Come Back escrita por sankdeepinside


Capítulo 44
Parece que nós todos temos amigos para achar


Notas iniciais do capítulo

Já que o Nyah ressurgiu das catacumbas, vou postar o restante dos capítulos da comizinha aqui.
Ela também continua postada no Social Spirit :D



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– Nós precisamos dar um jeito de tirar esse Agente Foster de dentro do laboratório! Não é certo que um espião continue ali do lado do Max!

Lyn estava muito pensativa, balançava as pernas no ar enquanto colocava a colher cheia de sobremesa na boca.

– Hum, o que tem em mente?

Caminhei apreensiva de um lado para outro, sentia cada célula do meu corpo se movimentando exasperada, mas tudo só parecia acentuar minha extrema impotência. Mas não, eu não estava tão impotente assim, eu podia muito bem contar tudo para o Max. Mas antes de chegar à informação eu teria que dizer como a conseguira e ele não ia gostar muito do fato de que eu e Catelyn agora éramos BFFs. Suspirei e deixei meu corpo cair sobre a cama do hotel em que Catelyn se hospedava.

– Eu preciso contar ao Max. – Esperei por Catelyn gritando, me dando um soco e rasgando minhas tripas fora com uma faca de mesa, mas ela se limitou a grunhir e a lamber os dedos. – E então? Não vai fazer nada?

– O quer que eu faça? Só não me entregue para a polícia antes de tudo acabar, por favor.

Agitei a cabeça confusa e fitei Catelyn por um instante. Ela estava estranha e eu estava com uma péssima impressão. Não podia me dar ao luxo da confiança com ela, eu precisava me lembrar disso. Ela estava me escondendo algo? Ou tudo não passava de um truque?

– Essa informação que está nesta pasta... é verdadeira? – pousei o dedo sobre o envelope marrom com o nome de Ray Foster.

– É claro, esqueceu que eu, assim como você, quero que Kail afunde na própria merda?

– Você não é confiável, eu preciso ter certeza absoluta da veracidade disso aqui.

– Hum, acho que essa é a coisa mais esperta que sai da sua boca desde que te conheci. – se levantou e caminhou até mim. – Não quer usar a informação que eu te dei? Ótimo! Se você não usar, eu uso! Acho bom sair daqui também, por que se está com medo de mim... – ela se aproximou de uma forma abrupta de mim a ponto que eu pude até sentir o cheiro doce do chocolate em sua boca e segurou meu ombro com pouca gentileza – Não devia ficar brincando de pantera comigo, querida.

Uma onda estranha perpassou meu corpo e me remexi tentando me esquivar.

– Eu vou pensar sobre isso – disse pigarreando em seguida – Olha Catelyn, eu quero que pare de monitorar o Brian.

– Por quê? – disse achando graça do meu pedido­.

– Não quero que ele faça parte disso, ele não tem a menor ideia de nada. Não quero que fique bisbilhotando a vida dele.

– Não quer nem saber como foi o encontro dele com a ex-mulher?

Minha boca se abriu, assim como meus olhos também se arregalaram. Michelle. Por que eu achei que ele esperaria? Ele disse que se sentia só e eu não ajudei muito a melhorar nada.

– Só... tire as câmeras okay? – soltei um suspiro pesado.

Catelyn flexionou o corpo na direção do meu e senti seu colo roçando sobre minha pele, ela cheirava a doce e a terror, era uma mistura estranha.

– Acho que não vai dar, ele pode ser de muita utilidade caso queira se virar contra mim.

– Encoste um dedo nele e eu coloco até os cães do inferno atrás de você – apertei os dentes.

Uma gargalhada inesperada escapou da garganta dela.

– Nossa desse jeito até fico com medo de você Whisper. – Mais rápido do que eu fui capaz de ver, ela estava completamente sobre mim e uma faca que sabe lá deus de onde saiu encostou firme à minha jugular. O corpo dela exercia uma enorme força sobre mim, impossibilitando qualquer movimento meu. – Olha aqui florzinha, quem dá as cartas aqui sou eu, está vendo isso? – Colocou a faca na altura dos meus olhos – É sangue e ainda está fresco. – Levou rapidamente a lâmina à boca e lambeu o pouco de sangue seco que havia nela, em seguida colocou-a de volta em meu pescoço – Eu não estou nem aí se me entregar para a polícia, enquanto eu não cumprir minha vingança, ninguém encosta um dedo em mim, mas eu posso encostar meu dedo onde eu quiser.

