A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 39
Capítulo 38 - Família


Notas iniciais do capítulo

Estou tendo que repostar!



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Nessie

      Estávamos a meio caminho da escola. Já era o quarto verão que eu passava em propriedade de Niklaus. Mas estava tudo bem. Lizzie estava comigo. Em quatro anos, ela crescera até parecer com, mais ou menos, uns 12 anos, e a cada dia, ela ficava maior, mais forte e mais linda. Seus cabelos louros agora lhe chegavam ao meio das costas. Eu tentava convencê-la a cortá-los, mas ela insistia que se o cortássemos, ele ficaria castanho e perderia o seu poder, como a Rapunzel de Enrolados.

      -Mas você vai ficar linda morena... Igual a mim...

      Tentei convencê-la, mas ela fez que não. A paixão por rosa amenizara um pouco com o tempo, abrindo horizontes para azul, lilás e laranja. Ela ia a frente, com uma mochila das Meninas Super Poderosas, com as duas trancinhas balançando ao seu lado enquanto ela saltitava. Eu sorria, caminhando com Boi ao meu lado. O Dogue Alemão de Lizzie nos esperara todos os meses que ficáramos fora. Porém o adorável filhote havia se tornado um irreconhecível cachorro gigantesco de 10 KG, que comia quase metade disso no almoço. Ele voltara a ser uma companhia constante, seguindo-nos da Casa para a escola e da escola para a Casa, e então dormindo na cama de Lizzie com ela, ocupando grande parte do espaço.

      Boi parou de repente, latindo e rosnando para as árvores ao nosso redor. Parei o seu lado e pousei a mão em sua cabeça para tentar, sem sucesso, acalmá-lo.

      -O que foi garoto?

      Perguntei baixinho. Lizzie notou que havíamos parado e voltou correndo de braços abertos até nós como um avião e jogou-os ao redor do pescoço do amigo.

      -Qual o problema Scooby-Boi?

      Perguntou. Ele continuou latindo, balançando o corpo de Lizzie com ele.

      -Lizzie, solte-o um pouquinho – Ela o fez, dando um passo atrás. – Boi, apontar.

      Ordenei. Lembrando-se do treinamento que eu e Lizzie déramos a ele, ele levantou a pata direita e com o focinho, apontou para um ponto qualquer no meio das árvores. Eu e Lizzie olhamos naquela direção, curiosas.

      -Não tem nada lá, Scooby-Boi.

      Lizzie reclamou, olhando nervosa para a porta da escola. Klaus estava cada vez mais intolerante à atrasos à aula. Boi  não dava sinais de ter alguma intenção de sair do lugar. Suspirei, olhando para ela.

      -Pode ir. Eu vejo o que ele quer.

      Eu disse dando de ombros, observando aquele ponto na floresta com mais afinco. Algo pareceu se mexer levemente entre as folhas. Estreitei os olhos e me aproximei, tentando ver melhor, mas não parecia haver nada ali. Lizzie fez que sim e virou-se, voltando a caminhar para a escola.

      -Boi, pega.

      Eu disse, ainda tentando ver o que mexera as folhas. Boi avançou cautelosamente a frente, como se a qualquer momento fosse dar o bote em alguma coisa. Eu o segui, com as mãos nos bolsos, indiferente. Devia ser apenas um esquilo ou algo de tipo. De um modo ou de outro, era bom estar sozinha no meio das árvores. Quando se tem uma mestiça de quatro anos para tomar conta e um falso namoro para sustentar, não é comum ter tempo só para si. Sim, meu falso namoro com Elijah voltara. Mesmo quando percebemos que não estava mais dando certo, ainda precisávamos um do outro. Para tomar conta um do outro, para nos proteger e para cuidar que Lizzie tivesse a melhor vida possível. Ele estava quase sempre por perto. Mas não hoje.

      Klaus estava particularmente inspirado para suas torturas ultimamente e gostava de assistir enquanto Scott testava-as em Elijah. Ele havia passado um pouco dos limites na noite passada.

      -Boi?

      Chamei ao voltar dos meus devaneios, percebendo que o havia perdido no meio das árvores. Ele estava quieto demais. Ele latiu, me chamando até onde ele estava. Quando eu o encontrei, ele estava parado no meio do nada, abanando a cauda.

