A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 9
Capítulo 8 - A reforma e as meninas


Notas iniciais do capítulo

Oláaas! Não me abandonem por favor! Eu sei que demoro, mas por favor deixem reviews com o que acharam!



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Primeiro arrastamos as caixas para o banheiro ou para o corredor e passamos algumas horas tirando o papel de parede, descascando-o até o fim, colocando os fragmentos em sacolas plásticas. As meninas eram legais e apesar de tudo o que viviam ali, eram bem humoradas, otimistas eu ousaria dizer.  Nunca tive muitos amigos além de Jake. Quando era pequena, todos tinham medo de que eu deixasse escapar nosso segredo e quando cresci, só tinha olhos para Jake. Mas elas eram como eu, mestiças – menos Bonnie, que eu ainda não sabia a espécie a que pertencia – e isso era algo que eu não via desde que Nahuel voltara ao Brasil.

-Então Nessie, quem é Jacob?

Perguntou Bonnie que estava ao meu lado arrancando uma tia do papel higiênico antigo. , revelando mais da parede. Assustei-me com a pergunta.

-Você o conhece?!

Perguntei assustada. Ela riu fazendo que não, segurando o pingente de madeira da minha gargantilha com o nome de Jacob entalhado abraçado ao meu pescoço

-Ah, é...

Eu murmurei tocando a gargantilha, arrancando mais um pedaço do papel de parede sem realmente vê-lo.

-Tem uma energia muito forte vinda desse nome – Disse Bonnie, usando a unha longa para descolar um pedaço agarrado a parede – Significa, aquele que vence, sabia? Então... Quem é o vencedor?

Eu não tinha certeza do que dizer. Quero dizer, ele era meu melhor amigo apesar de tudo, mas também era meu namorado. E depois de toda aquela história de “sou seu e você é minha” será que éramos noivos?

-É... Complicado.

-Você o ama, não é?

Observei Bonnie provando do seu cheiro novamente, e não achei o cheiro de sangue mestiço novamente. E ela era tão sensitiva... O que ela seria? Sorri, acariciando a madeira.

-Sim.

Admiti ruborizando.

-Não há vergonha em amar um menino, principalmente na sua idade.

Ficamos algum tempo em silêncio concentradas na parede até que reuni um pouco de coragem para perguntar, certa de que não me arrependeria.

-Como sabia disso?

Ela sorriu e chegou mais perto como se compartilhássemos um segredo.

-Nós bruxas somos muito sensitivas, principalmente quando o assunto é amor. Na antiguidade, algumas ancestrais minhas se especializavam nessa arte.

-Bruxas? – Perguntei incrédula, segurando o riso. Aquela era a resposta que estive procurando? Bruxas? – Com varinhas, vassouras, um castelo mágico ao estilo Harry Potter?

-Não ria por ser descrente! – Ela disse ofendida. Arrancou um pedaço do papel de parede e o soltou. Observei-o cair até quase tocar o chão. Então, desafiando a lei da gravidade, o pedaço de papel subiu rodopiando como se ainda estivesse caindo, mas em um mundo virado de cabeça para baixo, parando no ar bem a minha frente. Dobrou a ponta como se desse adeus e caiu, novamente afetado pela força que nos puxa em direção ao solo – E aliás, Harry Potter é um grande homem.

Fiquei olhando estupefata para a menina ruiva ao meu lado que se concentrava na parede. Eu costumava acreditar em magia quando era menor, e era incentivada pela minha mãe e tia Rose que achavam fofa a minha fé em dragões, princesas, bruxas más e fadas, e compravam vários livros para que eu me esbaldasse. Com o tempo a realidade mostrou-se mais dura, seca e intragável que as lindas histórias doces, e a possibilidade de magia virou nula. Rose arrancou a última lasca da parede em que estava trabalhando e começou a arrancar mais perto de mim e Bonnie.

-Sem contar que Radcliffe é um gato! – Ela disse passando a língua nos lábios. – Surpreendente não é? Magia, quem diria? – Disse sem tirar os olhos do seu trabalho – E olha que no meu tempo isso ainda era considerado possível. E punível.

Tirei os olhos de Bonnie a encarei-a.

-E quando era seu tempo?

Ela deu de ombros.

-Uns 1500 anos atrás mais ou menos. Ah, a Inglaterra era o lugar mais lindo e incomparável do mundo! Você devia ver! Onde nascia havia cavalos... Grama, o sol... Ah o sol! E nos invernos tudo aquilo se cobria da mais branca neve do mundo...

            Disse suspirando nostálgica.

-Não sabia que podíamos viver tanto – Respondi interrompendo suas recordações felizes de um tempo longínquo que já havia passado. – Ei, é verdade então que namorou Benjamin Franklin?!

-Benji? Ah sim! Quando jovem ele morria de amores pela pequena Rose. Mas então virou político e já não tinha tempo para mim, e Rose precisa de atenção.

Disse fazendo biquinho. Balancei a cabeça, ainda incrédula, voltando a me concentrar nas paredes. Que amigas incríveis eu havia encontrado!