Não consegui dizer nada, eu estava com medo e tremendo. Merda, por que eu não conseguia ser corajosa? Por que eu não era uma ninja forte que poderia empurrar ela e colocar a porra dessa faca no pescoço dela? Meus braços pareciam gelatinas, não tinha nada de ninja neles.

Só então percebi que Catelyn me olhava, mas o olhar dela era diferente, ainda continha o tom zombeteiro de sempre, mas havia algo a mais. Os lábios dela entraram em contato com os meus de forma inesperada. Eram completamente diferentes de toda a Catelyn, sempre dura, agressiva e fria. Seus lábios deviam ser a única parte macia e doce em seu corpo. Eu fiquei assustada a princípio, ainda mais por que havia uma faca afiada roçando em meu pescoço, mas fazia muito tempo que eu não sentia algo tão suave. A língua dela pediu passagem e me vi cedendo, sua mão soltou meu pescoço e logo a faca já não estava mais ali. Suas mãos seguravam meu rosto e seu corpo sobre o meu exalava um calor luxuriante.

As mãos dela tocaram a pele sob minha blusa, eram frias, como todo o resto de Catelyn, mas eram precisas, se espalharam e seguraram minha cintura com firmeza, e então me vi enlaçando meus braços ao corpo dela, a puxando para mim. Eu devia estar louca pra me pegar desse jeito com uma assassina, mas meu corpo respondia sozinho.

O som do meu celular tocando me fez voltar à realidade. A afastei pelos ombros e os olhos ferozes dela cintilaram pela extensão do meu busto, rapidamente saltei da cama e peguei o telefone.

– O-oi...

– Lali? Caramba, o que deu em você? – Soltei um longo suspiro tentando controlar minha respiração alterada – Onde se meteu?

– Oi Max... eu não podia ficar mais na Califórnia, me desculpe.

Notei que ele também suspirou do outro lado da linha, a cada dia Max parecia ainda mais exausto.

– Quer dizer que não conversou com o Haner?

– Nós conversamos, mas não acho que tenha adiantado de alguma coisa – girei meu corpo e então notei que Catelyn prestava atenção em minha conversa, caminhei para a varanda – Ao menos as meninas estão bem.

– Ah, isso é muito bom. Já está em Madison?

– Sim.

– Então preciso que venha até aqui, precisamos continuar com suas lições, ainda deu uma olhada no material que te mandei?

– Olhei Max, mas tudo parece grego pra mim.

– Ah – notei um tom de desapontamento em sua voz, eu realmente estava tentando aprender alguma coisa, mas eu não compartilhava do entendimento dele.

– Não sei por que insiste em me ensinar isso Max, é muito complicado pra mim, eu sou completamente leiga!

– Nós vamos continuar tentando, só... só venha pra cá logo okay? – o tom dele agora era um pouco ríspido e um tanto sombrio. Ás vezes era difícil compreender o Max.

Me despedi dele e desliguei o telefone. Quando voltei para o quarto, Catelyn mexia no tablet.

– Eu vou ter que sair.

– Tudo bem – disse sem voltar os olhos para mim – Me avise se decidir contar o que descobriu ao Max, pode ser que eu tenha que bolar uma rota de fuga às pressas. – Confirmei com a cabeça e ela então levantou os olhos para mim – Já desativei as câmeras da casa do Gates, mas se quiser saber... acho que ele sente a sua falta.

Brian

Michelle ressonava baixo junto ao meu peito, uma onda loira de seu cabelo escondia seu rosto e a puxei para trás de sua orelha. Ainda era bem cedo, seis da manhã, mas eu não dormira nem por um breve instante naquela noite. Depois daquela noite eu tinha uma única certeza: Eu não queria mais estar casado com Michelle.

Nós passamos por tanta coisa juntos, mas o sentimento não era mais o mesmo, muito menos eu. A noite com Michelle não podia ter sido mais estranha, bebemos, mas quase não conversamos, não ficamos nem um pouco a vontade, ela parecia querer o tempo inteiro falar alguma coisa e depois da sexta dose de Whisky, ela falou.