      -E cadê? – Perguntei a ele, procurando. Ele só ficou me encarando, como se estivesse à minha frente e só eu que não estivesse vendo. Ele parecia querer um prêmio por ter achado o nada – Boi, apontar.

      Ele levantou a pata direita e apontou com o focinho na minha direção. Virei-me assustada, suando frio, preparada para encontrar Scott com aquela careta retorcida que eu insistia em chamar de sorriso. Felizmente, só havia o vazio. Suspirei, aliviada. Tínhamos que sair dali... Eu não devia estar sozinha onde eu era uma presa fácil para Scott.

      -Quem é Scott e porque ele iria querer te machucar?

      Perguntou uma voz atrás de mim. Virei-me de um salto, já me retraindo em uma posição de defesa. Boi latiu, mas os vampiros parados como estátuas a sua frente não pareceram notar.

      -M-m-mãe? P-p-p-pai?

      Perguntei gaguejando. Eles estavam ali? Estavam mesmo ali?

      -É claro que estamos aqui.

      Disse meu pai, sorrindo. Não havia tempo para abraços e nem recepções calorosas. Klaus devia estar a um raio de 5 km. Talvez até menos. Se ele descobrisse, se tivesse a menor pista...

      -Vocês têm que ir embora.

      Eu disse, apavorada. Minha mãe se mostrou confusa.

      -E-embora?

      Perguntou, sem entender nada. Fiz que sim.

      -Se Klaus descobrir que estão aqui, ele vai...

      -NEEEESSIEEEE!

      Chamou uma vozinha, inssistente. Virei-me para ela, que saiu do meio das árvores, saltitando.

      -Lizzie, eu disse para ir para a escola!

      -A srta. K não chegou ainda, então vim ver o que você e Boi tinham achado.

      Ao ouvir o próprio nome, o cachorro veio até ela, balançando a cauda enorme como um filhote travesso. Lizzie fez carinho nele por um segundo e então levantou os olhos, encarando os vampiros atrás de mim. “Pai, vocês precisam ir embora!”, implorei, mais uma vez.

      -Vai para a escola Lizzie.

      Ordenei.

      -Não!

      Teimou, levantando o nariz..

      -Elisabeth Forbes, vou chamar Elijah aqui.

      Ela congelou, hesitando. Desde que descobrira que Elijah podia ter ido embora, agora fazia tudo para agradá-lo, com medo de que um dia, nós acordássemos e não houvesse mais flores brancas de baunilha para nós – hábito que ele retomara quando voltamos à casa, mesmo depois que termináramos. Ela fez uma careta e baixou a cabeça, arrastando os pés pela grama. Eu estava prestes a abrir a boca e explicar calmamente porque meus parentes precisavam dar o fora dali o mais rápido possível, quando ouvi o primeiro dos três sinais da escola. Eu ia me atrasar!

      Lancei um olhar para eles, desejando que houvesse tempo para pensar em algo para dizer.

      -Ninguém pode ver vocês.

      Eu disse, cautelosa, correndo em direção a escola. No caminho, encontrei Lizzie, peguei sua mão, e puxei-a comigo na direção do prédio cheio de colunas.

      No corredor principal, disparei até minha sala,sentando-me ao lado de Nahuel um milissegundo antes do ultimo sinal terminar de tocar e do professor entrar na sala. Desabei em cima da bancada.

      -Acordou tarde, foi?

      Ele perguntou, bem humorado, entendendo-me o livro que pegara para mim.

      -É, tipo isso.

      Eu disse, tirando uma mecha de cabelo da frente do rosto, aceitando o livro com um sorriso leve. Ele me examinou, como se tentasse pesar a veracidade das minhas palavras.

      -O que foi?

      Perguntei, estranhando seu olhar.

      -Nada.

      Ele disse, desviando os olhos e sorrindo para si mesmo. Estreitei os olhos para ele, mas não fiz mais perguntas. Também tinha meus segredos a esconder.

     

      No almoço, eu não conseguia desviar o olhar da janela, esquadrinhando as árvores na esperança que minha família já estivesse longe e fora de perigo. Quando os vi, tudo o que queria era abraçá-los com força e implorar para que me levassem para casa, mas eu sabia que isso não podia acontecer. Um dia, Klaus nos acharia e nos mataria um a um, fazendo o resto de nós assistir, assim como ele fazia na Casa. Doía tê-los rejeitado daquele jeito, depois de tudo que eu os devia ter feito sofrer, mas eu sabia que entregá-los a morte só para que tivéssemos mais algum tempo juntos não era a melhor das escolhas.

