A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 26
Capítulo 25 - Verdade ou Desafio


Notas iniciais do capítulo

Um dia de atraso na postagem. Que vergonha. Não me odeiem.



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-Bonnie. Verdade ou Desafio?

            Bonnie tocou o queixo, pensando.

            -Não gosto de aceitar riscos. Verdade.

            Caroline sorriu, como um gato com um rato preso entre as patas. Apesar de ela se mostrar uma ótima amiga na maioria das vezes – Apesar do entusiasmo na hora errada, dos comentários óbvios e da completa futilidade – Esse lado meio psicótico de menina mimada dela me assustava um pouco. Ela parecia um daqueles personagens de Criminal Minds do qual você nunca desconfia, mas que é o assassino no final.

            -É verdade que você e Jeremy se pegaram no porão, três dias atrás?

            Bonnie uniu as sobrancelhas, torturando-se internamente. Ela conhecia as regras. A) Dizer a verdade, apenas a verdade, e nada mais que a verdade. B) Nada do que dissermos sai da barraca. C) Uma vez que escolher a sua opção, não dá mais para voltar atrás.

            -Não nos pegamos...

            Ela começou.

            -Trocaram saliva, então?

            Alfinetou Caroline, querendo extrair tudo o que pudesse daquele jogo aparentemente inocente. Bonnie suspirou.

            -Ele estava chorando...

            -Beija tão mal assim, Bennet?

            Perguntou Kath, sorrindo. Bonnie fuzilou-a com o olhar.

            -Pode me deixar terminar?! – Perguntou irritada. Todas nós ficamos quietas. Ela respirou fundo. – Eu fui ao porão atrás de algo novo para ler... Ele estava chorando, e parecia muito triste. Então nós conversamos, e ele disse que já não agüentava Vicki, então...

            -Três pontinhos...

            Disse Caroline animada. Bonnie sorriu.

            -É, três pontinhos.

            Admitiu. Caroline bateu palmas, animada.

            -Muito bem, Bon, sua vez de girar a garrafa.

            Disse Meredith. Bonnie, muito a contragosto, girou a garrafa, um pouco mais vermelha do que antes. O bico virou-se para Elena, e o fundo, para mim.

            -Ok, Nessie, verdade ou desafio?

            -Verdade.

            Eu disse. Prometera a mim mesma que não aceitaria desafio algum além de sobreviver. Elena pensou e por fim, disse:

            -Qual é a coisa mais fofa que Elijah faz?

            Nem precisei pensar muito para responder.

            -Todas as noites, de algum jeito, ele coloca uma flor branca na minha mesa de cabeceira. As vezes eu tenho certeza de fechar a porta, mas todo dia de manhã, a Vanilla está lá.

            -Vanillas cheiram muito bem!

            Disse Caroline, sonhadora.

            -Atraem ótimo olhado também.

            Complementou Bonnie, fazendo que sim, feliz por ter um assunto diferente do que os seus amassos com Jeremy no porão.

            -Muito bem, Néss, agora você gira.

            Disse Caroline. Girei com o máximo de força que podia, mas, como um ímã, o fundo da garrafa voltou-se para mim. Mas o bico parou bem a frente de Katherine. Ela sorriu lentamente.

            -Hum, isso finalmente vai ficar interessante. Verdade ou desafio?

            Com o queixo tremendo – certamente não de frio, já que o calor na apertada barraca estava insuportável – consegui dizer:

            -Verdade.

            Ela sorriu novamente. Era exatamente o que esperava.

            -Você é virgem? – Disse, sem absolutamente nenhum rodeio. No seco. De repente. Minha garganta secou. – Quero dizer, aquele seu namorado frígido, geek e saltador alguma vez tirou o seu membro da calça cheia de teias de aranha?

            Fiquei quieta por alguns segundos e toda a barraca me seguiu. Podíamos ouvir os meninos se amaldiçoando do lado de fora e jogando folhas secas uns nos outros. Poderíamos ouvir um cervo tomando água com todo aquele silêncio tenso. Respirei fundo.

            -São duas perguntas diferentes.

            Katherine suspirou e tombou a cabeça de lado, derrotada.

            -Está bem, você é virgem?

            Olhei para Elena.

            -Não contou a ela?

            Elena baixou o olhar, fazendo que não.

            -Era particular. Ela não tinha que saber.