– Isso não está dando certo. Nossa relação foi para o espaço. – Os olhos dela olhavam em outra direção, mas sua voz denunciava a tristeza que mal continha dentro de si. Eu, como o bom filho da puta que eu sou, não consegui dizer nada. – Você disse que não está apaixonado por ela, bom, isso não sei, mas apaixonado por mim com certeza você não está. Pelo menos não mais.

– Eu amo você, mas não é do mesmo jeito de antes.

As lágrimas enfim tomaram conta de seu rosto, um riso doloroso escapou por entre seus lábios.

– Eu estou tentando entender, mas eu não consigo Brian.

– Eu também não, mas não quero mais isso pra nenhum de nós.

Ela engoliu o restante do Whisky no copo de uma única vez e se colocou de pé.

– Está dizendo que quer mesmo um divórcio, é isso? – assenti vagarosamente com a cabeça – Okay Brian Haner, eu assino a porra do seu divórcio.

Tentou virar gloriosamente para sair do bar, mas ao invés disso ela, gloriosamente, caiu no chão. E agora estamos aqui. Michelle chorou até adormecer e eu nem chorei, nem adormeci. Às vezes eu queria que minha mente trabalhasse tão fácil assim.

Me desvencilhei do corpo de Michelle e sai da cama, me arrastei até a sala e liguei a TV, passava uma reprise de “Três é Demais”. Meu corpo caiu sobre o sofá, quase pesando mil toneladas, eu me sentia exausto, talvez eu realmente devesse ter dormido, nem que fosse só um pouco. Peguei o celular e liguei para o meu número de emergência.

– PUTA QUE PARIU HANER, JÁ VIU QUE HORAS SÃO?

– Sim, eu vi... – soltei um riso tímido – preciso de colo.

– Então vai chupar as tetas da Suzy, porra, não vem me acordar de madrugada não!

– Puta que pariu, eu to tentando ser gente boa aqui, mas tá difícil.

– “Gente boa” não liga para os outros tão cedo, mi amigo. – Soltei um suspiro pesado demais e então a voz dele normalizou no outro lado da linha. – Acho bom trazer meu café da manhã, ta entendendo?

– Sim, é para levar pros patos também?

– E você ainda pergunta?

Sorri, mas antes que eu pudesse me despedir ele já tinha desligado. Eu não podia exigir que o cara fosse 100% a essa hora da manhã.

Vesti uma camisa regata e um moletom por cima, permaneci com a calça que tinha usado no dia anterior e nem tinha tirado para dormir, calcei um tênis e coloquei um par de óculos escuros. Antes de sair ainda fiquei olhando Michelle adormecida sobre a minha cama, deixei um bilhete e saí pela porta logo em seguida. Corri até o café mais próximo e comprei dois cafés extraforte grandes, brownies, alguns donuts e é claro, pão, para os patos.

Cheguei ao lugar de sempre, Central Park de Huntington Beach, e esperei por ele por bem uns trinta minutos, já tinha beliscado um monte da ponta da baguete que eu tinha comprado para os patos quando ele apareceu. O cabelo, que agora era ruivo, parecia que nunca tinha visto pente, a barba tinha um monte de trancinhas escrotas e ele andava com a cara horrível de quem tinha sido forçado a se levantar, mas eu estava aliviado por ele ter vindo.

– Obrigada por ter vindo Man.

Ele me lançou um olhar de gelo e o manteve por alguns segundos até sua expressão se desfazer em um sorriso.

– Passa a comida para cá, estou faminto. – olhei-o com desprezo e ele fez careta – Primeiro a comida, depois os seus problemas de bichinha.

Revirei os olhos e estendi a sacola para ele, mas logo fui atacado com uma baguete na cabeça.

– Ai caralho!

– Você comeu o pão do pato!

– Você demorou demais!

– Por que não comeu dos brownies? Porra Haner!

– Fodam-se os patos! – A resposta foi outra baguetada na cabeça.

Depois disso nos sentamos e Jimmy tomou do seu café, sendo copiado por mim. Fiquei em silêncio enquanto ele comia um dos donuts e lambia os dedos. Depois disso, os olhos dele se voltaram para mim.

