Eles dizem que não dói, que é uma pena misericordiosa comparada aos outros métodos mais antigos, é um golpe de piedade.

Mas eles estão errados.

Eu pude sentir cada uma das injeções, cada mísera gota percorrendo minhas veias, não foi rápido, não foi pacifico, no entanto, foi esclarecedor e lento, cada segundo durou mais que o esperado, eu rezei para que acabasse, eu rezei para que as memórias fossem embora, mas não, eu revivi todas as minhas lembranças mais negras em meus últimos momentos de lucidez.

A primeira injeção não me levou ao almejado coma.

A segunda passou pelo meu corpo como o céu escuro antes da tempestade.

A terceira queimou meus pulmões e embora eu ordenasse que eles parassem de lutar eu permaneci vivo.

A quarta trouxe falso alivio, foi quando revivi minhas últimas memórias, ainda quentes, próximas mas ao mesmo tempo já tão distantes, partes de uma vida que já não mais me pertencia, de um mundo que já não era mais meu.

E a quinta – o golpe final, a dose de cloreto de potássio que paralisaria meu coração – veio com uma intensa porção de sanidade, tudo ficou claro, mas já era tarde.