Capítulo Dois – Odeio o modo como sorri

Seu hálito quente se chocou contra meus lábios frios.

– Leana! – Minha mãe gritou do andar de baixo, em seguida pode se ouvir a porta bater.

Aproveitei o pequeno momento de distração de Cameron e pisei com toda a força em seu pé, fazendo-o soltar um grunhido enquanto mordia os lábios.

Dei um sorriso inocente, piscando os olhos de modo doce.

– Machucou? – Sorri novamente, agora de um modo mais provocativo enquanto passava por ele e seguia em direção à porta da biblioteca.

– Ah, você está aí – disse minha mãe, seguida de perto da mãe de Cameron.

– Oi – disse às duas.

– Meu filho te incomodou muito? – Perguntou Sheyla rindo. Ela sabia que nós nos adiávamos.

– Nem a incomodei. Mas ela quase aleijou meu pé agora – disse ele atrás de mim, dando-nos seu sorriso condescendente.

Ah, seu sorriso, como o odeio. Sempre tão sincero e iluminado, como se sorrisse de dentro pra fora. Aqueles tipos de sorrisos dos quais lhe dá vontade de sorrir também.

O modo como mínimas covinhas aparecem ao lado de suas bochechas quando sorri me enfurecem, principalmente por deixarem-no com um ar de graciosidade quase infantil, como quando nos conhecemos ainda crianças.

Fazem-me relembrar de tempos que prefiro esquecer.

– Porque você me irritou – bradei indignada, dando-lhe um olhar de esguelha por sobre o ombro.

Ele riu, como se isso fosse a coisa mais engraçada do mundo.

Idiota!

Mais uma vez, senti meu sangue queimar em minhas veias.

Ah, como eu queria lhe dar um soco bem no meio do rosto e deixar-lhe uma mancha roxa.

– Cameron, é melhor irmos antes que você apanhe mais uma vez – falou Sheyla rindo. Ela, por algum motivo, amava nossas brigas.

– Nos vemos de noite, então.

Juntei as sobrancelhas, confusa.

De noite?

Minha mãe, vendo meu estado, disse quase acusatoriamente:

– Não vai dizer-me que esqueceu o jantar dos sócios da empresa de seu pai? – Ela pôs a mão na testa, escorregando-a até que parasse no queixo.

Arregalei os olhos.

Eu havia esquecido completamente.

Cameron riu.

– Boa sorte – ele sussurrou no meu ouvido com a voz rouca, passando ao meu lado e me dando um sorriso sacana antes de sair da biblioteca.

Ah, como odeio seu sorriso.