"Agora fodeu" pensei tentando me livrar daquela mão e gritar bem alto. Até que tive uma ideia. Mordi-o com toda a minha força, fazendo-o me soltar e gritar um palavrão.

- Puta que o pariu garota! Nunca mais na minha vida eu tento te assustar. Caralho! Quase arrancou um pedaço da minha mão. - Ah, aquela voz eu conhecia. Agora, o dono dela segurava a mão com uma expressão de dor, que até me daria pena se eu não estivesse tão puta.

Eu o encarava boquiaberta. Talvez até aliviada por não ser um estuprador assassino e psicopata que depois de me matar venderia meus órgãos para o mercado negro. Mas pensar assim, só me fazia ficar ainda mais irada, pois além de cair na dele duas vezes no mesmo dia, em consequência disso, eu estava literalmente um docinho, cheia de suco nos cabelos e nas roupas. Eco. E ele realmente conseguiu me assustar. Que merda.

- Se por um momento passou pela sua cabeça que eu te mataria, fica calmo. Agora eu mudei de ideia. Torturar é mais legal.

- Por um momento até passou sim, 'Neném'. - Ele disse debochado - Mas depois de ver morrendo de medo dos "monstros do escuro" eu imagino que nem uma mosca você tenha coragem de matar.

- Bom, pense como quiser. Aliás, se é que você pensa. A única coisa que eu sei nesse momento é que eu vou te estrangular com as minhas próprias mãos. - Dizendo isso eu parti para cima dele e caímos os dois no chão frio.

Eu nunca me imaginaria em situação mais constrangedora que essa. Não podia ser mais perfeito ('Olhaí meu sarcasmo. Sempre comigo). Eu, e Louis Tomlinson, deitados no chão da biblioteca, comigo por cima dele. Qualquer um que chegasse nesse exato momento pensaria outra coisa.

Eu desisti de tentar qualquer coisa. Literalmente hoje não era o meu dia. Tudo o que poderia dar errado, deu. Maldito seja Murphy com essas leis estúpidas. Me levantei de cima de Tomlinson e me encaminhei até a porta.

- Uai, que foi? Desistiu de me matar? Ou ao pular em cima de mim você percebeu como eu tenho uma beleza rara e que não vale a pena matar alguém tão lindo? Ou isso de pular em cima de mim foi só um truque para tentar me roubar um beijo? - Ele insistentemente fazia perguntas ao meu lado

- CALA A BOCA PORRA! - eu gritei, não tão alto, pois agora passávamos pelos jardins e eu não queria chamar tanta atenção, afinal os jardins eram ao lado dos dormitórios

- Mas o que... 'Pera aí você 'tá chorando? - Ele me pareceu preocupado, mas eu não me importo com isso

- Não. Sai daqui. Me deixe sozinha. - Disse me sentando em um dos bancos do jardim. Precisava de um tempo antes de voltar ao dormitório

- Claro que não sua idiota. Você acha que eu vou te deixar sozinha chorando? Talvez eu deixe se você me disser o motivo. Você se machucou quando caiu no chão? Eu falei alguma coisa? - Ele disse se sentando ao meu lado

- Não. Não foi nada disso. E eu não vou te falar nada. Você nem meu amigo é. Agora anda. Sai daqui. - Eu disse ríspida

- Já te disse as minhas condições para sair daqui. - Ele disse e eu comecei a dar tapas em seu ombro - Não adianta. Ou você fala, ou você fala. - Eu tentei me levantar, mas ele me impediu - Também não sai enquanto não falar.

Derrotada voltei a sentar e comecei a falar, me sentindo imbecil pelo fato de, além de chorar na frente do Tomlinson, ter um motivo tão banal para isso.

- É o seguinte, você quer ouvir? Agora vai ouvir. TUDO deu errado 'pra mim hoje. Agora ria o quanto quiser, pois sim, é um motivo banal, mas eu não me importo. Não hoje. Talvez amanhã ou depois me arrependa de ter chorado na sua frente. 