      -Qual o seu problema hoje?

      Perguntou Elena, provavelmente notando meu ar distraído.

      -Não é nada.

      Eu disse, dando de ombros, e encarando a minha comida intocada.

      -Nessie viu pessoas estranhas hoje.

      Disse Lizzie, com a maior cara limpa.

      -Quem eram?

      Perguntou Bonnie, desconfiada. Suspirei antes de responder.

      -Minha família. Mas eu os mandei embora – Disse antes que elas pudessem reagir. – Não posso correr o risco de que Klaus os pegue.

      Elas fizeram que sim, encarando-se, preocupadas.

      -Eu gostaria de conhecer seus pais, - Disse Elena, fuçando as cenouras em seu prato com o garfo, sonhadoramente – Aposto que a sua mãe é linda...

      Ela disse, sorrindo levemente, o perfeito retrato de uma daquelas meninas órfãs de filmes de animação, pensando na mãe que nunca conhecera. Bonnie apontou a faca para mim, de boca cheia, mastigando. Engoliu e disse:

      -Eu com certeza escolheria o seu avô. A filosofia de vida que ele criou é incrível.

      -O que estão fazendo, florzinhas do dia?

      Perguntou Meredith animadamente, sentando-se ao lado de Lizzie. Caroline sentou-se ao lado de Elena. Sim, a afinidade das dela e de Lizzie nunca melhorou. Lizzie continuava com a mania irritante de repetir incansavelmente que elas deviam ser parentes já que tinham sobrenomes iguais.

      -Estamos comentando quem da família de Nessie gostaríamos de conhecer.

      Explicou Elena, comendo uma das cenourinhas minúsculas, mais animada.

      -Seu tio Jasper. Gosto de histórias da guerra civil.

      Respondeu Meredith olhando para mim.

      -Eu iria vender minha alma para as suas tias se elas aceitassem ser minhas personal shoppers.

      Disse Caroline suspirando, extasiada com a ideia, mesmo que ela incluísse venda de alma.

      -Eu queria os biscoitos da vovó da Nessie. – Disse Lizzie lambendo os lábios – Parecem deliciosos.

      Todas riram da sua doçura e ela lançou um olhar sapeca a todas.

      Quando estávamos voltando para a Casa, Lizzie estava morrendo de cansaço. Desde que voltáramos ao Colorado, Lizzie passara a fazer Habilidades Físicas conosco, e isso a exauria. Os exercícios aos que éramos submetidos já nos deixavam no limite, nós que tínhamos idade para eles. Para Lizzie ainda era ainda pior. Estava levando-a no colo com nossas mochilas penduradas no ombro.

      -Nessie.

      Chamou baixinho, sonolenta e bocejando.

      -Diga, meu anjo.

      -Aquela moça. Na floresta. Era sua mãe?

      Perguntou. Fiz que sim.

      -Era ela sim.

      Lizzie ajeitou-se no meu colo, com a cabecinha deitada no ombro livre. Ela bocejou antes de continuar.

      -Ela era bonita. Como você.

      Ela disse com um sorriso. Sorri com ela.

      -É, também a acho muito bonita.

      Lizzie ficou algum tempo em silêncio.

      -Porque você não foi embora com ela? Eu sei que você sente muito a falta deles...

      Suspirei.

      -Eu sei. Só não quero que Klaus os machuque. Você entende, não é?

      Ela fez que sim, e ficou mais um tempo em silêncio, talvez pensando, talvez me dando espaço e talvez dormindo, vencida pelo cansaço. Mas não tardou até que ela voltasse a falar.

      -Ela cantava para você?

      Perguntou baixinho. Estranhei a pergunta.

      -Ás vezes, sim.

      Ela abraçou mais meu pescoço, se arrumando.

      -Canta para mim? Por favor?

      Suspirei. Fazia muito tempo que eu não me lembrava de casa. Quando o fazia, terminava triste por um ou dois dias,  e percebi que isso não fazia bem para ninguém. Nem para mim, nem para Lizzie, nem para Elijah e nem para as minhas amigas. Então evitava estes pensamentos ao máximo. Mas se ela estava pedindo tão docemente, obviamente não a negaria.

