O frio que o vento trazia o fazia tremer um pouco. Muitos já disseram para ele que ele era fresco, que seu 'frio' era uma desculpa para usar mais roupas e parecer mais estiloso. Mas roupas eram só um detalhe, ele realmente sentia frio. Mas, sinceramente? Ele sabia se vestir.

Eram duas e quarenta, e ele chegava à recepção com a cabeça baixa, tentando se recuperar da baixa temperatura - que de fato era 17º - que o atingira do lado de fora. Ao levantar a cabeça para ver pelo menos para onde estava caminhando, ele avista Spencer no sofá lendo uma revista qualquer.

"Oi" ele falava enquanto sentava no sofá oposto do amigo, colocando as mãos nos bolsos e olhando para o relógio mais uma vez.

"Uau. Ryan Ross não está atrasado! Isso foi-"

"Fica quieto, por favor. Eu consegui chegar no horário, ok. Podemos agir que nem duas pessoas normais agora?" Spencer tinha aberto mais um pouco seu sorriso, demonstrando que achava aquilo mais engraçado do que deveria.

"Tudo bem então. Como vai sua criança protegida?" ele cruzava as pernas e colocava a revista de lado, prestando totalmente atenção.

"Uh, ele realmente está me testando. Meus limites. Eu não sei se vou aguentar muito tempo". Os limites dele já não eram grandes, e certamente um garoto petulante como aquele ia quebrá-los facilmente. Questão de tempo.

"Eu acho que você consegue. Quer dizer, ele tem 16 anos! Você é mais velho, essas coisas não deviam ser um problema".

Ryan hesita um pouco, logo depois se arrumando um pouco no sofá e olhando diretamente nos olhos de Spencer. "Ele quer descobrir o que houve entre eu e o Brendon". Spencer certamente saiu da sua zona de alegria e finalmente prestou atenção. Ao ver sua expressão, Ryan decide continuar. "Ele fica insistindo, e quando o Brendon foi lá em casa pra avisar da reunião, ele... Ele ficou insinuando, e eu não sabia o que fazer!"

"Ele pode ser só curioso"

"Duvido"

Ele conseguia sentir o vento soprar dentro do cômodo enquanto o silêncio se espalhava.

"Você podia contar e acabar com isso antes que sequer comece" Spencer gesticulava com as mãos. "Quer dizer-".

"Pra ele me envergonhar e deixar o Brendon mais sem graça? Acho que não". Ele imaginou ambos vermelhos de novo, dada a citação de um possível passado. A amizade deles podia ser abalada, e ele não viveria sem ela. Ele não conseguiria.

"Acho bom falar com o Brendon então" ele falava sério e logo depois olhava para as costas de Ryan, dando um sorriso e levantando a mão "Ei, a gente tá aqui!" logo depois ele olha pra Ryan e gesticula um gesto de 'depois' com as mãos.

"Eu juro que não fumei nada... Ryan? Uau!" Jon dizia enquanto se sentava do lado de Spencer, com as mãos levantadas e uma cara de surpresa. Grande coisa.

"Ross cumprindo promessas, então?" Brendon se sentava do lado dele e o lançava um sorriso.

"Podemos agir como adultos? Eu posso ser responsável" ele dizia enquanto cruzava os braços e encarava o silêncio que tinha se formado, ignorando mentalmente a indireta de Brendon. Porém a paz durou pouco, todos já tinham começado a gargalhar. Ele era uma piada então. "Quer saber? Foda-se. Eu vou embora-"

"Tão cedo Ryan?" Rob, o produtor, tinha parado na porta, deixando-a aberta. "Vamos, eu tenho café!" como se café fosse comprar ele.

"Vamos, Ry"

Tudo bem, ele iria. Mas talvez não seja o café que o tenha feito mudar de ideia.

Talvez tenha sido a mão que Brendon havia colocado em cima da dele ao pedir para ele ficar.

***

"Ok. Se não teve nada, por que tem o clima?"

"Que clima, garoto? Não sei do quê você está falando!" Ryan colocava uma lasanha que Keltie tinha deixado pronta dentro do forno, ignorando o papel com marca de batom e um recadinho. Bill sentava na mesa com um papel e caneta, provavelmente desenhando. Quem se importava?

"O clima. O clima, Ryan. Nossa, vocês parecem namorados, e nem conseguem esconder"

"Olha" ele colocava um papel no lixo e se tornava para Bill. "Eu tenho namorada. Já tive namoradaS. Eu nunca tive nada com Brendon, e nem tenho" ele dava ênfase no 's', e era verdade. Ele teve mais namoradas que qualquer um na banda, mas os relacionamentos nunca terminavam como ele queria. Ele sempre estragava tudo. Ou elas se enjoavam. Ele ainda tentava decifrar isso.

"Ah, desabafa comigo! Eu não vou contar-"

"Não. Não te interessa"

"Então tem alguma coisa!"

"Não! Cala a boca, pelo o amor de Deus!"

"Não. Eu vou descobrir"

"Você não tem um livro pra escrever? Vai!"

"Não"

"Quer saber? Faz o que quiser" Ryan saía da cozinha e ia ao quarto pegar seu caderno. Ele não precisava ouvir aquilo.

"Ótimo" Bill pegava o notebook e começava a digitar freneticamente.

Seis dias, ele falava para si mesmo. Só seis dias. Ele era forte.

Ele se sentava no sofá, colocando os pés na mesa de centro e encarando a capa azul de seu caderno. A capa era toda rabiscada com pequenos desenhos e letras de músicas. Ele amava aquele caderno. Ele tinha suas ideias, memórias, tudo naquele caderno.

Ele abre uma página e começa a listar maneiras de matar um adolescente feliz parecendo um acidente.

1) Deixar um pequeno incêndio na cozinha queimá-lo. Ele pode cozinhar mal. Ele pode ter queimado uma panqueca.

Ele continuava escrevendo, dando pequenos risos entre um item e outro. Ele não consegue passar a 5ª maneira, então ele olha o relógio e vê que o jantar já devia estar pronto.

Eles passam o jantar inteiro falando sobre o álbum acústico novo que a produtora queria que eles fizessem. Ryan consegue, com um pouco de esforço, escapar do assunto Brendon. O garoto não parecia insistir. O que era bom, não era?

Como ele estava sendo compreensível, eles decidem jogar Rock Band – Ryan tinha todos os instrumentos em casa - e ele se impressiona na habilidade da criança com a bateria. Ryan decide começar a beber um pouco, então ele abre um whisky que tinha  guardado – Keltie não gostava quando ele bebia na frente dela – e coloca em um copo com gelo.

 Ele não se lembra em qual momento ele deixou que Bill se juntasse a ele, mas ele não era pai ou nada do gênero, então eles dividiram a garrafa.

Depois disso, a última coisa que ele se lembra é de acordar somente com suas boxers e com muita dor de cabeça deitado no sofá.