Hanna acordou durante a noite, inquieta.

Começou a chorar, e eu novamente não podia fazer nada; o que me irritava profundamente, e fazia com que eu quisesse me jogar do Wall Street, ou então, ir mais longe e me jogar da torre Eifel, em Paris.

Dizem por aí, que se um anjo se jogar de uma certa altura, ele ‘morre’, mais do que já estamos mortos, e desaparece pra sempre; mas quando um anjo se joga por um motivo realmente especial, ele se torna humano.

Nunca conheci nenhum anjo que tenha passado por essa experiência, até porquê não teria como, ou ele é um humano, ou...

Parei de pensar naquelas coisas malucas, e voltei novamente minha atenção para Hanna, que abafava o grito colocando o travesseiro no rosto e pressionando-o.

Tentei acalmá-la, da forma que podia, transmitindo pensamentos bons para ela.

Enquanto eu estava sentado em sua cama, lhe transmitindo coisas boas, comecei a lembrar de coisas que eu havia conhecido e visto lá em meu verdadeiro lar.

Os anjos iniciantes são enviados à 'famílias' de anjos experientes, ou até supremos; eu fui enviado a uma família bem experiente, uma 'mãe' chamada Helena, um 'pai' chamado Uriel e um idiota que tive de conviver chamando de irmão, Derek.

Aprendi truques, magias, e várias coisas legais. Eu até que sentia falta daquele lugar...

Despertei de meus pensamentos. Hanna ainda permanecia ali, só que já estava inconciente. Olhei para ela, parecia até um pouco inquieta.

Passaram-se horas, ela havia ganhado alta, e Matt seria transferido para um hospital perto da universidade. O enterro de Jessie seria dali a dois dias, e Hanna ainda estava arrasada.

[...]

O dia do enterro havia chegado. Hanna tentava segurar suas lágrimas, mesmo o óculos impedindo que as pessoas vissem seus olhos vermelhos e inchados.

A roupa (http://www.polyvore.com/hanna_enterro_jessie/set?id=43959507) preta estava levemente molhado, devido à chuva.

Ela não parava com a mão, agoniada.

Sua mãe, não tinha ido ao enterro, por falta de tempo, ou vontade.

Matt aproximou-se, e a abraçou. Mas nenhum ombro amigo seria confortável o suficiente para que passasse a dor que ela sentia.

De repente, um rapaz se aproximou de Hanna, sério. Logo o reconheci. Derek. O que aquele demônio fazia ali, é que eu não sabia.

Ele sorriu pra mim, disfarçadamente. Eu me encontrava atrás de Hanna.

— Olá — o loiro comprimentou, ainda sério. Mas sabia que essas palavras foram para mim.

Hanna o olhou com atenção, tentando lembrar do rapaz.

— Desculpe, mas eu o conheço? — questionou.

Ele deu um sorriso de lado, provocando-me.

Derek pensou um pouco.

— Hm, não tenho certeza se Jessie já falou de mim, mas... Sou o meio-irmão dela.

Matt não estava mais lá, mas do outro lado do pátio onde estávamos, ele olhava sério e com atenção para nós.

— Meio-irmão? Ela nunca falou sobre você, só falou que os pais dela se separaram, e depois que a mãe dela casou com um cara aí. — respondeu pensativa.

— É, isso não me surpreende, e o cara aí, é meu pai. Ela não gostava muito de mim, pelo fato de sua mãe ter trocado seu pai pelo meu. — ele olhou para baixo. Aquele bastardo! Como ele podia atuar dessa maneira, e ainda por cima se mostrar para humanos!

— Seu bastardo demoníaco! O que pensa que está fazendo? Fique longe de Hanna, ou então eu farei você sofrer pelo resto de sua existência! — ameacei livremente, Hanna não poderia me ouvir.

— Bem, muitas pessoas não gostam de mim, não sei porquê, eu sou um cara legal... — contou.

Eu deveria estar vermelho de raiva, àquela altura.

— Então, as pessoas devem ter seus motivos. — disse ela, ignorando-o e andando em direção ao outro lado do pátio.

Ele insistiu e foi atrás dela.

— Olha, desculpe, eu não me apresentei formalmente. Derek Harris Johnson, meio-irmão de Jessie, americano, 23 anos. — sorriu, satisfeito com sua mentira deslavada.

Hanna olhava sem paciência para ele, e revirou os olhos pelo exageiro do rapaz.

— Hanna Trevino. — deu um sorriso forçado — Me desculpe, mas não estou com paciência para urubús.

Ele pareceu um pouco chocado com a sinceridade de Hanna, e eu estava orgulhoso da minha menina.

Ela deu as costas à ele, e continuou a ir na direção que estava.

Joaine, a doce senhora babá de Lion, esperava em seu carro clássico e bem cuidado, em uma rua do cemitério.

Fomos para casa.

Hanna, ao ver Lion novamente

, correu e o abraçou forte.

— Meu amor, que saudade de você! — disse enquanto o sufocava com seu abraço de urso.

Ele riu e tentou se afastar. Ela ignorava as tentativas do menino.

— Hanna... — disse sem ar — Você tá me sufocando. — sorriu.

Ela afrouxou o abraço, sem graça.

— Desculpe, é que estava com muitas saudades sua. — justificou-se.

E eu, sentado no sofá branco da sala, assistia àquela cena com um sorriso no rosto. Lion diminuiria um pouco da dor de Hanna, e isso me deixava satisfeito.