      -Posso tentar. Lá vai.

      Just close your eyes
      The sun is going down
      You'll HYPERLINK "http://www.vagalume.com.br/taylor-swift/safe-and-sound.html"bHYPERLINK "http://www.vagalume.com.br/taylor-swift/safe-and-sound.html"e alright
      No one can hurt you now
      Come morning light
      You and I'll be safe and sound

      Aos poucos, os bracinhos de Lizzie perderam a força e se soltaram enquanto entrávamos na casa e subíamos a escadaria até o nosso quarto. Abrindo a porta, eu a deitei na cama baixinha ao lado da minha, que Lizzie chamava de “Cama de Mocinha”, muito melhor que o berço que costumava dormir antes. Porém ela admitia que sentia falta do balanço as vezes. Mal deixei as bolsas no chão, ouvi uma batida na porta.

      -Está aberta.

      Eu disse, desabando na cama. Elijah entrou no quarto, mancando com a perna direita. Pus-me sentada imediatamente, analisando seu estado.

      -Hei, conseguiu levantar... Você parece melhor.

      Eu disse, sorrindo de leve. Ele deu de ombros e mancou até a cama, sentando-se ao meu lado com um gemido. Acariciei suas costas e ele me lançou um sorriso. Ele uniu as sobrancelhas e estendeu a mão, alcançando meu rosto com a ponta dos dedos. Eles voltaram molhados.

      -Estava chorando?

      Dei de ombros.

      -Eu nem percebi.

      Disse, limpando meu rosto com a ponta dos dedos. Ele abriu os braços, oferecendo um abraço que eu aceitei, agradecida. Eu e Elijah podíamos já não ter mais nada romântico entre nós, mas ele ainda era um bom amigo para se recorrer quando já não se tinha mais ninguém. Desde que Rose se fora, ele era meu amigo mais próximo, em questões geográficas principalmente.

      -O que aconteceu?

      Ele perguntou, fechando os braços ao meu redor e pousando o queixo no topo da minha cabeça. Tremi antes de dizer:

      -Meus pais vieram atrás de mim. E eu os mandei embora.

      Ele fez que sim.

      -Você fez o certo, sabe disso. Sabe o que aconteceria se Klaus os pegasse.

      -Megan...

      Gemi. A garota que vivera antes de mim no quarto 9. O pai e a madrasta vieram buscá-la, 5 anos atrás, em uma manhã como aquela. Ela tentou alertá-los sobre Klaus, mas eles a convenceram. Fugiram. Scott os esperava no topo da montanha. O fim da história foi como o de Trevor, de Rose, de Greta, de Vicki e muitos outros na Casa de Klaus. Mortos em um altar, como sacrifício ao sádico vampiro com complexo de deus.

      -Certo. Megan. Não pode se repetir.

      -Não, não pode – Concordei. Nunca deixaria algo como aquilo acontecer à minha família – Mas não deixa de doer. Sinto muito falta deles.

      -Eu sei, eu sei. Tudo bem. É normal sentir falta de casa. Mas você tem que ter em mente que é impossível voltar enquanto Klaus estiver vivo.

      Fiz que sim, amargurada.

      -Eu queria que ele morresse. Que fosse queimado e Tyler mijasse em suas cinzas na forma de lobo.

      Elijah riu do meu pensamento e depois de um tempo desisti da minha cara séria e ri com ele, mais da sua risada do que de mim. Como Elijah nunca teve muitos amigos, ele não estava muito acostumado a rir. E toda a vez que ele gargalhava para valer, ficava com soluços. Era fofo, na verdade. Aos poucos paramos de rir, visto que Lizzie estava dormindo logo ali do lado. Mas Elijah continuou sorrindo. Ele tocou meu queixo com a dobra do indicador carinhosamente.

      -Nunca deixe de sorrir. Seria um crime contra toda a beleza e verdade do mundo.

      Meu sorriso tornou-se triste.

      -Ultimamente está difícil – Virei-me para Lizzie, que ressonava calmamente em seu sono – Bem difícil.

      Tive a impressão de ver, pela janela, um lampejo de pêlos castanhos na floresta lá fora, mas devia ser apenas Boi que ainda não voltara para a Casa.

