Flashbacks escrita por anearlywitch


Capítulo 3
Capítulo 3 (Dia 3)




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Ele já tinha se acostumado com a dor, com o fato de acordar quase sem roupas, sem saber o que aconteceu no dia anterior. Ele era bom nisso, por mais estranho que pareça.

 Ele logo se levanta e vai em direção ao banheiro. Ele parecia um lixo ambulante. O relógio de pulso que descansava em cima da pia marcava 16h30min. Ele devia ter ido dormir muito tarde e bebido muito, porque nossa, era tarde.

Ele então se dirige para outro cômodo, tropeçando algumas vezes. Na cozinha ele encontra um bilhete em cima da mesa com a caneta ainda do seu lado. Aquilo não podia ser bom.

Bom dia. Eu consigo imaginar sua linda cara de ressaca lendo esse bilhete, haha. Enfim, só pra avisar que fui dar uma volta sozinho pela cidade e procurar inspiração, esclarecer algumas coisas... Te vejo pela noite! Billy

Ótimo. Esclarecer? Ótimo. Alguma coisa estava errada.

Ele coloca leite na tigela com cereal e olha o noticiário. Ele tentava sentir pena das pessoas mortas que apareciam, mas ele também não parava de pensar na Situação Brendon (sim, ele tinha colocado um nome no seu problema e usado letras capitais), então ele decide ligar para Spencer e pedir pra ele uma ajuda pela noite. Spencer tinha jeito com as pessoas, e talvez ele pudesse consertar o jeito de Bill e o tornar em um amante de gatinhos e purpurina. Ele ia ligar.

Porém, ao olhar para sua tigela de cereal vazia, ele sente uma repentina vontade de escrever algo que tinha aparecido na sua cabeça e procura seu caderno no meio da bagunça pós-bebida. Ele não conseguia achar, então ele fecha os olhos e tenta se lembrar da noite passada. Ele tinha pegado o caderno, e ele estava rindo... Bill estava do seu lado.

Bill...

Ele pegou o caderno. O caderno com todas as memórias, com todos os desabafos, com toda sua experiência, estava com a criança que se achava dona da razão.

Ele leu. Ele ia procurar esclarecimentos? Claro. Sobre o caderno. Ele ia perguntar pra todo mundo que conhecia Ryan. Merda.

Ryan decide que o melhor a se fazer é contar para os outros. Só assim ele ia proteger informações valiosas do seu passado. Ele olha para o relógio, 18h. Ele pega o telefone e liga pra Spencer, que atende, tendo que falar um pouco alto pra que Ryan pudesse escutar: havia outras vozes no fundo. Spencer então pergunta onde ele estava, que tinha tentado ligar, e que era pra ele ir pra lá. Tudo bem então.

Ele se veste com uma roupa decente, e procura pelo seu cachecol favorito em meio à bagunça. Ele encontra outro post-it da Keltie, dizendo que o amava. Ele coloca o papel amarelo de lado e finalmente acha o pedaço de pano tingido na ponta com uma cor avermelhada, o enrola no pescoço e procura as chaves do apartamento.

***

O apartamento de Spencer estava quente, então Ryan retira o casaco enquanto entra na sala de estar, encontrando sua banda inteira ali.

"Huh, oi" ele entra e faz os outros dois tirarem os olhos do videogame para garantir que tinham o visto chegar. Eles dizem 'oi' em meio a risinhos que não conseguiam conter, e ele então olha pra Spencer que estava logo atrás dele, que o olhava com desconfiança.

"O que está acontecendo?" Ryan perguntava ao mesmo tempo em que a sua testa enrugava.

"Eu devia ter avisado, mas-"

"Prontos pra perder? Eu- ah, Ryan!" Bill saía da cozinha com uma garrafa de cerveja na mão e a colocava na mesa de centro, do lado do Playstation.

"Não tem problema, sério. Ele é divertido" Spencer colocava a mão no ombro do Ryan quando ele parecia que ia explodir.

"Bill. Vem aqui. Agora" Ryan apontava para a cozinha ao mesmo tempo em que puxava o garoto pelos pulsos.

"Ryan, não tem-" Jon começava um argumento, mas Ryan ergue uma mão para ele ficar quieto.

Na cozinha com cheiro de pizza, Ryan parava com os braços cruzados, fuzilando a criança com os olhos.

