Pelo resto do dia eu e a Miku não trocamos uma palavra, e ela por raiva, me fez dormir no sofá. E por incrível que pareça, eu até fiquei confortável, mas o sono não vinha algo me incomodava, não sei se era a alucinação que eu tivera mais cedo ou se era o que aquela mulher irritante me falou, só sabia que, por mais confortável que eu estava, aquela noite não ia ser uma das melhores.

Como o sono não vinha, resolvi tomar um pouco de água, ando calmamente até a cozinha, pego um copo e vou até a torneira, mas dela, não saia água, mas sim, sangue.

Dei um pulo para trás e acidentalmente o copo caiu em cima do meu pé e quebrou.

– AI! - Olho para o meu pé e vejo uma grande quantidade se sangue sair, e rapidamente, olho para a pia, que para a minha surpresa não estava mais jorrando sangue, mas sim, água normal.

Desisti de beber água e fui para o banheiro ver se tinha algum esparadrapo, como eu fiquei parado alguns momentos, uma possa de sangue apareceu no chão, que quando olhei, mais uma vez, fui surpreendido e instantaneamente fui para trás. O meu sangue havia formado um pentagrama, pelo que eu saiba isso não era possível, era?

Olho para o lado e vejo uma figura conhecida. Meiko.

– O que você faz aqui? ! - Só não gritei porque a Miku estava dormindo, e eu não queria acorda-la.

– O que você aqui? Quem é você? Dá para você parar de ser tão repetitivo? - Ela estava com uma cara de levemente irritada, Meiko suspirou e olhou para o pentagrama

– Acho que agora você está em um estagio avançado o suficiente... Acho que já posso te contar então - A última parte ela falou para si. Mas, afinal, do que estava falando? Quem era ela exatamente? De repente, me lembro do que ela falou para mim antes.

– É verdade que eu tenho o coração de um anjo? - Meiko me olhou com um sorriso sarcástico

– Sim, afinal, o que eu ganharia se mentisse para um mero humano como você? Eu estou aqui apenas ás ordens do meu chefe – Respondeu um tanto séria, eu não entendi realmente o que ela quis dizer com isso, mas acho que ela ia revelar isso de um jeito ou de outro.

– Eu sou um demônio.

Eu ri. E o pior, eu ri alto, não poderia ser verdade, poderia? Mas e se fosse? Eu ri da cara de um demônio, o que ela falaria?

– Hum, você quer uma prova? – Perguntou em deboche, séria o suficiente para eu parar de rir instantaneamente. Ela notou a minha mudança de humor e pareceu se divertir com isso.

– Então aqui vai...

A cena mais horrível que eu já vi em toda a minha vida, era uma imagem indescritível, não só pelo fato de que era feia, mas sim, pelo fato de que os sentimentos que eu senti ao ver aquilo era de extrema solidão, matança, tristeza, parecia que todos os sentimentos ruim que um ser humano poderia ter estavam ali e o pior, eu estava presenciando. Não aguentei, vomitei ali mesmo, o mal estar que senti era enorme, não é uma coisa descritível.

– Ha... HA.... HAHAHAHAHAHA! - Ela ria, já na imagem de uma mulher, ela ria de minha fraqueza, pelo simples fato de que eu não aguentei olhar para ela - Acredita agora?

– Hum... - Foi tudo o que eu consegui dizer naquele momento, eu estava fraco, mas agora eu realmente não ligava para isso, eu apenas ligava para o fato de que, aquela mulher, parada na minha frente, era um demônio, por que isso? Espera, isso significa que toda aquela história do coração do anjo corrompido era verdade?

Mas, por que eu? Teria sido eu um escolhido de Deus? Ou de Lúcifer?

– Primeiro, esqueça tudo que você sabe sobre o céu... O inferno... Deus... Nada é como vocês falam nessa tal, qual o nome mesmo? – Pensou por uns segundos – Ah, bíblia...