      Lizzie estava no Hall, assistir algum filme da Barbie. Sem vontade de ficar lá com ela, deixei-a aos cuidados de Elena e Bonnie, que pareciam até estar gostando do filme quando saí. Fechei a porta e me virei para o quarto. Estava, felizmente, bem arrumado, porque eu estava psicológica e fisicamente exaurida. Joguei-me na cama com um suspiro, ouvindo as molas rangerem abaixo de mim. Fazia quase um dia que eu descartara a chance de ir para casa e eu me sentia velha. Tentei por horas na escola, me convencer que tudo o que eu desistira fora de morrer e arrastar meus familiares comigo, porém havia uma pequena parte de mim, que realmente acreditava que eu podia voltar para Forks e viver uma vida longa e feliz ao lado de Jake e minha família, como era antes de tudo aquilo.

      Imagino se era assim que Megan se sentira quando reviu os pais. Talvez isso a tivesse levado a agir do jeito que agira. Se tivesse pensado um pouco melhor, talvez agora fôssemos colegas de quarto. Podíamos talvez até ser melhores amigas. Mas então eu não teria a coragem de mandar meus pais embora. Indiretamente, Megan, sem nem ao menos saber da minha existência, ou da deles, os salvara. Toquei o pingente de ouro com a frase que fazia meu coração doer só de pensar. Mais do que minha própria vida. “Por isso tiveram que ir.”, Pensei, “Não me importo de morrer desde que Klaus mantenha as garras longe de vocês.”

      -Não precisa ser assim.

      Sentei-me, já sabendo o que encontraria.

      -Klaus é incansável. – Eu disse a ele. – Podemos correr, mas jamais nos esconder. Klaus tem bruxas à sua disposição, que podem nos localizar em segundos, não importando se mudamos de país, de nome, aparência ou emprego. Vai matar cada um de nós se tiver chance.

      Eu disse, olhando em seus olhos sem pestanejar. A verdade pingava daquelas palavras como um ácido. Nenhum deles sequer piscou.

      -Porque você?

      Perguntou minha mãe, obviamente magoada com o jeito que eu os tinha tratado.

      -Por causa do que eu sou. Sou um ponto cego. Klaus está construindo um exército deles, por motivos que desconhecemos.

      -Os Volturi. Só pode ser.

      Disse vovô, atrás dele. Estavam todos ali, percebi. Isso ia ser mais difícil do que eu pensava.

      -Não importa realmente. Klaus não vai permitir que eu viva para contar a história. E nem vocês se não forem LOGO!

      Minha mãe veio até mim batendo os pés, possessa. Fiquei com medo que alguém no andar de baixo notasse, mas me lembrei que não havia quartos abaixo de mim. Só torci para que o lustre não tremesse nem nada parecido. Tudo o que eu não precisava era Lizzie adentrando o quarto agora.

      -Procuramos você por 4 anos e meio. Não dormimos, você sabe disso. Foi um longe tempo e nós nunca paramos, não descansamos por um segundo sequer. Você pode ao menos nos dizer o que aconteceu?

      -Quando, exatamente?

      Perguntei, decidida a explicar tudo o que ela quisesse contanto que isso a tirasse daquela Casa.

      -Esse tempo todo – Ela disse, com a voz transformada em um gemido de descontentamento. Se pudesse chorar, eu não tinha dúvidas que ela estaria. – Você tinha 6 anos quando se foi e agora tem 10. Você era parecia uma adolescente e agora é uma mulher. – Ela disse, limpando as lágrimas que eu derramava no lugar dela. – Como é que você pode me pedir para ir embora e deixar você de novo, talvez por mais 4 anos?

      -É para o seu bem, mãe. Niklaus é meu proprietário.

      -Não, não é! – Disse tia Rose – Nenhum homem possui mulher alguma.

      Ela disse ferozmente, provavelmente tomada por memórias desagradáveis. Tio Emmett pousou o braço por seus ombros.

      -Isso não tem nada a ver com o meu sexo. – Respondi, olhando diretamente para ela – Ele é louco. Fará qualquer coisa para assegurar sua propriedade, seja qual sexo for. – Suspirei, voltando-me para a minha mãe – Eu não estou dizendo que estou feliz em mandar vocês embora. – Eu disse, olhando nos olhos dourados dela – Mas é perigoso.

      -Nós protegeremos você.