            -Porque, diabos, eu iria querer saber da sua vida?

            Katherine perguntou cética.

            -Porque perdi a virgindade do mesmo jeito que você.

            -Em um banheiro do show do “The Kooks” em Londres?

            Fiz que não.

            -Com Scott. Na floresta.

            Decidimos acabar com o jogo. Katherine ficou um pouco desconfortável depois daquilo – Com desconfortável, lê-se saiu da barraca, sem querer saber de mais nada. Resolvemos deixar tudo por ali antes que acabasse mal, ou ainda pior do que tinha acabado. Quando saímos, havia algo estranho no ar. Os garotos estavam quietos, observando algo na noite. Minha barraca verde estava montada e ao lado dela estava... Uma tenda de acampamento da primeira guerra mundial... Virei a cabeça de lado e pisquei várias vezes para ter certeza do que estava vendo. Antes que ele saísse de lá de dentro, eu já sabia que só podia ser coisa de Elijah.

            As meninas se dispersaram e ele veio direto para mim.

            -E então, o que achou?

            Ele perguntou, sincero como uma criança.

            -Bem... Não é um pouco... Aberta?

            Perguntei, imaginando neve silenciosa enfiando-se por baixo das paredes de pano da barraca e correndo de encontro a pele macia de Elijah, como se tivesse vida própria, congelando-o lentamente. Mas ele só deu de ombros, alheio à minha preocupação.

            -Um pouco de vento não faz mal a ninguém. Além do mais, essas suas coisas de plástico... Não serviria para mim. Bem, boa noite.

            Fiquei olhando enquanto ele entrava na barraca. Olhei para trás, e troquei um olhar confuso com Elena. Ela me perguntou com os olhos e eu dei de ombros, sem saber de nada. Entrei na barraca e fechei os zíperes. Enfiei-me no saco de dormir, só querendo que aquela noite acabasse de uma vez.

            Tec, tec, tec, tec. O barulhinho se repetia incessantemente, e já estava começando a me irritar. Pisquei os olhos pesados, tentando criar coragem para ir até a janela e quebrar o galhinho que estivesse batendo contra ela. Então me lembrei que não estava em casa. Sentando-me devagar, fiquei ouvindo o barulho. Vinha da minha esquerda, onde a barraca de Elijah estava. Alcancei uma lanterna e lentamente abri o zíper. Lá fora o vento castigava nossas barracas e as brasas incandescentes do que um dia fora nossa fogueira. Segui o som até dentro da barraca de Elijah. Nem precisei empurrar a porta de pano para o lado, o vento já fazia isso muito bem.

            Encolhido, no fundo do saco de dormir, Elijah batia o queixo de frio. Cruzei os braços, me aproximando. Toquei seu ombro, por cima do tecido gelado.

            -Elijah.

            Chamei. Ele imediatamente abriu os olhos claros. Não podia culpá-lo. Quem conseguiria dormir em um frio daqueles?

            -Está muito frio. Vem para a minha barraca comigo.

            Ele fez que não.

            -I-i-i-isso... Seria muito... I-i-i-i-na-p-p-p-propriado...

            -Inapropriado? Você está congelando.

            Teimoso, ele abaixou-se no saco de dormir, ficando visíveis apenas seus olhos.

            -Ah você não vai para a minha barraca? Então chega para lá.

            -P-p-p-p-por quê?

            -Eu vou entrar ir aí com você, é claro.

            -M-m-m-mas isso seria ainda mais...

            -Eu não vou deixar você congelando aí, Elijah. Vou contar até três. Um... Dois...

            Ele suspirou.

            -Eu v-v-v-vou p-p-p-p-para a barraca.

            Ele disse, vencido. Sorri, doce, e o ajudei a sair do saco. Suas mãos estavam frias feito pedras de gelo. Ele enrolou o saco de dormir habilmente e voltamos para a minha barraca. A diferença de temperatura era considerável. Ele estendeu o saco de dormir o mais longe possível do meu, encostado à parede e, lançando um sorriso tímido para mim, se enfiou dentro do saco de nylon forrado. Enfiei-me no meu e fechei os olhos, sem muita vontade de dormir, imaginando o que teria acontecido a Elijah se eu tivesse simplesmente ignorado o barulho de seus dentes batendo.

            -Nessie?

            Ele chamou. 