Em pouco tempo, a parede estava limpa. Observei por alguns segundos, orgulhosa, antes de pegas as sacolas em que jaziam os restos mortais do papel de parede e seguir as meninas até o lado de fora da casa/castelo, dando a volta nela. Um latão de lixo de tamanho industrial, daqueles verdes que a gente encontra fora de grandes empresas e restaurantes. Como todas podiam jurar que abrigava famílias de ratos e baratas apenas jogamos nossos sacos e corremos de volta para dentro. Elena, Bonnie e Rose subiram a escada para limpar o carpete e Meredith e Caroline levaram-me para fazer, citando suas palavras, “a parte divertida da Casa de Klaus”. As duas me conduziram até uma porta no chão atrás da escada de mármore que eu não havia notado.

A porta dava para uma escada que entrava nas entranhas da terra. Eu não tinha a menor vontade de entrar em um lugar assim – principalmente depois de assistir Um Olhar do Paraíso – imaginando um porão escuro povoado por poeira, ratos, morcegos, e móveis empilhados e poeirentos mas assim que as luzes se acenderam encontrei na verdade, uma mini Tok Stock. As duas, que pareciam dominar aquilo do jeito que Tia Alice e tia Rose fariam, não tiveram problema em me ajudar a escolher os móveis e o papel de parede novo.


Lá em cima novamente, colocamos o papel de parece novinho em folha. No momento em que chegamos lá em cima, vimos que com a limpeza, o tapete se revelara branco e peludinho como um daqueles tapetes que mamãe e papai tinham na sala do chalé, no qual eu gostava de deitar nos invernos frios, com a lareira acesa, sentindo as coceguinhas no rosto. Caroline reclamou o tempo todo, de ter que levar os rolos lá para cima, da cola, do cheiro do material de limpeza para o carpete e de tudo o que tinha algum tipo de relação com aquele quarto. Realmente desejei que ela tivesse ido alimentar o cachorro. Meredith só revirava os olhos e fazia comentários sarcásticos e depreciativos que fazia todos rirem. Era o jeito dela.

Bonnie e Elena gostavam de contar sobre acontecimentos passados da Casa de Klaus e Rose acrescentava detalhes quando elas se esqueciam deles. Percebi, sem muito espanto, que na falta de uma família, elas haviam criado uma para elas. Naquele lugar horrível, criaram uma rede de apoio para si próprias, e tirando o sádico vampiro que adorava matar nos mantendo cativas e ameaçadas por cada palavra que saia de nossas bocas, aquele lugar chegava a ser acolhedor e agradável. Bonnie tinha razão. Apenas estar ali, não era motivo para chorar. A Casa era essencialmente boa, só Klaus não era. Quando terminamos todo o trabalho, estávamos todas exaustas, grunhindo de dor nas costas.

-A cola só vai secar amanhã e se tentarmos trazer os móveis eles vão estragar a parede. Sem contar que o produto para o carpete faz mal – Disse Elena se espreguiçando. Ela era quem ditava as regras naquela família, como Vovô costumava fazer – Retomamos amanhã? Nessie, pode dormir comigo e Bonnie.

Fiz que sim, pensando que jamais conseguiria dormir.


Por fim acabei dormindo antes do que esperava, quando as meninas iam jantar, um sono leve e com pesadelos assustadores povoados pelo Professor Klaus, no colchão inflável do quarto que Elena dividia com Bonnie, Caroline e Meredith, e surpreendentemente com um grande Dogue Alemão, que eu julguei quase morto, devido ao empenho que colocava em jogar-se na cama que era pequena demais para abrigar seu corpo gigantesco. Seu nome era Chad. Ao que parecia, nas torres todos dividiam os quartos, o que era compreensível porque eram quartos enormes. Os pesadelos eram sempre os mesmos. A mata escura e Scott montado em mim como um animal. Eu gritava por ajuda, mas então estava no meio do fogo, com meus parentes queimando, e Jake em uma jaula ganindo. E quando o frio da lâmina cortava minha garganta, as fogueiras e a jaula desapareciam e eu sabia que eles haviam sumido para sempre. Então tudo recomeçava.

Porém à certa hora da madrugada acordei com o travesseiro encharcado de suor e lágrimas, finalmente liberta de todo aquele horror repetitivo. O luar descia através da janela, iluminando o quarto com um brilho perolado, fazendo os lençóis brancos refletirem e deixando as sombras azuis. Levantei trêmula e fui até a janela. O quarto de Elena, Bonnie, Caroline e Meredith ficava no segundo andar das torres. Ali era fresco e iluminado, decorado por um papel de parede que lembrava um quarto de bebê, com um fundo cor de rosa claro e laços em rosa Pink. Os móveis eram de madeira clara, desgastada pelo uso. O carpete era rosa-shocking. Quantas vezes eu olhara para aquela mesma lua antes em casa? Quantas vezes eu olhara para as estrelas, quase idênticas àquelas na mansão Cullen? Não era possível nem contar.

Porque então tudo parecia ter perdido o brilho e a magia que costumavam ter por trás das nuvens fofas e úmidas de Forks? Eu queria tanto ir para casa... Tanto...