      Fiz que não. Como ela não entendia?! Tomada pela raiva, passei cenas a ela, às milhares. Trevor. Jenna. Vicki. Rose, quando ela se rebelou contra Klaus para proteger Caroline. Greta, quando ela negou-se a usar magia para torturar Elijah. E com relutância, retornei àquela noite com Scott. Pude ouvi-la arfar com as imagens. Passei pelo nascimento de Lizzie, pelo freezer, pela noite depois de Titanic, pela noite ao lado de Elijah depois que Scott o espancara e a primeira experiência com verbena.

      -Você entende agora? – Perguntei, com as lágrimas mal me deixando ver – Ele fez tudo isso. A culpa é toda dele. É o que ele vai fazer se encontrar vocês aqui. – Suspirei e tentei penetrar o mais fundo possível dentro da mente da minha mãe. Se o maldito poder de hipnose meio-vampiro existia, tinha que funcionar naquele momento – E eu já perdi coisa demais, mamãe. Não posso perder vocês também...

      Ela me abraçou com força.

      -Eu vou. Mas não vou desistir de você.

      Sorri entre lágrimas.

      -Teimosa.

      -É isso?! – Perguntou tia Rose indignada – Vocês vão deixá-la com esse maluco porque ela PEDIU? Ela tem 10 anos, pelo amor de Deus!

      Soltei-me lentamente da minha mãe e fui até ela, pegando suas mãos e olhando em seus olhos dourados. Só mostrei a ela a noite antes de chegar a Casa. Ela não precisava de mais nada. Ela parecia traumatizada quando voltamos da lembrança.

      -Você cuidou de mim desde que eu consigo me lembrar. Agora é minha vez de cuidar de você – Estendi-me para dentro dela. Seria muito mais fácil se existisse um interruptor HIPNOTIZAR/DESIPNOTIZAR. – Vá.

      Eu disse simplesmente. Ela fez que sim e me apertou contra o peito uma última vez. Uma olhar para tia Alice foi o suficiente. Ela depositou um beijo na minha bochecha e me lançou um olhar de cãozinho pidão. Ela lembrava mesmo Rose. Fiz que não e ela entendeu. Talvez visse um futuro em que voltássemos a nos encontrar, em uma ocasião melhor. Tio Jasper bateu uma respeitosa continência silenciosamente, como se dissesse que tinha sido um prazer servir comigo. Respondi, com um sorriso trêmulo. Minha avó pegou meu rosto entre as mãos.

      -Ninguém está mandando você fazer isso não é? Ninguém pode te obrigar a nada.

      Fiz que não, tocando sua mão.

      -Não estão mandando vó. E se estivessem, estariam salvando as suas vidas.

      Pude ver que ela não queria ir, mas ela compreendeu, sem a necessidade da hipnose, pelo amor que ela sentia pelo resto da família. Com um olhar triste ela se virou e caminhou em direção à janela. Meu avô veio até mim e pousou as mãos sobre meus ombros.

      -Vai ser corajosa, não vai?

      Fiz que sim.

      -Eu tenho fibra – Afirmei, sorrindo levemente – Não temos muito tempo, mas grave bem o que vou dizer e não conte a mais ninguém: Cuidado com a verbena.

      -Verbena? A planta medicinal?

      -Não é só isso. Cuidado.

      Alertei mais uma vez. Ele hesitou alguns segundos e assentiu, por fim. Com um leve apertão nos ombros, ele se foi. De braços cruzados, tio Emmett me encarava e quase pude ver as engrenagens na sua cabeça girarem, e fumaça subir de suas orelhas, como se ele visse uma coisa que ele não soubesse o que era.

      -Ei – Eu disse acenando com a cabeça para ele – Eu sou o astro do time de baseball da Casa de Klaus. Inveja?

      Perguntei, tentando aliviar o clima. Ele mostrou a língua.

      -Seus amigos devem ser péssimos...

      -Você ficaria surpreso. – Disse, pensando em Matt, voando com a bola no bico. Lembrei de uma coisa e corri até a mesa de cabeceira, abrindo a gaveta e pegando uma foto que há muito tempo encontrara amassada no meio das minhas coisas e estendi para ele.

      -O que é isso?

      Dei de ombros.

      -Só faça com que chegue ao Forks Chronicle

      -O... Jornal? Mas o que... – Ele começou, e olhou para foto, que era, possivelmente, a evidência definitiva que tio Jasper sabia, sim, sorrir. Ele sorriu. – Boa sorte tampinha.

