por ter sido neutralizada por Catelyn.
– Oh, eu quero muitas coisas florzinha, mas no momento, eu só quero bater um papo.

Lali

Eu não podia continuar lá, não depois de ele ter mandado toda aquela gente ir embora apenas por medo de traição. Eu me sentia estúpida por ter feito as coisas com Catelyn pelas costas dele, eu devia ter falado para ele de onde eu havia conseguido as informações. Pedir demissão foi uma decisão sensata.
– Ei amorzinho, me vê uma vodca com gelo! – Uma loira gritou de uma das extremidades do enorme balcão de mármore.
– Um instante! – Gritei enquanto terminava de aprontar o whisky de um cara. Em seguida, peguei a garrafa de Vodca e um copo com gelo. Levei-os até a garota e despejei o líquido no copo diante de seus olhos.
– Obrigada!!! – Essa daí já estava mais do que bêbada.
– WHISPER! – A voz de meu chefe, Bobby, soou do outro lado do bar. – Ajude-me aqui!
Corri até ele e me deparei com uma poça de vômito. Aquilo estava começando a acontecer com frequência, considerando que o público de adolescentes de estômago frágil havia aumentado nas últimas semanas.
– Limpe isso aqui. – Bobby disse enquanto amparava uma garota peituda que não devia ter mais de dezessete anos.
Suspirei e deixei que meus ombros caíssem, o que eu podia fazer? Ao menos eu não estava desempregada. Caminhei com dificuldade pelo meio do bar, onde um enorme grupo de jovens dançava de forma obscena e fui até a entrada de serviço, enchi um balde com água, umedeci um pano, peguei um punhado de serragem para jogar no vômito e uma pá. O caminho de volta foi mais difícil, ser empurrada enquanto se carrega tudo aquilo foi algo único e inexplicável.
Ajoelhei no chão e joguei a serragem sobre o vômito, esperei que o líquido e a serragem virassem algo mais próximo do sólido e peguei com a pá. Passei o pano úmido e logo tudo estava limpo novamente.
– WHISPER, ANDA LOGO! – Bobby gritou outra vez, já tinha mais gente no balcão e provavelmente o outro bartender não estava dando conta do recado.
Resmunguei um palavrão e fui jogar o vômito no lixo. Consegui voltar ao balcão com quase nada de dignidade. Eram assim todos os dias.
– Noite difícil?
Apertei o mixer sem olhar para quem estava falando comigo.
– Nem imagina o quanto. O que vai querer?
– Jack, puro e sem gelo, vou apreciar muito se puder deixar a garrafa também.
Aquele pedido. Levantei a cabeça imediatamente e senti meu coração dando um salto mortal carpado.
– Brian.
Ele abriu um sorriso torto, o mais sexy que ele tinha.
– Oi Whisper.
O que ele estava fazendo ali meu deus? Ele não devia estar, sei lá, no Paquistão?
O dono do pedido que eu estava mixando gritou por mim e rapidamente corri até ele e servi seu drink. Depois corri até a prateleira e peguei o Jack, minhas mãos estavam suando e tremendo.
Quando voltei para junto de Brian, uma ruiva que eu nunca tinha visto na vida acariciava seus ombros e cochichava em seu ouvido. Aquilo me pegou de surpresa, mas tentei não me importar, mantive os olhos no líquido escuro do Jack, mas era difícil não olhar para Brian, ele estava tão bonito e corado. Os olhos acobreados dele não desviavam de mim por um segundo, mesmo com a mulher descendo as mãos por suas costelas e abraçando seu tronco.
Terminei de servir o Whisky e ia me afastar, mas a mão dele agarrou a minha com firmeza.
– Aonde pensa que vai? – Não respondi, mas fui surpreendida com a ruiva beijando seus lábios quase se fosse devorá-lo inteiro com uma única chupada. O que ele estava fazendo? O que aquilo significava?
Eu estava me fazendo de boba, mas na verdade eu sabia a razão de tudo aquilo, era uma vingança. Puxei meu pulso do aperto dele, mas ele não soltou. Finalizou o beijo e olhou para mim novamente.
– Me solta!
– Não, eu preciso falar com você.
– Vai comer sua ruiva em um motel e me deixa. – Oh meu deus, eu estava fazendo uma cena? E o que era aquela sensação terrível em meu peito? Eu queria chorar? Não, as lágrimas já haviam se libertado sem que eu percebesse e estavam descendo quietas pelo meu rosto.
– Vou esperar por você no fim do seu turno, como na primeira vez. Não olhe para mim desse jeito, você fez algo pior do que isso comigo.