- Tem algo errado em chorar 'na minha frente'? Além de tudo, você acha mesmo que enquanto você chora eu vou ficar rindo da tua cara? Sinceramente, eu tenho medo da imagem que eu passo para você. 

- Claro que tem.  Tomlinson, você tem noção de quantas pessoas no mundo já me viram chorar? 

- Ok, ok. Agora quer me explicar o que seria esse 'TUDO errado'?

- Tudo errado seria : Eu acordei atrasada, tive que me arrumar voando para não perder a primeira aula, perdi o café da manhã, e tive aula dupla de Inglês logo no primeiro dia de aula. Bem marcante. Vou ficar traumatizada. De tarde eu tive Educação Física, a aula que eu mais odeio no mundo, e no jantar eu recebo um copo de suco na cara. Depois de tudo eu fico 'sozinha' numa biblioteca escura, e quase morri do coração quando você tentou me assustar. Agora cá estou eu, toda grudenta de suco, no meio de um jardim escuro, contando os meus 'problemas' e chorando na frente de alguém que nem sequer é algum amigo. Uma palavra para descrever isso? PER-FEI-TO. - Eu disse parando de chorar, e abrindo um sorriso cínico. Maldita TPM, tornando tudo mais dramático, since always.

Ele já devia estar cansado do meu monólogo, e eu imaginei que ele ia me mandar junto com os meus 'problemas' para a casa do caralho, mas não. Depois de tudo isso ele me puxou para perto e me abraçou. Isso mesmo. Não, você não leu errado, ele me abraçou mesmo!

- Você 'tá gelada. - Ele disse me soltando e tirando seu casaco de moleton vermelho da Gap e me entregando em seguida

- Veste.

- Claro que não. Tá doido? Eu não 'tô com frio não, relaxa. - É o seguinte, você tem duas opções. Ou veste o casaco, ou eu vou ficar te abraçando. - Ele falou sério

- Ok, acho que eu fico com o casaco. - Disse corando, e vestindo o moletom - Obrigada.

Ele não respondeu. Ficamos em silêncio por algum tempo, mas eu o quebrei.

- Desculpa.

- Pelo quê? 

- Pela mordida. Sério. Eu fiquei com medo. - Eu disse corando de novo e rimos

- Ah... Isso... Não tem nada demais. Me desculpa também. Por ter te assustado. E pelo suco.

- Ok. Já passou. 

- Isso é estranho.

- Ahn? O quê? - Eu disse, confusa

- Seção acordo de paz. Você me pedindo desculpas, e eu te pedindo desculpas. 

- Ahhh Louis, você não muda. Sempre fazendo piadinhas. - Eu disse e ele sorriu

- Que foi?

- Meu nome. Estranho você me chamando por ele, não pelo sobrenome.

- Ah... Desculpa... Eu achei que... - Não completei a frase, pois ele pôs um dedo nos meus lábios

- Não disse que não podia. E só que... É estranho. Mas acredite, eu prefiro que me você me chame assim, Ana Clara. - Ele disse e eu sorri

Olhei para o meu relógio de pulso, e até me assustei com as horas

- Erm... Tomlin.... Louis eu já vou indo. 'Tá tarde...- Eu disse já tirando o casaco para devolver-lhe

- Tudo bem então. Ah, fica com o casaco. Amanhã você me devolve. É sério. Por favor.

- Tudo bem então... Até amanhã... - Eu disse e fui caminhando lentamente até dormitório

- Ana! - Louis chamou minha atenção e eu me virei para encará-lo - Érm... Foi bom conversar com você... - Ele disse e corou um pouco.. Há quem diria... Louis Tomlinson corado

- Hm... Foi bom conversar com você também. E desculpa mais uma vez. - Voltei a caminhar, olhando para trás algumas vezes, e cruzando nossos olhares.