– Man, como você está com cara de velho.

– Pelo menos não pareço um Neandertal.

Ele achou graça e me deu um soco no braço.

– O que aconteceu, Haner?

– Michelle, Lali, Pinkly, essas mulheres vão me deixar louco, acho que vou mudar pra uma comunidade franciscana. – Jimmy olhou pra mim com o carinho de uma pedra e enfiou um brownie inteiro na boca, tentei não rir e continuei falando – Acho que eu e Michelle vamos nos divorciar, de verdade dessa vez.

Dei um longo gole no café e esperei pela merda que ele ia dizer.

– Isso significa que acabaram os strip-teases em cima da mesa dos churrascos?

E a merda veio.

– Provavelmente, sei lá.

– E como se sente?

– Sinceramente? Eu não sei o que sentir.

– Toma aqui, atira um pedaço de pão para o pato, depois me responde a pergunta de novo.

– O que o pato tem a ver com isso?

– Nada, mas olha a cara de faminto dele. – Arranquei um pedaço do pão e atirei para o maldito pato.

– Você é um otário James.

– Cala a boca, existe um motivo por eu ser chamado de The Reverend e você não. – Resmunguei algo sem sentido e levei um sopapo. – Mas agora me responde, o que você está sentido Haner?

Boa pergunta, o que eu estava sentindo? Eu não conseguia pensar no que estava sentindo, na minha mente só martelava repetidamente uma única coisa.

Lali Lali Lali Lali Lali Lali

Eu só pensava no quanto estava zangado com ela, no quanto eu estava chateado por ter sido feito de idiota e no quanto havia sido bom passar aquela noite com ela. Jimmy virou o copo de café na boca e continuou olhando para mim, assim, de manhãzinha, os olhos dele tinham uma cor prata muito louca. Talvez fosse verdade, o cara era chamado de The Rev por ser um puta sábio. Okay, acho que ainda estou sob o efeito do Whisky de ontem.

– Eu estou com raiva, mas também decepcionado e.. e... e... – eu não conseguia dizer.

– E...?

– Ainda existe a palavra apaixonado?

Max

– Você está bem? Parece nervoso. – Fechei os olhos e soltei um longo suspiro, depois os abri e encontrei os olhos dourados dela me observando, caralho, são bem bonitos, mas ao mesmo tempo aterrorizantes.

– Sim, só estou um pouco cansado, a Lali já chegou?

– Está ali fora.

– Ótimo – Me encaminhei para a porta, mas Sarah se colocou no meu caminho, ela estava tentando me ler. Apenas desviei dela e abri a porta.

A Lali que entrou pela porta parecia zumbificada, tinha os olhos fundos e parecia um pouco descabelada, ela trazia o caderno de física que eu havia lhe dado embaixo do braço.

– Isso é inútil Max, eu não entendo física, e a física não me entende. Nossa relação anda muito ruim. – Não consegui esconder a decepção em meu rosto, afinal o que eu esperava? Pegar uma bartender e querer que ela vire o gênio da ciência da noite para o dia? – Eu sinto muito Max.

– Não precisa se desculpar, eu é que não estava raciocinando direito. – deixei o meu corpo cair sobre a cadeira.

– Eu posso continuar tentando, se quiser.

– Não, coloque o caderno aí, talvez alguém na minha equipe possa me ajudar.

– Está acontecendo alguma coisa que não está me contando Max? Por que precisa de alguém?

– Digamos que, se eu morrer, todo o conhecimento sobre a máquina morre comigo e não posso permitir isso.

– Pare com essa ideia maluca de morte, okay? Você ainda nem fez trinta anos e age como um velho a beira da morte. – arqueei as sobrancelhas e então notei que Sarah ainda estava na sala e me encarava de cima a baixo, como se tivesse feito uma grande descoberta.

– Já parei. Eu ia te ajudar com as lições, mas acho que não vamos mais precisar delas né? – abri um leve sorriso – Como foi com o Haner?

– Bom, foi horrível e depois divino e depois horrível outra vez. Acho que não quero falar sobre isso.

– Tudo bem, faça o que quiser.

Lali parou de falar, parou diante de mim e me olhou como um médico fazendo um diagnóstico.

– Max, olhe para mim. – a obedeci de maneira tediosa. – Você precisa tirar uma folga.

