Michael dirigiu por aproximadamente meia hora até finalmente chegarmos a algum tipo de galpão abandonado ou simplesmente fora de uso. Estacionou na frente da porta e saiu do carro entrando no local. Tive alguns minutos para poder dar o sinal à polícia e saiu do carro indo atrás dele.

– Que cena magnífica, observe querida. – Imediatamente com esse comentário meus amigos, que não são idiotas, perceberam o que estava ocorrendo ali e rapidamente entraram na “brincadeira”.

– Querida? Sério mesmo Marie? Rebaixou-se a esse idiota? – Matt cuspiu as palavras com nojo provando o quão bom ator consegue ser. Ri – ou tentei – Rir cinicamente.

– O que você sabe sobre rebaixamento Matt? Ah sim, tudo.

– Marie... – foi ouvir aquela voz que minha pequena atuação fraquejou por alguns segundos, tive que segurar qualquer emoção, qualquer sentimento e seguir em frente. Respirei fundo.

– Me poupe de sua voz irritante Brian. Aliás, todos vocês. Querido, quando vamos terminar logo com isso? Não aguento mais esse cheiro nojento.

– Só um minutinho meu amor.

Michael foi falar com os comparsas dele em alguma “sala” mais ao fundo do local enquanto fiquei sozinha com o pessoal. Agi rapidamente.

– Certo – cochichei – Mandei rastrearem o celular do Brian, me diz que você está com ele ai.

– Sim.

– Ótimo, a polícia chega a qualquer momento, vou tentar atrasar um pouco o que quer que eles pensem em fazer. Continuem fingindo desapontamento.

Michael voltou rapidamente e me viu conversando com eles, mas ao que tudo indica não ouviu, portanto voltei ao meu teatrinho básico e comecei a xingá-los, o que aparentemente agradou o mesmo, que sorria em aprovação.

– Querida, não perca seu tempo, eles não valem tudo isso.

Sorri e assenti.

– Certo, vamos começar então.

– O que vão fazer?

– Ué, mata-los querida. Por qual você quer começar? – Michael me entregou a arma que estava em seu bolso e olhou pra mim sorrindo. Encarei o negócio na minha mão por alguns minutos e finalmente compreendi o que teria de acontecer ali caso a polícia não chegasse logo.

– Anh...

– Vamos, escolha. – pausa – Ah, já sei! Que tal começar pelo seu ex-namorado idiota?

Meus olhos, no mesmo momento, encontraram-se com os de Brian. Qualquer medo que ele pudesse estar sentindo fez questão de esconder, caso fosse preciso mesmo.

– Por que não adiamos isso por alguns minutos? – perguntei encarando Brian ainda. – Podemos antes... Beber... Que tal brindarmos ao que vamos fazer aqui?

– Façamos isso depois. Agora mate-o.

– Nunca... Usei uma arma...

– Oh, claro. É fácil, veja bem. Primeiro prepare a bala e – ele demonstrou – E agora é só atirar.

– Minha mira é simplesmente horrível...

– Chegue mais perto então.

Soltei todo o ar dos meus pulmões e me aproximei de Brian... Estava a centímetros dele.

– Não me encara desse jeito. – reclamei em voz baixa.

– ANDA LOGO MARIE, MATE ELE!

Coloquei a arma exatamente na testa do Brian e alguns segundos depois ouvi um estrondo na porta, não virei para ver o que havia acontecido, simplesmente continuei onde estava. Ouvi gritos da polícia e Michael gritando. Joguei a arma no chão e cai de joelhos, chorando.

A polícia cuidou de tudo, soltou os garotos e nos levou para casa, depois de darmos um depoimento, é claro, de tudo que havia acontecido e por que.

–---------

Fomos todos à casa do Johnny já que seus pais estavam viajando e não havia mais ninguém por lá. Cada um se jogou em um canto, mas não paravam de me encarar por um segundo se quer.

– Por quê? – Jimmy perguntou. Suspirei e após isso comecei a chorar. Acho que chorei por tudo que aconteceu e por tudo que já tinha acontecido antes disso, era humilhante. E era tudo culpa minha. Se conseguisse ser menos idiota...

Brian me abraçou. Não sei se foi melhor ou pior, pois continuei chorando do mesmo jeito. Não queria contar, não queria dizer nada. Ao mesmo tempo não sabia como superar aquilo. Meus amigos foram sequestrados, segurei uma arma na cara do Brian... Queria sair correndo daquela casa e nunca mais voltar, nunca mais mesmo. Deixar tudo e todos para trás e seguir em frente. Queria poder esquecer tudo aquilo, mas também queria nunca ter existido e cá estou.

Tive que suspirar por longos minutos até conseguir me acalmar e parar de chorar. Não foi fácil, aliás, foi horrível.

– Ele me ameaçou. – funguei, todos prestavam atenção. – No dia que teve aquela briga na escola... Ele me ligou enquanto o Brian dormia no meu quarto. Falou para me encontrar com ele no píer ou todos iriam pagar... – suspirei, me sentia uma idiota por dizer tudo isso. – Ele me disse que se não me afastasse de vocês ele iria fazer isso a força. Então me afastei.

– Por isso que tu não falava mais com a gente? – Matt perguntou, incrédulo. Concordei com a cabeça.

– Mas então por quê?

– Sai com vocês hoje, não foi? Matt passou o dia lá em casa, não passou? Foi o bastante. – voltei a chorar. – Me sinto uma idiota por ter feito tudo isso. Ter me separado de vocês por causa dele, por não ter contado a ninguém. Tive que fingir não ligar... Apontei uma arma pro Brian!