Allie

As mãos dela pendiam para fora da janela aberta, tentando apertar as gotas geladas que caiam do céu. Havia um pouco de melancolia em seus olhos.
– Por que não posso ir pra natação em dia de chuva? É só mais água caindo do céu, não tem diferença.
– O problema não é a água Shay, são os raios, eles são perigosos.
Me remexi na cadeira abrindo uma pouco mais as pernas, eu estava absolutamente exausta de carregar aquela tonelada em forma de criança.
– Eu gosto dos raios, são bonitos. Por que eles são perigosos?
– Eles podem te dar um choque e você pode morrer. – A voz veio da porta.
– GIGANTE! – Voltei a cabeça para onde a voz tinha saído e pude ver Shannon pulando na velocidade da luz em seu colo.
– Jimmy! Meu deus, de onde você saiu?
Estava encharcado, os cabelos, que já estavam pintados de preto novamente, caíam em pesadas mechas até quase tocar os ombros, o corpo não havia mudado muito, mas ele estava visivelmente mais abatido.
Fiz um pequeno esforço para me levantar e ele me envolveu em um abraço apertado.
– Você está bem? – Sussurrou em meu ouvido.
– Sim, e você?
– Não tenho certeza ainda.
O funeral de Joe havia sido há cinco dias, eu devia ter imaginado que em breve ele apareceria aqui. Sam estava trabalhando e não tinha permitido que eu viajasse sozinha para o funeral de Joe, a gravidez estava me deixando exausta com facilidade e não era muito bom que eu viajasse. Mas Jimmy tinha ido, ele não podia deixar de ir.
– Se sente perto do aquecedor, vou buscar uma toalha seca pra você.
Ele assentiu com a cabeça e se sentou no chão, com Shannon entre suas pernas.
Caminhei até o quarto e abri o armário para pegar a toalha, estavam muito altas e precisei de uma escada para alcançá-las. Quando puxei o rolo da toalha, notei um leve farfalhar de folhas. Estranhei, já que não guardava papeis ali.
Enfiei a mão por baixo de todos os rolos de toalha e apalpei até sentir algo, puxei para fora do armário e me deparei com uma pasta parda. Lancei um olhar de relance para a porta, eu estava sozinha. Abri o envelope e tirei os papéis que havia ali.
Tinha o nome de Sam na primeira folha, uma ficha com sua data de nascimento, cidade natal, foto e familiares. Na segunda, uma descrição completa do incêndio na casa dos Sullivan, com fotos a distância da casa em chamas e pequenas ameaças no rodapé. Na terceira folha, fotos minhas deixando Shannon na escola, há alguns poucos meses atrás. No fim da terceira folha, uma nota de rodapé.
“Você cumpriu sua parte, eu cumpri a minha, estamos quites. Obrigada Sam.”
O que aquilo significava? Quem havia dado aquilo ao Sam?
– Allie? Cadê você? Estou congelando! – Jimmy gritou lá de baixo, me tirando do pequeno transe.
Coloquei a pasta debaixo de um braço e a toalha debaixo do outro, depressa, comecei a descer a escada. Meu pé escorregou quando faltavam cinco degraus.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Come Back" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.