Blood Hunter escrita por Phill Namless


Capítulo 5
Descanso


Notas iniciais do capítulo

No fim, tudo acaba bem. Se não está bem, é porque ainda não é o fim.



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O olhar de Stefano estava vidrado na garota caída a sua frente. Seu rosto estava pálido e ele começava a sentir uma onda de dores terríveis atingindo seu peito, como se uma espada de dois gumes entrasse e saísse a uma velocidade inumana. De onde estava podia sentir o cheiro do sangue que saía em abundancia pelo corte que havia no peito da garota, tão lindo e atraente. Junto com o sangue ele quase pôde ver a alma da garota se esvaindo lentamente de seu corpo, o deixando cada vez mais pálido e lívido. Stefano correu até ela, ajoelhando-se junto a seu corpo, e a abraçou. Um abraço apertado e cheio de dor, que quase fundiu os dois corpos em um só. De repente um gemido, fraco e entrecortado, saiu dos lábios brancos e secos de Melanie. Afastando-se um pouco da garota ele olhou em seus olhos que estavam vazios, afagou seu rosto e voltou a abraça-la, dessa vez chorando convulsivamente.

– Perdoname, per favore, perdoname. – Seu corpo inteiro balançava com a força dos soluços.

Ele sentiu o corpo da menina se retesando sob seu abraço e afrouxou os braços. Ela levantou sua mão direita levando-a ao rosto de seu amado.

– Não chore, não chore, eu estou aqui. – Ela começou a dizer como suas palavras pudessem aplacar a dor do vampiro que a envolvia, chorando como uma criança. – Eu te amo, não chore, por favor.

Sua voz soava fraca, até mesmo para seus próprios ouvidos. Stefano a afastou um pouco, e ainda chorando olhou-a nos olhos. Eram tão lindos. Ele lembrou da primeira vez que a vira na vida. Estava escondido num beco escuro, caçando. Ela andava com sua amiga, Marrie, e quando passou pelo esconderijo úmido dirigiu seus olhos aos de Stefano. Ele se sobressaltou, pensando que ela havia visto ele, mas ela continuou a andando. Desde esse dia ele nunca mais tirou sua doce garotinha, como a chamava, da cabeça. Agora os mesmos olhos que o haviam fitado aquele dia, no beco, o encaravam cansados e abatidos. Ele levou sua mão até o peito da garota, entre os seios, aonde se encontrava o corte. Ainda podia sentir seu coração pulsando fraco, se esforçando ao máximo para levar o sangue ao restante do corpo. O mesmo sangue que agora cobria a palma de sua mão, e que inundava o chão. Só havia eles dois no planeta naquele momento, ou pelo menos era assim que ele pensava. Nada mais importava. Não quando o amor de sua vida estava morrendo ali, em seus braços, por culpa dele. Agora o que tomava seu coração e suas feições era a culpa. Sua testa franzindo, formando pequenos vincos entre os olhos, que agora começavam a derramar mais lágrimas, desesperados.

Melanie não pôde dizer mais nada. Não havia nada a ser dito agora. Então, apoiando seu rosto no peito de Stefano, ela deixou que o silêncio os envolvesse como um manto numa noite fria. A chuva ainda caía incessante lá fora, lavando todas as impurezas que havia sobre a superfície. Trazendo vida às coisas novas, e levando embora o que já era velho.

Matheo estava acordando. Logo já estava de pé vendo seu irmão chorando desesperado com o corpo de Melanie em seus braços. Até mesmo ele, que era sempre frio e não se importava com sentimentos se sensibilizou com a cena. Ver Stefano ali, chorando como se estivessem arrancando um pedaço de seu corpo, era desesperante. Nem mesmo o mais duro dos corações seria capaz de permanecer indiferente àquilo.

– Fratello... – Ele começou, mas logo foi interrompido pela voz de Stefano.

– Vá embora daqui... Suma. Isso é culpa sua também. SAIA!

Matheo pulou com o grito do irmão. Era verdade, aquilo era culpa dele. Mas ele não se importava com a vida humana que agora ia embora. Ele só se sentia sensibilizado pela dor de seu irmão. Nada mais do que isso. Olhando as costas de Stefano, que tremiam com seus soluços, ele se despediu e foi embora.

– Addio fratello.

Stefano não precisou se virar para ver que Matheo havia ido embora. Ele pôde sentir o ar se movimentando enquanto seu irmão deixava a sala silenciosamente. Agora estavam sozinhos de verdade. Só ele e Melanie novamente, pela última vez.