Soltei um riso nervoso.

– Não dá Lali, tem muita coisa pra fazer, muita coisa pra dar conta...

– Ela tem razão. – Sarah se manifestou – Todo mundo aqui nesse laboratório fala que você é o melhor piadista daqui, já trabalho pra você há semanas e só tenho visto carrancas e suspiros de cansaço.

– Está resolvido – Lali puxou o jaleco das minhas costas. – Tire a tarde de folga, quando for amanhã nós falaremos das coisas importantes.

Me espreguicei sentindo cada vértebra da minha coluna soltar um estalo, em seguida lancei um olhar para Sarah.

– Tudo bem, eu tiro uma folga, mas a Sarah vem comigo.

– Okay – ela disse indo em direção do distintivo sobre a mesa.

– Oh não, não é uma saída de trabalho, é um encontro.

Jimmy

– O que tem de errado com a mamãe?

Olhei para baixo e encontrei o par de olhos curiosos me encarando de volta, olhei por cima do ombro e vi Alison estendida embaixo do guarda sol parecendo uma defunta. Ela estava um pouco em choque ainda, mas até que estava lidando melhor do que eu esperava.

– Ela só está emocionada com a chegada do seu irmãozinho.

– E por causa disso ela fica parecendo um robô?

Me abaixei para ficar na altura de Shannon, ela já havia crescido alguns centímetros ou era impressão minha?

– Sua mãe é meio estranha Shay. – confessei e ela sorriu – Mas ela vai ficar bem.

– Tem certeza?

Não, eu não tinha certeza. Allie parecia muito instável ultimamente, eu tinha medo de que algo irreversível acontecesse com ela, mas não havia necessidade de expor nada disso à Shannon. Além disso, aos poucos Alison estava voltando ao normal, talvez fosse um bom sinal.

– Tenho sim, agora vamos dar o nosso mergulho okay?

Shannon confirmou animadamente com a cabeça e segurou minha mão, o aniversário de quatro anos dela havia sido alguns dias atrás e de repente o tempo parecia estar quase voando. Eu tinha que aproveitar aqueles momentos, até porque, a banda me impediria de ser um pai muito presente.

Paramos diante das ondas, o mar estava bem legal hoje, a água estava bem azulzinha, diferente de alguns dias que parecia a pura lama e o sol estava quente o suficiente pra nos dar vontade de dar um mergulho. Era a primeira vez que Shay via o mar e ela estava maravilhada com todas aquelas ondas que mais pareciam ter vida própria.

Ficamos ali parados até a primeira onda vir de encontro aos nossos pés, a água estava gelada e Shannon soltou alguns gritinhos de empolgação, imediatamente quis soltar minha mão e correr, mas não permiti.

– Hey, vá com calma, não queremos que aconteça o que aconteceu lá na ponte, lembra?

Ela se lembrou e por causa disso encolheu os ombros.

– Desculpa.

– Não precisa se desculpar, eu sei como gosta de água, vamos caminhando com calma.

Dei mais alguns passos com ela e as ondas já batiam contra sua barriga, mas ela estava louca de felicidade. A segurei pelas axilas e tirei seus pés do solo, jogando-a para frente e para trás sobre as ondas. Ela tampou o nariz e fechou os olhos e então a mergulhei rapidamente na água. Quando a trouxe a superfície, completamente molhada, uma gargalhada gostosa encheu meus ouvidos.

Era engraçado, eu me sentia tão feliz só com aquela brincadeira.

– Como assim vocês vão pra farra e nem me convidam? Ei, seus tratantes!

Allie gritava ainda próxima da margem para nós dois, ela tentou vir ao nosso encontro, mas logo uma onda a derrubou, fazendo-a rolar desgovernada de volta pra areia. Soltei uma gargalhada enquanto ela levantava resmungando e tirando a areia da bunda, Shay também se deliciava com a visão atrapalhada da mãe. Allie tentou entrar novamente, mas mais uma vez não teve muito sucesso, acabou desistindo e ficou sentada na areia observando a mim e a Shannon. Quando nos cansamos, voltamos até junto dela. Shannon pulou no colo da mãe e me sentei ao seu lado.

– Comeu muito sal Allie?