– Não existe tais coisas como “Se você for bonzinho você vai pro céu e se for mal pro inferno”, você vai ficar no mesmo lugar que um serial killer

– Que seria?

– O inferno meu querido... – Engoli em seco, estava pálido – Meu chefe não é nada mais que um funcionário de Deus, pega as pessoas e joga elas lá naquele “Poço de almas” elas ficam agonizando lá, sejam homem mulher, bom ou ruim, velho ou criança... Os únicos que ficam no céu são Deus e os anjos. Fim de historia...

– E por que esta me dizendo estas coisas?! Se os anjos ficam no céu então como o coração de um veio parar em mim?

– Existem anjos que se maravilham com a monótona vida humana – Riu – Idiotas... Então eles vem pra terra e vivem aqui, aos poucos eles vão se corrompendo e se tornando humanos, o seu coração... Hum, faltava pouquíssimas semanas para o portador dele se tornar humano, bem simples não? Mas ele ainda é muito puro, ele deve ter morrido e confundido por um humano, seu coração foi transplantado me levando até você... Enfim, estou lhe dizendo tais coisas sobre o inferno por que tenho uma proposta para você.

– Eu não quero nada que venha de algo como você!

– Hum, nem me ouviu ainda. Meu chefe observa todo dia a raça humana, atrás de algo interessante, e ele achou você, se você servi-lo, não terá o mesmo fim de todos os humanos.

– EU NÃO VOU ACEITAR NADA!

– Serio? – Ela gargalhou – Vou te dizer o que vai acontecer se continuar a viver sua vida ridícula normalmente: Você vai ficar cada vez mais insano... Sua mente e seu corpo vão apodrecer aos poucos, vai chegar uma hora que a única coisa que você vai querer fazer é matar. Você alucinou matar a Miku não foi? Aquilo não foi uma alucinação mais sim você viu o que ia acontecer num futuro próximo, mas sua mente ainda estava ótima, por isso não a matou.

Ela se agachou me olhando com raiva e com seu sorriso sádico, a dor em meu peito aumentava a cada instante, ela pisou na minha cabeça, fazendo-me ficar ajoelhado diante dela.

– Se você nos servir, ele ira lhe dar uma cura, ira fazer sua mente ficar sã, você não ira machucar ninguém e talvez, ele até seja piedoso com sua esposa... Talvez ele até não a mande pro inferno... Aceita ou não? – Fiquei olhando pra ela, Meiko esperava uma resposta, suspirou e foi sumindo aos poucos.

– ESPERA! – Gritei desesperado. – E-eu aceito... – A única coisa que pude ver naquele momento, era um sorriso demoníaco e um par de olhos vermelhos... Desde então, tudo ficou negro.

Onde eu estou? Quem sou eu? Escuridão... Era isso que eu podia falar sobre o que eu estava vendo. Por que eu estou aqui? O que eu fiz?

De repente, imagens, umas boas e outras perturbadoras vieram a minha mente, eu me lembrara de Meiko, sim o demônio, o pacto, dor solidão, sim, dor ter visto todas aquelas cenas perturbadoras de antes e solidão por estar naquele lugar, longe de qualquer coisa que me possa fazer sorrir.

Mas, e meu nome? Ah, sim Kagamine Len. Uma pequena imagem me veio à mente, uma camponesa, de lindos cabelos loiros, Rin, né? Ah, eu me sinto tão bem só de pensar nela, aquela figura, que fazia o meu coração bater mais rápido, seria isso... Não, impossível, eu amava a Miku. Miku? MIKU! Sim, ela ainda está brava comigo, será que um dia ela vai me perdoar?

A imagem da Rin começa a desaparecer devagar. “NÃO! NÃO SE VÁ!” Eu gritava inutilmente. Mas no lugar daquela imagem estava a aparecer uma luz, e a mesma se aproximará.