– Se acalma baixinha. – Zacky disse, vindo me abraçar. Depois disso todos vieram e todos me abraçaram. Deveria ser reconfortante, mas não foi.

Saber que depois de tudo que aconteceu eles ainda seriam meus amigos... Ver o quanto eles gostam de mim... Isso tudo só piora o ocorrido. E me sinto cada vez mais suja.

– Vou embora. – falei, me levantando.

– Como assim? – Brian perguntou.

– Não quero ficar aqui, não quero ficar com vocês. Depois de tudo o que aconteceu... Eu... Vou embora.

– Marie, não exagera.

– Do país.

– QUÊ? – todos berraram em uníssono.

– Vocês nunca mais vão saber de mim... Nunca mais vão ouvir meu nome. – enxuguei as lágrimas que teimavam em fugir dos meus olhos. – Nunca mais.

– Marie, cala a boca!

– Mas...

– Nada! Mas nada. – Jimmy estava literalmente fora de si. Um fato raro e que muitas vezes só eu consigo. – Você não vai a lugar nenhum, não vai sair dessa casa e muito menos do país, cala a boca. Vamos arranjar um jeito de superar essa porcaria toda que aconteceu e seguiremos em frente, fim de história. E se sair do país prometo contratar o James Bond pra ir atrás, ou faço pacto com o Diabo, mas te encontro, ouviu bem?

– Ta bom. Calma Jimmy.

– Tu me estressa!

– Desculpa.

No fim das contas eu “parei com meu drama” como diria o Brian e todos nós pedimos pizza. Era madrugada já e queríamos dormir, o que acabou acontecendo na sala mesmo, com um amontoado de gente dormindo um em cima do outro. Como nos velhos tempos, onde nada havia acontecido.

3 meses depois.

– Anda logo Marie!

– Calma caralho, preciso me arrumar.

– E não ta pronta ainda por quê?

– Cala a boca Thomas, me deixa.

Corri pro banheiro e tomei um banho super-rápido ou os garotos iriam me matar. Estávamos indo em um show que iria ter na cidade, do Metallica. E estava basicamente quase na hora. Mas como sempre, quem estava atrasada? Pois é.

No meio do banho ainda me lembrei do show do Metallica do ano passado ao qual no fim das contas nem eu e nem Zacky vimos por causa dos rolos que deram com o Brian na época. Dessa vez, porém sem rolo nenhum. O fato é que ainda havíamos conseguido – graças aos meus dons de persuasão – passe livre pro camarim! Claro que meu tio teve um dedo nessa história, por trabalhar com shows e eventos, mas isso não vem ao caso.

Coloquei alguma roupa que combinasse com o momento e lugar e desci as escadas onde todos já me esperavam impacientes.

– Até que enfim. – Johnny soltou, com a maior cara de tédio do mundo.

– Vamos, vamos, vamos. – Jimmy levantou, pulando feito um idiota e saindo porta a fora. O pessoal foi atrás, menos Brian é claro que ficou para trás me esperando.

– Cuide dela Brian, por favor. – mamãe pediu, sorrindo.

– Pode deixar. – ele me abraçou pela cintura e andamos calmamente até o carro.

– ANDA LOGO CASAL! – Zacky berrou, estressado.

– Ai, ai Porpetinha. Acho que você precisa de uma namorada.

– Pff, da ultima vez que tu me arranjou uma foi inútil.

– Matt e Jimmy discordam. – os outros riram.

– Certo, certo. Talvez eu seja um inútil pra relacionamentos, é isso que quer dizer?

– Claro que não, vem cá. – abracei-o. – Qualquer coisa nós assumimos um relacionamento a três, que tal?

Brian me encarou com um olhar nada amigável e não pude segurar o riso. Jimmy e seu pé de jumbo nos levaram ao lugar do show rapidamente então logo já estávamos todos postos na frente do palco.

Quando Lars entrou fazendo seu pequeno solo de bateria, meu coração parou por um minuto.

– Acho que vou morrer. – falei ao pé do ouvido de Brian.

– Calma, o James entra agora. – Dito e feito, comecei a berrar junto com todas as outras pessoas do lugar, me sentia uma garota idiota, mas foda-se é James Hetfield bem ali na minha frente! – Desse jeito não vai rolar camarim...

– Cala a boca Brian, ele ta cantando.

Ele riu da minha cara enquanto eu cantava a música junto com o James. Durante uma certa palavra do James, algo voltou em minha mente. Um acontecimento recente do qual não havia mencionado para ninguém. Algo que poderia ser bom ou poderia ser ruim.

– Quero ter uma banda que faça tanto sucesso quanto o Metallica. – Brian comentou, sorri assentindo.

– Você vai ter. – sorri. Minha expressão, porém ficou nervosa novamente.

– Que foi?

– Preciso falar com você... Quando formos pra casa.

– Ok.

Meu nervosismo iria me levar a loucura muito provavelmente, mas teria que esquecer isso no momento, focar no que estava acontecendo ali e agora. Focar naquele guitarrista lindo chamado Kirk fazendo um dos seus solos conhecidos. Focar na próxima música que eles começaram a tocar e que levou os fãs todos ao delírio. E esquecer por um minuto. Só por um minuto.

Life, it seems, will fade away drifting further every day, getting lost within myself, nothing matters, no one else...