            -Sim?

            Respondi, voltando-me para ele. Ele também me encarava na escuridão.

            -Está com sono?

            -Não, na verdade não.

            Ele hesitou um pouco antes de voltar a falar.

            -Hum... Será que podíamos jogar o seu jogo da garrafa?

            Pensei um pouco.

            -Bem... A garrafa ficou na barraca de Caroline, mas podemos ir um de cada vez. Está bom para você? – Ele fez que sim. – Então comece. Pergunte se quero verdade ou desafio.

            -Mas... Eu não sei exatamente o que fazer caso você peça desafio... Então podemos fazer um jogo de verdades?

            Suspirei.

            -Então está bem. Pergunte uma coisa, e vou responder.

            Ele pensou, esfregando as mãos enregeladas uma na outra.

            -Hum... Qual a sua cor favorita?

            -Minha cor favorita?

            Ele deu de ombros.

            -Sou seu namorado. Eu tenho que saber esse tipo de coisa.

            Sorri.

            -Roxo. – Respondi. Ele fez que sim, como se guardasse a informação na memória. Pensei então no que perguntaria a ele. Havia tanto o que perguntar... Mas algo martelava na minha cabeça desde que ele me perguntara o que era Verdade ou Desafio. – Quantos anos você tem?

            Eu sabia o suficiente sobre os efeitos sobrenaturais da imortalidade para saber que apesar de ele aparentar não ter mais que 17 anos, ele podia ter milhões de anos – Não que eu realmente achasse que ele tivesse tudo aquilo. Ele hesitou antes de responder.

            -Eu tenho, exatamente, 286 anos.

            Ele disse, devagar, como se testasse as palavras uma a uma, e como se pisasse em gelo fino. Fiz que sim, tentando imaginar Elijah em 1800, como uma criança, com cabelos cortados no formato de uma tigela e os dentes de leite cheios de cáries caindo. Era uma visão agradável...

            -Sua vez.

            Lembrei. Ele assentiu, pensando.

            -O que você queria ser quando era pequena?

            Perguntou, deitando a cabeça no travesseiro embutido no saco de dormir. Suspirei, lembrando-me de quando era criança. Quando tudo ainda era fácil. Quando amor não era condenável por vampiros super poderosos, quando qualquer coisa era motivo para um sorriso, e qualquer história era emocionante.

            -Bem, além do que toda criança sonha... Eu queria ser trapezista.

            -Trapezista?

            Ele perguntou, incrédulo. Fiz que sim.

            -Não tinha nada mais legal do que pular de uma corda para a outra em alturas enervantes. Claro que depois eu cresci e percebi que não daria certo.

            Ele deu de ombros.

            -Porque não?

            -Eu não suporto alturas enervantes. Muito menos me jogar delas.

            Nós rimos por algum tempo, provavelmente me imaginando me agarrando ao pilar do picadeiro, me recusando a saltar. Ele balançou a cabeça, afastando a cena.

            -Sua vez.

            Não precisei pensar muito.

            -Há quanto tempo está com Klaus?

            Ele pensou muito antes de dizer. Pareceu calcular a métrica de cada palavra, como se escondesse algo muito, mas muito importante, da qual não pudesse deixar escapar uma informação sequer.

            -Desde que... Desde que eu era mais novo que Lizzie.

            Respondeu por fim. Fiz que sim. Uma resposta diplomática. Lembrou-me de casa de um jeito doloroso.

            -Eu... Eu ouvi vocês conversando na barraca... Sobre o que houve com você e com Katherine...

            Uni as sobrancelhas, irritada por ele ficar escutando a conversa alheia, porém devendo saber que isso aconteceria.

            -Onde quer chegar?

            -Como é? Quero dizer... É como perder a...

            -Não. Não deve ser. E se for, eu não queria ter perdido a minha. Nunca. É uma sensação invasiva e destrutiva. Você jamais vai me perguntar isso de novo, entendeu?

            Ele fez que sim, analisando cada músculo do meu rosto de uma forma acuada. Parecia que ele estava tentando gravar na mente como eu ficava quando estava chateada. Virei o rosto, só para dificultar sua tarefa. Pensei melhor e virei-me de costas.

            -A brincadeira acabou. Boa noite.     

            Ele ficou quieto por um tempo antes de responder, quase inaudivelmente.

            -Boa noite.


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