Levanto de uma maneira bruta. Levo a minha mão até o peito, ele parece estar diferente. Será que tudo aquilo que eu vi, senti, era tudo um sonho? Sim, era a explicação mais aceitável que eu formulei. Olho para o lado, e vejo então uma figura que eu gostaria que não estivesse ali, uma figura totalmente detestável.

– Oh, você acordou? - Perguntou Meiko em um tom casual, senti um toque de fingimento em sua preocupação. - Está melhor?

– Onde está a Miku? - Ela me olhava com um certo espanto pela minha pergunta.

– Você realmente se preocupa com aquela mulher né? - Ela me olhava curiosa - Hum, talvez você tenha um coração puro - Ela deu uma pausa - Mas ele está trancado bem lá no fundo...

– Você ainda não me respondeu... - Olhei para ela com um olhar frustrado

– Eu alterei as memórias dela e a mandei para o a Bahia, em uma viagem de negócios... - Meiko olhou-me indiferente, eu apenas lancei um olhar de raiva para ela - Pelo menos eu não a matei!

– Não fale isso! - Pulei em direção ao pescoço dela, caímos no chão, ela em baixo, eu em cima

– Você vai me explicar o que está acontecendo, aqui e agora! - Coloquei as minhas mãos no pescoço dela e fiz um pouco de força.

– Realmente, o seu coração ainda tem muito ódio... - Ela me olhou surpresa, a minha ficha finalmente caiu e eu percebi que eu tinha que manter o meu coração puro, por algum motivo, no qual eu não sei muito bem, então sai de cima dela

– Finalmente você percebeu...

– Agora vamos, me conte tudo - Eu sentei na cama e ela na cadeira.

– Ok, o pacto na qual nós já formamos, é o seguinte, você servirá ao meu mestre, em troca de viver uma vida “normal” aqui na terra, mas para isso, você vai precisar ficar com um coração puro, só que é necessário um ritual... - Ela olhava com uma certa tristeza, não, isso não é possível em um demônio, eu devo ter me confundido - Você terá que matar 10.000 mil pessoas de coração puro, lembrando que crianças com menos de 4 anos valem por 2... - Ela olhava com um sorriso sádico, misturado com um sentimento triste.

Fiquei estatico...

– QUE? EU NÃO VOU MATAR ESSE TANTO DE GENTE! - Gritei para ela com um tom indignado na voz, isso já era demais não?

– Mas nós já fizemos o pacto. Ou seja, o seu coração terá que se manter puro para você ficar aqui na terra e para o meu mestre se entreter, esse é o único modo, caso você não o faça, você morrerá e sua alma não irá apenas para o inferno, mas sim, será torturada e aos pouco destruída.

– E dai? Eu não valho tanto pra matar inúmeras pessoas, inclusive crianças! Pode me mandar para o inferno a vontade!

– E a sua esposa? E o filho que ela carrega? – Fiquei pálido e ao notar Meiko começou a rir.

– Tão fracos... – Ela sussurrou – Vai deixa-los queimando no inferno?

– C-claro que não! – Miku estava gravida? Desde quando?

– Se você não aceitar o ritual também a outras alternativas...

– Quais? – Dava pra notar que eu estava completamente desesperado.

– Ora... Você pode se alimentar de humanos, como qualquer oni ... – Estava com um sorriso sádico.

– M-mas...

– Você não tem outra escolha! Já esta se tornando algo que pareça um demônio ou coisa do tipo – Revirou olhos. Quando ia protestar Meiko interrompeu.

– Ah, ia me esquecendo. Boa noite – E sumiu

– EI! ESPERA! - Mas ela já tinha ido. Abracei meus joelhos, abaixando a cabeça. A dor já tinha sumido há muito tempo... Mas... Ainda sim, algo em meu estomago embrulhava, estava suado frio... Estava com medo... Era isso?

E as visões que tinham daquela menina? Eu irei mata-la era isso? Não... Não podia... Quando dei por mim já estava quase dormindo naquela cama da qual não era acostumado e ouvi uma voz bem doce cantarolar...

“Tenha bons pesadelos”