– Sem gracinhas Sullivan – disse emburrada e me deu um soco no braço.

– Okay, ninguém aqui está rindo de você, meu amor. – pisquei o olho para Shannon e ela soltou uma risadinha. – Como está se sentindo?

– Bem, só estou um pouco mais esfomeada do que o normal. Podemos ir comer?

– Claro, o que acha do Sugar Shack?

– Oh meu deus! Claro! Estou louca para ver o Timmy!

Juntamos as coisas e fomos direto ao restaurante do Timmy, estava bem lotado e não o vi por lá logo de cara, consegui com dificuldade uma mesa e logo a garçonete apareceu. Quase tossi o sal do meu corpo ao identificá-la.

– Leana? – O rosto de Allie se fechou em uma carranca e Shannon pulou assustada para o colo de Alison.

– Oi Allie, Jimmy e... – fez um gesto carinhoso na direção de Shannon, mas ela escondeu o rosto junto ao peito da mãe.

– Leana, não queremos confusão, okay? – eu disse.

– Eu sei, eu também não. – Me lançou um olhar suplicante, mas desviei o meu para o cardápio. Ela então puxou um lápis de detrás da orelha – O que vão querer?

Fiz o pedido e esperei que ela se retirasse, mas algo a prendia ali.

– Onde está o Timmy? – Allie disse seca.

– Está lá dentro.

– Eu quero vê-lo.

– Vou chamá-lo pra você. – fez uma pausa e então falou – Olha Allie...

– Eu não quero quebrar a sua cara na frente da minha filha, McFadden, então se puder dar o fora daqui...

– Eu vou, mas eu queria te pedir desculpas Wade, e pra garotinha também.

– Não estou interessada nas suas desculpas.

– Lea, não é uma boa hora okay? – me intrometi entre elas – Só traz nossa comida e a gente vai embora.

Ela não disse mais nada, se retirou e um pouco depois Timmy apareceu.

– MEU DEUS, VOCÊ PARIU! – Timmy pegou Shannon e a lançou no ar – Mas opa, eu conheço esse olhos. – Tim lançou um olhar malicioso para mim e eu apenas dei de ombros, fingindo não fazer a menor ideia do que ele estava falando. – Ah que coisinha linda essa garota, estava com saudades de você, Freak.

Allie se distraiu conversando com Timmy e então notei que Leana nos espiava por trás da bancada, havia um pesar enorme em seu olhar. Suspirei e me levantei, indo ao encontro dela.

– Parece que você encontrou um emprego decente enfim.

– Se trabalhar doze horas por dia como uma louca condenada e acabar o dia cheirando a atum é decente pra você. – deu de ombros.

– É bem decente, mais decente do que vender seu corpo qualquer panaca com um tostão no bolso.

Ela corou envergonhada.

– Obrigada Jimmy, por ainda se preocupar.

– Você não tem mais quinze anos Lea, um pouco de juízo ia te fazer bem.

– Você costumava ser meu juízo.

– Não venha com essa, precisa parar com isso. Seu juízo está dentro de você, eu não pertenço mais à sua vida.

Ela abaixou a cabeça.

– Acha que algum dia ela vai me perdoar?

– Eu sei lá, ela não é sua fã número um. Mantenha distância da gente okay? Não quero ser rude nem nada, mas...

– Eu entendo, ninguém quer ser amigo de uma puta mesmo.

– Sabe que não estou nem aí pra isso, só não quero que se estrague por isso. Mas agora eu tenho uma família Lea, e enquanto você não deixar de agir como uma criança eu não vou poder te relacionar com ela.

Ela apertou os lábios tentando controlar as lágrimas e confirmou com a cabeça. Dei um beijo em sua testa e voltei para a mesa, acabei optando por levar a comida para casa, evitaria mais problemas. Depois de atar Shannon à cadeirinha então notei algo. Entrei rapidamente no carro e olhei para o retrovisor por um longo instante.

– Algum problema Jimmy?

Me virei para Allie, a preocupação em seu rosto era nítida. Tentei escolher as palavras, mas não tinha como não ser direto.

– Tem alguém monitorando a gente... e não é o Max.


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Notas finais do capítulo

Se algum leitor do passado ainda estiver por aqui, dá um Oi p tia :D



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