      Ele disse, piscando para mim. Quando ele pulou a janela, os únicos que continuavam ali eram meus pais, olhando-me.

      -Tem certeza que é o que você quer?

      Minha mãe perguntou.

      -Não. Mas é o certo.

      Meu pai deu o sorriso torto que minha mãe mais gostava e veio até mim, me abraçando com força. Abracei-o de volta, sentindo seu cheiro.

      -Nós temos muito orgulho de você.

      Disse, beijando o topo da minha cabeça.

      -Mais do que minha própria vida.

      Sussurrei.

      -Muito mais.

      Mamãe concordou. No segundo seguinte, eu estava sozinha na sala, girando meu medalhão entre os dedos.

      Frank

      Os Cullen ainda estavam no andar de cima. E lá estava eu, torcendo as mãos umas nas outras, nervoso. Eu era um covarde. Perseguira Elisabeth e Kate pelo país afora, e agora, às portas de sua casa, não tinha coragem de dar um passo a frente. Mas o que diria? Desculpe-me? Por não conseguir evitar que levassem vocês, quando era meu dever protegê-las? Desculpe por tentar reconstruir minha vida quando vocês partiram, ao invés de procurar por vocês? Não haveria tempo para me desculpar por tudo que eu precisava me desculpar. Não naquele momento. Talvez, quando os Cullen trouxessem-nas, eu pudesse, finalmente, conhecê-la. Talvez, com sorte, ela me perdoaria.

      Senti um toque quente nos meus dedos. Um enorme Dogue-Alemão farejava minha mão. Ele pareceu decidir que gostava de mim e começou a me lamber. Sorri, fazendo carinho de leve na sua cabeça. Ele balançou a cauda e latiu para a Casa. A porta se abriu, espalhando luz pelo chão. Uma garotinha saiu de lá, saltitando.

      -Boi! Venha para dentro!

      Ela chamou o cão. Ele não se moveu, latindo para ela, como se pedisse que se aproximasse. Eu tentei dar um passo atrás, mas ele puxou minha manga de leve com seus dentes, impedindo-me de ir. A menina se aproximou, irritada.

      -Vamos, Boi, venha...

      Chamou ela, e então se deteve, ao me ver. Ela piscou duas vezes, virando a cabeça de lado. Prendi a respiração – Não que realmente precisasse dela. Santo Deus, ela era igual a mim.

      -Você...

      Ela sussurrou, tapando a boca. O cãozinho Boi foi até o seu lado, sentando-se, orgulhoso de si mesmo.

      -Elisabeth. 

      Consegui dizer. Ela fez uma careta.

      -Meu nome é Lizzie, papai.

      Ela corrigiu.

      -Eu...

      – Você precisa ir embora.

      Ela me calou, antes que eu pudesse expressar qualquer arrependimento.

      -Embora?

      -Você não está seguro aqui. Você precisa ir embora.

      -Eu? E você?

      -Eu estou bem. Vai embora!

      Disse, me empurrando para trás e puxando Boi pela coleira para a casa. Fiquei estático, paralisado. Sempre esperara que meu filho e de Kate fosse como ela. Alegre, altruísta e perfeito. Nunca imaginei que na primeira vez que visse aquela carinha, ela se torceria em uma careta, e me mandaria embora. Foi naquela mesma posição que os Cullen me encontraram.

      -Eu não acredito nisso. Ela não pode escolher ficar aqui!

      Rosalie esbravejou.

      -Mas nós não vamos desistir.

      Isabella deixou claro. Carlisle fez que não.

      -É claro que não. E eu sei para onde precisamos ir agora.

      -Precisamos ficar aqui! – Teimou Rosalie – Já a encontramos. Chega de migrar, chega de procurar, chega de tudo isso! Ela está logo ali!

      Mas o líder do grupo só negou com a cabeça.

      -Ela tocou no nome de Klaus. Niklaus Mikealson. Ele requisitou se tornar parte dos Volturi, 200 anos atrás. Tentou atacá-los em uma ocasião. É por isso que há tantos híbridos aqui.

      -Estão reunindo um exército.

      Sussurrou Esme.

      -Então nós vamos deixá-la aqui sozinha com ele?

      -Não. – Disse o lobisomem, se transformando na sua forma humana – Ela não estará sozinha. 


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