-Eu morava com a minha avó no sul. – Disse Bonnie, com os olhos castanhos brilhando quando se aproximou da janela iluminada para ficar ao meu lado. – Ela me contou que eu era uma bruxa quando completei 16 anos. Começamos a treinar e meu pai não quis fazer parte disso. Então fui morar com ela, e começamos a praticar todo o dia. Mas eu era inexperiente e magia exige muita força, por isso vovó tinha que me ajudar com a dela. Um dia, Klaus apareceu e pediu-me para fazer um feitiço. Não sabia quem ele era, naturalmente, mas já havia sonhado com ele. Mas eu não disse à vovó, e mesmo sendo um feitiço estranho que nenhuma de nós duas conhecia, eu precisava do dinheiro para a faculdade. – Seus olhos se encheram de lágrimas que brilharam ao luar como diamantes – Foi um feitiço tão forte que me apagou por dias. Quando acordei aqui, e Elena me fez olhar para o céu. Havíamos criado uma lua de Sangue. Durante um mês foi uma lua vermelha que subia ao céu, o que enlouqueceu os astrólogos, é claro. Perguntei a Klaus o que ele tinha feito com a minha avó, e ele respondeu que o sangue em lua, era o sangue dela...

            -Porque está me contando isso?

Perguntei com um fiapo de voz rouca. Ela sorriu fracamente.

-Porque eu sei como é. Sei como dói. Sei o que Klaus pode fazer. Sei como ele faz parecer que nenhum deles nunca existiu. Cada um de nós sabe. Você não está sozinha. Todos temos histórias tristes, menos Caroline, que seu maior desastre foi perder o IPod na vinda para cá – Rimos baixinho para não acordar as outras, e o riso logo se extinguiu – O ruim, Nessie, não é estar aqui. É não estar lá com eles.

Ficamos em silêncio. Bonnie de algum jeito me lembrava meu pai. Sempre sabia o que dizer, não importava a situação. Acho que nunca o tinha visto sem palavras a vida toda. Queria que ele viesse me buscar para me levar para casa e aposto que Bonnie também queria que a avó viesse buscá-la para que elas voltassem para sua casa no sul. Mas ambas sabíamos que isso não ia acontecer.

-Eu venho de uma família de vampiros vegetarianos, no Norte, Washington. Uma cidade pequena e chuvosa onde os vampiros podem se esconder do sol em paz. Eu sempre fui a filha única, única neta, única sobrinha, enfim, a única criança da casa. Eu tinha acabado de me declarar. – Disse tocando a gargantilha – Mas então comecei a ter esses sonhos, e minha tia previu algo ruim. Por um mês nos preparamos para algo que viria, mas nada veio, então nos descuidamos. Naquela noite eu tentei fugir quando acordei no caminhão. Acho que corri um ou dois KM antes de Scott me alcançar. Ele... Não foi gentil.

-Abusou de você? – Fiz que sim envergonhada. Como havia deixado aquilo acontecer? – Você não é a única. Katherine, a irmã de Elena, tentou fugir também.

-Sinto que tudo foi roubado de mim de uma noite para a outra.

Disse com desgosto. Bonnie suspirou.

-Reza a lenda que Klaus foi preso uma vez por sequestro de uma mestiça com boas influencias, há muito tempo. E foi lá que ele encontrou Scott, preso com perpétua, sem chance de apelação. Estupro, homicídio múltiplo, furto, tudo isso. Era o homem mais forte e temido da prisão. Klaus o transformou e o hipnotizou para que o seguisse. Juntos eles fugiram da cadeia.

Eu ri baixinho.

-Klaus hipnotizou Scott? Mesmo? Com relógios e tudo o mais?

Bonnie deu um tapa na parte de trás da minha cabeça de cara feia.

-Ai!

Reclamei.

-Para que está enterrada até a cabeça em um poço de sobrenaturalidades, você é muito descrente. – Ela bronqueou – Vampiros Originais consegue hipnotizar humanos e/ou outros vampiros de classes inferiores não necessariamente nessa ordem. Bruxas e mestiços também. Você nunca fez isso?

Olhei-a com dúvida fazendo que não. Isso era esquisito, muito esquisito, afinal, meu único dom era projetar meus pensamentos. Só isso. Simples. Finito. Fim de papo. Ponto final. Cabum! Em uma só conversa, Bonnie conseguia tirar todas as minhas certezas bem debaixo dos meus pés como um tapete. Ela bocejou graciosamente e se espreguiçou.

-Acho que vou voltar para a cama. Todo o dia é um novo dia não é?

Ela andou devagar até a cama, puxou a coberta e se deitou, fazendo as molas da cama rangerem ruidosamente. Elena gemeu incomodada e virou-se de costas para mim. Observei uma última vez a lua branca e as estrelas brilhantes, e voltei para o conforto do colchão inflável e das patinhas fofas de Caçadora. Encostei meu nariz ao seu focinho de plástico por algum tempo. Por fim me encolhi debaixo das cobertas abraçando a raposinha de pelúcia. Caí em uma sono pesado depois de chorar baixinho por quase uma hora. 



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