"Olha, eu-"

"Quer me explicar o quê está acontecendo? Como você sequer achou esse lugar?"

"Seu celular... Seu caderno... Tinha-"

"Meu caderno? Não me diz que ele tá aqui"

"Talvez... Com o Jon"

"É isso. Chega. Eu vou ligar pra Greta. Eu não consigo. Você está arruinando minha vida!" ele andava em direção à sala com o telefone em mãos. Ele tinha a sensação de que sua cabeça ia explodir, e ele sentia suas mãos tremerem ao passar pelo sofá onde os três o assistiam passar com os punhos cerrados.

No corredor de entrada, ele começa a digitar o número da tia. Ele não devia nem ter cogitado a ideia de ter um adolescente em casa. E justo o adolescente mais metido e petulante que ele podia ter como primo.

Os dedos tremiam ao procurar na agenda o nome da mulher, sem sucesso em escolher o nome certo. Brendon certamente tinha lido tudo o que ele tinha escrito, e aquilo não era nada bom. Quando ele pensa que iria desabar, ele sente uma mão em seu ombro.

"Ei. Tente se acalmar" Brendon não tinha mais a expressão de felicidade. Ele estava preocupado. "Ele não fez nada. Ele tocou bateria com o Spencer, jogou com a gente... Nada de mais". A mão dele ainda estava no ombro de Ryan.

"Eu não consigo, Brendon. Ele testa minha paciência. Ele está se metendo totalmente no que não deveria!"

"Ele é uma criança-"

"Dói, Brendon" ele então para e olha finalmente nos olhos de Brendon, que o fitava com seus enormes olhos castanhos. "Ele revivendo meu passado. Dói. Ainda machuca" ele tirava a mão do seu ombro - com um pouco de esforço, devia admitir - e colocava o telefone no bolso. "Eu não vou conseguir, sabe. Eu estava indo bem. Ele fica… fica tentando saber o que aconteceu, e não era pra ninguém saber. Era pra eu esquecer". Ele se encosta na parede e olha para seus sapatos. Aquilo era deprimente.

"Sabe, já passou muito tempo, nós podemos falar sobre isso" Brendon tinha a voz suave, quase sussurrando.

"Eu quero… eu só quero esquecer. Eu estou com a Keltie agora, e tá tudo bem"

"Pelo o que eu li, não está"

 Ryan rapidamente levanta a cabeça para olhar para Brendon, que tinha os ombros erguidos como se não pudesse evitar o que tinha acontecido. Ele leu, e se ele leu-

 "O que mais você leu?"

 "Talvez… tudo. Mas-" ele então fica na frente de Ryan, colocando a mão no seu queixo para erguer a sua cabeça "Mas não importa. Eu estou tão bem como está. Eu gosto de você Ryan, não importa como" ele então se afasta um pouco, se dirigindo para o outro cômodo. Ainda de costas, ele sussurra "O garoto não tem culpa. Não desconta nele" ele então caminha em direção à sala.

 Ryan jurava que conseguia sentir seu coração se despedaçando em vários pedaços e caindo no chão. Ele conseguia sentir uma lágrima se formar. Ele não queria admitir, mas ele ainda sentia alguma coisa. Sempre iria.

Bill então aparece de cabeça baixa, com o caderno nas mãos.

"Você ligou pra ela?" Ele perguntava enquanto entregava o caderno para Ryan, que coçava o olho para, talvez, ter uma desculpa para a lágrima que escapava.

"Não. Eu só preciso de uma coisa, uma coisa Bill" Ryan olhava com o olhar mais triste e sério possível para o garoto que apenas acenava. "Não… não faz isso de novo. Eu vou te contar. Mas, por favor, não faz"  ele pensava consigo mesmo se seus olhos inchados transpareciam tanto quanto ele sentia, mas aquilo não importava mais.


"Tudo bem, não vou" dessa vez suas palavras pareciam sinceras e comovidas.

Ryan caminhou até a porta entre a sala e o corredor para avisar que ia pra casa, que não, não precisava de uma cerveja, que precisava dormir.

Ele entra no táxi e não conversa nem um pouco com a criança do seu lado, olhando para o céu e a grande lua que às vezes o confortava, tentando conter os pensamentos. Tentando não desabar.


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