Ela ainda estava consciente no abraço do vampiro. Ele a puxou do chão, e com cuidado, colocou-a deitada em seu colo, sentada sobre suas pernas com a cabeça ainda recostada em seu peito. Eles ficaram ali, em silêncio por mais alguns segundos até que Melanie começou a tossir. Era um som fraco, e cruelmente doloroso para Stefano.

– Eu quero ir lá fora... – a voz doce e meiga de Melanie agora soava ríspida e fraca. Rouca por causa do cansaço.

– Certo mio amore. O que quiser...

Ele levantou-se com cuidado, levando-a nos braços. Caminhou calmamente até a porta do quarto, que ainda estava aberta. Passou pela sala de estar e viu as duas taças de vinho tinto que ainda estavam ali. Teria sido uma bela e agradável noite.

Ele finalmente chegou à porta de entrada e girou a maçaneta com uma das mãos. Logo o vento e um pouco de água da chuva alcançaram seu rosto, e o rosto de Melanie que estava quieta em seus braços. A chuva caía incessante e imponente, e dava uma aparência fúnebre ao jardim, o que era bastante cômodo no momento.

– Me leve até nossa árvore querido.

Melanie se referia ao velho Cedro que ficava perto dos limites do jardim. Fora ali que ela deu de seu sangue à Stefano pela primeira vez. Desde então o Cedro os pertencia. Era um lugar aonde as lembranças eram maravilhosas e doces, como o sabor do sangue de Melanie.

Quando chegaram perto do tronco largo da árvore Stefano se ajoelhou, voltando à posição que se encontrava dentro do quarto: com Melanie sentada sobre seus joelhos e a cabeça recostada em seu peito. Ele podia ouvir seu coração batendo agora, cada vez mais fraco. A chuva molhava todo o corpo de Melanie, fazendo com que a camisola de seda que vestia seu corpo ficasse grudada à sua pele. Stefano levou o rosto até seus cabelos e os cheirou. Tinha um aroma diferente de todos que já havia sentido durante sua longa vida, doce e forte. Marcante. Ele jurou que jamais a esqueceria, e como se pudesse ouvir seus pensamentos Melanie perguntou:

– Stef, você me ama? – Seus olhos agora o fitavam atentos, curiosos, mas ainda fracos.

Ele não precisou pensar para responder a essa pergunta, claro que a amava. Mas seu peito travou, e ele sentiu uma agonia imensa o rondando. Como alguém poderia sentir tanta dor assim, e aguentar calado? Ele tinha que ser forte. Tinha que ser forte para Melanie. Então ele respirou fundo, e disse como se fosse a única verdade no mundo:

– Eu te amo.

Melanie tossiu mais uma vez, enfiou seu rosto no peito de Stefano e fechou os olhos como se fosse apenas dormir. Sua mão segurava a o peito nu do vampiro e eles ficaram ali, juntos, por mais algum tempo. E então silêncio...

Stefano apertou mais ainda o corpo lívido e inerte de Melanie contra o seu, chorando como nunca havia chorado. Como se sua alma houvesse sido arrancada de seu corpo da maneira mais cruel e torturante possível. A chuva agora caía com mais força, como se os anjos também chorassem a morte de sua amada.


Ele estava completamente perdido em suas lembranças. Inconscientemente havia colocado a mão no peito, aonde, há exatamente um ano, havia estado a mão de Melanie. Já passavam das cinco da manhã e logo o sol iria nascer. Ele já estava embaixo do Cedro, sentado. Suas costas recostadas no tronco largo. Duas lágrimas caíram de seu rosto, percorrendo toda a sua face, até o queixo, e depois molhando a camiseta branca que ele usava. Agora ele já sentia um leve ardor sobre sua pele, com os primeiros raios de sol despontando a leste, bem a sua frente.

“Eu estou indo minha pequena.”

Ele levantou-se e caminhou até sair completamente de perto da árvore. Quando estava a mais ou menos cinco metros de distância do tronco, ele pôde ver a luz do sol na grama verde se aproximando mais e mais dele. Então ajoelhou-se, e com um sorriso de puro alívio no rosto fechou os olhos e disse:

– Juntos pra sempre...



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Notas finais do capítulo

É isso aí pessoal. Acabou = Obrigado a quem acompanhou a história. E pra quem não acompanhou.. perdeu '-'



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